Mudança. Essa palavra me acompanha há muito tempo. Às vezes as mudanças são mínimas, quase invisíveis, e às vezes são drásticas e significativas. Se são boas ou ruins, isso depende. Eu estava no banco de trás do carro indo para uma nova cidade, para uma nova escola e começar uma nova vida. É estranho deixar tudo para trás, ou no meu caso, o que sobrou de tudo.

— Vamos, Sharena, anime-se. – Disse minha mãe, uma mulher de cabelo vermelho quase rosa e olhos dourados. – Você vai fazer muitos amigos aqui.

— Hum.

— E vamos morar perto da sua tia Agatha. – Disse meu pai, um homem de cabelo castanho meio grisalho e olhos castanhos.

— Hum.

Ah sim, eu me esqueci de me apresentar. Meu nome é Sharena Laurent, tenho 16 anos, meu cabelo comprido e liso é azul e meus olhos são violeta. Meu pai se chama Philippe e minha mãe se chama Lucia. Eu também tenho uma tia que se chama Agatha e uma tartaruga chamada Brigite, que adora ficar no meio da casa e me fazer cair de cara no chão. Só não a mato porque gosto muito de tartarugas, se bem que a Brigite é um jabuti, mas não importa.

Nesse momento eu estou me mudando para a cidade de Amoris, que fica a DUAS horas da minha antiga cidade, por causa do emprego do meu pai. Eu não queria ter que me mudar, tenho ótimas lembranças da minha antiga cidade e lembranças não tão boas, mas é a minha cidade. Vou para uma escola nova, mas vou sentir muita falta dos meus amigos.

— Eu ainda terei você, Brigite. – Sussurrei para o jabuti na caixa de papelão.

Eu sei que sempre a terei até porque esse bicho pode chegar a viver mais de 80 anos! Eu ganhei a Brigite quando tinha 8 anos, hoje ela tem 8 anos, mas vai ficar para os meus filhos, ou quem sabe para os meus netos.

— Chegamos. – Anunciou minha mãe.

Paramos em frente a uma construção de três andares feita de tijolos. Saímos do carro e entramos nela. A parte debaixo era onde ficava a portaria. O nosso apartamento era composto por uma sala, cozinha, banheiro, um quarto e a suíte. Coloquei Brigite no meu novo quarto para evitar que ela atrapalhasse na arrumação da mudança.

O pessoal da mudança retirou as coisas do caminhão e eu ajudei os meus pais a organizá-las. Foi trabalhoso, mas pelo menos acabamos a maior parte. Ainda faltava desempacotar algumas coisas, mas já está tarde e todos estavam cansados. Decidimos deixar para o dia seguinte. Claro que sempre tem alguma coisa para fazer, pois mesmo estando cansados, a Brigite teve que fazer as necessidades no chão. Ela tem noção do quanto o cocô dela fede?

Fui tomar um bom banho, coloquei um pijama curto azul e branco, jantei com meus pais e fui para o meu quarto descansar. Meu quarto tinha paredes azuis claras com uma cortina de estrelas em cima da cama de lençóis nas cores branco e azul. Tinha meu armário branco e uma escrivaninha onde deixei meu notebook junto com alguns livros. Ainda faltava montar o cercadinho da Brigite, mas isso eu faria amanhã.

Peguei uma caixa de madeira pintada de azul com nuvens desenhadas e me sentei na cama. A caixa é meio infantil, mas é porque eu a tinha pintado na aula de artes quando era pequena. Nem precisava abrir para saber que ela estava cheia de fotos e papéis que andei colecionando a vida toda. Levantei a tampa e me deparei com fotos minhas de quando criança com minhas amigas Mileena, Skarlet e Calien. Algumas em eventos escolares, outras no pátio da escola, outras na minha casa ou nas casas delas, éramos inseparáveis.

A foto que eu estou segurando contém todas nós com a cara cheia de bolo de aniversário. Eu, tinha bolo até no cabelo, ao meu lado havia uma menina de cabelo branco sorrindo e fazendo pose. No meu outro lado havia uma menina de cabelo preto colocando mais bolo no meu cabelo e ao lado dela, uma menina séria de cabelo incrivelmente vermelho a repreendendo. Ainda me lembro bem delas.

Mileena, que na verdade se chamava MileenaKitana, tinha pai fanático por Mortal Kombat. Quando ela nasceu, ele queria dar seu nome de Mileena por causa do cabelo preto e dos olhos amarelos, mas sua mãe tentou argumentar, sem sucesso. Foi então que ela inventou que queria um nome composto, mas para seu desespero, ele deu o nome da filha de Mileena Kitana. Se acham que a saga do nome acabou, ainda teve problemas na hora de registrar, pois o homem do cartório digitou tudo junto sem deixar espaço e ficou MileenaKitana. Seria cômico, se a dona dele não fosse doida o suficiente de mandar alguém para o hospital pelo menor dos risos. Mileena não gostava que ninguém a chamasse de Kitana, só poucas pessoas podiam chamá-la assim além dos seus pais. Ela lutava todo e qualquer tipo de arte marcial ainda criança. Ela disse que seu pai era tão fanático por Mortal Kombat que a colocou para treinar um pouco depois que ela começou a andar.

Skarlet tinha o quase mesmo problema. Seu nome verdadeiro é RoxySkarlet, era para ser separado, mas um erro no cartório acabou colocando tudo junto. Ela era originária de Kiel, na Alemanha, e tinha cabelo vermelho como o sangue, seus olhos eram vermelhos como rubi e ela também tinha um forte sotaque alemão. Era impossível alguém se esquecer dela. Skarlet era a mais séria do grupo e a mais inteligente também. Apesar de ela e Mileena serem muito divergentes, as duas se tornaram grandes amigas. Skar caiu na nossa turma quando foi morar com uma tia, pois mesmo muito nova, ela cismava de fazer intercâmbio, tanto que os pais dela cederam em partes.

Calien era gentil, animada e extremamente fiel, ela é realmente uma grande amiga e não gosta de quem zomba dos mais fracos e nem dos seus amigos. Era fácil diferenciá-la, ela sempre teve cabelos brancos como a neve e olhos negros como carvão. Eu tive que abandoná-la mais recentemente, pois as outras tinham ido embora depois daquele fatídico dia, o dia em que nossa escola pegou fogo.

Ninguém sabe até hoje quem ou o que causou o incêndio, mas após ele, Mileena sumiu do mapa. Nunca soube para onde foi, só que os pais a colocaram em uma escola muito longe. Já Skarlet voltou para a Alemanha e eu e Calien fomos transferidas para outra escola, onde conhecemos outras pessoas, mas agora está acontecendo tudo de novo. Dessa vez sou eu quem fui embora, para longe da minha única amiga que sobrou daqueles tempos.

Agora que paro para pensar, estarei sozinha em uma escola nova. Espero fazer amigos logo e me enturmar. Fui logo dormir, pois teria que fazer minha matrícula amanhã. Por sorte separei tudo que era necessário antes de dormir.