E foi assim que aconteceu escrita por ixkalopsia, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 4
Parte 4: sobre finais felizes




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| 1933 |

A primavera tinha chegado a Hogwarts. E Cedrella não podia estar mais feliz.

O melhor dia da vida de um sextanista era quando terminava a última prova e podia respirar o ar puro da natureza, em vez daquele poeirento e abafado da biblioteca. Por esse motivo, ao final do dia, Septimus e Cedrella tinham combinado de se encontrar debaixo de uma árvore à beira do lago.

O ruivo havia estendido a capa do uniforme como um cobertor por cima da grama. Deitados lado a lado, de mãos dadas, observavam em silêncio o céu alaranjado do fim do dia, respirando o aroma doce que estava no ar. 

E, foi naquele momento, que Septimus iniciou uma conversa inusitada.

— Cedrella, você… pensa muito em casar? — Ela o olhou de lado e viu que o ruivo tinha uma expressão séria, fixada nas lentas nuvens amareladas.

Ela sentiu o coração acelerar, mas tentou não demonstrar o seu nervosismo quando respondeu.

— Eu estou prometida em casamento desde os meus treze anos, claro que é algo em que eu penso bastante. — Tornou a voltar a vista para cima. Ela sentiu a mão dele, quente na sua, e soube que não era a única nervosa com aquela conversa. 

— Sim, eu sei disso. Mas estou me referindo a casar com alguém da sua escolha, não com um desconhecido que o seu avô arranjou. Você pensa em… em casar por amor?

Cedrella sentiu os olhos umedecendo. Afinal, Septimus nunca foi bom com palavras, mas ela sempre foi perita em decifrar os seus significados.

— Eu me tornaria uma traidora de sangue. Seria deserdada da família. — Algumas lágrimas escorreram pelas bochechas rosadas, mas não eram lágrimas de tristeza.

Septimus ficou em silêncio por alguns momentos antes dela sentir um aperto na sua mão. Por cima do vento fresco de primavera, o ruivo lhe perguntou:

— E isso seria tão ruim assim? — A sua voz não saiu mais alta do que um sussurro.

Então, Cedrella Black sorriu de felicidade e virou o rosto molhado para o olhar. Septimus sentiu o movimento e fez o mesmo, colando a vista nos olhos cintilantes.

— Não. Não seria nada ruim.

| 1934 |

 

Cedrella Black havia terminado o seu percurso em Hogwarts com as melhores notas do seu ano e várias propostas de emprego. Claro que a família não sabia das últimas novidades. Essas ela havia somente contado ao noivo.

Foi com muita tristeza que não pudera estar com Septimus livremente durante toda a cerimônia, uma vez que tinha os olhares dos pais e avós sobre si o tempo todo. Para sua grande surpresa, a única pessoa que havia ficado feliz de ver ali havia sido a sua irmã, Callidora, agora senhora Longbottom. Ela e Harfang haviam sido convidados a assistir à graduação e, segundo a mãe, o seu avô daria um jantar para a família naquela noite.

Assim que chegou a casa, notou de imediato a presença de um desconhecido. Porém, Cedrella sabia bem quem era. O seu noivo, o herdeiro Crouch.

— Senhorita Black, é um prazer finalmente a conhecer. É tão linda como me disseram. — Pena que Cedrella não podia dizer o mesmo do seu prometido. Crouch era alguns anos mais velho que ela e, apesar de ainda estar na casa dos vinte, o seu cabelo já era pouco.

— O prazer é meu, senhor Crouch. — Ela tentou manter o sorriso quando sentiu os lábios molhados na mão. Lembrou de manter a calma. Aquele teatro seria por muito pouco tempo. Só teria de aguentar o jantar e, após isso, teria a verdadeira felicidade que sempre desejou.

À semelhança do seu jantar de treze anos, Cedrella, sentada ao lado do suposto noivo, sorriu e recebeu os elogios dos familiares. Brincou com a nova sobrinha, quieta ao colo de Callidora, e mexeu a comida pelo prato durante todos os passos daquela refeição tão perfeitamente orquestrada. Quando os elfos terminaram de limpar a mesa, Phineas Nigellus Black se levantou, pronto para discursar acerca do seu momento de triunfo. Cedrella bebeu um pouco de vinho e esperou a sua vez. Olhou o relógio e viu que já eram quase nove da noite. O que significava que Septimus já a esperava. 

— Hoje é um dia muito feliz. Pois é o dia em que a minha querida neta, Cedrella, terminou o seu sétimo ano em Hogwarts com honras. Um grande orgulho para mim e para todos nós. Uma Black exemplar, que sempre se comportou de acordo com o seu estatuto. E agora, a minha bela neta, está prestes a se tornar mais um orgulho da nossa família quando, daqui a precisamente um mês, selar o matrimônio com Caspar Crouch!

Eles brindaram. Sorriram. Aplaudiram e felicitaram o belo casal. Cedrella sorriu com todos os dentes e ergueu-se do seu lugar, não dando atenção aos olhares duvidosos dos pais. Olhou para Callidora e notou que a irmã lhe lançou um pequeno sorriso de confidente.

— Antes do mais, quero agradecer a presença de todos vocês aqui hoje. Nesse jantar que o meu querido avô se deu ao trabalho de dar em minha honra. E agradeço a presença do senhor Crouch, por ter vindo me felicitar também. É uma pena que, ao fim da noite, tenha de ir embora sem a sua noiva. — Então, os murmúrios de confusão começaram. A mãe tentou puxar a sua mão mas ela desviou das garras de Lysandra. — Isto pois, aproveito a oportunidade, para informar que decidi desfazer o meu matrimônio. Eu não irei me casar com Caspar Crouch.

— O que pensa que está fazendo, Cedrella!? — O pai se levantou, vermelho, e sibilou ao seu ouvido. Ela ignorou.

— Eu irei me casar com Septimus Weasley.

Os gritos começaram.

A sala de jantar se tornou uma batalha. Ela não saberia dizer quando todos começaram a discutir uns com os outros. Os únicos que continuavam a fulminando com o olhar eram os pais e o avô. A avó havia desmaiado em cima da toalha, derrubando o cálice cheio pelo tecido branco, sujando-o de carmesim.

— Você não irá fazer isso, Cedrella! Está me ouvindo!? A minha filha não irá sujar o nome da família! Eu o proíbo! — Lysandra gritou na sua cara.

Cedrella sorriu com pesar e decidiu que era hora de ir embora. O melhor a fazer era não botar mais lenha na fogueira. Queria sair sem mais escândalo, sem mais discussão. Apenas queria ir embora, para uma casa onde ela sabia que seria feliz, sem carregar as obrigações do seu nome e todos os deveres que vinham com ele. Ela só queria ir para uma casa onde seria amada. O que importava um nome de prestígio quando todos ali eram infelizes? O que importava viver de aparências quando os vestidos caros cobriam as marcas da violência? O que importava a pureza do seu sangue quando ele era tão facilmente derramado pelos próprios familiares, por trás de portas fechadas?

O quanto o sobrenome Black valia, de fato?

Cedrella sabia que não valia o resto dos seus dias.

— Adeus, mamãe. Espero que fique bem.

E foi embora. Ninguém a seguiu.

Quer dizer, ninguém que tenha sido notado.

Cedrella já tinha a mão na maçaneta da porta quando sentiu uma presença às suas costas. Quando se virou, viu Callidora com lágrimas nos olhos. Naquele momento, Cedrella sentiu culpa de nunca ter se esforçado muito para se aproximar da irmã.

— Você… você tem onde ficar? — A voz delicada falhou pelo choro entalado na garganta.

Cedrella abriu a porta e, tal como prometido, Septimus Weasley a aguardava do outro lado da rua. O seu cabelo era como fogo naquela paisagem estrelada. E Cedrella Black sentiu a absoluta certeza das suas decisões.

Olhou uma última vez para a irmã. E sorriu o sorriso mais feliz da sua vida até então.

— Sim, eu tenho.

Cedrella Black fechou a porta da casa ancestral da família Black e correu para os braços do seu futuro.

Naquela noite, mais um nome havia sido queimado da tapeçaria da família.

E, uns meses depois, um pequeno casamento acontecia às margens de um rio.

Um sim foi dito.

Duas simples alianças foram trocadas.

Três familiares Black compareceram à cerimônia.

E quatro crianças Weasley vieram ao mundo anos depois.

| 1955 |

 

— E foi assim que aconteceu.

Septimus Weasley, sentado em frente à lareira da sua casa simples em Ottery St. Catchpole, terminava de contar aos quatro filhos a história de como havia conhecido a maravilhosa esposa. No sofá oposto, com um bebê adormecido nos braços, Cedrella Weasley sorria docemente ao observar aquele momento em família.

Em todos os anos que se seguiram ao seu ato de rebeldia, nunca se havia arrependido uma única vez. Ela vivia para aqueles momentos: numa casa cheia de amor, em frente a uma lareira quentinha, trocando histórias com os filhos.

— Eu espero um dia conhecer uma senhora tão linda quanto a mamãe. — Murmurou um sonolento Arthur, se enroscando mais nos braços do pai, que tinham sempre espaço para abrigar todos os filhos.

— E você irá, filho. Você irá. — Cedrella respondeu, tirando alguns fios de cabelo ruivos dos olhos ensonados.

Do lado de fora, foi ouvido o som de fogos de artifício.

— Feliz ano novo, vossa majestade.

Cedrella sorriu.

— Feliz ano novo, Set.

E foi assim que a casa dos Weasley, por muitos anos, continuou sendo o perfeito sinônimo de lar, onde todos eram bem vindos. Onde todos eram amados.

Onde todos eram uma família.


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