Desarmonia escrita por Ino, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 1
Draco gritava em desarmonia


Notas iniciais do capítulo

Oi, cegy!! Acho que não era bem o que você imaginava que ia receber pelas minhas perguntas, mas tentei explorar um pouco de como poderia estar a cabeça do Draco pós guerra. Faz muito tempo que não leio coisas de Harry Potter, então espero que você me perdoe por não ter tanta presença de coisas mágicas e nem de artefatos das trevas. No mais, tentei colocar algumas referencias em detalhes que talvez não estejam tão na cara, espero muito que você goste de ler. :)

TRIGGER WARNING: tem um tanto de ideação suicida e pensamentos ruins. Leia com cautela.



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Draco acordou com os gritos. 

Era como uma sinfonia; podia ouvir pessoas que não conhecia, e também gritos de vozes muito conhecidas. Em algum lugar, achou ter ouvido a sua voz também, gritando em desarmonia. Podia ouvir risadas estridentes se misturando ao caos, risadas cruéis e histéricas, de vozes que ele conhecia bem, vozes familiares demais para serem confundidas pelas de outras pessoas. 

Sentiu cheiros diferentes, de sangue – como metal e sal, de carne queimada, de suor e também de desespero, apesar de que os dois últimos deviam vir dele mesmo. Algo no seu íntimo o fez sentir-se impotente, tão pequeno e indefeso, levando-o de volta para momentos da sua infância que já tinham passado há muito tempo. O tempo curava mesmo tudo? Para Draco, não. Ficaria feliz em lançar uma maldição imperdoável imediatamente se visse o idiota que inventara essa porcaria. Ao seu redor, todos pareciam estar se curando lentamente, menos ele. 

Não conseguiu se mexer de imediato, mas abriu os olhos para a escuridão, e isso o fez se sentir pior. Estava de volta lá? Nunca sairá? Seu coração batia forte nos seus ouvidos e a sua respiração saia descompensada. O que seria dele agora? “Um terremoto devia estar acontecendo”, Draco pensou, porque o mundo não parava de tremer, sacudir e fazer ruídos estranhos. 

Tentou desesperadamente buscar razão em algum lugar da sua mente, descobrindo então que o terremoto e os ruídos internos vinham dele – mais especificamente do centro do seu ser. O que Lucius Malfoy diria se o visse chorando assim? Sempre lhe dissera que magos do porte deles não choravam como trouxas. 

Eventualmente seu coração se acalmou o suficiente, e então ele percebeu que não ouvia mais gritos, tampouco cheiro de sangue e carne queimada. Uma brisa fria arrepiou os pelos dos seus braços nus e, lentamente, percebeu que estava no quarto que era seu desde que nascera, na mansão dos seus pais. Não estava de volta lá. A guerra havia acabado. 

Seus olhos se ajustaram a escuridão, e ele pode identificar a constelação de Órion no céu encantado do teto do seu quarto, como no salão principal de Hogwarts. Gostava de olhar para o céu. Desde a primeira vez que ouvira que o teto do salão de Hogwarts era encantado, Draco se tornara uma criança insuportável até que seus pais cederam aos seus desejos e encantaram o teto do seu quarto também. 

Narcissa, aparentemente, achara de bom tom que as estrelas que aparecessem fossem de constelações familiares, que nomeavam a sua família por parte de mãe. Anos depois, cresceu e passou a achar que não era mais tão interessante ter um teto tão “infantil” e “para crianças”, todavia todas as tentativas dos seus pais de desencantar o teto do seu quarto foram infrutíferas. As malditas constelações pareceram criar consciência e se agarrar ao seu teto como uma maldição, ninguém podia tirá-las de lá. Achava que também não tinham ficado muito felizes com as tentativas de desencantar o teto, porque, depois disso, esporadicamente chovia no seu quarto. 

Quando pequeno, sua mãe uma vez lhe dissera que todos os Black’s retornavam ao céu, de onde vieram. Na época, Draco arregalara os olhos e imediatamente disse, preocupadíssimo e com as sobrancelhas franzidas, que Narcissa e Draco não eram nomes de estrelas. Ela concordou, e deu-lhe um dos seus olhares enigmáticos, que ele nunca aprendera a decifrar. “O seu vem de uma constelação”, ela dissera. 

Pensou com amargura que achava que isso significava que Narcissa esperara coisas grandes dele. Mais especificamente, coisas do tamanho de uma constelação e não apenas de uma estrela singular e solitária. Mas não se sentia uma constelação agora, acuado na sua cama, com o lençol nojento e encharcado de suor grudando em sua pele. Na verdade, tinha a certeza de que era a droga de um maldito buraco negro, sugando toda a luz ao seu redor. As estrelas da sua família no alto do seu quarto pareciam zombar dele. 

Sua bexiga estava estourando, então forçou-se a se levantar. Enfiou a sua varinha no cós da sua calça de pijama, porque ultimamente não se sentia seguro para dar nem três passos sem ela estar no alcance da sua mão, contudo não se preocupou em acender a luz ao ir para o banheiro anexado ao seu quarto, já que as estrelas já forneciam alguma iluminação. 

Lavou seu rosto com a água gelada da pia, em seguida notando o homem que o encarava na sua frente. Ele tinha olhos cinza sem vida, com círculos escuros ao redor deles, um vinco profundo entre as suas sobrancelhas e uma aparência quase doentia. Os ossos do seu rosto e clavícula estavam bem evidenciados; ele parecia magro demais. Os cantos da sua boca pareciam quase que permanentemente apontados para baixo, numa carranca desoladora que só poderia existir na cara de um homem que perdera toda a esperança. 

Quem era aquele homem? Era sábio além dos seus anos, ou apenas cansado além deles? Ele era o reflexo de todos os seus arrependimentos, mágoas, erros, de todo o mal que causara até ali. A segunda guerra bruxa acabara para o resto do mundo, mas ainda estava muito viva dentro da sua cabeça, e isso era visível em seu rosto. 

A família Malfoy aguardava julgamento em liberdade – benefício concedido puramente pela contribuição que tinham dado em última instância, levando ao fim de Lord Voldemort. Por Merlin, não se importaria se ele fosse trancado em Azkaban pelo resto dos seus dias, porque tinha a certeza absoluta de que merecia esse destino. De qualquer maneira, os dementadores passariam fome. Não havia nenhuma alegria ali para se alimentar. A marca negra, agora desbotada no seu braço, certificara-se disso desde que a recebera. 

Encarando novamente o seu rosto no espelho, achou ter visto na curva dos seus lábios, ou no vinco da sua testa, algo que o dizia para desistir e acabar tudo com isso de uma vez. Por isso esperava que não fosse preso permanentemente. Como poderia escapar assim? Nesse caso, morrer seria um ato de coragem, heroico, ou de desespero? 

Pureza de sangue... Montanhas de ouro. Do que isso tudo valia? De algumas maneiras, ele era a pessoa mais pobre que já conhecera.  Passara a sua infância ouvindo sobre a importância de manter a sua linhagem pura, e sobre como eles eram superiores por isso. Passara os anos ouvindo que todo o mal que faziam era justificado e tinha um propósito. Um dia achara que a guerra fazia sentido e era justa, até ter sido pego no fogo cruzado. Como tinha sido um idiota. Agora, questionava tudo que um dia já achara ter sido verdade. 

Pequenos barulhos o sobressaltavam. Não conseguia dormir direito, e quando dormia revivia todo o mal que causara. Vivia na sombra do que um dia fora uma vida. Pensava que provavelmente nem tomar uma garrafa inteira de Felix Felicis o ajudaria a ter um dia bom àquela altura. 

Draco se questionava se teria um arco de redenção. Esperava que sim, esperava que não. Não achava que merecia, na verdade não era merecedor de nenhuma felicidade, mas... Se por algum milagre estivesse escrito nas estrelas que isso aconteceria, esperava isso não demorasse muito. Não sabia por quanto tempo ainda conseguiria resistir se afogar nos horrores que vira e tinha causado; estava vivendo em tempo emprestado. 

Retornando a cama, esperou não ouvir gritos dessa vez quando conseguisse adormecer. 


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