Antes do para sempre escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Esse é um dos meus capítulos que eu mais gostei de escrever, lá em 2021! Espero que gostem!



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Entramos no trem para o Distrito 4, duas semanas depois, mas por motivos de logística. Não é tão simples a viagem de pessoas, além de precisarmos avisar Annie e minha mãe que estávamos indo, com certa antecedência. Não gosto que apareçam sem avisar, então mantenho esse pensamento de pé quando é o contrário.

Peeta está sendo o sol e alegria em formato de gente, suas piadas me deixam com o rosto quente de tanto rir, e tudo isso porque ficará com Finneas por uma semana inteira, e, segundo Annie, o adolescente está da mesma forma, já que estão quase um ano sem se verem. Quando o vejo tão empolgado assim para ver o filho de um grande amigo, não sinto tanto medo com relação à situação de estar grávida. Bem, é claro que sinto, mas sei que eu poderei sair de casa sem a preocupação se o bebê estará bem ou não.

Abro a caixa de Butter, que rosna ferozmente para mim. Ela não gosta de ficar sozinha, gastamos uma fortuna da última vez que viajamos alguns dias sem ela, porque se machucou bem sério tentando entrar em casa. Também não se adaptou ficar em casa sem acesso aos pássaros que vem até o jardim na frente de casa. Desde então, ela nos acompanha nas viagens. Sempre fica perto de nós, conhece a casa da minha mãe e de Annie, o que não era comum de Buttercup, que preferia ficar mais à vontade por todo o Distrito e retornar somente à noite, cheio de fome.

Deito na cama, em um suspiro pesado. Depois, suspiro profundamente de novo.

— Sabia que dá para perceber que você está grávida? — Peeta comenta.  Essas duas semanas temos conversado pouco. Ele tem trabalhado muito, e eu me ocupando em plantar algumas coisas nos fundos da nossa casa, já que não tenho me sentido muito bem para ir caçar. Nem consigo imaginar o que seria se eu fosse para a campina e desmaiasse no meio do caminho, se algo acontecesse com o bebê.

— Por quê diz isso? Eu só não consigo vestir umas calças… e alguns vestidos, porque marcam bastante — respondo, um pouco sem graça. Não é que eu esteja comendo tudo o que sinto vontade - porque sinto desejos por coisas impossíveis, como pasta de dente na esponja de lavar louças -, também não parei de me exercitar - embora não seja mais as caminhadas longas e corridas na floresta -. Mas minha barriga realmente tem crescido. Eu passo com as calças pelas minhas pernas, mas não fecham no botão. Já estou usando uma que não tem um, é apenas elástico e de malha.

— É bem bonitinho — responde, sorrindo, sentando na cama, com as costas na cabeceira e Butter indo pedir carinho, deitando em seu colo. — Você está linda. Pode usar minhas blusas sempre que quiser. Ou não usar nenhuma roupa, sabe que é o que eu prefiro. Por mim você sempre andaria sem roupas, com um corpo divino desses.

Dou uma risada e ele dá uma piscadinha. Sempre estou me rindo perto dele.

— Entendi seu objetivo — ele assente, como se fosse óbvio. — Mas realmente dá para perceber?

Olho para minha barriga. Como estou deitada, automaticamente meu corpo fica mais “liso”. Porém sim, dá para ver o montinho considerável, mesmo deitada. Mas isso me faz sorrir. Olho para Peeta, sorrindo, e ele está da mesma forma.

— Sua mãe vai saber assim que te ver. Annie talvez leve mais tempo, mas você está com o rosto redondo também, e sempre corada, isso não era comum — assinto, e inconscientemente passo uma mão pela minha barriga, enquanto olho para o teto decorado do vagão. Parece um céu de estrelas. — Sempre sonhei com você assim.

— Pode ficar tranquilo, tenho certeza que a minha barriga vai crescer bastante. Eu li algumas revistas de Delly, e ela é o maior exemplo de grávida que conheço, já que é nossa vizinha. Já estou com uma barriga de alguém de 4 meses, mas acabei de completar 3. Acredita que uma das minhas camisetas não cabe mais? Já está subindo, fica na altura do meu umbigo. Ficou bem marcado, eu tomei um susto.

Ele ri, mas sai da cama, pois Butter começou a reclamar, então ele a deixa em um outro vagão, que é uma sala do nosso quarto. Embora nos ame, ela ama ficar sozinha quando viajamos de trem.

Peeta retorna, e se deita ao meu lado, virado para mim, fazendo carinho na minha barriga. Não é o tipo de liberdade que eu pensei em dá-lo, mas é inevitável. Todos os dias ele faz isso, embora sem dizer nada. É algo que me conforta mais do que eu poderia explicar. Eu só disse que não aceito que ele converse com o bebê ainda. Isso me deixa sem graça só de pensar, não me sinto confortável. Ainda não usamos o ultrassom e rádio para os batimentos, mesmo eu tendo sugerido, porque ainda é tudo muito novo para a gente.

— Você é discreta sobre as coisas, mas eu percebo, meu bem. Eu vi que tem uma caixa no seu armário com algumas roupas — suspiro, me sentindo derrotada. — Você fica ótima em qualquer coisa, então não faz diferença. Mas sabe como eu acho que você fica melhor?

Dou um sorriso, imaginando onde quer chegar, pois sua mão foi descendo para o meu quadril, bem para o cós da minha calça.

Sem roupa nenhuma — sussurra, beijando minha mandíbula.

Dou uma risada sincera, enquanto ele tira a minha blusa sem muito esforço, porque ergo o corpo para facilitar seu trabalho. O ajudo com sua blusa, e ele parece a pessoa mais feliz do mundo, então o que faço é apenas refletir.

Faz um amor mais leve, mas não menos apaixonado. Prendo minhas pernas em seu quadril, o aproximando o máximo possível de mim. Me perco completamente afundada  entre os lençóis, e ele perdido dentro de mim. A médica nos autorizou desde que eu não sinta dores ou sangramento, mas ainda sim nossos momentos tem sido mais lentos e com uma frequência menor. Então eu aproveito ao máximo.

Não consigo dizer nada coerente, e nem acredito que ele também possa. Não há nada que eu goste mais do que nós dois juntos. É inexplicável, é extraordinário.

Me sinto na beira de tocar em estrelas, então ele beija meus seios como se fossem de porcelana, e eu pudesse me quebrar em mil pedaços. Eu de fato quebro, mas de maneira figurativa. Quase consigo escutar alguém dizer em um microfone antigo um senhoras e senhores, os apresento os amantes desafortunados do Distrito 12…

(…)

Embora o clima no 12 seja ameno, no 4 parece sempre estar quente. Felizmente, não é um quente sufocante. É mais o clima que faz querer usar roupas mais frescas, ser feliz. Estamos quase no outono, então é muito bom estarmos aqui.

— Você acha que dá para perceber com essa roupa? — pergunto preocupada. — Quero pelo menos estarmos na casa de Annie para você contar.

Ele ri, balançando a cabeça.

— Não está marcando muito. Marca, mas dá para tirar a atenção se você parar de colocar as mãos na barriga, meu bem — responde, beijando minha cabeça. — Seu cabelo está chamando atenção, porque estão soltos e você raramente os deixa assim. Não se preocupe.

Assinto, tentando respirar fundo e me acalmar. Resolvo deixar que ele leve nossa única mala, enquanto fico responsável pela caixa de transporte de Butter. Ele diz que se eu segurar na altura do quadril, fica mais fácil e não vai dar para ver minha barriga, então resolvo escutá-lo.

Um carro nos busca na estação, e vamos ao som da conversa dele com o motorista sobre algum ponto turístico do Distrito. A casa de Annie se destaca por pisca-piscas na sacada, como se fosse natal. Ela sempre teve isso na sua casa. Há samambaias e jibóias na varanda, sendo uma casa bem cheia de vida.

Algo que destaca é sua porta. Peeta pintou para ela, quando viemos visitá-la pela primeira vez, 1 ano e meio depois do nascimento de Finneas. Peeta desenhou uma praia, é lindo. O tempo não estragou seu trabalho, pois pesquisou todos os métodos possíveis para que ficasse eternizado e preservado. Além disso, ele mesmo retoca quando acha necessário.

— Tio Peeta! — Finneas grita da varanda, onde estava balançando com minha mãe. É algo interessante. Annie perdeu sua família, tal como Finnick. Minha mãe se aproximou muito dela enquanto ainda estávamos no Distrito 13, então quando voltaram, ela resolveu cuidar de Annie. Inclusive foi ela quem fez o parto de Finn.

Dessa forma, minha mãe, que me abandonou no 12 sozinha naquela casa, é quase uma avó de consideração dele. Francamente, não é algo que me deixa magoada, pois sei que é o que a deixou viva por todos esses anos. Eu não seria capaz de dar o que ela precisa, nunca fui. Tal função sempre foi de Prim. Mas, por muitos anos, me magoou, porque ela, além de Peeta, é tudo o que eu tenho. Precisei muito dela, e não havia nada além do cômodo abandonado em minha casa. Hoje eu entendo que foi melhor do jeito que as coisas aconteceram, cada um sabe das suas próprias dores.

Estou ofegante depois de subir os três degraus, o que é um alarme, mas estou sorrindo, embora extremamente ansiosa. Jogo meu cabelo todo para a frente, já que fomos recebidos com uma ventania ao descermos do carro. Dou um suspiro para disfarçar que estou ofegante. Minha mãe logo percebe, pegando a caixa de transporte com Butter da minha mãe e eu dou um grito sem sentido, puxando a caixa de volta, apertando contra o meu corpo. Ela toma um grande susto, e cai na risada. Eu começo a rir, nervosa e agitada.

— O que aconteceu, Katniss? Você está bem? — Arfo, assustada com a possibilidade dela descobrir tudo antes de Peeta contar. Olho para o meu marido, e ele está conversando com Finneas com um sorriso enorme, completamente esquecido da minha existência, mesmo carregando nas mãos uma mala de tamanho médio com roupas para três dias, além das coisas de Butter. Dou outra risada nervosa, e ele parece perceber onde estou, e entender que precisa me ajudar a sair dessa.

Se ele é assim com o filho de Annie, penso como vai se esquecer de mim com o nosso filho. Não é um pensamento que me traz uma energia ruim.

— Não foi nada, a Butter está muito estressada da viagem… ela está bem apegada à mim — digo, e felizmente Peeta se coloca ao meu lado, deixando a mala e abraçando minha mãe calorosamente. — Não é?

Ele concorda, rindo. Minha mãe ri também, abrindo a porta de casa.

— Tia, sabia que eu fiquei em primeiro lugar na escola de surf? Consegui um troféu. Minha mãe chorou muito — dessa vez, eu sorrio de verdade. 

— Imagino que sim, Finneas. Quero ouvir tudo sobre isso.

— Vamos ouvir depois que todos entrarmos, está muito calor, vamos ligar o ar-condicionado — minha mãe anuncia, sorrindo, abrindo espaço. Logo Annie desce as escadas, terminando de amarrar um pano em seus fios ruivos brilhantes.

— Que saudade de vocês, não sabem o que Finneas fez: ficou em primeiro lugar na escola de surfe! — Annie me abraça e eu fico paralisada, tentando me esquivar, colocar a caixa de Butter em nosso meio, mas ela arranja uma forma, passando um dos braços por meus ombros. — Katniss, você está com o rosto tão vermelho, está tudo bem?

Eu sinto minhas bochechas ficarem ainda mais quentes - e, consequentemente, vermelhas -, atraindo um olhar duvidoso da minha mãe, que está parada ao lado do ar condicionado. Sinto uma raiva muito grande por Peeta surgir no meu corpo, uma raiva grande o bastante para apenas tirar Butter da caixinha e quebrar a caixa na cabeça dele.

— Olha o calor que está fazendo, mãe, não é brincadeira não! Vem, tia, vou mostrar meu troféu. E me dá a Butter — nem consigo pensar, Finn pega o transporte da gatinha, a tirando, e larga a caixa nas mãos da minha mãe.

Tento reagir de maneira que não me entregue muito. Eu fico claramente em choque, mas enfio as mãos no bolso da calça, ao invés de levar ao meu ventre como em algum tipo de instinto protetor. Parece funcionar, pois Annie se perde em algum assunto e minha mãe dá risada, enquanto coloca a caixa de transporte bem ao lado do sofá.

Finneas me mostra seu troféu, em uma estante, bem no meio de inúmeras medalhas que conquistou até agora. É incrível ver isso, pois sei o quanto ele é dedicado e muito semelhante à Finnick. Pensar em Finnick faz com que lágrimas venham aos meus olhos. Há uma linda foto dele com Annie, no casamento realizado no Distrito 13, bem ao lado do bolo confeccionado por Peeta.

— Tia, sabia que eu estudo na mesma escola que o meu pai estudou? A escola de surfe tem o nome dele. Muito chique — dou um sorriso, tirando os olhos da foto, e disfarçando as lágrimas que ameaçam cair em meus olhos.

— Seu pai com certeza se gabaria tanto quanto você — ele ri, concordando. Embora não o tenha conhecido, é muito bom ver o quanto é como se tivesse, de fato. — Você tem o mesmo jeito extrovertido dele, sabia? E essa pose que você está na foto, ele fazia com frequência — aponto para a foto em que ele segura o troféu.

Isso o parece pegar de surpresa.

— Sério? Achei que minha mãe estivesse dizendo para me agradar.

Neguei, o abraçando com carinho, beijando o alto de sua cabeça. Peeta me fez fazer ficar refletindo, uns 10 anos atrás, quando disse que eu tinha que aceitar que a minha linguagem do amor é toque físico. De fato é.

— Temos muito orgulho de você ser quem você é. E é muito emocionante que você tenha muito da sua mãe. E do seu pai. Você vai conquistar muitos troféus, espero estarmos aqui para o próximo — ele sorri.

— Eu acho que o próximo será em dois meses — conta sobre o novo campeonato, e ficamos juntos no sofá, enquanto Annie, minha mãe e Peeta faziam o que eu francamente não tenho a menor vontade de saber. Não gosto de fazer muita coisa em casa e tenho estado bem cansada. 

Butter ficou o tempo todo que sentei no meu colo, disfarçando a minha barriga. Dei um longo bocejo silencioso, em um momento que Finneas estava bem empolgado, mostrando fotos de seus amigos e colegas. Eu estou prestando total e completa atenção, mas minha capacidade está diminuindo com tanto sono que estou sentindo.

— Finn, acho que a tia Katniss precisa descansar um pouco — ouço minha mãe dizer, se aproximando com um prato com alguns bolinhos recheados. — E vocês precisam comer alguma coisa. 

— Tudo bem, porque eu tenho muita coisa para mostrar, mas vai ter que ser na praia! Mostrando meus dons! — Damos risada, e logo me sirvo de um dos bolos. Preciso fazer um esforço que me dá ansiedade para não comer muito rápido. Annie e Peeta se juntam a nós na sala, com mais lanches, e o assunto se torna a rotina que será essa semana em que estivermos aqui.

Fico cansada só de ouvir. Mas mantenho um sorriso no canto do rosto, e olhando para Peeta, que olha para mim se solidarizando. Discretamente, ele me passa seu pão de queijo, para que eu não me incline novamente para pegar outro e chame atenção, partindo no meio, e me dando uma parte de cada vez. Fico com vontade de chorar por sua atitude tão simples e importante.

Quando o lanche acaba, nos retiramos para o quarto de hóspedes. Ao fechar a porta - e trancar -, Peeta me abraça apertado, ainda com minhas costas encostadas na porta, e eu dou uma risadinha.

— Obrigada pelo o que você fez com o pão de queijo. Não vou esquecer. De verdade.

— Sabe que só pode me retribuir na cama, não sabe? — Rio alto dessa vez, mas logo em seguida suspiro, cobrindo o rosto, por estar realmente cansada. — Vem, deita. Você merece descansar.

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ♥️



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