Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


Capítulo 12
Portões da Lua




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Após uma longa viagem, enfim, Margaery havia chegado: O Portão Sangrento.

Graças aos Deuses, pensou Margaery, se sentindo cansada, mas aliviada ao mesmo tempo.

O local era uma série de ameias de argamassa cibza e simples, que se encontrava entre as montanhas do Vale, atrás dele, seguia-se a Estrada de Atitude, que levava para os Portões da Lua, onde se encontrava Myranda Royce, irmã de Sor Albar e Regente do Vale; logo atrás, subindo as montanhas da lua, encontrava-se os três castelos dos Arryn: Pedra, Céu e, o principal e maior de todos, o Ninho da Águia, que ficava no topo da montanha, acima das nuvens.

Foi uma árdua viagem para Margaery e seus companheiros; foram atacados pelo menos cinco vezes e, além da companhia que tinha desde sua fuga da Capital, apenas dois cavaleiros haviam sobrevivido à temível viagem até as montanhas.

Não esperava que um reino tão intocado pela guerra fosse tão selvagem: além da densa neve que os atrasou durante o caminho, os clãs das montanhas estavam atacando por todos os lados, e até os Gatos-das-Sombras estavam ficando mais corajosos e os atacando à noite. O grupo não podia nem se dar ao luxo de descansar, caso o contrário, poderiam ser mortos.

Um guarda apareceu entre as ameias e gritou para o grupo:

— Quem deseja passar pelo Portão Sangrento? – Ele perguntou.

— Como raios "quem se aproxima"!? –Perguntou Arya, irritada. – A irmã da Rainha Sansa Stark é quem se aproxima! Arya da Casa Stark, estúpido!

— Aqui é o Sor Albar Royce! – Gritou o irmão da atual regente do Vale. – Abram logo!

A irmã da Rainha bufou.

— Já andamos muito…

— Calma, Arya –Disse Ned. – Eles vão abrir os portões.

Se o Guardião do Portão realmente soubesse como é a irmã da Rainha, jogaria flechas contra nós.

O jovem dornês pedregoso estava certo, logo os portões se abriram para eles e alguns homens saíram de dentro deles.

— Sor Albar – saudou um homem que Margaery imaginou ser o guardião dos Portões. Ele usava um gibão verde, com uma roda de carroça preta e quebrada costurada no peito. –, é um alívio ver que você e vossos companheiros estão bem. Estávamos preocupados.

O jovem assentiu.

— Foi uma longa jornada, Sor — ele respondeu.–É um prazer estar em casa... Bom, ou quase... E minha irmã, como está?

— Ela está bem, Sor — garantiu o Guardião do Portão. — Aguarda o senhor e seus amigos, no Portão da Lua.

— Ótimo, mas, no momento, todos nós precisamos de um descanso. Poderíamos dormir aqui uma noite?

O Guardião assentiu.

—Será que eles tem uma forja por aqui? – indagou Gendry, com os lábios perto da orelha de Arya.

—Será que você não pensa em outra coisa? –Perguntou Arya. –Só tem falado disso!

Todos entraram e deixaram os cavalos de lado, balançaram a neve do corpo e estavam loucos para comer algo antes de finalmente poderem ir dormir.

Enquanto Sor Albar delicadamente ajudava Margaery a descer de sua égua, uma jovem cavalariça foi ao auxílio do grupo para pegar e cuidar dos cavalos cansados.

—Mya! –Saudou Albar. –Que bom te ver!

—Sor Albar! –Ela o cumprimentou–Você e o seu grupo devem estar exaustos! Pela manhã, eu posso levar vocês até Randa!

Ela tinha um cabelo preto lindo, mas bagunçado, e intensos olhos azuis. Assim como Arya, ela se vestia como se fosse um homem.

— Oh… –Margaery podia ver a semelhança com Gendry.

O cavaleiro também podia, pois ele e Arya se entreolharam chocados ao ver a moça.

— Ela é…? –Margaery ficou sem graça demais para continuar a pergunta. Era muito pessoal.

A jovem fez uma reverência –bem mal feita– para se apresentar.

— Sou Mya Stone, Milady.

— Oh, sim –Disse Margaery. — É… Um prazer.

A jovem sorriu e pegou as rédeas da égua de Margaery. Claramente não percebeu semelhanças com Gendry, enquanto o próprio pareceu preferir deixar a conversa perturbadora para depois.

Margaery foi levada teve uma refeição simples, mas suculenta, de abóboras do Vale, tomou um banho quente em uma banheira de madeira bem pequena, e pode finalmente relaxar em uma cama de palha quente. A cama era bem pequena, mas era maravilhosamente aconchegante, principalmente após tanto tempo na dura cama que ela tivera nos Dedos. Para ajudar, uma panela de bronze foi colocada emtre os lençois, para aquece-la durante a noite.

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Acordou bem cedo, infelizmente, pois a estrada de altitude que levaria até a irmã de Sor Alber, apesar de não ter Clãs das Montanhas ou Gatos-das-sombras, tinha o caminho coberto de neve, o que dificultaria o caminho.

Não tinham vestidos novos para Martaery, de modo que ela teve que usar o mesmo vestido que usou durante toda a viagem para as montanhas da Lua. As empregadas o lavaram, mas ainda estava sujo e desgastado. Ela o envergou e foi reencontrar os seus companheiros.

O estábulo era simples, cheio de cavalos peludos. Feno fresco  estava jogado em todo o chão. O local cheirava a merda de cavalo. A jovem Mia, usando culotes masculinos estava alimentando um dos animais, afagando seu longo rosto. Usava um gibão mal curtido e amarrotado, e havia palha em seu cabelo preto e desarrumado, indicando que ela havia dormido no local.

Mia sorriu ao ver Margaery e puxou as rédeas do cavalo lanoso, fazendo o animal cavalgar para fora de onde estava.

— Bom dia, Milady — cumprimentou a mulher vestida de homem.

— Bom dia — Margaery retribuiu o gesto, ignorando o fedor de mula que advinha da jovem.

— Finalmente — reclamou Arya, já montada em sua égua. Gebdry e Ned estavam em outras.

Margaery lhe dirigiu um sorriso amarelo.

— Bom dia para você também, princesa. Sempre um poço de alegria.

Sor Albar, antes de montar em seu garanhão, ajudou Margaery a subir, e estar agradeceu a ele.

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O caminho foi longo, com a neve caindo pesadamente contra eles, sem cerimônia. Quando a altitude do solo aumentou, eles trocaram os cavalos por mulas, e cavalgaram pela elevação. Por diversas vezes, Mia teve de jogar cascalho no chão, para tampar os buracos que haviam no local.

Apesar de terem saído antes do sol raiar, chegaram de noite no castelo dos Royce. O lugar era modesto, no sopé da montanha, com altas muralhas quadradas e cheio de torres sentinelas para defesa. Era possível ver luzes se movendo de um lado para o outro nas ameias, vindo de tochas erguidas pelos vigias. Assim como o Ninho da Aguia, as celas dos castelo, onde prendiam seus prisioneiros, ficava no topo do castelo, não abaixo. Margaery ouvira dizer que Lysa Arryn havia prendido o filho de Tywin, Tyrion, nas celas do Ninho da Águia.

Um cavalariço ajudou Margaery a descer. Seu corpo estava dormente, seu rosto duro e gelado. Suas coxas formigavam, mas achava que não estavam a sangrar, pois, após tanto cavalgar pelo Vale, suas nádegas e coxas já eram duras feito couro — Margaery sempre amou cavalgar, mas, depois daquela longa e tortuosa viagem, preferia evitar montar em selas e cavalgar tão cedo.

Após saltar da sua própria sela, Sor Albar foi até Margaery.

—Minha irmã…

—Eu falarei com vossa irmã amanhã, Sor Albar–respondeu Margaery, sem cerimônia. –Estou muito cansada.

Aquilo pareceu surpreender o jovem, mas ele aceitou.

Arya e Gendry pegaram um quarto para eles e Edric conseguiu um que fizesse jus a sua posição. Albar, como herdeiro dos Portões da Lua teria o direito ao melhor quarto; porém, ficou com o segundo melhor, deixando-o primeiro para Margaery — que o aceitou sem exitar.

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Ela tomou um longo banho quente, tirando a imundice do corpo. Ela não era como Arya que parecia amar viver na sujeira como uma porca.

Finalmente, após tanto tempo, Margaery pode dormir em uma cama decente. O imenso e fofo colchão de penas afundou quando ela se deixou cair nele, exausta como nunca. O travesseiro era igualmente fofo. Ela tomou os lençóis e se enrolou neles, deixando-os aquecer seu corpo.

Finalmente, uma noite sem medo e cheia de descanso.

A sensação era tão boa que ela quase chorou de emoção. Depois de tanto tempo sem nada, até um mero colchão era um presente dos deuses.

Logo ela apagou e se deixou levar pelos sonhos…

Mas eles nunca vieram, logo ela se viu sendo acordada por um serva. Já havia amanhecido e a protetora do Vale queria vê-la.

Margaery ainda se sentia exausta ao acordar. E agora, estava irritada, os deuses nem sequer haviam lhe enviado um doce sonho para ela.

A serva deve ter visto a fúria em seu rosto, pois ela pareceu quase assustada ao olhar a face de Margaery.

—Não fique parada aí, inútil!–Rosnou Margaery–Já que me acordou, ajude-me a me arrumar.

A serva que a acordou, junto de outras, arrumaram o bagunçado cabelo de Margaery, e colocaram em um lindo vestido azul celeste com creme. Chega de trapos.

Ela se uniu aos colegas na mesa para o café da manhã. Todos estavam bem arrumados, até mesmo Arya que vestia um vestido de lã, o qual claramente a deixava desconfortável. Apenas Gendry estava tão sujo quanto esteve durante a viagem, estava todo suado e parecia ter acabado de sair da forja, talvez fosse por isso que parecia bem alegre. A cara dele estava suja de fuligem e até o cabelo pingava de suor, enquanto a boca estava recheada de manteiga e gordura, com leite pingando. O cheiro de fumaça e suor claramente incomodavam quase todos no recinto, embora Arya parecesse imune.

A irmã de Albar estava no salão com eles, assim como a bastarda Mya. 

—Milady Margaery–Disse ao vê-la Albar–, tenho o prazer de lhe apresentar minha irmã, a regente do Vale, minha irmã Myranda!

Verdade seja dita, não achou a irmã de Sor Albar muito interessante. Era só uma jovem flácida demais e com simples olhos e cabelos castanhos. Ela não era bem o tipo de beleza que se esperava de uma lady… Na verdade, pelo que sabia dela, nem mesmo era uma virgem, então não era um produto muito bem visto para casamentos. Não imaginaria o motivo de Sansa confiar em alguém assim.

Talvez ela tenha gosto por mulheres de baixo valor… Quem sabe elas façam ela se sentir especial.

Mas tinha que seguir o jogo se quisesse viver.

—Milady–Disse Margaery, fazendo uma profunda reverência.

A jovem sorriu.

—Oh, como é bom ver que você e seu grupo chegaram em segurança! –Disse a garota comendo um pedaço de pão–Sabe, fiquei preocupada, com você, com meu irmão, a irmã da rainha… Oh, seria uma tragédia se algo lhes acontecesse!

Não que o caminho para aqui já não tenha sido uma tragédia.

A jovem Royce fez um sinal para que Margaery se sentasse ao seu lado.

Margaery pegou um bolo de limão e depois mordiscou um pêssego. Parecia a primeira vez que comia em séculos!

—E como estão as coisas ao norte? –Perguntou Arya. –Minha irmã disse algo?

Myranda deixou o sorriso e o pedaço de pão de lado.

—Bem, eu enviei um corvo para ela. –Revelou Myranda–Ele apenas tem uma mensagem, mas, se Sansa receber, vai entender que Margaery chegou sã e salva, tal qual todos vocês.

—Quando poderemos ir ao norte? –Questionou Margaery, não gostando de como aquela conversa parecia não ir bem.

—Não vão. –Disse Myranda.

Um silêncio desconfortável pairou no ar por um tempo. Todos, com exceção de Myranda, Mya e Albar, se entreolharam.

Arya foi quem quebrou o silêncio.

—O que está acontecendo? –Questionou, e pela primeira vez, Margaery pode ouvir o medo e preocupação em sua voz.

—Daenerys está indo para o Norte–Revelou a irmã de Sor Albar.

—O quê? –Arya ficou assustada e se levantou. –Tem certeza?

A jovem rechonchuda deu de ombros.

—Talvez já esteja em White Harbor ou mesmo em Winterfell, eu não sei! –Disse Myranda–Ouvi recentemente que a tropa do norte já colidiu com a de Essos.

Margaery franziu o cenho. O Norte não tinha frota.

—Que frota?-- Questionou.

—Dos Manderly. –Ela explicou–O Dragão da rainha, ela parece só ter levado um, queimou quase toda, mas eles ainda causaram algum dano à frota do Sul, se o que eu ouvi estiver certo… Alguns galés quase destruídos têm chegado em Vila Gaivota.

Arya pareceu nem ouvir o que a jovem disse.

— Daenerys em Winterfell…

Gendry tocou na mão dela.

— Calma, Arya – Ele disse – Vai ficar tudo bem.

Arya o ignorou e afastou a mão dele.

— Preciso de um navio para o Norte! –Ela exclamou, dsesperada. – Para White Harbor!

Myranda balançou a cabeça negativamente.

—Sua irmã, a Rainha, me disse o que fazer nessa situação; você não vai para Winterfell, ela não me permitiu deixar você correr tamanho risco.

—Se você acha…

—Ela disse que posso prender você com correntes nos pulsos e calcanhares, talvez até lhe jogar nas selas. Você não vai, prefiro enfrentar um dragão do que desobedecer Sansa.

Por que tantos tratam Sansa como rainha, sendo que Harry é o rei?

—E o meu irmão? – Ela quis saber. – E Jon? Ou Rickon?

— Ela não deu mais informações – Respondeu Myranda. – Apenas que os Lordes do Tridente estão se preparando. Seus tios estão em Harrenhal, assim como o Rei Harry. Isso já faz… Um bom tempo, vocês ainda estavam na Capital ou em alto mar quando recebemos esses corvos.

A garota bufou e saiu a passos largos. Gendry se levantou e fez uma reverência desajeitada e correu atrás dela. O carinhoso Ned fez o mesmo.

—Pobre garota–disse Myranda, balançando a cabeça–Nem imagino o que ela passou até reencontrar a família, e agora pode perdê-la de novo…

Margaery não tinha tempo para empatia.

—Você disse que Daenerys está indo para o Norte com só um dragão–Disse Margaery. –Mas só ela? E o Rei Aegon? Ele está na Capital ou…?

Myranda suspirou e pegou na mão de Margaery.

—É bem provável que ele esteja na Campina agora–Ela disse–Ele deve derrubar os Greyjoy e o tal rei Olho de Corvo deles.

O medo tomou conta de Margaery.

—Acha que ele queimaria a Campina?

Myranda balançou a cabeça.

—Sinceramente? Tenho minhas dúvidas; a Campina é cheia de comida, mesmo destruída; se ele se livrar dos homens de ferro, os lordes que ainda não o apoiavam vão apoiar. –Ela olhou com incerta para a jovem–seu irmão se ajoelharia, Margaery?

—Willas?

Willas era o mais esperto dos irmãos dela, e dada a situação, ele não teria motivos para não se ajoelhar… ainda mais se não soubesse que Margaery havia escapado.

—Creio que sim. –Ela disse, embora o medo escapasse em sua voz.

—Então vamos rezar aos deuses para que esteja certa.

—Mesmo que isso seja verdade, ele ainda será obrigado a casar com aquela puta de Dorne, a Arianne Martell!

—Melhor isso do que morto, Margaery–Disse Albar. –E você tem outras coisas para se preocupar…

Ela nem precisava que ele lhe dissesse.

—Eu sei, Sor. –Ela respondeu– Daenerys não foi diretamente para o norte sem motivo; caso ela derrube os líderes Stark, toda a causa morre com eles.

Aquilo deixou a jovem Mya nervosa.

—Acha que ela mataria eles? -Ela perguntou.

—O príncipe Rickon é só uma criança…–Disse Myranda. –Claro, Jon é mais velho e o rei atual, mas o irmão…

Margaery balançou a cabeça.

—Daenerys não tem piedade–disse, se lembra do do medo que ela sentia dela na Capital. –Ela é cruel, gananciosa, tão louca quanto o pai…–Balançou a cabeça–Sansa e Jon nunca estariam seguros com ela se ajoelharem, mas ela queimará eles e Winterfell para ter o que quer. Ela é uma tirana conquistadora…

—Deuses nos protejam–disse Mya.

—E eu imagino que ela não ficará nada alegre ao me descobrir aqui…–Disse Margaery, tendo mais motivos para ter medo do que uma bastarda qualquer, afinal, ninguém ia se preocupar com a jovem Mya caso invadissem –Claro, talvez alguém abusassem dela, mas eles teriam materiais melhores e menos fedidos com as outras servas e nobres.

E se me entregarem para Daenerys após ela matar os Stark?

Como se lesse a sua mente, Sor Albar, que estava ao lado de Margaery, colocou uma mão sobre a dela.

—Não se preocupe–Ele disse. –Vamos te proteger. Tem minha palavra, não iremos lhe entregar de bandeja e nem deixar nada lhe acontecer.

Palavras são vento, ela quase disse.

—Obrigada, Sor. –Ela resolveu dizer, simplesmente.

—Milady–Perguntou Mya–, acha que Daenerys faria mal a Sansa também?

Margaery se lembrava bem do que Daenerys havia lhe dito antes sobre Sansa.

—Talvez fosse até melhor ela matar–Respondeu.

Aquilo prendeu a atenção e a aflição de todos.

—Daenerys disse que caso Sansa dobre os joelhos, ela matará Harry e qualquer filho deles será um bastardo–Revelou para o horror de todos.– E que ela voltará a ser esposa de Tyrion. Ele será o lorde de Winterfell… E acho que isso torna difícil eles deixarem Rickon vivo. 

Aquilo fez os três se olharem em pavor.

Uma moça se levantou e saiu correndo, ela estava longe da mesa principal e Margaery estranhou a reação… Talvez fosse difícil continuar ouvindo.

—Como ela pode fazer algo assim? –Perguntou Myranda, pálida de horror. –Quem mata uma criança? Quem casa uma jovem com um monstro abominável? 

—Aquela vadia que se diz rainha! –Exclamou Sor Albar, enojado. –É um demônio em forma de gente, isso sim!

—Rei Robert deveria ter matado todos eles quando teve a chance! –Disse Mya, horrorizada. –Melhor teria sido matar ela em Pedra do Dragão ao nascer!

Margaery assentiu.

—Ela é tudo isso e pior–Ela disse–Acredito que ela matou o antigo Rei Tommen.

—Como pode ela ser tão má? –Disse Myranda– Oh, Pobre Margaery, ela deve ter sido horrível para você e suas primas!

A lembrança de suas primas deixou Margaery triste e preocupada.

—Ela nos deixou trancadas e sem saber de nada – Disse, com a raiva tomando conta de si. –Ela matou Garlan, ela nos manipulou para tentarmos fugir; fez tudo de caso pensado… Ainda me culpou e me trancou sozinha, numa torre onde quase sucumbi a loucura de minha mente.

Ela respirou fundo, conseguiu segurar a tristeza em seu coração, mas uma lágrima caiu de seu olho. Não era só uma lágrima de tristeza, era de ódio também.

—Vamos nos acalmar–Disse Myranda–Tentar deixar a negatividade de lado! Vamos comer um pouco e relaxar, sim?

Margaery achou era esse tipo de pensamento que devia ter deixado aquela garota acima do peso; mas sorriu para a estúpida ideia.

—Claro, acho que isso vai limpar minha mente!

Tinha que admitir, não estava com muita fome. Ela deu uma simples mordida no pêssego e comeu um bolo de limão, mas nada muito pesado.

Myranda e Mya pareciam se divertir como se não houvesse uma enorme diferença entre os nascimentos delas. Margaery achou que poderia entrar na conversa.

—Me digam, como é o Rei Harrold? –Perguntou.

Sor Albar foi o primeiro a falar.

—Oh, ele é alto, forte, tem cabelos de areia e olhos azuis claros. Ele lembra o bom e velho Jon Arryn quando este ainda era novo.

Myranda tinha uma opinião menos favorável.

—Ele é bonito–Ela admitiu–Mas não diria que é o melhor rei de todos.

Sor Albar corou.

—Perdoe a minha irmã, Milady–Ele disse, sem graça–Ela nunca foi boa em controlar a língua e ela e o Rei Harrold tem… Uma história…

Ela foi amante dele?, Margaery ficou chocada. Conhecia a libido dos homens, mas Myranda não era a jovem mais vela de todas para alguém como Harrold.

—Escolha interessante de palavras, irmão–Disse Myranda–, visto que Harry não quis nada comigo. –Ela se voltou para Margaery–O atual marido de Sansa não parece ter visto muito valor em mim, nem a tia dele, a Lady Waynwood.

Oh, isso é uma ferida aberta.

—Não foi bem vista por eles? –Ela perguntou. –Eu imaginei que a filha de um Royce…

—Bom, sou uma Royce–interrompeu–, mas o nosso galante prefere pessoas cujas únicas coisas gordas nelas são os seios; de resto, não serve.

Sor Albar limpou a garganta e deu um sorriso torto e desconfortável para Margaery.

—Talvez nós devêssemos mudar…

—Ele e Sansa se relacionam bem? –Perguntou. 

—Bom, Harry gostava mais dela quando era bastarda–Respondeu Myranda. 

—Bem —Disse Sor Albar—, ele pareceu realmente mais contente quando ela apareceu ruiva e com um vestido de branco-prateado no dia do casamento.

—Ele deve adoro a consumação–Brincou Myranda–Aquele bobinho adorou quando o primo Arryn morreu; mas garanto que gostou mais de casar com uma rainha do inverno. Quando colocou uma coroa, ele sorria como nunca!

—Bem…–Albar tentou falar algo de bom, mas teve que parar por um instante para pensar–Ele casou com a nossa rainha mesmo achando que ela era uma bastarda.

—Oh, como é gracioso! –Zombou Myranda–Ele claramente estava louco para consumar o casamento… E tenho certeza que a velha da tia dele sabia de tudo sobre Sansa, por isso nunca foi contra o casamento.

—Sansa não tem nenhum sinal de grávidez? –Perguntou Margaery.

Isso deixou os dois Royce um tanto desconfortáveis.

—Eu posso dizer que Harrold consumou muito o casamento no começo–Respondeu Myranda–Mas com o tempo, acho que ele não viu mais graça e passou a procurar outras moças, Qualquer uma adoraria satisfazer um rei. –Ela deu de ombros–Se ela agora está grávida, eu não sei, faz muito tempo que deixamos Winterfell.

Margaery assentiu. Não tinha muito o que fazer ali, impotente, com todo caos nos outros reinos… isso lhe tirou o apetite. Ela se levantou.

—Vou pegar um pouco de ar, com licença.

Sor Albar ofereceu-lhe companhia, mas ela recusou educadamente e saiu.

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Andou um pouco ao longo do pátio. O vento frio mordia seu corpo, mas as rajadas estavam mais compassadas naquele dia.

Havia poucas pessoas trabalhando no castelo, a maioria partiu com a comitiva do Rei… Mas a jovem que viu mais cedo apareceu e foi até ela.

Margaery ficou um pouco apreensiva, mas esperou a jovem se aproximar. Ela usava um grande colarinho que estava escondendo até a boca e o nariz. Havia algo de famíliar nela. 

—Olá–Disse a jovem com olhos escuros–, eu… tive vergonha de falar com você antes. Fico feliz que esteja aqui, Sansa me disse que você foi boa para ela.

Margaery ficou confusa.

—Desculpe? –Margaery não compreendia. –Você conhece Sansa?

A jovem assentiu.

—Meu nome é Jeyne Poole–Ela revelou. –Mas por um tempo, eu já fui Arya.

Margaery arregalou os olhos.

—Aquela que casou com Ramsay?

A jovem pareceu encolher ao ouvir o nome dele, mas assentiu.

—Você é a jovem que eu usei o rosto?

A garota pareceu apertar os olhos e sorrir por baixo do colarinho.

—Sim, sou eu–ela confirmou. –A feiticeira vermelha disse que você iria precisar de mim.

—Melisandre?

A jovem assentiu mais uma vez. Jeyne levou uma mão ao grosso colarinho e abaixou o tecido.

O tecido não escondia o nariz, na verdade, escondia a falta dele. Um buraco no meio de seu rosto, tal qual Tyrion.

Apesar da jovem logo cobrir o rosto novamente, Margaery não conseguiu esconder a repulsa ao ver aquilo.

—Desculpe, sei que não é bonito de se ver.

—Não, tudo bem–Disse Margaery–Não precisa ter vergonha nenhuma. Obrigada pela… Vossa ajuda.

—Não precisa agradecer… Mas…

—O quê?

—É verdade aquilo que você falou? Sobre a rainha Daenerys e Sansa…

Margaery assentiu.

—A filha de Aerys é tão louca quanto o pai–Disse Margaery, essas foram palavras proferidas pelo seu pai quando este ainda era vivo e Mão do Rei Tommen. –Lamento, mas não vejo uma perspectiva muito boa para o futuro de Sansa.

A jovem começou a chorar e balançar a cabeça.

— Nunca deveríamos ter deixado Winterfell – Ela disse. – Meu pai e o pai de Sansa estariam vivos… Essa guerra idiota nunca teria nos destruído! 

E eu e minha família nunca deveríamos ter deixado Highgarden…, havia tantos arrependimentos.

—Sansa até tentou convencer o irmão a tentar a paz–Revelou Jeyne–Mas ele fez os ouvidos moucos às suas palavras… Assim como Stannis e os lordes nortenhos. Mesmo que Jon quisesse, os lordes não queriam paz!

Margaery tentou acalmar a jovem e tocar no ombro dela, mas ao sentir o toque, ela acabou por sair correndo e chorando.

A jovem de Highgarden ficou sozinha no pátio. Não havia mais ninguém ali.

Suspirando, Margaery saiu andando, em busca de algo que lhe acalmasse a mente. A fala de Jeyne havia lhe lembrado de suas primas e ela não queria voltar a devaneios tristes novamente.

Olhou para a Lança do Gigante, onde os três castelos Arryn ficavam. Estava tão congelante lá em cima que ambos estavam desocupados, sem nenhuma alma viva. A imensa montanha estava coberta por uma expessa camada de neve branca e fofa. A aparência podia ser inocente e comum, a princípio, entretanto, ainda era uma camada grossa e facilmente poderia acontecer uma avalanche por ali, a qualquer momento; entretanto, pela bondade dos deuses, aquilo nunca havia ocorrido.

Ela andou um pouco até sentir que deveria voltar ao invés de congelar. Margaery acabou por voltar aos seus aposentos e mandou que lhe trouxesse vinho quente. Ela se sentou na frente da lareira e bebericou um pouco do vinho.

—Sabe onde estão Arya e Gendry?–Ela perguntou à serva, do jeito que aquele casal era barulhento, ela devia saber onde estavam–Estão em seus aposentos?

A serva balançou a cabeça.

—Não os vi Milady – Ela disse. – Edric voltou ao salão para terminar de comer, mas não sei onde a princesa e seu companheiro estão.

Margaery assentiu e a dispensou. Enquanto bebericava o vinho, ela se lembrou do quanto Gendry queria ver uma forja e o quanto ele fedia,de repente a resposta estava bem óbvia.

Ela colocou um xale pelos ombros e foi em busca do cavaleiro-ferreiro.

Quando ela voltou para o pátio, torceu para que eles estivessem lá.

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Quando se aproximou, percebeu que os deuses obedeceram suas preces.

—Acha que podemos arrumar um barco? –Ouviu Arya perguntar, enquanto Gendry batia fortemente em algum metal com outro metal.

—Não de Graça–Ele disse–Ainda tem algumas moedas sobrando?

—Só algumas…–Ela respondeu nervosa.

Foi então que Arya parou de falar. Devia ter percebido Margaery se aproximando.

Essa garota realmente deve ser metade loba, pensou enquanto adentrava no local, sentindo o calor da forja. De fato, a garota sempre tinha pesadelos estranhos e, durante a viagem ao Vale, ela pôde ver mais de perto o quanto ela rosnava e até uivava a noite.

—Olá– disse Margaery. –, já estão planejando fugir? –Perguntou com um singelo sorriso. Não havia motivos para ela fingir não saber.

Arya franziu o cenho.

—Sim, nem tente nos impedir.

—Eu? –Soltou um risinho–Acredite, eu seria uma das primeiras a te ajudar se pudesse.

Vendo que não teria problemas em falar, Gendry contou o que tinham pensado até ali.

—Ela quer que peguemos um barco em…–Ele franziu o cenho–Qual o nome mesmo?

Arya revirou os olhos.

—Vila Gaivota, estúpido!–ela disse.

—Isso, esse mesmo–ele acenou, ignorando o xingamento costumeiro–Mas nós não temos ouro ou qualquer coisa do tipo para pagar, e duvido que os lordes pomposos vão nos dar algum. Na verdade, nem sei se teria algum para o norte atualmente.

—Não só isso–Disse Margaery–Myranda também não vai dar comida ou escolta; mesmo que vocês dêem um jeito de sair daqui, não vão aguentar a viagem.

—Nós damos um jeito nisso–Respondeu Arya, irritada–Sempre damos.

—Arya–Disse Gendry–, Myranda e Albar vão estar de olho em nós; fora que eu e você quase morremos a caminho para cá, imagina sem apoio ou comida? É uma sentença de morte lenta.

—Acha que eu vou ficar parada e deixar meus irmãos enfrentando os dragões sozinhos? Acha que vou deixar minha casa ser destruída?

—Não, mas deveria… Talvez seja melhor assim–Ele disse simplesmente, colocando uma lâmina incandescente na água e fazendo-a assobiar e expelir fumaça.

—O quê!? –Ela ficou furiosa.

Ele deixou a lâmina de lado.

—Sua família não tem chance ao ir contra dragões–ele disse seriamente–Fora que Daenerys tem a fé de R'llhor do lado dela, talvez seja o lado certo.

Margaery percebeu que ele não devia ter dito aquilo assim que ouviu as suas palavras. Gendry também percebeu, tinha certeza.

—Acha mesmo que o deus que vai queimar minha família é um deus a ser seguido? –Ela perguntou irritada–Acha mesmo isso?

Essa última parte soou como um "pense bem na resposta, pode ser sua última" para Margaery.

—Arya, não comece–avisou Gendry–Já estou farto da sua hipocrisia, acha mesmo que você é alguém que pode julgar a minha moral?

A face longa de Arya ficou repleta de ira.

—Talvez eu seja a pessoa que pode cortar a sua garganta, se continuar com essaa história rídicula de Deus Luz.

Ele riu e deu de ombros.

— Viu? – Ele desdenhou dela. – A mesma assassina de sempre. – Ergueu a cabeça e expôs o pescoço, apontando um dedo caloso de uma das mãos para uma parte do pescoço onde era visível uma longa veia  veia verde, pulsando sangue. – Vai, corte. Pode tentar, eu sei que você quer isso desde o primeiro dia que me encontrou. Vamos, siga sua natureza.

— Deixe de bobagem, Gendry! – Repreendeu Margaery.

A Stark fechou a mão em punho. Talvez ela realmente estivesse se segurando para não agarrar o cabo da espada.

— Devia ter te matado no tridente – Ela disse. Era possível sentir um certo ódio e ressentimento na voz, mesmo sendo contido.

Ela não está só brava com ele, está magoada.

— Pois devia – Ele disse, ficando sério e deixando as piadas de lado. – E eu devia ter te matado também, assassina de parentes.

Margaery ficou surpresa ao ouvir aquilo. Matar um parente era talvez o pior dos pecados.

— Não me chame disso, bastardo! –Arya o ameaçou. — Não é porque o seu pai era um rei que afundou o pau na prostituta da sua mãe que isso vai te tornar especial!

Gendry não pegou a espada que havia acabado de fazer, preferiu pegar a marreta com a qual esmagou a lâmina e bater ela fortemente contra a bigorna, fazendo um barulho horrível com o impacto e assustando Margaery.

— Gendry… – Margaery começou a pensar em palavras que poderiam acalmar a sua fúria.

Arya desembainhou a espada.

— Vai, tenta! – Gendry avisou, apontando com a marreta em direção a ela. — Tenta pra você ver!

Os dois pareceram prontos para se atacar…

E foi aí que Margaery soube o que dizer.

— O Tridente! — Ela disse. — Vocês podem ir para o Tridente!

Os dois assassinos pararam por um instante e a olharam, como se as suas palavras os tivesse tirado de um transe.

Arya estreitou os olhos, olhando para Margaery de soslaio, com desconfiança em seus olhos cinzas.

— Se a viagem até Vila Gaivota já seria complicada, como…

— Bom, a viagem seria mais longa, de fato – Ela admitiu. – Mas seus tios estão no tridente e precisando de qualquer tipo de ajuda caso Winterfell caia… Se é que já não caiu.

Os dois trocaram olhares e abaixaram as armas. Era como se já tivessem esquecido o ódio que estavam sentindo.

—Acha que daria certo? –Perguntou Arya para Gendry–Você e Ned viriam comigo?

Ele deu de ombros.

—Vai ser difícil…–Ele admitiu–Mas nós temos aço Valiriano, e eu vou aonde você for.

Ela assentiu.

—Vou chamar o Ned. –Ela disse enquanto botava a pequena espada na bainha e depois saiu andando.

Quando ela saiu, Gendry largou a marreta e retirou a espada do balde d'água e a colocou em cima da mesa de trabalho.

—Mulheres–Ele disse–, sempre querendo arrancar a minha cabeça.

Apesar da zombaria, Margaery pode sentir um certo desgosto na voz do rapaz.

—Talvez se você não falasse que se Deus quer queimar a família delas…

—É a verdade, Margaery–Ele disse–Se R'llhor deixar os irmãos de Arya morrerem por fogo, é porque eles merecem.

Ela franziu o cenho. Ouvir aquilo a irritava, ela havia quase sido morta pelos seguidores desse Deus Vermelho.

—Você vai arder nos sete infernos por isso–Ela o avisou. –Não é certo ir contra os deuses!

Ele soltou uma leve gargalhada.

—Que ótimos deuses esses seus! Deixaram teu pai morrer e ainda levaram vossos irmãos!

—Meça suas palavras, Gendry! –Ela avisou–Não seria esperto desdenhar dos deuses num castelo cheio de seus adoradores!

Ele deu de ombros.

—Podem fazer o que quiserem, eu não vou mudar a minha fé. –Ele disse, passando os dedos pela espada. –Afiada, mas não tanto quanto aço valiriano.

—Será que agora você finalmente vai me contar um pouco sobre essa espada? –Ela perguntou, querendo mudar de assunto.

—Era da puta do Regicida, Brienne de Tarth–ele disse–Era assim que meus amigos da irmandade a chamaram.

—Ela foi morta pela sua senhora, certo? –Ela perguntou–Que crimes ela cometeu?

—Ser a puta de Sor Jaime não conta? –Ele perguntou. –Ela queria capturar Arya e levá-la para o Regicida. Ela foi uma falsa amiga para minha Senhora.

—Quem era essa senhora, afinal? Ela não tem nome?

Ele a olhou por um tempo, como se pensasse se valeria a pena dizer.

—Coração de Pedra–Ele disse–Uma líder da irmandade. Não era uma lady nobre, mas nos guiou.

—Ela também seguia o Deus Vermelho?

—Ela seguia aquilo que era certo. –Ele disse–Não era uma sacerdotisa, mas era a nossa guia para a  luz depois que a luz de Thoros se apagou.

Margaery assentiu.

—E Arya a matou, certo?

Ele bufou.

—Arya faz o que quer–Ele disse, havia uma fúria em sua voz, mas também ressentimento e tristeza. –Elas podiam ter feito um mundo melhor juntas, mas aquela loba selvagem segue a própria justiça.

Aquilo era estranho para ela, mas fazia tempo que havia tido uma conversa normal com alguém.

—E a irmandade? –Ela perguntou, estava curiosa–Ainda existe?

—Numa colina qualquer–Ele disse, tristemente–Arya os deixou para fazerem justiça, como se já não fizessem… Bom, isso para aqueles que não a seguiram até o Norte, como eu.

Se você tem tanta raiva de Arya, por qual motivo a seguiria para o Norte?, ela se perguntou, mas podia ver a verdade nos olhos dele. E porque que Gendry já não tinha mais raiva ao falar, apenas tristeza.

—Você vai com ela até o fim do mundo, não é mesmo? –Ela perguntou, podendo ver que essa era uma ferida aberta.

—Eu vou aonde ela for–Ele respondeu. –Eu a perdi uma vez, não pretendo deixar acontecer novamente.

—Gendry, seja sincero consigo mesmo. –Ela o aconselhou. –Você e Arya não vão ter um final feliz. Ela vai te deixar.

Ele fez uma carranca.

—Por quem? –Ele quis saber. –Um lorde pomposo? Não faz bem o tipo dela. E dúvido que algum lorde a aceite como é.

—Bom, mas é o que vai acontecer, você querendo ou não. Arya é uma princesa, Gendry; Sansa e Jon podem a amar o quanto for, mas nunca a deixariam ficar com um bastardo.

—Sou filho de Robert–Ele disse–Eles podem me legitimar. O irmão de Arya também foi legitimado.

Ela balançou a cabeça. Pobre tolo, as ideias dele poderiam ser sua própria ruína.

—Stannis lhe mataria–Disse Margaery. –E Jon e Sansa podem não concordar em te legitimar, a ideia de coroar bastardos é perigosa; podem se voltar contra Jon se eles acharem que ele pretende fazer isso com qualquer filho ilegítimo. –Ela sabia também que Sansa e seu irmão podiam não gostar da imagem de um qualquer com Arya, mas preferiu não falar disto. –E eu não acho que os lordes das terras da tempestade iriam querer ser governados por um qualquer.

—Eu mato o homem que tentar se impor entre mim e Arya, Margaery–Ele disse, apertando os punhos em volta do cabo da espada. –Juro que mato!

—Isso se ela não o matar antes. –Ela brincou, embora o cavaleiro não pareceu achar graça.

—Que seja. –Ele deixou a espada de lado e retirou o avental de couro.

Enquanto ele passava por ela, Margaery acabou não se segurando.

—Talvez ela mate você, sor– brincou.

Foi um erro. Ele agarrou o seu braço e o puxou de forma brusca. Sua mão esmagava o pescoço fino de Margaery, impedindo-a de respirar.

—Eu a trouxe até aqui–Ele disse–Eu aguentei todo o tipo de merda até aqui, mas não pense que pode zombar de mim e desdenhar do que sinto só por ser bem nascida.

Ele a largou e saiu andando, mas deixou marcas pretas em seu vestido. Margaery sugou todo o ar que pode assim que ele a soltou, tossindo compulsivamente e levando uma mão ao pescoço dolorido.

Assustada, e ao mesmo tempo irritada, Margaery voltou para o seu quarto e se trancou lá. O restante do dia passou e ela ficou sentada em frente a lareira, vendo o crepitar do fogo na lareira.

— Estou cercada de loucos – Disse para si mesma, ralhando a sua atual situação.

Ela tentou ler algo, mas simplesmente não estava conseguindo se concentrar em nada naquele momento. 

A ideia de Daenerys destruindo o Norte, os homens de ferro e Aegon VI na Campina… Para piorar, o próprio Vale se mostrara uma terra perturbada e a maioria dos lordes e guerreiros que poderiam lhe defender estavam longe, deixando os clãs se banquetear com que quisessem. 

Sem falar que ela nem sabia da situação a qual suas primas se encontravam. Podiam estar mortas… Na verdade, ela própria logo poderia morrer quando a Rainha Dragão lhe encontrasse.

Não, nada iria lhe acalmar.

Ela logo foi para cama e se remexeu como um animal nervoso até finalmente dormir.

Foi um sono irregular, com ela acordando assustada em vários momentos, aterrorizada com um sonho terrível que logo seria esquecido e substituído por outro.

Ela acabou por desistir de tentar dormir e voltou a se sentar na frente da lareira, àquela altura apenas cinzas ao invés do fogo.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Logo uma serva veio lhe convidar para o Salão, onde seus colegas a acompanhariam.

—Que seja– disse Margaery, ela teria negado, mas se viu com fome e acabou por ir até o Salão.

Ela acabou se vendo num péssimo mau humor, odiando aquele bando de desajustados que estavam dividindo o teto com ela.

Ao chegar no Salão, percebeu que era visível seu estresse, pois quase todos a olharam com uma expressão quase que de surpresa. Apenas Arya parecia estar com um rosto tão irritado quanto o dela.

Ned pelo menos ainda tentou ser cortês com ela.

—Bom dia, Milady! –Disse Edric com um sorriso largo.

Margaery não tirou a carranca da cara.

—O quê tem de bom? –Ela indagou, irritada.

O jovem corou e abaixou a cabeça, voltando as atenções ao café da manhã.

Gendry deu um risinho e arrancou um pedaço de pão com as mãos calejadas e passou gordura nele antes de comer… Gordura essa que ele pegou com os próprios dedos, não com faca.

Arya interveio pelo colega, mesmo ele sendo bem mais velho que ela.

—Precisava disso? –Ela questionou, com a petulância de sempre. –Ele só tentou ser gentil, pela bondade dos deuses! Não é porquê você tem problemas que pode ser uma vaca com todos!

—Não me venha com essa, Stark! – ralhou Margaery, enquanto se sentava. –Você tem sido a pessoa mais grosseira e petulante que já vi na vida! E olha que eu conheci a maldita da Cersei Lannister!

— E você tem sido a pessoa mais falsa que já vi! — rebateu Arya. — É toda sorrisos e cortesia, mas é só uma hipócrita e mesquinha!

Sor Albar tentou intervir:

—Senhoras…

Gendry levantou um braço e fez um gesto para ele não criar casos.

—Ora, Deixe elas! Em briga de Senhoras, é melhor ficar longe.

—Bom, precisávamos de mais emoção. –Brincou Myranda, mas até ela parecia desconfortável com a situação.

Edric virou-se para a Stark.

—Tá tudo bem, Arya–Ele disse–Margaery só está irritada.

—Ela não pode falar com você assim, Ned!

—Você já é um lorde– disse Margaery para o Dornês–E precisa de uma moça mais jovem que você para lhe defender? Achei que os dorneses fossem mais corajosos…

—Ela tem um ponto. –Disse Gendry.

Arya lhe respondeu com o olhar e ele preferiu se manter calado. Depois ela bufou e voltou para Margaery.

—Qual o seu problema? Está tão irritada que precisa descontar em quem ainda é um pouco feliz?

—Eu faço o que eu quiser! –Gritou Margaery–Eu sou a Rainha!

—Rainha de nada–sibilou Arya.

—Você é que é nada! Só uma aberração, uma degenerada…

—Margaery…–Disse Gendry, assustado com a exaltação na voz dela.

Mas Margaery não iria se calar. Não mais.

—Uma vagabunda! Fornicadora! Anda trepando com um bastardo como uma rameira qualquer e sem nada em troca, sua sem-vergonha!

Sor Albar se levantou da mesa.

—Por favor, vamos nos acalmar…

—Ainda bem que a vossa mãe morreu–Margaery continuou–, assim ela não morreria de desgosto por te ver agindo como uma…

Antes que pudesse terminar de falar, Arya pegou a pequena espada, rápida como o vento, e a ergueu até a ponta tocar no nariz de Margaery, fazendo-a se calar.

—Eu te corto!–ameaçou a nortenha–Eu juro que te corto, assim combina com seu nariz quebrado!

Os guardas se aproximaram, mas rapidamente Myranda se levantou e os parou com um gesto.

—Arya, pelo amor dos Deuses… –Disse Gendry, nervoso. Ele realmente acreditava que Arya cumpriria a promessa. –Você vai mesmo se levar por essa desfeita?

—Não se atreva! – avisou Albar. –É uma Stark ou uma Frey?

—Não podemos fazer as pazes? –Perguntou Edric.

—Se fizer isso eu lhe jogo nas celas! –Ameaçou Myranda.

Margaery inicialmente estava assustada, mas se lembrou que Arya já lhe ameaçou antes e nada fez. Ela deu um sorriso.

— Ora, por favor – zombou Margaery–, você não tem coragem. Não ousaria.

Arya suspirou, nervosamente, e guardou a lâmina.

Margaery virou-se para Albar.

—Viu? —Voltou a olhar para a garota, lhe dando um sorriso debochado. — Eu disse que...

Foi então que Arya deu um rápido movimento e, antes que alguém pudesse reagir, algo se chocou contra o rosto de Margaery, acertando seu nariz quebrado e fazendo uma dor aguda explodir em seu rosto, enquanto seu corpo caía sentado no chão e ela levava as mãos para a área dolorida.

Margaery gritou de dor. Seu nariz, ainda se recuperando da queda dela no navio, estava agora em brasas na sua cara. Ela podia sentir sangue escorrer de suas narinas.

O objeto que a acertou havia caído perto dela. Era uma caneca de estanho.

—Sua mãe também não está aqui para te ajudar! –Gritou a Stark.

—Oh! –Ned foi correndo até a moça caída.

—Arya! –Berrou Gendry–Qual a porra do seu problema!?

Albar e Ned a pegaram pelos braços e a ajudaram a se levantar. O líquido do leite quente da caneca empapou o corpo de Margaery.

Gendry pegou Arya pelo pulso.

—Me solta Gendry–Ela tentava se soltar, contorcendo o braço, mas Gendry apertou e torceu mais ainda.

—Vamos para o quarto–Ele disse–Você precisa de modos e eu vou te ajudar com isso, sua loba selvagem.

Ela deu um chute entre as pernas dele e quase lhe acertou a virilha, mas ela errou por pouco e isso apenas o irritou mais. Ele a pegou e levantou com os braços, ignorando os protestos dela.

—Peste! – disse Margaery, sentindo o gosto de sangue na boca. O lábio estava rachado.

—Vamos levar você para o Meistre–disse Albar. –Precisará de outro banho, milady.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

O meistre a examinou, mas não tinha nada de grave para que ela precisasse dele, mas seu nariz ainda estava doloroso.

Ela tomou um banho quente e vestiu um vestido de lã simples.

Logo, ela teve que sair para o pátio, onde encontrou Ned e Sor Albar.

Margaery ergueu o capuz e se aproximou dos dois rapazes.

—Desculpe por isso, Margaery–Disse Edric. –Não queria que tivesse chegado a isso. Não queria ter lhe irritado.

Margaery abaixou a cabeça, se sentindo culpada. Era verdade o que Arya havia dito, ela só estava descontando sua raiva em Edric.

—Sou eu quem deve desculpas, Ned. –Ela respondeu–Não quis ser rude.

O jovem de olhos púrpuras deu um sorriso genuíno.

—Tudo bem–Ele respondeu–Eu entendo o terror em que se encontra e espero que tudo logo seja resolvido e que tudo termine bem para você e sua família.

O jovem foi tão gentil e galante que ela nem teve muita reação, a não ser apenas se sentir mais culpada.  

—Caminhe comigo–Ela disse e saiu andando pelo pátio. O garoto logo fez o que ela mandou e deixaram Sor Albar de lado.

—Vão fugir? –Ela perguntou.

O garoto –Que não era garoto, mas ela só conseguia o ver como um–pareceu receoso em lhe responder, mas logo assentiu.

—Vamos hoje–Ele disse–Direto ao Tridente. Para Harrenhal.

—Devia ficar, Edric–Ela o aconselhou–Vocês podem morrer antes mesmo de saírem do Vale.

Ele abanou a cabeça.

—Eu mandei um corvo para minha família–Ele disse. –Eles vão para a muralha, não importam as dificuldades.

—E você acha que eles vão? –Ela perguntou. –Dorne está com os Targaryen.

—A maior parte de Dorne está com os Martell, mas os Dayne estão comigo. O Norte precisa de nós, uma grande batalha que precisará da nossa ajuda.

Ele ama tanto assim Arya?

—Mas e você? Vai para o Tridente, então? 

—Preciso, não podemos deixar nenhum exército ser enfraquecido na luta que virá; e pelo menos a minha casa levará o que pedi para o Norte.

Ela assentiu, mas não havia realmente entendido.

—Desculpe, mas não acho que vocês três serão muito úteis.

Ele sorriu.

—Vamos encontrar nossos amigos–Ele disse. –E Arya tem seus truques.

—É claro que tem…–Ela disse. –Bom, eu tentei lhe convencer, se você for, não diga que não lhe avisei.

Ela se afastou dele e foi andando para dentro do castelo.  

A noite, quando novamente não conseguiu ir dormir, ela cansou de se mexer nervosamente no colchão e se levantou.

Ela pegou um roupão e saiu silenciosamente do quarto e foi até os estábulos.

Na escuridão, pode ver Gendry e Ned arrumando as selas dos cavalos. Arya a viu se aproximando no escuro e foi até ela.

— Mya deixou vocês irem? –Margaery perguntou. –Ou você a matou?

 – Ela está viva – Ela respondeu. –, mas para garantir que ela não falasse para ninguém, eu botei algo na cerveja preta dela. Peguei entre os frascos dos mestres. O sentinela também está dormindo.

— Arya! –Chamou Gendry por cima do cavalo. –Temos que ir, logo vão nos descobrir.

Ela assentiu e depois voltou-se para Margaery.

— Desculpe por hoje de manhã – Ela disse. –Mas você estava pedindo por aquilo.

Margaery assentiu, em parte aceitava aquilo, em parte segurava a raiva.

— Boa sorte, Stark –Ela disse. – Que os deuses te protejam – Ela falou, mas em parte esperava que ela nunca mais voltasse.

Arya subiu rapidamente na cela.

— Pronta para rever Nymeria? – Gendry perguntou com um sorriso.

A garota assentiu em resposta.

Ned jogou um alforge no chão.

— Para você, Margaery – Ele disse, virando a cabeça em sua direção. – Vai te dar bons sonhos.

Arya empinou o cavalo e avançou, com os dois garotos lhe seguindo logo em seguida.

Margaery os viu partir na noite fria em silêncio. Ela nada disse, nem acenou para eles. Viu os três que um dia foram tanto seus salvadores quanto seus sequestradores. Uma parte dela torcia por eles, mas outra esperava nunca mais vê-los.

Ela foi até o alforje que Ned havia deixado no chão. Ao erguer, ela sentiu o peso e percebeu que era a mão dourada de Jaime.

Ela levou o objeto ao peito e andou até os aposentos novamente.

Ao dormir naquela noite, com a mão dourada do regicida embaixo do travesseiro, Margaery finalmente teve uma noite calma e com um sonho suave.

 


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