Spin-off’s da Série do Imperador do Inferno escrita por Sorima


Capítulo 2
O Sonho de Helena


Notas iniciais do capítulo

GRUPO 1
1. Célere: com velocidade acelerada; ligeiro, veloz.
2. Rotundo: redondo; esférico; abaulado; gordo, corpulento; que soluciona, decide (figurado).
3. Madorna: vontade irresistível de dormir.
4. Averno: antagônico, que é contrário; prejudicial, que carrega consigo a desgraça.
5. Minore: atenue, suaviza, abranda.

Boa leitura!



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Não sabia quando tinha dormido, não tinha sentido nenhuma madorna, mas provavelmente estava sonhando.

O primeiro indicio disso era o cheiro que sentia: uma colônia familiar, muito suave, que lhe trazia paz; e o segundo indício era a sensação na pele de um tecido de lã fino, típico da batina de padres. Sob o tecido podia perceber os braços fortes que lhe acolhiam, aninhando-a contra o peito de um dos homens que amava e que achou que nunca mais veria.

Abriu os olhos marejados erguendo a face para encontrar seu rosto. Diferente de seu pai, Carlos possuía traços bem marcados nas bochechas e queixo, seus olhos castanhos eram calorosos e a pele morena parecia ameaçar derreter com qualquer contato. Levou a mão até seus cabelos e passou os dedos entreabertos entre os fios macios e pretos.

“Carlos, estou tão feliz de te ver!”

Disse quando encontrou sua voz. Ele sorriu para ela, um sorriso alegre como o de um menino.

“Fico feliz de te ver bem, El”

Helena sentiu o coração ficar célere quando ele lhe chamou pelo apelido. Ela sorriu acanhada para ele, se sentia uma menina tonta de tão feliz que ficou por vê-lo e ouvi-lo. Então seu sorriso murchou aos poucos enquanto imagens vagas de sua memória surgiam.

“Você realmente está aqui? Não é uma alucinação da minha própria mente?”

Ele ergueu uma das sobrancelhas e falou rotundo:

“Ah, meu amor. Eu tenho certeza de que você não se torturaria dessa forma”

Ela pensou por um instante antes de encostar a cabeça no peito de Carlos, surpreendendo-se quando percebeu seu coração batendo. Suspirou satisfeita, ele tinha razão.

“Então... o que você está fazendo aqui?”

Ele ficou em silêncio por um instante antes de suspirar pesaroso.

“Vim me desculpar”

Surpresa, Helena ergueu os olhos para seu rosto, viu-o enrugando a testa, preocupado.

“Se desculpar?”

Ele acenou com a cabeça antes de deixar os pés dela voltarem a tocar o chão. Sem querer perder o contato ele segurou sua mão e se puseram a caminhar.

“Eu deixei uma grande confusão nas suas mãos, me perdoe”

Ele baixou o rosto, envergonhado. Helena deu um sorriso triste, Carlos não tinha mudado nada.

“Não deixou problema nenhum. Na verdade, deixou um presente”

Ele a encarou de olhos arregalados.

“Mas a Igreja...”

“Fiz um amigo que minore bem a situação. Ele negociou com a Igreja depois de alguns conflitos e a Igreja respeita a presença dele”

Ela contou. Parecendo aliviado, Carlos comentou:

“Que ótimo guardião!”

“É um anjo da guarda”

Concordou Helena sorrindo, o que fez Carlos franzir levemente o cenho. Ele mudou de assunto:

“Então... o presente que você diz que eu te deixei...?”

O sorriso de Helena aumentou, fazendo Carlos sorrir também. O olhar dela entregava a mensagem muito bem.

“Como ele está?”

“Brian é muito esperto e carinhoso, igual ao pai”

Helena contou tudo sobre o desenvolvimento do filho, que já havia completado 8 meses de vida: como ele fazia bagunça com as mãozinhas nervosas e tentava se comunicar com quem estivesse em volta, como ele se esforçava para levantar a cabeça e tronco, e já conseguia se virar de um lado para o outro na cama, como ele brincava muito e observava tudo em volta e, de repente, dormia o sono mais profundo imaginável para recuperar as energias.

“Ele é curioso como uma certa pessoa que eu conheço”

Helena falou cutucando-o. Carlos riu.

“Fico feliz de saber que vocês estão bem! Acho que preciso agradecer aos anjos da guarda que estão protegendo vocês”

A imagem de Yekun e Lúcifer cruzaram sua mente deixando-a sem graça. Carlos percebeu quando seu sorriso sumiu:

“O que houve?”

“É que... parte de mim se sente traindo tudo que eu conheço. Meu pai faleceu quando a Igreja investiu contra nós. Eu sou muito grata a eles, pela proteção, mas... Ele tem a imagem de um ser averno a tudo que aprendi que era bom, e mesmo assim...”

Era tão difícil colocar as palavras para fora... As lágrimas ameaçavam preencher seus olhos. Carlos sorriu com suavidade, parecendo entender:

“Ele? É alguém que você gosta?”

Sobressaltada, Helena abaixou a cabeça, as lágrimas rolando pelo seu rosto. Assentiu, respondendo à questão. Sentia-se, irracionalmente, traindo-o.

“Que bom!”

Ele falou aliviado. Ela ergueu a cabeça sem entender.

“Se você ainda estivesse completamente presa a mim não conseguiria encontrar alguém para amar, além de que eu seria afetado também. Fico feliz que você esteja seguindo em frente, a sua maneira”

Ela piscou surpresa, não tinha pensado daquela forma. Ela inspirou fundo:

“Mas ele ainda é visto como a encarnação de todo mal: o Imperador do Inferno, Lúcifer, ou Satanás, como você preferir chamá-lo. Como eu me apaixonar por este ser é uma boa coisa? Quer dizer, será que eu sou má? O que vai ser do Brian?”

Carlos colocou delicadamente um dedo sobre seus lábios para cala-la. Meio surpreso com a revelação dela, ele disse:

“Eu não o conheço, só ouvi falar dele. E nem imagino como ele chegou até você. Mas o que eu sei é que nem todo ser é completamente bom, ou completamente mau. Além disso, as pessoas mudam. E você não é uma garotinha que se deixa encantar, ou enganar, por qualquer um. Confie mais na sua intuição, esse é um poder seu”

Helena franziu a testa, desconfiada.

“Um poder meu? Carlos, por acaso você sabia que eu era descendente de Lilith?”

Ele sorriu constrangido.

“Eu sempre soube, desculpa por não ter te contado”

Helena respirou fundo, se sentindo relaxar. Ele tinha razão, sua intuição nunca tinha falhado. Murmurou:

“Obrigada!”

“A sua disposição!”

Ele olhou em volta, atento, algo parecia chamar sua atenção.

“Acho que está na hora de ir... Eu te amo, Helena. E também amo o Brian. Desejo de coração que vocês fiquem bem! Ah, e agradeça àqueles anjos-caídos por mim”

Helena lhe deu seu melhor sorriso sentindo as lágrimas voltarem aos olhos, dessa vez por outro motivo.

“Pode deixar! Eu também te amo! Se cuide!”

Ambos trocaram beijos de despedida na testa, uma última benção. 

Então, quando deu por si, Lúcifer estava ali, sorrindo:

“Sentiu minha falta?”


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