Fourth abriu os olhos lentamente, sentindo o toque reconfortante de alguém acariciando seu cabelo.

— Desculpa, te acordei? — Perguntou Gemini com um sorriso amistoso. 

Fourth rapidamente retirou sua cabeça do colo de Gemini e se sentou, seu rosto corado denunciando seu desconforto com a situação.

— Peguei no sono e nem percebi. Dormi por quanto tempo? 

— Por uma hora, mais ou menos. 

— Sua perna deve estar doendo. 

— Estou bem, foi bom relembrar quando você dormia com a cabeça no meu colo. 

— Nós não somos mais namorados, não temos mais esse tipo de relação. Foi um erro eu ter dormido no seu colo. Estava tão cansado que não consegui controlar meu sono. Não durmo direito faz dois dias.

— Se quiser pode dormir mais — Gemini deu uma batidinha na coxa para que Fourth deitasse sua cabeça novamente. 

— Não sei se percebeu mas não estamos em condições de relaxar e dormir. Precisamos descobrir onde estamos e como voltamos pra casa. 

— Certo. Eu prometi te ajudar — Gemini levantou e estendeu a mão para Fourth — Tem algum plano em mente? 

— Tem um lugar que quero ir — Fourth segurou sua mão para ficar de pé, Gemini o puxou propositalmente para fazer trombar contra seu corpo, assim teve alguns segundos para abraçá-lo. Fourth revirou os olhos e o afastou. 

— Que lugar seria esse? — Gemini o olhou, esperando a resposta. 

— Se tudo isso é outra realidade e o mundo da série é como se fosse uma outra dimensão, então nossa empresa não existe. 

— O prédio da GMM! — Gemini arregalou os olhos. 

— Exato. Se o prédio estiver lá é porque nossos amigos idiotas estão pregando uma peça em nós de alguma maneira. 

— Meu namorado, digo, meu ex namorado é muito inteligente — Disse Gemini com orgulho — Mas como vamos até lá? Ônibus? Creio que as linhas sejam diferentes.

— Você é rico, esqueceu? Quer dizer, o Tinn é rico. Chame um táxi. 

Enquanto aguardavam a chegada do táxi, um silêncio envolveu os dois. A mente de Fourth estava repleta de pensamentos, explorando os recantos daquele mundo desconhecido e considerando possibilidades de retornarem ao seu lar. Enquanto isso, Gemini não conseguia desviar os olhos de Fourth, aproveitando a distração para admirá-lo sem a necessidade de esconder seus sentimentos. Ambos ansiavam por voltar para casa, mas Gemini sentia-se feliz por estarem juntos, em um mundo onde não havia impedimentos para expressarem o amor que sentiam um pelo outro.

— O que você tá olhando? — Perguntou Fourth, tirando Gemini de seu devaneio. 

— Na-nada — Gemini limpou a garganta e disfarçou — Só queria avisar que o carro já está chegando. É melhor esperarmos no portão. 

Seguiram em direção ao portão, cautelosos para evitar qualquer encontro com os garotos do Chinzilla ou os amigos de Tinn do conselho estudantil. Não tinham o desejo de se envolver em explicações desnecessárias sobre seu destino e os motivos. Preferiam preservar sua privacidade e seguir em frente sem interrupções.

Quando o táxi chegou, Gemini abriu a porta para Fourth, mas notou que ele não parecia confortável com tanta gentileza, levando em consideração como agiam no mundo real para não revelar sua relação. Com certa hesitação, Fourth entrou no veículo e colocou o cinto de segurança. O taxista, curioso, perguntou qual seria o destino, e Gemini olhou para Fourth, incerto sobre o que responder a ele.

— Precisamos ir para o prédio da GMM, por favor — Disse Fourth. 

— Prédio do que? — O motorista olhou para trás, com uma expressão confusa. 

— Prédio da GMM, olha é só ir nesse endereço que vou te mostrar — Fourth estava sem paciência. Escreveu o endereço num papel e entregou para o motorista, que leu a informação e ficou confuso e na dúvida, mas não questionou. Levaria onde eles quisessem ir, estavam pagando. 

Durante o percurso, Fourth observava a paisagem que passava rapidamente do lado de fora. Tudo parecia tão normal, como se estivesse em seu próprio mundo. Questionava-se se tudo aquilo era apenas uma brincadeira, e se perguntava qual seria o motivo por trás disso tudo. Suspirou profundamente, perdido em pensamentos, quando, de repente, Gemini segurou sua mão. Fourth olhou para Gemini, surpreso, pois quando estavam namorando, Gemini nunca demonstraria esse tipo de afeto em público. Não que Gemini não fosse carinhoso, pelo contrário, ele era muito atencioso, porém, reservava esses gestos para quando estavam a sós.

Apesar de Fourth ter ansiado por tanto tempo viver o romance que seus personagens experimentavam, ele agora se deparava com a realidade de que, se aquilo fosse verdadeiro, não era exatamente o que desejava. Desejava ser livre em seu próprio mundo, não em uma dimensão paralela. Fourth olhou para Gemini, que exibia uma expressão tranquila e até mesmo feliz. Surgiu em sua mente a dúvida se o relacionamento deles no mundo real não era um fardo que Gemini precisava suportar constantemente, equilibrando as expectativas de sua família e superiores com a satisfação das vontades de seu namorado mimado, que no caso era ele mesmo. Fourth já não tinha certeza de quem estava certo ou errado naquela situação complexa.

Afastou sua mão da de Gemini, determinado a evitar qualquer contato que pudesse abalar sua resolução de terminar o relacionamento. Ainda o amava intensamente e sabia que, se cedesse àquelas demonstrações de afeto, seria difícil manter-se firme em sua decisão. Embora as coisas pudessem parecer bem naquele mundo fictício, Fourth estava ciente de que, ao retornarem à realidade, tudo desmoronaria novamente. Seriam forçados a viver suas vidas reais, representando um papel contínuo em uma eterna ficção, onde ambos eram garotos heterossexuais e atores profissionais com uma relação apenas de amizade e trabalho. Fourth não desejava essa falsidade para si mesmo novamente.

— Chegamos — O motorista anunciou. 

Fourth e Gemini olharam em volta, não parecia ser o destino escolhido. 

— Tem certeza que é aqui? — Perguntou Fourth e o motorista leu novamente o endereço que lhe foi passado, estava correto — Isso só pode ser brincadeira. 

Fourth desembarcou do carro para confirmar o que seus olhos estavam presenciando. Gemini logo o seguiu, igualmente perplexo, e aquela visão só reforçou o que eles já sabiam. Não estavam mais em seu mundo de origem. Gemini envolveu seu braço em volta dos ombros de Fourth, compreendendo a confusão que tomava conta de sua mente. Buscando confortá-lo, abraçou-o com todo o seu amor, procurando mostrar que ele não estava sozinho, estavam juntos nessa nova e louca jornada.

Diante deles se erguia uma gigantesca fábrica de geleia, substituindo o prédio que costumavam frequentar diariamente para trabalhar e gravar as séries. A constatação de que estavam verdadeiramente em outra dimensão tornava-se ainda mais assustadora diante de evidências irrefutáveis como aquela. Naquele instante, compreenderam que só podiam contar um com o outro e que era essencial permanecerem unidos se desejassem encontrar o caminho de volta para casa. Ficar juntos era a sua única esperança.