Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 97
Futuro - O diário




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/809277/chapter/97

Shara colocou a mão tremula no centro da imensa porta de madeira que acabará de se materializar a sua frente, sentindo seu estomago embrulhar, ela estava nervosa era um fato, a porta se abriu instantaneamente, reconhecendo o toque e sua assinatura magica, uma prova de que aquele lugar também a pertencia, ela estava de volta em sua casa, pelo menos era assim que ela se sentia, embora ela não pudesse voltar sem que ele também estivesse lá, as duas coisas estavam associadas, conectadas uma a outra de tal forma que era impossível desassociar, aquele lugar funcionava para ela quando ele estivesse ali, sendo assim não havia outra forma de voltar. Ela congelou... era estranho, já que encontrar com ele depois de tudo que eles haviam passado juntos naquela noite, era tudo que ela mais queria, mas ela precisava admitir que estava com alguma dificuldade em dar o próximo passo.

—Está tudo bem? – Antony perguntou, sim ele a estava acompanhando, não que ele tivesse pedido para fazê-lo ou algo assim, até por que eles não trocaram mais nenhuma palavra depois que saíram da sala de troféus, mas ela não podia e nem iria impedi-lo, afinal eles haviam começado tudo isso juntos, ele era parte daquela história e sendo assim o certo a se fazer era que o terminassem também.

—Sim – ela inspirou o ar e o soltou, Shara entrou, e ela quase sorriu com a cena que via a sua frente, seu pai estava sentado confortavelmente em uma das poltronas, como se fosse apenas mais um dia qualquer, ele segurava uma taça com um liquido avermelhado dentro, ele balançou o liquido bastante concentrado naquela ação até que seus olhos se encontraram, ele se levantou, depositando a taça gentilmente em um apoio lateral, ela o estudou por um momento, sim ela queria correr até ele e abraça-lo como já havia feito tantas outras vezes no passado, mas dessa vez foi diferente.. Algo cresceu dentro dela, e aquilo não era sobre o seu estomago, ela se aproximou dele sim... alguns passos apenas...

—Como você ousa fazer isso comigo? – ela explodiu, estando tão surpresa com sua própria reação quanto ele e Antony também pareciam ser – você disse que cumpria suas promessas... você disse que sempre as cumpria, todas elas – ela lhe lançou um olhar firme de acusação – mas não... você foi lá e morreu, morreu na minha frente – e de repente ela estava com raiva, muita raiva, seu corpo todo tremia, era inevitável, aquilo era algo maior, algo que ela não parecia controlar.

—Algumas promessas simplesmente possuem pesos maiores do que outras – ele disse sem desviar o olhar, ela não queria reagir assim, ela sabia que sua reação podia ser comparada a de uma criança pequena que se contem e se retrai na frente de estranhos, mas extravasa ao se deparar com seu elo seguro, no caso o seu pai… aquilo, era algo mais ou menos assim.

—Pesos... nós nunca falamos de pesos – ela o amava, e a dor da perda, de perde-lo agora era tão imensamente ampla e terrível, que ela o odiava por faze-la se sentir assim.

—Existem muitas coisas das quais nós não falamos Shara... e ainda assim não significam que elas não estejam lá – ela sentiu as lagrimas se formarem na íris de seus olhos, deixando o ambiente ofuscado ao seu redor.

—Eu não entendo... por que fez aquilo? – as lagrimas desceram, marcando sua bochecha com precisão - você ia me abandonar… você ia embora… por acaso pensou nisso? Pensou em como eu me sentiria aqui? – ela chorou.

—Por que você foi até lá Shara? Aquela noite... sabendo de todos os perigos que corria, por que se empenhou tanto mesmo quando sabia da minha opinião a respeito, você pensou, planejou, envolveu outras pessoas, cúmplices ou não nesse seu plano tolo... descumpriu minhas ordens. Mentiu para mim, mais de uma vez... Infringiu diversas regras da escola, e tudo isso por que? – ele perguntou, ele não estava lhe acusando... ele estava apenas... perguntando – diga-me... existe um motivo, não existe? – claro que existia, ela o amava a ponto de se arriscar por ele, ela faria qualquer coisa por ele, qualquer coisa... – a reciproca também é verdadeira – ele disse, como quem pudesse ler seus pensamentos, tudo bem que ele podia... mas não era o caso ali – acostume-se você não é a única a fazer tais sacrifícios – ela chorou ainda mais com aquela verdade, ela sabia agora o quanto ele se importava sim, mas ouvi-lo dizer era ainda diferente - Eu não sou bom em expressar sentimentos Shara e eu sei que minha maneira de proteger pode parecer cruel, mas tudo o que fiz foi por uma única razão… amor, amor a você. Eu nunca quis deixá-la sozinha - aquilo era o bastante…

—Talvez devíamos apenas... parar de fazer sacrifícios – ela disse em meio aos soluços.

—Sim… eu apreciaria isso – ele sorriu com o canto da boca enquanto se aproximava dela, centímetros de distância agora, enxugando suas lágrimas com as próprias mãos, as duas mãos, sem lenços dessa vez, ele as repousou e as manteve sobre o seu rosto, ele parecia ler sua alma ali… aquilo era tão profundo e pessoal, não parecia haver ressalvas mais, ela fechou os olhos ao senti-lo, sentido sua raiva, sua dor se dissipar aos poucos… e se transformar em outra coisa ali, ela estava grata por tê-lo, reconhecendo aquilo que ele fez por ela, era reciproco, ela entendia – por hora... Acabamos aqui – ele disse, aquela mesma palavra que ela vinha repetindo para si mesma desde que eles haviam voltado ao castelo “acabado” ela assentiu, ainda confusa e admirada com a forma como eles haviam feito aquilo, talvez o amor fosse mesmo complicado e um tanto difícil de entender.

—Me desculpe... não sei o que me deu... eu não queria ter estourado assim... eu sinto por isso… não era assim que deveria ter sido – ela lamentou pelo seu comportamento de certa forma imaturo, e então ele a surpreendeu ao puxa-la contra si... sim ele havia tomado a iniciativa ali, ela passou os braços pela sua cintura, com bastante cuidado e depositado sua cabeça contra o seu peito, ela podia ouvir seu coração assim, e ele estava batendo… foi quando ela se deu conta de que essa sim era a sua verdadeira casa, nos braços dele.

—Shiii - ele fez, numa tentativa de fazê-la parar de falar e se desculpar – não deveria, mas já estou acostumado a sua total falta de controle de impulsos - ele disse e ela podia jurar que ele estava sorrindo, já que essa era a razão pela qual eles tiveram suas primeiras e mais marcantes brigas até ali, mas ele tinha razão sobre isso… ele sempre teve razão sobre isso, desde o princípio.

—Está nos genes… simplesmente não posso evitar - ela o provocou, sentindo liberdade em fazê-lo.

—Muito bom - Antony pigarreou, Shara quase tinha se esquecido de que ele também estava ali, seu pai a soltou lentamente e ela se afastou observando o quanto Antony parecia mesmo deslocado ali - não quero atrapalhar... esse momento, apenas continuem com isso, é tão familiar… - ele sorriu sem graça, com as duas mãos no bolso - vim apenas deixar a guia com as medicações que Pomfrey me pediu para entregar - ele disse dando um passo em direção a porta – falamos em outra oportunidade é claro – ele estava quase saindo.

—Talvez ave… devesse ficar um pouco mais e apreciar um bom vinho - Seu pai ofereceu, convocando uma nova taça - já que curiosamente havia uma garrafa em cima da minha mesa, não havia um bilhete, o que torna isso um pouco suspeito, mas não está envenenado, já averiguei – ele disse e Antony o encarou, seu semblante mudando com tal apontamento.

—Ah o vinho... bom – ele coçou a cabeça - sobre isso... é uma história muito boa por sinal… a professor Minerva o deixou, a garrafa – Antony explicou.

—Posso imaginar, aquela velha geniosa é dada ao vinho... assim como alguns de nós são dados ao whisky... – Seu pai sorriu, era estranho vê-lo agir de forma tão descontraída. 

—Ela não é apenas uma velha geniosa, acredite – Antony estava corando, seu pai o analisou com certa curiosidade – ah apenas esqueça... – ele disse visivelmente constrangido - ainda sobre o vinho ela o havia trazido naquela noite com Elza... mas digamos que alguns acontecimentos a fizeram mudar de planos, e pensar... talvez questionar o teor do nosso relacionamento aqui – Antony disse se virando para ela e lhe lançando um olhar condenatório, que ela estranhou.

—Relacionamento? – Seu pai havia perguntado – apenas continue ave – ele pediu, e pelo olhar que Antony havia lhe direcionando, aquilo parecia estar se virando de alguma maneira contra ela, ela engoliu em seco.

—Sim, relacionamento... isso devido as circunstâncias que bem, depunham contra mim, e como fui encontrado aqui, nesse caso... também depunham contra você, contra nós... – Seu pai estreitou o olhar, sim havia uma sutil porém visível mudança no clima acontecendo ali... - afinal não é todo dia que estou vestindo saias curtas de colegial e uma camiseta justa, que revela parte da minha barriga, nem meias até os joelhos, isso tudo nos seus aposentos privativos, depois do jantar de um domingo à noite – Antony continuou e seu pai que havia acabado de ingerir uma certa quantidade de vinho, o cuspiu...

—O que está dizendo ave? – ele perguntou, agora na sua habitual linguagem corporal que dizia “eu vou matar o responsável por isso” sendo que ela era a responsável por isso.

—Significa o que significa – Antony disse dando de ombros, mas não antes de lhe lançar um novo olhar e esse sim era categórico, nada mais precisava ser dito, a culpa era dela e dado a maneira como seu pai também a encarava agora, algo dentro dela dizia para que ela corresse e fugisse enquanto podia.

—EPSON – ele grunhiu seu sobrenome, e pensar que aquilo tinha tudo para ser um momento feliz e tranquilo, mas nada nunca era previsível, não quando se tratava deles, juntos – por que por Merlin – ele ralhou - além de fazer o que fez, teve a audácia de vesti-lo dessa maneira, francamente... usando o seu uniforme escolar... onde estava aquele seu maldito pijama? – agora ele soava bravo, bem bravo.

—Não bastava me enganar e me azarar... para completar tinha que humilhar também – Antony disse de forma um tanto quanto dramática, mas não era sobre isso...

—Não, não... – ela se defendeu – não era esse o intuito Antony... olha, eu apenas usei a lógica aqui, eu sabia que perderia as roupas, sim... já que quando você voltasse ao normal, elas meio que não caberiam nesse seu corpo, então usei o meu uniforme justamente por eu ter mais de um conjunto, já o pijama não... – ela tentou, aquilo simplesmente fazia lógica para ela – e não pode ser assim tão ruim, pode? – ela perguntou, sabendo que era ruim, pelas caras deles... bem ruim, mas como ela podia imaginar que eles teriam visitas naquela noite? Seu pai nunca recebia visitas.

—Acredite, foi bem ruim... – Antony interveio – a saia rasgou a propósito, o que tornou tudo ainda mais constrangedor, pelo menos a sua tese sobre perder as roupas estava certa – ele a provocou – devo agradecer é claro, por ter mantido minhas partes de baixo – Shara corou com aquele comentário – agora obviamente que Minerva apenas deduziu o obvio daquilo que ela viu aqui – Antony disse mais para o seu pai do que para ela - já que eu me parecia com algo como... a sua ninfeta de estimação – ele finalizou.

—AVE - ele levantou a voz - devo lembra-lo da escolha e do uso adequado das palavras aqui – agora ele estava ainda mais bravo, Shara não sabia dizer se apenas com ela ou se também com Antony, definitivamente aquilo estava sendo um desastre completo, principalmente por ele se voltar para ela outra vez, parecendo como sempre se parecia, assustadoramente intimidante, ela não sabia muito bem o que fazer, falar…

—Eu sinto muito – ela disse se encolhendo.

—Claro que sente... – ele estava sendo irônico.

—O que exatamente é uma ninfeta? – ela perguntou o desconcertando, e ouvindo Antony engasgar... Mas ela estava apenas tentando tirar alguma informação daquilo, já que ele estava suficientemente bravo com ela e com toda aquela situação, então nada mais justo do que saber, qual era exatamente o ponto ali, a dúvida pelo menos era verdadeira, já que ela nunca havia ouvido esse termo antes.

—Algo que definitivamente não é da sua conta aqui - ele cuspiu – o que disse a Minerva? – ele perguntou para Antony, havia uma preocupação no seu tom de voz, ela fez um nota mental para pesquisar sobre esse termo mais tarde.

—A verdade obviamente, claro que não foi fácil faze-la me ouvir… ela estava meio histérica, bom sabe como ela é, mas ela fez, e então pude esclarecer a situação, se isso te deixa mais confortável… ela entendeu – Antony explicou – e não me olhe assim, saiba que fui uma vítima aqui… tanto quanto você e essa imagem de morcego que tanto preza, sua adorável pestinha é a responsável por todo esse mal entendido – ele concluiu e tudo se voltou para ela novamente.

—Eu escrevi uma carta pedindo desculpas – ela se referia ao uso do polisuco.

—Ah que fofa – Antony debochou – ela não é mesmo uma criança adorável? – ele perguntou enquanto seu pai massageava as têmporas.

—Certo eu sei que estão todos chateados comigo, eu posso mesmo ter passado um pouco dos limites – e o olhar que recebeu de ambos a fez reformular – ok bastante dos limites, mas essa era a única maneira de conseguir... conseguir sair daqui naquela noite e se eu não tivesse feito aquilo... estariam mortos... quer dizer você não - ela disse sem graça para Antony – isso apenas por que não pode morrer é claro.

—É... sorte a minha não é mesmo? – Antony perguntou com apatia enquanto cruzava os braços – acontece peste, que está errada sobre isso, tudo aconteceu da forma como aconteceu por que você me atrasou, mudando os planos ao me colocar sobre aquele feitiço... se tudo tivesse acontecido conforme havíamos planejado A e B – ele gesticulou para o seu pai - eu teria intervindo e dessa forma ninguém precisaria morrer naquela noite... quer dizer, ninguém além de Elza é claro.

—Está dizendo ave, que eu não teria conseguido me defender sozinho? – seu pai perguntou incomodado, isso estava ficando cada vez pior – é isso que está insinuando? – ele perguntou agora em tom ameaçador.

—Bom... até onde posso me lembrar, foi você que eu encontrei preso naquelas raízes no meio da rua, pedindo por reforços... então acho que sim, é exatamente isso que estou dizendo – Antony disse sem se deixar intimidar.

—Acontece ave... que a troca inoportuna me fez ter que abortar a missão, haviam outras prioridades em jogo a partir do momento em que ela surgiu onde não deveria, e se fosse tão esperto como acha que é, não teria deixado que uma criança de apenas 11 anos de idade te enganasse da forma como fez – ele acusou.

—Ah sério? Bom... acho que não fui o único a ser enganado por uma criança de 11 anos aqui... e no seu caso mais de uma vez – Antony se manteve em posição de ataque, seu pai havia tirado a varinha do bolso... aquilo estava indo mal.

—A CULPA É MINHA – ela elevou a voz, ambos a encarraram – vamos briguem comigo e não entre si... – ela pediu – isso tudo é patético, deveríamos estar... sei lá, felizes já que estamos todos vivos, de alguma forma... e não, não precisa fazer nenhuma piadinha sobre isso Antony – Shara disse seca, notando que ele havia aberto a boca para falar algo, mas a fechou na sequência, seu pai havia guardado a varinha no bolso, voltando a se sentar – vocês teriam ido lá e matado Elza e resolvido a situação... ok, eu sei eu posso ver isso agora, mas não era como se eu pudesse saber disso, nem o senhor sabia – Shara encarou seu pai – estava com medo, eu podia sentir isso... você meio que admitiu isso pra mim – agora ele a estava encarando também - afinal aceitando isso e querendo ou não, tudo que aconteceu só foi possível, por que do nada Antony apareceu com um cajado que parecia reter toda a magia ancestral do universo, e honestamente... ninguém aqui contava com isso... Sei lá, Antony tem magia quem podia imaginar? e não é qualquer magia... eu não perguntei, mas você não parecia ter aprendido o uso daquilo da noite para o dia, não é mesmo? – ela perguntou para Antony, ele havia feito tudo que fez naquela noite com muita maestria, era obvio que ele derrotaria Elza assim... a magia dele era ainda mais forte do que a dela, mas Shara não sabia... ninguém ali sabia... nem Elza sabia, justamente ela que parecia saber de todas as coisas – eu sinto pelo que fiz... mas não briguem, por favor não briguem – ela finalizou.

—Certo... Shara está certa... Eu também lamento – Antony disse – eu deveria ter dito... eu só demorei para aceitar isso, aceitar o que e quem sou... e achei que aquele seria o momento certo, uma oportunidade de revelar meus poderes como mago... eu deveria ter previsto isso, eu deveria ter compartilhado meus planos... assim como Severo fez com os dele – Antony olhou para o seu pai, esperando que ele dissesse algo a partir dali.

—Vinho? – ele ofereceu apontando para a taça vazia, Antony sorriu se servindo... então era isso? Simples assim, eles haviam meio que feito as pazes... Shara suspirou de alguma forma aliviada – não se anime tanto – seu pai disse para ela - está de castigo – ele decretou e por alguma razão isso não soava tão ruim, ela meio que esperava algo nesse sentido, afinal era obvio que tudo aquilo não passaria batido.

—Eu sei... eu posso entender isso, honestamente eu mereço pegar uma, duas, várias... detenções – ela assumiu, dessa vez ela não iria argumentar e o mínimo a se fazer, era aceitar aquilo, por que sim ela merecia recebe-las.

—De fato – ele concordou - contudo não serão detenções... detenções são disciplinas que aplicamos aos alunos – Shara estranhou, dava no mesmo, não dava? – já o castigo... é aquilo que os pais aplicam aos seus filhos – Shara sorriu com a analogia, era de certa forma reconfortante, ouvi-lo dizer daquela maneira ali – se eu fosse você tiraria o sorriso do rosto – ele estava sério – acredite em mim, os castigos podem ser infinitamente mais rigorosos do que qualquer detenção que você já passou – e aquilo fez seu sorriso sumir imediatamente.

—Pior?... como algo pode ser ainda pior do que uma detenção? – ela soou nervosa, ele curvou o canto da boca.

—As consequências de um castigo podem ser muito mais profundas e rigorosas do que as detenções já que as detenções possuem suas limitações, mas um castigo vai além dos muros dessa escola e podem moldar seu caráter e influenciar seu futuro - O olhar dele permaneceu fixo no dela, transmitindo uma mistura de autoridade e preocupação, que ela diria ser preocupação paterna - Não estou fazendo isso para puni-la apenas... – ele estava calmo agora e ela não sabia dizer se nesse caso isso era melhor ou pior - mas sim para ensiná-la sobre responsabilidade e também sobre as expectativas que tenho quanto ao seu comportamento aqui – ele disse - A punição que você enfrentará será proporcional à gravidade de suas ações, isso basicamente responde a sua pergunta, sobre o quão ruim pode ser... agora me responda, o quão grave acha que foi tudo isso... tudo o que fez? – ele perguntou a fazendo refletir, mas não precisava de muito, ela sabia a resposta para aquela pergunta.

—Muito grave – ela disse baixando a cabeça.

—Bom que esteja consciente disso – ele pontuou – quero que entenda, que o mundo real não é condescendente com irresponsabilidades e atitudes inconsequentes, você tem sorte em ainda estar viva – ele bebeu do vinho.

—Você me salvou – ela admitiu, sentido o peso daquela verdade, se ele não tivesse lá para ela, se ele não tivesse pulado na sua frente, se ele...

—Sim, mas nem sempre estarei lá para salva-la – ele completou – infelizmente a vida não é uma extensão dos corredores desta escola, tenho certeza que a medida que for crescendo se dará conta disso – ela sabia... e ele tinha razão mais uma vez, ela assentiu, seus olhos marejando novamente, não por que ele havia sido duro ou coisa do tipo, mas por que ninguém nunca havia falado com ela daquela maneira antes, ele estava sendo pai, um pai de verdade, até ela podia reconhecer isso.

—Você disse que não sabia fazer isso... mas vejo que estava enganado sobre si mesmo – uma lagrima escapou de seus olhos, ele ergueu a sobrancelha confuso com sua observação – isso... isso de ser pai... – ela disse com emoção, as feições dele suavizaram naquele ponto, revelando uma certa surpresa com sua observação – eu nunca quis desaponta-lo e prometo que vou aprender com isso... pai – ela disse, se aproximando dele e dessa vez fazendo a coisa certa, ela se jogou em seus braços.

—Talvez eu esteja começando a aprender... com você – ele sussurrou em seu ouvido.

—____

Não era surpresa para ninguém que ele estaria dando aulas naquela sexta-feira de manhã, ele não era do tipo que parava para descansar, ou que se achasse no direito de receber cuidados, Shara notou que seu humor estava ainda pior naquele dia do que era de costume, era até difícil acreditar que eles haviam passado parte da noite anterior em relativa harmonia, verdades sejam ditas, ele era uma pessoa completamente diferente quando estava em sala de aula, tanto para ela, como para com os demais... um completo desconhecido, ele atuava... sim ele passava o tempo todo atuando.

Mas o que mais havia deixado Shara desconfortável naquela sala de aula, não era nem a presença intimidadora dele sobre a turma... mas sim Gina, agora que Shara estava prestando mais atenção na amiga, era visível o quanto ela vinha piorando a cada dia, seu semblante carregado denunciava a luta que ela vinha travando secretamente.

—É sobre o diário, não é? – Shara perguntou.

—Não quero falar sobre isso – Gina disse seca.

—Ah mas você vai falar – Shara devolveu – aquilo está acabando com você, acredito que consiga ver isso por si só – ela disse notando a amiga se mexer de forma desconfortável ali, eles não estavam fermentando hoje, o professor havia pedido que eles elaborassem uma redação sobre a poção morto vivo, que Shara já havia finalizado.

—Não é tão simples como parece – Gina disse sem levantar a cabeça, encarando enquanto rabiscava algo no próprio pergaminho.

—Eu não disse que era simples... mas algo precisa ser feito quanto a isso Gina – Shara tentou outra vez – é evidente que você não está bem – ela concluiu – tem se olhado no espelho ultimamente?

—Além de não me lembrar daquilo que faço na maioria das noites, até que estou bem... e tenho evitado os espelhos – Gina disse com ironia, embora ela estivesse sendo rude, Shara não se importava, a leitura que ela fazia daquilo, era mais como um pedido de socorro silencioso, ao invés de toda aquela grosseria, Gina estava com medo, não por menos, aquilo parecia ameaçar sua família, era o que ela havia dito.

—Pois bem, está decidido... vamos nos livrar disso hoje – Shara disse com bastante convicção, o que obrigou a ruiva a levantar o rosto e encara-la por um breve momento, Gina estava pálida, muito pálida, ela era quase um fantasma ali, como ninguém estava notando aquilo?

—Não dá pra se livrar daquilo assim... eu já te disse... – Gina estava argumentando nervosa.

—Bom você escolhe, ou isso ou estarei indo até a professora Mcgonagall mais tarde, ela certamente saberá o que fazer – Shara estava falando sério, não dava simplesmente para fingir naturalidade quando a amiga acabará de confessar que estava ficando sem consciência por causa daquilo durante as noites, isso não era normal, aquele diário, como Beta bem havia comentado era enfeitiçado com magia negra, até Shara sabia reconhecer o quão ruim isso podia ser.

—E como acha que eu posso fazer isso? – Gina perguntou, seus olhos brilharam naquele momento, num lapso de esperança, ela queria se livrar daquilo também.

—Depois da aula... tenho um plano – Shara disse baixinho, seu pai estava passando para recolher as redações, e havia acabado de lhe lançar um olhar assassino, não por menos, ela certamente havia tagarelado por tempo demais para o crivo dele, ela sabia... e por fim se elas iam mesmo resolver aquilo, elas o discutiriam mais a vontade fora da sala de aula.

—__

—Certo qual o plano? – Gina perguntou assim que elas cruzaram o primeiro corredor.

—Banheiro feminino, segundo andar – Shara disse, puxando o braço da amiga.

—Espera... está me dizendo, que seu plano brilhante para me livrar de um diário amaldiçoado... é simplesmente joga-lo no lixo? No lixo de um banheiro coletivo? – Gina bufou – você sabe que não se trata de um diário qualquer, não sabe? – sim Shara sabia.

—Sim... mas isso não é sobre joga-lo no lixo... a ideia é dissolve-lo – Shara explicou – esse diário pode ser encantado, possuído ou coisa do tipo, mas ainda continua sendo papel e papel dissolve com água – Gina encarrou a amiga por um longo momento.

—Ok, faz algum sentido – ela disse pensativa.

—O que faz sentido? – Beta perguntou enquanto se aproximava das amigas – vocês estão com cara de que estão aprontando algo – Beta disse, começando a soar aflita – vão quebrar regras não vão? – ela questionou, fazendo Shara rir daquilo.

—Não dessa vez Beta – Shara mostrou a língua – caramba não sabia que fazia tão mal juízo de mim – ela provocou – não sou tão mal influencia assim.

—Ah não se faça Shara... você passa mais tempo na enfermaria do que em sala de aula e isso por si só já diz muito – Certo Beta estava certa sobre aquilo.

—Vou me livrar do diário – Gina afirmou – no banheiro feminino do segundo andar – ela repetiu aquilo que Shara havia proposto a minutos atrás, enquanto Gina mesma começava a caminhar naquela direção, agora parecendo decidida.

—Isso... isso é ótimo – Beta acompanhou os passos da amiga a incentivando – muito, muito prudente Gina, parabéns... sábia decisão – Beta disse ao lançar um olhar em sua direção, olhar esse que dizia, “tá vendo... Gina sim está sendo sensata” Shara apenas revirou os olhos.

Elas caminharam até o banheiro, não havia muito a ser dito ali... como previsto o lugar estava vazio, ninguém nunca ia lá, era estranho... por essa razão Shara havia pensando naquele banheiro em especifico. Gina tirou o diário de dentro da bolsa, o segurando com bastante força, ela estava lutando com algo maior que parecia crescer cada vez mais ali... medo talvez, era difícil dizer.

—Eu... eu não sei se consigo – Gina caiu de joelhos, começando a chorar – e se algo ruim acontecer... com eles... meus irmãos? Meus pais? – ela soluçava – vai ser minha culpa... minha culpa mais uma vez... – Beta se abaixou do lado dela.

—Não vai acontecer Gina – Beta a encorajou.

—Como... como pode ter tanta certeza disso? – Gina estava tentando buscar alguma razão naquilo, Shara não podia julgá-la, era sua família e isso significava muito para ela, assim como seu pai também passou a significar para si, Shara podia entender o medo, o receio da perda... sim ela podia.

—Bom... eu sei que estamos falando de um diário carregado de magia negra, mas ainda assim, seja quem for esse tal de Tom, ele não é real... ele precisa de um corpo para possuir e usar como hospedeiro, e me parece que está fazendo isso... isso com você Gina... agora ao se livrar do diário, o destruindo... não há simplesmente como ele voltar e machucar alguém...  – Beta explicou, Shara não havia pensado naquilo, não daquela maneira e ela se sentia feliz por ter Beta por perto, ela era incrivelmente logica e racional, Shara sorriu para Beta, que retribuiu o sorriso. 

—Mas e se mesmo assim... e se mesmo assim... se ele puder, e se tiver uma forma dele conseguir fazer... – Gina chorou – eu não posso, eu não consigo me livrar disso... eu sei que preciso de ajuda... eu simplesmente não posso sozinha... eu sou tão fraca... – Shara não pensou duas vezes, ela sentiu toda a angustia da amiga ali, ela sabia que precisava fazer algo naquele sentido, Shara precisava ajuda-la, então ela puxou o diário da mão de Gina de maneira impulsiva, mas aquilo a machucou e então ela o lançou contra algo que havia acabado de se formar a sua frente... Shara não sabia dizer o que havia sido pior ali... se foi a dor dilacerante ao sentir sua mão queimar quase que em carne viva assim que ela o tocou, ou se foi o grito do fantasma que havia se materializado, as assustando e as obrigou a sair correndo... “QUEM OUSA JOGAR UM LIVRO EM MIM?” o fantasma havia dito com a voz chorosa... liberando água por todos os encanamentos possíveis. Beta, Gina e Shara correram... sem se importar muito bem com o fim que o diário teria, estava molhado de qualquer maneira, elas só pararam assim que desceram às escadas, Gina estava um lixo, Beta descabelada e sua mão... haviam bolhas de água se formando em vários lugares ali, ela queria gritar, chorar tamanho a dor daquilo.

—O que... o que foi isso? – Beta perguntou tentando recuperar o folego.

—Eu acho que posso entender agora... o por que ninguém nunca vai lá – Shara disse, ao encarar a própria mão.

—Sua mão – Gina parecia assustada – o diário te queimou de novo...

—Merlin Shara, isso está... está terrível – Beta disse apreensiva, Shara ia argumentar... mas ambas congelaram quando viram o professor Snape se aproximando, é claro que tinha que ser sempre ele, ela lamentou para si mesma... e sua primeira reação, foi colocar a mão atrás das costas, as amigas ela notou, mal respiravam, o estado de Gina não ajudava muito, denunciando que algo não estava certo ali, contudo para sua surpresa ele passou por elas a passos largos, sequer havia lhes direcionado o olhar.

—Será que ele desconfiou de algo? – Gina perguntou quase histérica, assim que ele havia sumido do campo de visão delas.

—Não... ele... não dá a mínima para nenhum aluno daqui, quem dirá para nós três primeiranistas – Beta disse soltando o ar, mas Shara não tinha tanta certeza disso, já com medo das perguntas, que poderiam vir mais tarde, principalmente se ela aparecesse com a mão naquele estado, e caramba aquilo doía... Merlin como aquilo doía.

—__

Severo havia recolhido as redações da turma, ele ainda não se sentia completamente recuperado naquela manhã, mas ele não daria o braço a torcer a Pomfrey assim, ele já havia enfrentado situações muito mais adversas do que aquela, em campo, durante a guerra e descansar não era uma opção para ele, embora tivesse que admitir que aquele desconforto o deixava ainda mais intolerante do que o habitual, sendo necessário um alto nível de autocontrole para não azarar aquela pirralha que carregava o seu sangue e que estava sentada a apenas alguns metros de distância dali, Shara não calava a maldita boca... ele estava prestes a fazer um comentário sarcástico ao se aproximar da bancada delas quando notou que havia algo errado, não com Shara... não dessa vez, mas a garota sentada ao seu lado, a Srta. Weasley não possuía cor alguma, talvez estivesse doente ou algo assim… e ele achou por bem, deixar passar, apenas dessa vez é claro.

Assim que os alunos haviam saído, ele analisou as redações passando os olhos rapidamente por elas e parando na de Ginevra, ele a estava lendo com mais atenção, estava sem contexto algum, ela certamente não sabia o que estava fazendo, até mesmo uma cabeça oca como ela seria capaz de produzir e entregar algo melhor do que aquilo, sim algo estava errado com a garota e ele achou que seria prudente de sua parte como professor daquela escola, comentar sobre o estado lastimável da menina com Minerva, ele bufou ao pensar a quão desleixada Minerva podia ser com os alunos de sua própria casa, ao deixar passar algo assim, afinal um olhar um pouco mais refinado apontaria as evidências, de que algo estava acontecendo ali.

Severo terminou de organizar a sala e saiu, ciente de que aquilo seria mesmo o melhor a se fazer, ele caminhou em direção a sala da professora de transfiguração, mas para sua surpresa, ou não... ele se deparou com as meninas paralisadas no canto do corredor, logo depois das escadas. Shara era suspeita, na verdade ela sempre era suspeita, ele não precisava encará-las para fazer uma análise completa da situação, afinal ele era a porra de um espião, Shara havia recolhido a mão assim que o viu se aproximar, Vicente, além de estar com os óculos tortos e completamente descabelada, parecia estar vendo um fantasma... mas sua atenção foi direcionada para a Weasley mais nova, ela estava ou havia chorado, era recente o suficiente para ressaltar aquilo em suas feições… sim tudo ali era suspeito... e se tinha algo que ele havia aprendido esses meses todos ao conviver mais de perto com uma menina de 11 anos, em específico com aquela menina de cabelos negros, era que se algo parecia suspeito, era de fato suspeito, e dessa vez ele não deixaria passar, ele decidiu que iria averiguar a situação mais de perto, assim que virou o corredor, e sumindo do campo de visão delas, ele lançou um feitiço que amplificada a voz, era um feitiço pouco difundido, a guerra tinha suas vantagens.

—Será que ele desconfiou de algo? – a garota Weasley havia perguntado.

—Não... ele... não dá a mínima para nenhum aluno daqui, quem dirá para nós três primeiranistas – Vicente disse, ela tinha razão, contudo ele estava bisbilhotando, era no mínimo patético.

—Shara... você precisa prometer que não vai contar nada sobre isso para ele – a ruiva quase suplicou.

—O que? – Shara parecia indignada – tudo bem que eu seja da Sonserina e isso depõe contra mim, mas não é como se eu saísse correndo e contasse os segredos das minhas amigas para o meu chefe de casa, achei que já tivessem notado – ela respondeu com ironia, o fazendo ter vontade de rir, já que ela se portava como ele ali.

—Não foi bem isso que eu quis dizer... você sabe – a ruiva tentou corrigir – mas pode ser que ele te questione, nessas mentorias que fazem, sei lá... e eu não posso correr o risco Shara, se ele souber... Dumbledore vai saber e sendo assim meus pais vão saber, eu... posso ser expulsa – ela havia dito e isso chamou sua atenção, do que ela estava falando afinal? O por que ela estaria com receio de ser expulsa?

—Tem minha palavra Gina, até porque foi ideia minha… se livrar disso da forma como fizemos... – sua filha havia dito, que grande novidade... por que isso não o surpreendia nenhum pouco?

—Sua? – Vicente parecia surpresa – não brinca? Quem é você e o que você fez com a minha amiga, Shara Epson? Como assim.... você aconselhou Gina a fazer a coisa certa? E pela primeira vez isso não envolve quebrar regras ou coisas do tipo... olha, algo me diz que existe esperança para você afinal – Vicente disse e isso despertou sua curiosidade, se não haviam quebrado regras, por que estavam agindo de maneira tão suspeita, simplesmente não fazia sentido.

—Nossa vocês fazem mesmo um péssimo julgamento de mim – Shara respondeu agora soando um pouco mais divertida – enfim, ainda assim é cômico não? Mesmo quando estou tentando fazer a coisa certa, ainda consigo parecer que sou cumplice de um assassinato, olha o meu estado... – Exatamente, pelo menos ela tinha noção sobre isso, e isso era um ponto interessante… agora o que elas chamavam de a coisa certa? Ele tinha suas dúvidas a respeito.

—Convenhamos, todas nós parecemos suspeitas… maldita fantasma gritona, de onde ela surgiu? aquela coisa me assustou - Vicente disse - Shara… de qualquer maneira precisamos te levar até a enfermaria – enfermaria? Aquele comentário fez seu coração acelerar, ela estava machucada? E ele não havia notado... que tipo de espião ele era?

—Ah claro... e como acha que vou justificar isso? eu não passo tão despercebida assim por lá, já que como você mesma diz eu frequento o lugar mais do que a sala de aula, e esse ferimento certamente será reportado ao meu chefe de casa, e então eu terei que responder perguntas, muitas perguntas – ela explicou – não dá pra dizer que eu me queimei com chá como fiz da outra vez, não nesse caso.... Ninguém vai acreditar – Severo ficou estarrecido ali com aquela revelação, sentindo vontade de abordá-la ali mesmo e colocá-la de castigo outra vez, nesse ritmo ela ficaria de castigo até atingir a maioridade bruxa.

—Puta merda… Shara está certa sobre isso – Vicente concluiu, as palavras malcriadas da corvina também não passaram despercebidas, talvez ela merecesse um feitiço que lavasse sua boca com sabão. Ele bufou, o que ele estava fazendo afinal? Se importando com crianças de 11 anos… ele tirou aqueles pensamentos da cabeça, Shara por si só já era trabalho mais que o suficiente.

—Precisamos pensar em algo, isso vai infeccionar em breve, está muito feio... não sei como está aguentando a dor – a ruiva pontuou, e ele se questionou se teria capacidade de ouvir tudo aquilo sem intervir, já que parecia mesmo bastante ruim, maldita peste, será que ele não teria um dia de paz nesse castelo? Ele mal havia se recuperado do ocorrido anteriormente e ela já estava tentando matá-lo outra vez, agora do coração.

—Quem disse que estou aguentando? – Shara resmungou - que porcaria é aquilo naquele objeto, que me odeia tanto assim, e por que ele só queima a mim? – ela perguntou, então elas haviam se livrado de um objeto... e o objeto havia queimado a mão dela – eu costumo ser resistente a dor admito... mas isso, está muito ruim – ela choramingou, certo ele precisava fazer algo, ele iria até ela…

—Magia negra Shara, como eu disse… e das piores... algo em você a ameaça, é raro... Mas eu li sobre isso certa vez, sua magia, talvez... seu sangue, não sei a repele – Severo congelou, agora aquilo estava indo longe demais… elas estavam brincando com um objeto que continha magia negra… e se isso a queimou, podia ser irreversível… além de que obviamente a magia negra do objeto deve ter reconhecido a magia ancestral que ela possuí, aquelas pestinhas inconsequentes, estavam indo longe demais…

—O que está fazendo aí parado Severo? - Minerva questionou o pegando desprevenido, ele desfez o feitiço não antes de ouvir a voz de Shara uma última vez… embora ele não tivesse prestado atenção no que ela havia dito, não com Minerva o encarando e o julgando daquela maneira.

—Não sabia que lhe devia alguma explicação sobre aquilo que faço ou deixo de fazer nesse castelo - ele devolveu sem sutileza.

—Oras… vejo que está bisbilhotando, deveria ter vergonha Severo - ela disse prestes a lhe dar um sermão - francamente homem… eu esperava mais…

—Antes que faça seu discurso ou diga o que posso ou não fazer aqui - ele a encarou - sugiro que preste mais atenção nos alunos de sua própria casa, ao invés de ficar controlando aquilo que os professores fazem - obviamente que ele não perderia a oportunidade de provocá-la.

—Seja mais específica Severo… o que exatamente você quer dizer com alunos na minha casa? - ela perguntou de maneira desafiadora.

—A Srta. Weasley por exemplo - ele gesticulou com as mãos - até eu que não me importo com seus leões, observei essa manhã que há algo de errado com a menina, já que estava tão ou até mais branca do que uma assombração.

—Sim Severo está correto sobre ela - Minerva suspirou, ela havia admitido aquilo? Ela sabia sobre o estado da criança? - acontece que a menina tem fugido de minhas abordagens… não sei mais como posso alcançá-la - e agora ela parecia admitir o seu fracasso - talvez tenha alguma sugestão? - e pedindo sua opinião… agora aquilo parecia uma reunião informal de professores preocupados no meio do corredor da escola, acontece que ele não era um professor preocupado…

—Já tentou ameaçá-la? - já que ela havia mesmo pedido sua opinião, aquilo fez Minerva rir, mas ele não estava brincando.

—Não, eu não cogitei algo assim… não é de meu feitio fazê-los chorar na minha presença, pelo menos não por esse motivo - ela respondeu divertida.

—Uma pena - ele devolveu - Deveria tentar, além de funcionar, costuma ser bastante prazeroso - ele aconselhou.

—Claro - ela sorriu - agradeço sua preocupação com Gina - acontece que ele não estava preocupado com uma maldita de uma Grifinória - vejo que a paternidade tem feito muito bem a você - ela disse, claro… ele estava ótimo, envelhecendo 2 anos a cada semana, morrendo uma vez por mês, ele se perguntou se não era hora de começar a tomar remédios para pressão? – Apenas te deixou um pouco possesivo, deixe a menina respirar Severo… são apenas crianças – ela advertiu, enquanto sorria uma última vez antes de se retirar, sim apenas crianças indefesas brincando com um objeto encantado com arte das trevas, ele suspirou, voltando sua atenção para o corredor agora vazio, enquanto amaldiçoava Minerva pela intromissão, ele estava prestes a acionar Shara, usando o anel… quando mais uma vez foi interrompido ali.

—Ah Severo, muito bom revê-lo meu menino - ele observou enquanto Dumbledore se aproximava – vejo que está bem, isso é bom, muito bom... Já que esperava encontrá-lo recuperado, para que pudéssemos conversar – ele sorriu ao encara-lo, aquele dia não estava colaborando.

—Quem sabe em uma outra oportunidade Alvo... Tenho coisas importantes a fazer – ele tentou.

—Na verdade acho o momento bastante oportuno e seja lá o que for, tenho certeza que poderá esperar… afinal não é sempre que o destino nos proporciona um oportunidade como essa – Alvo piscou, Severo havia perdido, ele sabia... Enquanto internamente amaldiçoava aquele lugar, e amaldiçoava o universo todinho incluindo o destino, afinal se ele existia de fato, como Severo estava inclinado a acreditar, Severo estava destinado a ser uma marionete, nas mãos do diretor, e nada do que ele dissesse ali mudaria isso, então Severo assentiu, o seguindo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Montanha russa de emoções é o que define esse encontro entre pai e filha.
Shara começa tensa, não por menos, já que ela vem carregando nas costas todo o peso dos últimos acontecimentos, basicamente sozinha, sem poder se abrir com alguém, claro que ela tem o Antony, mas por escolha própria, ela passa a evita-lo, ela nada mais, nada menos está apenas fugindo dos seus problemas.
Então... ao encontrá-lo, o seu pai... vendo que ele está bem, e sendo ele o seu porto seguro, ela acaba extravasando e quando parece que tudo vai dar errado ali, Snape a acolhe, e isso foi muito bonito, podermos ver ele tomando a iniciativa com a menina.
Mas então o cenário muda, quando Antony passa a explicar a procedência do vinho, uns alívios cômicos, já que merecemos né, com a forma como Antony aborda e esclarece toda a situação.
E obvio que ia ter castigo né gente... essa parte foi difícil de escrever, já que a ideia aqui e desassociar Severo pai de Severo professor, mestre de poções, chefe de casa... enfim, queria que a diferença entre eles dois, fosse percebida... não estamos mais falando de detenções aqui, mas de castigo. E essa parte foi emocionante, já que ele é melhor como pai, do que muito pai por ai... Shara tem razão sobre isso, ele sabe mesmo ser pai.

E por fim, entramos no cânon e temos a cena de Gina se livrando do diário, no banheiro da Murta.
As meninas juntas "acreditando" estarem fazendo a coisa certa... mas sabemos mto bem onde isso vai dar.
A mão de Shara queimada (sentindo dor por ela) queimadura dói né gente?

Severo espionando, por que convenhamos... como ele mesmo diz, Shara é suspeita e se algo parece suspeito com ela, é por que é suspeito mesmo, acho que ele entendeu, e acho que ele está traumatizado, e Shara não vai ter paz... foi por pouco que ele não pegou toda a verdade ali...
Oh destino não está pra brincadeiras, oi será Dumbledore mesmo?

Obrigadu!!!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Destinos Improváveis" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.