Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 91
Futuro - Uma troca nada justa




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/809277/chapter/91

Shara precisava ser rápida, conhecendo o professor Snape, ele se livraria rapidamente do problema, insultaria alguns alunos, talvez colocaria outros em detenção, mas ele voltaria o mais breve possível, ela estava torcendo para que Draco tivesse sido suficientemente esperto para não ser pego ali, do contrário seria muito ruim, até porque o loiro estava mais do que marcado, principalmente depois do ocorrido mais cedo essa manhã, então o melhor a se fazer no caso dele, era andar na linha, mas Shara botava fé no garoto, como bom Sonserino que era, ele sabia muito bem como armar para os outros sem sujar as próprias mãos, não que isso fosse alguma espécie de elogio, mas nesse caso… pensando bem, até que era.

Shara se abaixou, para pegar alguns fios do cabelo de Antony, antes de prosseguir com aquilo que havia planejado ali, ela suspirou ao fazê-lo… honestamente enfeitiçar Antony não era algo que a agradava, mas infelizmente aquela era sua melhor opção e agora que os cabelos haviam sido devidamente coletados, Antony estava pronto e poderia ser o primeiro a sofrer a transformação… com bastante cuidado Shara puxou a cabeça dele, a apoiando sobre o seu colo, proporcionando assim uma inclinação satisfatória e que facilitasse a ingestão daquela poção que já havia sido finalizada por ela, aquela que continha frações do seu próprio cabelo, de início ele engasgou um pouco, mas acabou ingerindo o necessário... não precisava de muito, apenas o suficiente para sustentar o disfarce até que eles saíssem.

Enquanto ela aguardava, Shara aproveitou para finalizar a poção restante, inserindo os fios de cabelo dele e os misturando com o líquido espesso e de aparência duvidosa que havia ali, aquela seria sua primeira experiência com esse tipo de poção, então ela não sabia muito bem o que esperar daquilo, mas assim que ela trouxe a mistura até a sua boca, ela constatou que não era apenas a aparência que era ruim, aquilo era ruim... muito ruim, era nojentamente indigesto e Shara quase vomitou o pouco que havia conseguido engolir, teria sido um desastre, sorte ou não, mas pelo menos ela já estava acostumada a controlar o seu estômago em situações assim, e isso ajudava, ela sentiu pena de Antony que sequer teve a oportunidade de reclamar do gosto daquilo, certamente ele faria.

E que situação estranha era aquela, de encarar a si mesma, deitada com a cabeça sobre suas pernas, que a propósito já não eram exatamente suas pernas mais… Shara sabia que aquilo que ela estava fazendo ali era errado, já que ela estava literalmente roubando o corpo dele sem que houvesse consentimento, ela não queria em nada se igualar a mãe de Diaz, mas agindo assim era com ela que Shara se parecia e isso sem mencionar nas inúmeras outras regras que ela estaria infringindo ali... melhor mesmo, era não pensar, até por que agora estava feito.

Assim que as transformações estavam completas, Shara precisou fazer a troca de roupas, era mais confortável assim, já que despir Antony, no corpo de Antony não era algo que ela faria, de forma alguma, era mais fácil olhar para o seu próprio corpo ao fazê-lo, Shara sabia que muitas meninas dariam um tudo para vê-lo naquele estado, e isso a fez corar por um instante, mas ela não, definitivamente não, e por mais que Antony fosse um rapaz bem apessoado, ele era um homem, Shara nunca tocou no corpo de um homem daquela maneira e sem falar que ele era família, era quase como um bisavó para ela, ou coisa do tipo... não seria adequado... mas o que Shara não pensou era que precisaria vestir as roupas em si e que agora eles estavam com os corpos trocados, ela suspirou... aquilo era extremamente desconfortável, então ela o fez com os olhos fechados, soltando a respiração, aliviada assim que finalizou, sim estava mesmo feito, agora ela só precisava arrumar o restante, ela se levantou e a carregou, a colocando com cuidado sobre a cama, aquilo foi fácil, ela era leve, ou talvez era Antony que fosse mais forte, enfim... ela ajeitou as cobertas e depositou um bilhete nas mãos dele, ou melhor nas mãos da sua versão ali, Antony acordaria em breve, e pelo menos teria alguma informação.

Shara voltou para a sala, ela havia decidido não se olhar no espelho, seria melhor assim, apenas torceu para que tudo estivesse em seu devido lugar, sendo assim agora ela só teria que esperar até que seu pai voltasse, depositando todas as suas esperanças no fato de que ele não percebesse qualquer alteração ou vestígio do que havia acontecido ali.

Shara podia sentir a adrenalina e aquela sensação de euforia que ela trazia, dissipando pequenos choques elétricos em sua musculatura, já seu coração parecia mesmo querer saltar pela boca, por Merlin... ela havia mesmo feito aquilo? Sim… ela havia, aquilo era loucura, sim ela sabia... ela notou que suas mãos continuavam tremendo e isso podia ser ruim, poderia denunciá-la, já que o Antony verdadeiro não tremeria dessa maneira, então o melhor a se fazer era manter as mãos escondidas, pelo menos até que aquilo passasse, e numa tentativa de disfarçar aquele tique indesejado, Shara as colocou, ambas… cada qual em um dos bolsos laterais daquele sobretudo de lã batida que Antony havia escolhido usar naquela noite, era uma peça bastante elegante e por sorte todas as demais também o eram, ele vestia preto, buscando assim alguma discrição, talvez o professor Snape o tenha alertado ou dado alguma dica nesse sentido, já que Antony nunca usava aquela cor, e portanto nunca era discreto.

Assim que sua mão alcançou o fundo de um dos bolsos, Shara sentiu que havia algo pesado sendo guardado por ele ali, e obviamente que sua curiosidade não deixaria aquilo passar despercebido, a obrigando a averiguar, afinal se ele estava levando consigo essa noite era por que deveria ser importante, e com esse pensamento em mente, Shara puxou aquilo e o desenrolou, seja lá o que fosse, Antony havia tido o cuidado de embrulhar em um tecido grosso, e para sua surpresa, ela se deparou com nada mais, nada menos do que aquela adaga, a mesma adaga que Elza havia mandado de presente para ela e posteriormente usado para cortar o seu braço na sala do diretor, como Antony havia conseguido aquilo? Shara sentiu um calafrio que percorreu toda a sua espinha, se dissipar pelo restante do seu corpo, Elza havia pedido que Shara a leva-se consigo, naquele encontro… mas aquela não era uma informação que Antony conhecia... e agora por mais misterioso que fosse tudo aquilo, era exatamente o que Shara estaria fazendo, o que poderia significar mais isso? Shara embrulhou a peça com cuidado outra vez, a depositando no bolso onde ele o havia encontrado… foi quando ela ouviu a porta sendo aberta atrás de si e ela sentiu medo, medo daquilo que viria a partir dali “finja Shara, apenas finja, agora que está feito... não seja estúpida, não se entregue e não estrague o plano… hora de atuar” e foi com esse pensamento em mente que ela se virou para encará-lo.

—Malditos cabeças ocas! - ele exclamou - amaldiçoado seja o dia em que resolvi aceitar o cargo de professor nessa escola –  Shara sabia que havia uma grande probabilidade de encontrá-lo de péssimo mal humor assim que voltasse, afinal ele detestava imprevistos e detestava principalmente que alunos de sua própria casa agissem fora de seu crivo de conduta, como chefe daquela casa, ele era excessivamente controlador, e isso bastava, mas chamou sua atenção o fato de seu semblante não condizer com aquilo que ele havia dito, e muito menos com o que ela esperava ver dele ali... era estranho, mas ele parecia de certa forma... realizado, sim realizado era exatamente a palavra, talvez estivesse se sentindo realizado com algo que havia acabado de fazer, e ela tentou decifrar se isso podia ser bom ou se na verdade era ruim.

—O que você fez Snape? – ela resolveu perguntar, era estranho se referir a ele assim, usando seu sobrenome com tanta formalidade em uma frase, mas ela tentou soar como Antony ali, ela já o havia visto chamá-lo assim em outras oportunidades, e sem falar que ela queria saber o que tinha de fato acontecido, até aí… nada de demais, já que Antony era o campeão em fazer perguntas.

—A pergunta certa aqui… é o que eles fizeram? – Severo respondeu – eu apenas fiz o que me cabia fazer, o puni – ele sorriu com malícia... então havia alguém, quem? Ela precisava saber...

—Certo – ela reformulou – então me diga, o que foi que eles fizeram e quem você puniu? – ela tentou novamente – ele esboçou um leve sorriso, sim ela estava certa sobre ele sentir prazer com aquilo.

—Meia dúzia de bombas de bosta, no dormitório das primeiranistas, tive que realoca-las por essa noite, já que o lugar está completamente inabitável, nenhuma magia é forte o bastante para remover aquele odor fétido – ele bufou... bom aquele era o seu quarto, e ela sentiu vontade rir, Carla deveria ter adorado isso, o cheiro de uma bomba daquelas, apenas uma, seria mais que o suficiente para infestar todo o salão comunal, imagina meia dúzia delas, em um espaço tão pequeno como aquele, Draco havia exagerado – Flint – Severo disse o nome, e isso chamou sua atenção, como assim Flint?

—O garoto do quadribol? – ela perguntou, tentando soar indiferente, mas aparentando alguma surpresa, então Draco havia dado um jeito de incriminar o Flint? Aquilo era simplesmente perfeito e explicava a expressão de satisfação que ele mesmo carregava, afinal aquele era o pretexto que ele precisava para puni-lo, e certamente ele o usaria muito bem, sim ele colocaria sua vingança em prática com o garoto... Draco era um gênio, além de fazer aquilo que ela havia pedido, ainda lhe proporcionou esse bônus... ela sentiu seu coração aquecer, ela sabia que estava sendo protegida, duplamente protegida agora... pelos dois... e isso fazia com que sua dívida com o loiro aumentasse ainda mais... Draco havia lhe proporcionado um dos melhores momentos em semanas, e ela agradeceu mentalmente por isso... Agora haviam expectativas e ela esperava que o professor Snape o punisse da melhor forma possível, mas ela sabia... ele faria, pela expressão no rosto dele, sem dúvidas que ele faria – interessante, ele é mais velho... achei que fosse mais centrado – Shara concluiu, soando completamente imparcial.

—Flint nunca foi um problema antes, não pra mim - ele disse sério - o garoto pode ser desprovido de cérebro, tal qual um trasgo adulto, mas ainda assim não teria sido tão descuidado ,a ponto de ser pego dessa forma - o professor fez uma pausa, como se pensasse melhor sobre aquilo - Flint é ardiloso, estrategista… e suficientemente perspicaz, características que fazem dele um bom capitão do time de Quadribol, ele sabe jogar, e isso não é apenas sobre Quadribol… e essas são apenas algumas evidências de que ele não tenha sido o responsável pelo ocorrido essa noite, seja quem for… me fez algo útil, ao incriminá-lo, já que a cabeça de Flint era algo que eu queria e agora a tenho em uma bandeja – ele sorriu com malícia enquanto se servia de uma bebida, enchendo também um segundo copo ali.

—Parece bastante empolgado em querer puni-lo… - ela disse, é claro que ela mais do que qualquer outro ali, também estaria… mas Antony não tinha como saber disso.

—Digamos apenas que ele tenha me dado bons motivos para isso - ele respondeu vagamente - motivos esse ave, que não são do seu bico - ele empurrou um copo de bebida na sua direção

—Interessante - Shara disse encarando de forma curiosa o copo com a bebida na sua frente - vai puni-lo, por algo do qual ele sequer foi o responsável… mesmo estando bem ciente disso –   a surpreendia o fato dele ser tão sagaz a ponto de entender todo aquele esquema em segundos, obviamente que ele não era facilmente enganado, o que era bom, mas também podia ser muito ruim… afinal qualquer deslize dela ali e ela mesma podia ser pega… mas ainda assim havia um senso de justiça bastante falho da parte dele, tudo bem que Flint merecia aquela punição, ele havia matado seu gato e ela o odiava muito por isso… contudo, não era assim que ele como professor e chefe de casa deveria agir.

—Algum problema pássaro? Não sabia que meus métodos pudessem incomodá-lo – ele respondeu com sarcasmo - até porque se esse for o seu ponto - ele o encarou enquanto parecia sondá-lo - não deveria estar me acompanhando essa noite, pois acredite eu tenho as piores intenções em mente para fazer com que Elza sofra, e pague pelo que fez… e confesso que me agrada a idéia de fazer isso sozinho - ele sorriu com o canto da boca - talvez os meus métodos possam ser demais para um passarinho tão sensível como você - ele o provocou, aquela linha era tênue demais e ela achou por bem recuar… e a simples hipótese de que ele pudesse deixá-lo no castelo, de fora e ir até Elza sozinho, invalidaria todo o esforço desprendido até ali e isso a alarmou.

—Não… na verdade pouco me importo - ela tentou concertar, dando de ombros, e ela notou que os olhos do professor foram automaticamente para o copo ainda cheio que permanecia intacto a sua frente, a obrigando a encará-lo também… ele estava esperando algo ali? quando lhe ocorreu que sim… ela deveria bebe-lo… Merlin, isso não estava na programação e ela tinha apenas 11 anos de idade, Antony sim… aquilo era whisky e Antony era compulsivamente atraído por whisky… ela precisava pensar em algo, rápido Shara, use a cabeça.

—E é por essa razão que prefiro não beber essa noite – ela disse, o vendo arquear a sobrancelha… – quero estar suficientemente lúcido para prestigiar a cena de quando Elza estiver implorando pela sua vida – ela disse tentando fazer algum sentido, embora isso parecesse terrível ao ser dito assim.

—Tem sorte - ele disse, fazendo o copo sumir com um aceno da varinha - por apreciar sua escolha – Shara teve que se conter para não soltar o ar e demonstrar o quão aliviada ela estava ali… ele havia simplesmente deixado passar essa coisa do whisky - agora já chega de perder tempo, temos um trabalho sujo a ser feito – ele disse, ao se aproximar da porta do seu quarto, para analisá-la dormir e bem isso era algo que ela também apreciava.

—Tem certeza de que Shara não vai acordar? – ela tentou soar interessada, era ainda mais estranho dizer o seu próprio nome em uma frase, do que o nome dele.

—Acredite, diferente de você, eu sei fazer muito bem o meu trabalho – ele havia dito, ao encostar a porta do quarto dela um pouco mais, mas acontece que não… que ele não sabia… prova disso, era o fato dela ter conseguido ir tão longe ali, e caramba ele tinha sempre que atacar? – Shara apenas assentiu, seu sangue esquentava rápido e agora que ela tinha que controlar de fato seus impulsos, ela podia ver o quão difícil e custoso aquilo era.

Eles caminharam até os portões da escola em completo silencio e isso era bom, quanto menos eles falassem melhor seria, ela estava aflita, mas do seu ponto de vista estava se saindo relativamente bem, já que aparentemente ele não havia demonstrado nenhuma desconfiança até ali, ele teria feito se houvesse algo, ele nunca a deixaria ir tão longe.

—Vamos aparatar – ele informou, ao estender o braço e Shara assentiu – o que está esperando ave? – ele perguntou irritado – por mais que não me agrade tê-lo por perto – ele disse com ironia – não vamos sair do lugar se não segurar no meu braço – ele bufou impaciente, ela se moveu rapidamente, por Merlin, aquilo era o básico, ela fez e então eles aparataram.

—__

Antony acordou com uma terrível dor de cabeça, ele estava deitado... e que lugar era aquele? Uma cama... sim, mas aquilo era incrivelmente confortável... e era quentinho, satisfatóriamente quentinho, quanto tempo ele não se sentia tão bem acomodado assim, ele sorriu com aquela sensação prazerosa, mas algo lhe ocorreu, espera, ele não deveria estar deitado em lugar algum, ele deveria estar indo até Gales com Severo essa noite, o que ele estava fazendo ali, naquela cama?... foi quando ele se lembrou, Shara... ela o havia enfeitiçado, ele abriu os olhos, sim ele estava no quarto dela, e ele estava...

—AAAAAA – ele gritou, saltando da cama horrorizado, ele era uma mulher, ou pior ele era ela, como ele podia ser ela? O que diabos ela havia feito com o seu corpo? E onde estava o seu...  ele estava prestes a olhar, mas parou assim que se deu conta de que segurava um bilhete.

“Antony, eu realmente sinto muito por isso, por favor não fique bravo comigo... mas entenda que eu não podia deixá-lo ir assim, eu não me perdoaria se algo acontecesse com ele, com o meu pai… entenda, que essa foi minha única opção, usei polissuco, uma poção que roubei das lojas dele, e acredite isso não me agrada, tanto quanto não deve agradar você... mas eu posso consertar, vá até o banheiro, na segunda gaveta deixei uma poção que funciona como antídoto, ela irá reverter o efeito imediatamente e assim terá seu corpo e sua dignidade de volta… por favor não espie e nunca, jamais, pense em usar o banheiro enquanto ainda estiver com o meu corpo... me sentirei violada. Shara”

—Merlim – ele disse... enquanto caminhava às pressas até o banheiro, encontrando a poção com bastante facilidade e a ingerindo sem sequer questionar sua procedência, Severo tinha razão sobre a menina, Shara era uma pestinha indomável… pelo menos ela havia se dado o trabalho de deixar um bilhete e como dito por ela o efeito da poção era mesmo imediato, ele viu suas feições voltarem ao normal no espelho, era estranho, tanto quanto também era assustador, agora ele estava de volta, um alívio instantâneo… agora ele precisava alertar Severo... precisava encontrá-los, contudo ainda havia um empecilho, ele não podia sair dali naquele estado, não usando aqueles trajes, a camisa branca da escola estava super justa e revelava parte da sua barriga, já a saia, ou melhor mini saia, já que por ser muito mais alto do que ela, a saia havia subido um bom tanto, revelava suas coxas torneadas – Shara se eu encontrá-la com vida, coisa que eu apreciaria bastante, eu mesmo me darei o trabalho de matá-la – ele disse para sua imagem no espelho, ela só podia ter feito aquilo de propósito, por que ela não estava pelo menos usando os seus malditos pijamas... teria sido menos vergonhoso... ele precisava de roupas, ele saiu do quarto dela completamente consternado com toda aquela situação, se ele estava no corpo dela, obviamente que ela havia ido no seu lugar… mas Severo notaria a diferença, não notaria? Então por que aquele lugar estava vazio? Onde eles estavam? Morcego presunçoso, ele também havia sido trolado pela filha, uma criança de apenas 11 anos de idade, uma peste era aquela menina, seus pensamentos foram interrompidos pelo crepitar da lareira... ele sabia muito bem o que aquilo significava, visitas… não… não agora... ele se encolheu, mas não havia exatamente como fugir ou se esconder... a única certeza que ele tinha era que ele mataria aquela peste.

—Severo tomei a liberdade de entrar – a professora Minerva disse cruzando a sala, sem sequer encará-lo – estava dando uma boa olhada nas notas de Shara e já que decidimos fazer isso juntos, tenho algumas contribuições... afinal ela é mesmo muito brilhante – ela disse, enquanto analisava uns pergaminhos, que ela mesmo trazia em uma das mãos – trouxe um vinho também, faz tempo que não temos uma boa conversa e pensei que poderíamos... – ela sorriu, sorriso que sumiu no instante em que notou sua presença ali, sendo substituído por um grito curto mas agudo, ela soltou os pergaminhos no chão, depositando o braço sobre o seu rosto, escondendo parcialmente sua visão, ótimo pelo menos ela havia usado o bom senso e salvado o vinho.

—Professora… eu… posso explicar – ele disse, ele estava completamente constrangido em ser visto assim, mas ele faria questão de explicar o quão brilhante Shara de fato podia ser… aquela pestinha, já que aquilo era arte dela e de sua proeminente vocação em se meter onde não devia.

—Não... não se justifique – ela havia virado o rosto – eu não deveria ter entrado assim... Peço desculpas – ela estava recuando – eu não sei o que você e Severo fazem aqui... de qualquer maneira não é da minha conta – ela disse dando um passo para trás – podem ficar com o vinho... – ela ofereceu, enquanto o colocava sobre a mesa.

—O que? - ele exclamou… ele e o morcego? Ela estava mesmo achando que ele e o professor… espera… não, aquilo estava ficando cada vez pior, e se ele não consertasse Snape certamente o mataria antes que ele pudesse matar a pestinha responsável por todo aquele mal entendido - Professora Minerva, por favor me escute... não… isso definitivamente não é o que está pensando – ele deu dois passos na direção dela, ele estava desesperado agora, ele precisava explicar e ela precisava entender  – essas roupas... elas não são minhas – ele tentou... sim e justamente por não serem dele, que elas eram tudo, menos apropriadas para o seu tamanho, e com aquele movimento brusco ele sentiu o exato momento em que a saia rasgou, escorregando pelas suas pernas, claro que tudo sempre poderia piorar não é mesmo? ele torceu para pelo menos não estar usando calcinhas... mas Shara teve o bom senso de preservar suas peças íntimas – como pode ver, acho que a saia laceou um pouquinho – ele disse envergonhado, pegando a primeira coisa que viu a sua frente, para ajudar a cobrir toda aquela semi nudez... um livro, ele o posicionou estrategicamente como um escudo para suas partes... enfim, não era muito, mas ajudava, a professora ergueu um pouco o braço, inclinando a cabeça e parecendo muito interessada em ler o título do livro que ele havia aleatoriamente escolhido ali.

—Poções Proibidas: Um Gosto do Proibido e do Mágico – ela leu aquilo em voz alta, só podia ser brincadeira... que merda de livro era aquele?

—Escute professora - ele disse enquanto virava o livro, optando em deixá-lo na contra capa, nada mudava, mas ele se sentia melhor assim… o proibido deveria continuar proibido e não havia nada de mágico naquilo – o que quero dizer... é que isso tudo é um grande equívoco...

—Então isso... – ela disse – você e Severo não tem um... relacionamento adulto? – ela perguntou intrigada.

—NÃO... – ele exclamou – vou tentar explicar...  Severo ele saiu, ele saiu comigo sim... digo... ele saiu com o meu corpo no caso, entende? – oh céus, simplesmente não estava fazendo sentido.

—Sexo informal? – ela perguntou sem pudor, certo até ele precisava admitir que aquela frase havia piorado ainda mais as coisas para eles ali... Mas ela havia dito sexo? 

—NÃO... sem sexo, sem encontros, sem romances… – ele disse para ela, quantos anos ela tinha afinal? Já que aquilo não parecia nada adequado para uma senhora bruxa daquela idade questionar - Shara me enfeitiçou mais cedo, sim… como bem dito a garota é mesmo brilhante, mas nem sempre de forma promissora - ele zombou, já que estava ali justamente sofrendo as consequências de todo aquele brilhantismo - e não me pergunte como… mas ela também conseguiu a façanha de me fazer ingerir a poção polisuco e quando acordei para minha surpresa estava eu aqui, no corpo dela, em sua cama, havia um bilhete, algumas instruções e uma nova poção que me trouxe de volta para o meu precioso corpo, contudo ainda continuo em suas roupas de colegial – sim ele havia conseguido explicar e ela parecia mais confortável depois disso – quando digo que Severo saiu comigo, com o meu corpo é por que ele de fato saiu... Shara está no controle, usurpando o meu lugar... ela nos trocou… precisamos intervir, chegar até eles... Já que é perigoso – Antony disse e ela parecia mesmo pensar nisso.

—Onde eles foram? – ela perguntou, fazendo Antony desviar o olhar… era complicado – Agora que começou é melhor continuar, quero toda a verdade - ela pediu fazendo Antony suspirar - não se esqueça que respondo legalmente pela guarda da menina, e se algo acontecer com ela, isso passa a ser minha responsabilidade.

—Tínhamos uma missão essa noite, o diretor… bem…. Ele sabe – ele fez questão de comentar, a vendo bufar irritada – íamos encontrar Elza, acredito que saiba a história... - ela assentiu - faríamos juntos, eu e ele… a ideia era virar a página dela essa noite – a professora o encarou agora um pouco assustada.

—Oh Merlin, não sei se devo - ela o encarou - mas o que exatamente você quer dizer com…. virar a página dela? -  a professora perguntou, não parecendo verdadeiramente interessada em ouvir a resposta.

—Matar… ela - ele respondeu de forma direta.

—Foi o que pensei - ela disse, balançando a cabeça e parecendo não concordar com aquele tipo de abordagem.

—Shara trocou nossos corpos... ela foi com ele, ocupando o meu lugar – ele finalizou, satisfeito por ter conseguido explicar aquilo.

—Isso... isso é muito sério, ora… por que não disse antes – ela ralhou com ele, claro… como se ela tivesse lhe dado algum espaço para que ele pudesse de fato explicar algo ali, honestamente  a única coisa que a professora havia feito até aquele momento, era julgá-lo e julgá-lo da pior forma possível, pelo menos agora estava concertado – Shara pode estar correndo sério perigo lá fora… o que estamos esperando? – e sim, muito bem… ela havia entendido a gravidade, era sobre isso… aquela pestinha não podia estar se envolvendo em nada pior, e o semblante da professora passou de choque para total preocupação – venha me acompanhe, precisamos alertar ao diretor sobre o ocorrido – ela disse fazendo menção em usar a lareira outra vez.

—Ah professora, apenas um detalhe, eu não posso sair assim – ele disse com um sorriso amarelo, ele até podia ser completamente sem noção, mas ele não desfilaria de cuecas box pelo castelo, a humilhação no seu ponto de vista já havia passado dos limites para um único dia.

—Posso ver isso –  ela disse ao passar literalmente os olhos pelo seu corpo, como quem estivesse analisando algo muito atentamente ali... – uma pena é claro... digo, use as roupas de Severo – ela corrigiu, apontando para o quarto dele, sim era exatamente o que ele pretendia fazer antes dela chegar, afinal era melhor sair dali parecendo com um morcego das masmorras, do que um tarado, maníaco, solto pelos corredores da escola... e falando nisso... Por que é que ela estava se abanando tanto? As masmorras eram ainda mais geladas nesta época do ano, ela estava com calor ou coisa do tipo?... ele achou melhor se vestir logo de uma vez, antes que aquilo pudesse ficar ainda mais estranho.

—__

A sensação de aparatar era péssima, e isso reforçava ainda mais o seu ponto de vista sobre preferir outros meios de locomoção, ela já havia tido essa experiência daquela vez em que eles voltaram do Beco Diagonal juntos e detestado, aquilo não havia sido combinado… ela e o professor Snape ali, mas Elza havia previsto, Olivaras havia dito… aquela havia sido a iniciação deles em toda aquela loucura que se tornou as suas vidas, Shara se lembrava bem de cada detalhe daquele dia, da forma como ela foi salva por ele, e de como mesmo não admitindo ela já se sentia protegida e segura ao seu lado, Shara esperava que dessa vez o futuro não fosse tão previsível para Elza, como todo o resto parecia ter sido… Shara desejava estar certa sobre o fato deles estarem escrevendo uma nova história ali, do contrário… ela suspirou, tentando não pensar sobre o quão ruim poderia ser.

Mas dessa vez apesar do incômodo, ela achou que havia se saído muito melhor do que na primeira tentativa, talvez esse negócio de aparatar fosse mesmo uma questão de prática, eles haviam aparatado em uma viela escura, obviamente ele não queria ser visto e muito menos chamar a atenção, ela notou que ele havia colocado a máscara e sua túnica preta de comensal, ela queria comentar algo sobre o motivo dele estar usando aquilo, mas ela entendeu que aquela podia ser uma forma de separar as duas pessoas que viviam dentro dele, a pessoa que matava, era a que se vestia assim, então ela achou melhor deixar passar.

Agora ele caminhava a passos apressados e ela o seguiu ainda em silêncio até chegarem a rua principal, dali era possível ver a casa, o chalé que Elza havia dito… era a última da rua, aquele era um vilarejo pequeno, com casas ordenadas e muito bonitas, Shara sabia que conhecia aquele lugar, ela havia vivido ali... estava cheio de significados, Elza os havia atraído para a casa onde ela havia nascido e passado os primeiros meses de sua vida... por que? Elza não fazia nada sem que não houvesse um sentido, mas qual era o sentido daquilo? Talvez a enfraquecer com lembranças de uma vida que havia sido roubada dela?

Seus pensamentos foram interrompidos, quando um raio verde cortou o céu, seguido de um trovão tão alto e assustador, uma tempestade… sim uma tempestade estava se formando ali... Shara prestou atenção no céu, no vento... as árvores estavam agitadas, assim como seus sentimentos, ela sentiu seu coração acelerar descompassado, aquele era o seu maior pesadelo, e o medo de tempestade a paralisava.... não... isso não podia estar acontecendo, não agora e como previsto, ela congelou, o professor havia avançado um bom tanto, quando se virou para encará-lo.

—Algum problema ave? – ele perguntou impaciente.

—Não... apenas lembranças – ela mentiu, quer dizer... não era exatamente uma mentira… mas ela precisava ganhar um tempo e se regular ali.

—Esse não é um bom momento para sentimentalismo - ele cuspiu - seja racional, temos um trabalho e pretendo não me estender mais do que o necessário – ele disse se virando rumo ao objetivo… ser racional, ela internalizou… um novo raio, agora ainda mais perto, iluminou todo o céu, aquilo era um gatilho... o trovão viria e ele veio... ela fechou os olhos, ela sentiu o medo percorrer e arrepiar cada pequeno pedaço de pele… e seus pés… eles não se moviam, ela precisava lutar e vencer aquilo, ela havia vencido o medo de voar não havia? O barulho do vento a encorajou a abrir os olhos, o professor havia parado outra vez, outro raio… e sem pensar duas vezes, ela correu até ele... segurando o seu braço, ela precisava senti-lo e aquela era a única maneira de conseguir se regular…  outro trovão... ela se encolheu.

—Qual o seu maldito problema? – ele disse ríspido, puxando o braço com força a afastando, ela sabia que estava arruinado no instante seguinte, em que o viu tirar a máscara, e encará-la de uma forma diferente, ela acompanhou o movimento da sua mão, que parecia alcançar algo específico de dentro de um dos bolsos, uma poção, a mesma poção que estava na segunda gaveta do seu banheiro… ele havia descoberto, aquela tempestade a havia vencido mais uma vez e a entregue ali... sim... ela sentiu pânico, ela havia se esforçado tanto, ela estava tão perto, não… agora ele a segurava pelo braço sem se importar com a força empregada ali a empurrando e a encurralando contra a parede de uma casa qualquer – abra a boca – ele ordenou, ela estava com medo, mas ela fez... e a medida que ela engolia a poção, ela sentia a mudança acontecer em seu corpo, ele ainda a encarava, seus olhos de ônix pareciam pegar fogo... um novo trovão, ela se jogou contra ele... mas dessa vez ela não sentiu os braços dele em torno de si… pelo contrário, ele a obrigou a encará-lo… ao afastá-la dele...

—Eu não podia deixar que viesse... se alguém deve morrer essa noite… esse alguém sou eu – ela disse com dificuldades.

—Errado Epson... ninguém iria morrer essa noite... – não havia afeto naquelas palavras – dessa vez você passou completamente dos limites – ele disse entre os dentes, ele puxou a varinha e a pressionou contra o seu pescoço – eu deveria saber... você arrumou aquela distração não foi? – ela se sentiu ameaçada ali... um relâmpago cruzou o céu… ela fechou os olhos.

—Sim... Eu fiz… eu roubei as poções da sua dispensa, troquei os rótulos, me joguei nos braços de Draco, e depositei um bilhete em suas vestes, arrumei a distração, enfeiticei Antony e troquei os corpos  – ela admitiu, sussurrando... outro trovão, ele rosnou.

—Você não tem ideia... – ele ergueu o seu queixo com a varinha – do tamanho do problema em que se meteu... – ele irradiava fúria - abra os malditos olhos Epson… - ele mandou - eu quero que se lembre disso, já que essa é a última vez em que estará me desobedecendo - ele rosnou ainda mais - agora abra a mão - ele mandou… o que? Ela pensou naquele comando - Eu mandei abrir a MÃO - ele disse sem paciência, pressionando a varinha ainda mais contra si, ela fez… seja lá o que fosse aquilo, ela fez, e ela sentiu ele depositar algo ali que se parecia com uma pequena caixa de fósforos… ou algo do tipo, não tinha como ver o que era aquilo - uma chave de portal - ele disse, forçando sua mão a fechar em torno daquilo - ela a levará diretamente a minhas alas… - ela gesticulou negativamente, ele não podia mandá-la de volta assim…

—Não… por favor - ela implorou, sentindo as lágrimas escorrerem pela sua bochecha - por favor… pai…

—NÃO OUSE USAR ISSO CONTRA MIM - ele gritou, quase que sobrepondo o barulho de outro trovão - não vai funcionar, não dessa vez - ele rosnou mais baixo, porém estava suficientemente perto para fazê-la sentir a vibração em cada uma daquelas palavras - agora implore o quanto for Epson, comece a treinar… já que daqui em diante você irá implorar por muitas outras coisas - ele disse, apertando sua mão em torno daquela caixa… mas nada havia acontecido, algo deveria acontecer, não deveria? Pela expressão no rosto dele, ela achava que sim.

Ambos ouviram o barulho de alguém batendo palmas, ele se virou, mudando completamente de postura ali, antes ele estava atacando, agora a estava defendendo, já que se posicionou a sua frente, como quem estivesse a protegendo contra algo, um escudo… mas ainda assim Shara podia ver a figura feminina a sua frente, parada a apenas alguns metros de distância dali, era Elza e ela estava usando uma bengala e parecendo muito mais velha do que Shara se lembrava da última vez, se é que isso era mesmo possível, mas ainda assim ela era assustadora, principalmente por estar os encarando com aquele ar de vitória.

—Veja só o que temos aqui... – ela disse de forma zombeteira – vejo que são mesmo uma família, já que estão até brigando – ela sorriu - chaves de portal não funcionam aqui professor… ah e também é anti aparatação, sim… tem um raio e sinto lhe informar que já foi ultrapassado - ela gargalhou, na mesma sintonia que outro trovão explodia no céu - e também não podem fugir - ela informou, e no mesmo instante Shara sentiu algo segurando seus pés no chão, não apenas os dela, mas os dele também, eram como raízes que brotavam do nada no chão - A me desculpem por isso - ela disse sorrindo - estou ficando sem jeito... mas sejam muito bem vindos, esse é o meu território e aqui as coisas acontecem da minha maneira - um raio verde cruzou o céu, e naquele instante Shara sabia, eles estavam com problemas, até por que um mal presságio não costumava falhar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Problemas sérá?
Amei escrever esse capitulo, não sei se notaram mas essa é a primeira vez que escrevo pelo ponto de vista de outro personagem, sem que seja os centrais.
Antony! por que ele merecia uma parte de destaque só pra ele... com bastante humor, por que honestamente, ele é o personagem que nos proporciona os melhores alívios cômicos até aqui... não sou comediante, passei longe de ser, mas pensar na cena me arrancou umas boas gargalhadas! Espero que tenham gostado.
E agora temos uma ideia de como ele é, digo mais ou menos, ainda que meio de costas na imagem da capa (mas um gato no meu ponto de vista) hahaha

Até por que... teremos uma tensão no próximo capitulo, que já dá até pra imaginar... eles estão com problemas!
Cenas fortes e emocionantes, vemos por aqui hahaha
E percebam que dessa vez o tão fofinho "pai" dito por ela não funcionou, o senso de proteção dele vai além disso, ele tá puto, obviamente, mas no fundo ele tá desesperado.

e Draco arrasou, mais uma vez... incriminando o Flint!

Minerva, convenhamos... sua safadinha! hahaha



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Destinos Improváveis" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.