Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 50
Futuro - Respostas




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Poseidon, espera? Ela havia dito Poseidon? Aquilo tudo era mesmo loucura.

—O que... o que ela disse? A Hidra, ela disse algo... não disse? – Draco estava gaguejando, realmente não tinha como não sentir medo ali, diante daquela criatura tão imponente, ele pelo menos havia baixado a varinha, não em rendimento, mas certamente se dando conta de que feitiço algum faria a menor diferença ali.

A ideia nunca foi fazer qualquer tipo de tradução simultânea para ele, já que ela não queria desperdiçar o pouco tempo que teria, e principalmente por que ele não entenderia, sendo que, honestamente, nem ela entendia, mas aquilo... Poseidon, a Hidra estava literalmente remetendo aquela afirmação a algo relacionado a lenda, a lenda de Medusa “como um quebra cabeça” ela pensou ao ganhar mais uma peça, mas ela precisava de mais informações, ainda faltavam muitas peças, e ela não pode evitar, ao comentar aquilo em voz alta.

—Poseidon – ela disse perplexa - Poseidon - ela repetiu mais para si mesma, como se aquela informação a ajudasse a traçar algum elo, um elo que ela sabia que havia.

—O que? Poseidon... – ele repetiu confuso – Poseidon o Deus , Deus dos Mares? Isso só não faz nenhum, nenhum sentido… – ele disse gaguejando um pouco menos.

—Na verdade, faz algum... – Shara disse fazendo ali um sinal para que Draco cessasse qualquer comentário que ele pudesse estar elaborando e ele fez, ela direcionou toda a sua atenção para aquela criatura assustadora e mitológica a sua frente, alguns registros históricos que Shara havia lido a respeito de suas façanhas, relataram situações onde a Hidra havia conseguido derrubar mais de uma embarcação ao mesmo tempo, matando inúmeras pessoas de uma única vez, Shara respirou fundo, criando coragem para iniciar aquilo, simplesmente não havia espaço para o pânico... mesmo sabendo que aquela criatura que sabia o seu nome e o dizia de maneira letal a desejava morta mais do que qualquer outra coisa ali.

—Eu... eu na verdade trouxe algo... algo para você, algo que você deseja – Shara disse em língua de cobra, bem ela sabia... pela expressão de aversão que Draco tinha deixado transparecer em seu rosto, enquanto ela tirava o colar da sua mãe de dentro das vestes, onde estrategicamente ela o havia deixado, o erguendo no alto e o deixando suficientemente visível para a Hidra – mas... em troca eu preciso de algumas respostas – Shara disse colocando o seu plano em prática e tentando parecer ousada, ela estava mesmo falando com aquela criatura? Aquilo era mesmo real? 

—Venha até mim Shara, um pouco mais... quero apreciar a peça mais de perto – aquela voz parecia conseguir entrar dentro da sua mente, Shara estremeceu, dando uns dois passos em direção a água e aquilo intensificou a dor na sua cicatriz, nesse ritmo... ela não duraria o diálogo completo.

—Shara... o que você está fazendo? – Draco a puxou pelas suas vestes, ele tinha razão... ela parou, aquilo com certeza era algum tipo de armadilha, ela não podia se deixar levar de forma tão tola assim, ela precisava ter mais cuidado dessa vez.

—Que bela criança loira, você tem aí... hummm sangue nobre, me parece delicioso – Shara ouviu outra voz, sim... aquela não era a mesma voz de antes, pelo menos não a que ela estava acostumada a ouvir e parecia vir da outra cabeça da serpente, aquela cabeça que podia enxergar... espera, então as duas cobras falavam? ela estava falando com uma ou com mais de uma cobra? Embora pudessem ser várias cabeças algo que Shara já sabia, mas ela achava que apenas uma, uma única cabeça fosse a verdadeira, bem pelo menos era isso que os livros diziam, mas pelo visto não parecia ser bem assim.

—Eu posso sentir... o cheiro – a voz com que Shara estava habituada respondeu... sim então as duas cobras realmente falavam, e aquela que a havia procurado na floresta, não podia enxergar, ela estava pelo que dava para notar daquela distância, gravemente ferida na região dos olhos – queremos o menino e não o colar, assim terá a informação que deseja – ela disse, fazendo Shara engolir em seco, isso não era bom, em todos os sentidos.

—NÃO – ela gritou se sentindo aflita com aquele pedido - essa não é uma opção – ela respondeu olhando em direção a Draco e com toda a certeza deixando transparecer ali todo o terror que estava sentindo.

—Por Merlin – ele gritou para ela - o que ela disse agora? – Draco perguntou, como se pudesse entender a gravidade daquilo e a possível relação com ele ali.

—Ela disse... bom... acho melhor não te contar agora – Shara disse, sendo honesta, se fosse com ela, aquilo seria algo do qual ela preferiria não saber.

—Precisamos sair daqui Shara – ele disse a puxando, Shara sabia que deveria ouvi-lo, que aquilo era o certo a se fazer, que aquela criatura era ardilosa e muito perigosa também – Shara... – ele a chamou outra vez, ela não queria recuar por medo, haviam perguntas... ela tinha mentalizado uma por uma, mas a Hidra sequer havia se interessado pelo colar, ela viu seu plano desabando mais uma vez, por que ela não se interessava pelo colar? Não era isso que ela desejava? - isso é perigoso demais, melhor irmos... antes que ela nos mate - ele completou.

—Bem não existem registros que ela tenha matado alguém assim nessas condições – Shara disse tentando tranquilizá-lo, mas sabendo que nem ela podia soar confiante ali, ainda mais quando ela precisava disfarçar aquela dor, dilacerante sobre a marca no seu ombro.

—Talvez os registros não existam por que ninguém sobreviveu para escreve-los – Draco disse exacerbado, mantendo os olhos sobre o animal, fazia algum sentido.

—Você é mais de uma? - Shara se virou perguntando para a criatura, tentando ignorá-lo e ganhar um pouco mais de tempo, ela pelo menos queria tentar antes de partir.

—Duas… - elas responderam juntas.

—Duas… - Shara refletiu sobre aquilo… aquela era uma informação que não ajudava muito, mas confirmava sua tese e era algo novo.

—Por que... – ela oscilou, respirando fundo – por que está atrás de mim? – Shara perguntou.

—Você é diferente das outras – a cobra com a voz pegajosa disse, aquela que Shara estava acostumada a ouvir... outras?... que outras? – CALE-SE – a voz da outra serpente gritou para a sua extensão, aquilo foi uma surpresa, então elas não pensavam de forma igual, elas eram seres distintos que habitavam no mesmo corpo – deixe a rastejar pelas respostas – ela disse, se virando para a direção onde Shara estava – hummm vejo que temos companhia – Shara se virou, Draco fez o mesmo apenas a imitando, já que não podia entender o que elas falavam ali.

—Epson SAIA imediatamente daí - era a voz do professor Snape, ele estava se aproximando com bastante pressa e ele parecia exaltado, isso tinha sido muito rápido… e dessa vez ele não estava sozinho... o diretor Dumbledore também estava com ele, isso não podia ser um bom presságio, ele mesmo a olhava de uma maneira completamente diferente ali… – Malfoy - ela o ouviu dizer o sobrenome dele de forma letal - teremos uma conversinha em breve, só nós dois – até Shara podia sentir a tensão daquilo e ele mal havia terminado de completar aquela frase, quando tanto ele como o diretor cessaram os passos de maneira brusca, ambos ela notou estavam agora erguendo suas varinhas em sinal de ataque as apontado para a Hidra, foi quando Shara sentiu a dor no seu ombro explodir, a obrigando a pressionar o local com força, Draco, bem ele estava se afastando de ré, completamente sem cor e tudo aquilo parecia acontecer em câmera lenta, ela não queria desmaiar... aquela maldita marca, se pelo menos a dor não fosse tão extrema, ela se virou... ela sabia que havia algo de errado acontecendo, quando ela entendeu, ao sentir a respiração quente das narinas do animal, próximo ao seu cabelo, aquela era a serpente que não podia enxergar, Shara nunca havia pensado sobre o comprimento que o corpo de uma serpente poderia ter, não ela não havia... talvez ela devesse, já que a Hidra embora ainda permanecesse firme na água, seu corpo era sim extremamente comprido, muito além do que ela pudesse imaginar, definitivamente aquela não era uma distância segura, ela podia ver as presas da onde estava o que a fez questionar como ela havia conseguido sobreviver ao ataque daquilo na primeira vez no lago.

— Seu mestre, ele me parece bastante determinado em protegê-la – a criatura sussurrou, Shara podia ver, mesmo com alguma dificuldade, alguns feitiços sendo lançados contra parte do corpo daquele animal, numa tentativa vã, já que aquilo não parecia fazer a menor diferença, afinal aquela era uma hidra, um ser temido pela sua imponência, muitos no passado já haviam tentado caça-lá, obviamente sem nenhum sucesso, ela era invencível, pelo menos assim diziam os livros… - me lembro dele na floresta aquele dia… - ela disse sem se importar com o que acontecia à sua volta e Shara teve que inclinar um pouco mais a cabeça para enxergá-la melhor, os ferimentos nos olhos pareciam mesmo graves, e pareciam ser recentes, certamente eles foram os responsáveis por cegá-la assim – interessante… - ela disse  - ele cheira como você –  aquele era um comentário um tanto quanto inusitado, mas aquela não era a primeira vez que ela o ouvia, o vampiro na floresta... sim ele havia dito a mesma coisa aquele dia - seria apetitoso devorá-lo também, quem sabe eu o faça, depois de você - Shara sentiu seu coração acelerar, era aterrorizante só de pensar na ideia, ela fechou os olhos, sabendo que dessa vez ela estava diante da sua morte e torcendo para que a dor na cicatriz a fizesse perder os sentidos como já havia acontecido certa vez, assim pelo menos ela morreria de uma forma um pouco menos brutal.

Shara sentiu uma lágrima singela escorrendo pelo seu rosto, não por ela, mas sim por aquilo que aconteceria com os outros, aqueles a quem ela se importava, já que a Hidra certamente não os pouparia... e mais uma vez, aquilo tudo era culpa dela, ela sentiu sua mão esquentar, era sua magia, mas aquilo estava atrasado, não havia tempo e nem espaço seguro para preparar um ataque como aquele da floresta, embora Shara duvidasse muito de que mesmo usando o que chamavam de magia ancestral, essa magia não fosse forte o suficiente para causar algum estrago significativo ali, naquela versão, monstro marinho imortal, e pensar que mais uma vez, tudo que ela queria eram apenas algumas respostas, ela pressionou os olhos ainda fechados, sentindo o ar quente da respiração abafada daquele animal se aproximar ainda mais quando de repente veio a calmaria... ela havia morrido? Era isso? Então era assim que se morria? Havia tanta paz ali, ela podia até sentir o vento fresco soprar e a relva tocar suas mãos, relva? não havia mais nenhuma dor ali, então ela abriu os olhos… onde ela estava? Que lugar era aquele?

"Era um bosque aberto, haviam algumas árvores robustas a uma certa distância dali, havia uma brisa tão suave naquele lugar, que fez seus cabelos balançarem livremente, foi quando Shara viu duas crianças com idade relativamente parecidas com a sua correndo na sua direção de forma completamente descontraída ali, elas estavam rindo alto, a menina, ela usava um vestido branco e corria atrás de uma borboleta azul, enquanto fazia algo parecido com magia no ar para tentar pegá-la, e o menino ele parecia querer apenas alcançá-las. 

—Espere... – ele pediu, tentando recuperar o folego, Shara conhecia aquele olhar, e aquela voz, aquele era Antony... e então aquela deveria ser... sim, ela era uma versão mais nova da mulher misteriosa das suas outras visões, ela estava tão linda e parecia tão feliz ali, tão diferente de como Shara a havia visto anteriormente e então Shara entendeu que ela estava tendo uma nova visão ali, a novidade era que agora ela podia ouvi-los falar aquilo nunca tinha acontecido antes, ela nunca os ouvia… 

A menina deitou sobre a relva e a borboleta pousou em seu nariz, ela sorriu, Antony sentou ao seu lado, tirando algo que se parecia com uma flauta doce de dentro de uma bolsa de couro que ele carregava consigo, começando a tocar uma canção, Shara foi atraída imediatamente por aquela melodia, era algo meio medieval... celta, ela não sabia dizer, mas era lindo a menina também se sentou, ela estava o admirando tocar, quando Shara foi surpreendida ao ouvi-la começar a cantar... ela cantava e ela cantava maravilhosamente bem, Shara nunca sentiu tanta paz assim... aquilo era tão lindo, e Shara se emocionou... mas segundos depois ela havia sido sugada e agora o ambiente havia mudado completamente, o que foi aquilo? Uma transição de momentos e lugares dentro de uma visão? Aquilo também nunca havia acontecido antes e agora os barulhos eram outros, de cavalos, uma carroça... comerciantes gritando, ela estava em uma espécie de vilarejo, uma vila de uma outra época… e ela estava de frente a uma casinha bastante simples, Antony estava ali outra vez, como isso podia ser possível? porém agora com a sua idade atual, ele estava parado na porta do local e não parecia estar muito à vontade, ele estava conversando com uma mulher desconhecida… não, espera… ela não era desconhecida, ela se parecia com a Hidra na sua versão humana, aquela mulher/criatura que ela havia enfrentado na floresta no outro dia, sim era ela… isso, tornava tudo ainda mais confuso.

—Eu sei como se sente Antony, e acredite, quero mesmo ajudar - a mulher disse, aquela era a verdadeira voz dela? Ela era tão normal ali... – eu nunca pensei, que ela pudesse ir tão longe e ser capaz disso, mas eu mesma vi, a barriga... ela carrega um filho dele, achei que ela te amasse, eu sinto muito... - Shara sabia que aquilo não era verdadeiro, o filho que ela mencionava ali, era na verdade a filha dele, aquela mulher… ela estava mentindo.

—Eu já disse Esteno, vá embora... - ele pediu, então esse era o nome dela?... Shara pensou sobre aquilo, então a Hidra, um dia ela havia sido uma pessoa de verdade, uma mulher real… uma mulher que Antony conhecia, talvez a pergunta certa fosse, quem era ele? - por favor, ele disse colocando as duas mãos no rosto, ele não parecia estar nada bem – Shara viu a mulher se aproximar dele e passar a mão no seu rosto, ela nutria algum sentimento por ele, até Shara podia ver isso... então aquela era a trama, ela havia mentido por ciúmes?

—Atenas, ela ainda costuma visitar o templo, se contar para ela, você terá sua vingança pois ela certamente irá puni-lo - a mulher disse o incentivando - insisto nisso por que quero que seja justiçado Antony, por mais que não acredite em mim eu me importo com você, você é tão bom e eu sei que você o detesta também, não é mesmo? apenas faça, faça por você… - ela sussurrou próximo ao seu ouvido - eu vou com você, dê a ele o castigo que merece, afinal ele a roubou de você - ela finalizou sabendo que havia conseguido o que queria - Antony a encarou, assentindo enquanto saia porta a fora, passando por ela apressadamente, Esteno riu, com cinismo, apenas Shara podia ver aquilo, então ela também o seguiu… Shara viu a mulher se afastar, ela havia dito Atenas? a Deusa?

Novamente Shara sentiu seu corpo sendo sugado e agora ela estava num lugar que parecia ser uma espécie de templo, ele era amplo e bem ornado, haviam longas cortinas por todos os lugares, então ela vê a uma certa distância a mulher misteriosa, na sua versão adulta, aquela era a mulher que Antony amava, o que ela estava fazendo ali? Shara a viu levantar sua cabeça e a tirar de dentro de algo que parecia ser uma bandeja de prata e repleta de água, ela fez aquilo sem sequer se molhar, o que era aquilo? Ela estava tão triste, Shara podia sentir aquilo, vendo a começar a chorar de forma silenciosa, o que poderia ter transformado aquela menina doce e tão cheia de vida da visão anterior, naquela mulher a sua frente? Shara notou a presença de um homem, ele se aproximou dela… ele segurava algo, Shara o seguiu se aproximando deles para ver melhor aquilo que ele segurava ali, era uma espécie de mini cápsula e ela reconheceu aquele objeto, era o pingente do colar que ela usava, Shara sentiu seu coração disparar… havia um líquido escuro e espesso dentro, o homem coletou as lágrimas da mulher, e as despejou dentro daquele recipiente, parecendo querer completar o restante do espaço que ainda restava, foi quando o líquido mudou de cor, se transformando naquele verde, que ela estava acostumada a ver na peça.

—Essas são as últimas lembranças - ele disse para ela, fechando a cápsula com um sopro, como quem pudesse congelar aquele material e então prendeu o que agora era um pingente, a uma pulseira de prata, sim lá estava o colar que ela usava, o colar que havia sido da sua mãe. Shara olhou para aquele homem, ele fazia mágica de uma maneira bem diferente - está pronto - ele disse admirando sua própria obra de arte - o colar cumprirá sua função, ele as protegerá, e também lhe dará os recursos necessários para fazer o que tem que ser feito - ele disse por fim, a encarando.

—E se não der certo? - a mulher perguntou de maneira apreensiva – não sabemos quando vai ser, e se não acontecer?...

—Depois de tudo, deveria ter aprendido a confiar em mim, Medusa - ele disse se aproximou dela novamente e passando a corda do colar pelo seu pescoço, enquanto beijava sua testa com ternura, Shara congelou ali, sim ela havia ouvido bem, ele disse Medusa… Shara sentiu o impacto daquele nome, não podia ser... aquela era mesmo Medusa? Ela se aproximou da mulher ali a analisando e percebendo que podia se mover à vontade pelo lugar… aquela era Medusa, a Medusa da lenda… isso era impossível. Ela era a mulher que Antony amava… faziam milhares de anos mesmo, Shara levou as duas mãos na boca, como? Será que ele havia viajado no tempo ou coisa do tipo? Não havia como Antony… ou ele podia existir em duas épocas distintas? E o professor Snape será que ele sabia?... Certamente sim, por isso havia tanto mistério em torno deles, tantos segredos, ela queria gritar, chorar, ela se sentiu traída, já que eles agiam como se ela estivesse ficando louca ao fazer qualquer associação… ela notou o homem se afastar - eu sinto muito, por tudo - ele parecia triste também - isso é até onde eu consigo ir para ajudá-la, você sabe, não é fácil...

—Nunca foi fácil – ela devolveu - Nunca para mim Poseidon… você, Antony e todos os outros só tornaram tudo ainda pior - ela acusou e parecia haver muita amargura em sua voz, então aquele era de fato Poseidon, ele havia mesmo feito aquele colar e aquele era mesmo um colar de proteção, feito pelas mãos de um Deus grego, Shara colocou a mão no bolso das suas vestes, o colar estava lá, aquilo também era loucura - tenha certeza que a marca que Atenas me deixou, bem ela não é a pior marca que eu possuo - ela disse baixando um pouco o vestido, para deixar a mostra a marca… a mesma marca que Shara possuía em seu ombro, ela não podia acreditar no que estava vendo ali… aquela era a sua cicatriz - as piores marcas estão aqui - Medusa apontou para o próprio coração - e nenhum colar poderá apagá-las - Shara a entendia, sim… Shara sabia muito bem como ela se sentia… simplesmente por que era exatamente assim que ela se sentia sobre determinadas situações da sua vida.

Shara colocou a mão no seu ombro, o que aquilo significava? Por que elas carregavam a mesma cicatriz? ela se lembrou do livro… da imagem do colar naquelas páginas amareladas pelo tempo, ela se lembrou do que o livro falava sobre a maldição que Medusa havia sido submetida após Atenas descobrir que ela esperava um filho de Poseidon, no caso era mentira, o filhos era de Antony e Antony não sabia e ele havia sido o responsável por ter levado essa informação falsa para ela, ele havia sido manipulado ali, mas tinha feito, ele tinha contado a Atenas… Shara sentiu raiva dele, ela podia entender Medusa, ela se lembrou sobre o que o livro falava a respeito da maldição, que era uma marca e que ela passaria de geração em geração, então aquela era a marca… ela se lembrou do vampiro na floresta, guardiã ele havia dito e mencionado a marca também, ela se deu conta de que ela era descendente de Medusa… e de Antony, a lenda era real, e ela estava ali para provar que sim, Shara se deu conta também de que essa era a primeira vez depois de todo aquele tempo, que ela havia conseguido as respostas que tanto procurava, sim ela finalmente havia conseguido algo, ela sorriu deixando uma lágrima escapar, aquela era a sua história, era o seu passado, sua mãe havia sido uma guardiã e foi por aquilo que ela havia morrido... Era tão injusto.

— Lamento a vida nem sempre é justa – Shara ouviu Poseidon dizer para Medusa, mas aquilo, naquele momento servia também para ela, Medusa não respondeu era notório que ela estava magoada, Shara também - Apenas use o colar e quando a criança nascer dê a ela, oriente ela a fazer o mesmo, deve ser passado adiante… assim que a próxima nascer, é assim que ele funciona, mantenha o colar com a carta, ela vai ajudar do contrário ficará mais difícil - ele orientou entregando um pergaminho - Medusa suspirou aparentemente cansada, o pegando e guardando em suas vestes, que carta? bem a carta certamente não sobreviveu ao tempo.

— Bom, você sabe o que todos vão pensar e acreditar não sabe? que essa criança é mesmo sua - ela disse olhando para a barriga - não se importa com isso? - ela perguntou, Shara encarou aquele homem, agora reparando nele, ele era grande em estatura, cabelos compridos, era bem apresentável.

—Nenhum pouco - ele disse colocando uma das mãos sobre a barriga dela, a barriga já estava bem grande ali - Atenas cometeu um erro e ela não merece saber a verdade então por hora a deixarei sofrer acreditando nessa mentira - ele disse - Assim como você tem feito com Antony – ele sorriu de maneira triste se afastando - conhecendo bem Atenas, já que ela se acha tão justa - ele riu daquilo - ela certamente deve ter colocado condições, pouco plausíveis é claro, mas ela faria, condições assim como com você, condições para que a maldição dele também possa ser quebrada, então com sorte um dia ele saberá da verdade.

—Espero honestamente que esse dia nunca chegue - ela disse soando fria, os livros a relatavam como uma bruxa, uma mulher muito má, não era bem isso que Shara estava vendo ali, mas os anos podem tê-la deixado ainda mais amargurada, já que ela dava bons sinais ali, mas Shara não poderia julgar isso, pois a vida dela parecia mesmo bastante ruim e Antony, aquilo era uma surpresa, ele também havia sido amaldiçoado, talvez isso justificasse a sua aparência jovem depois de todos aquele milhares de anos - Poseidon - Medusa chamou - antes de ir e sumir das nossas vidas para sempre, ainda tenho um pedido - ela disse o encarando – Quero que espalhe boatos ao meu respeito… algo que remeta que essa maldição possa manter os homens afastados de mim, para sempre, e caso algum tente me procurar ou se aproximar, será transformado em pedra, algo assim já serviria bem -  ela pediu e ele riu daquilo - eu os odeio, odeio todos os homens que passaram pela minha vida, sem nenhuma exceção, então minta sobre isso, diga também que meus cabelos são serpentes venenosas,  sei lá, prefiro morrer amaldiçoada e sozinha – ela disse séria e ele assentiu sem questionar aquilo -  Shara achou um tanto quanto curioso, bom Poseidon pelo menos havia feito um bom trabalho sobre isso, já que era exatamente assim que os livros trouxas a relatavam. 

—O colar trará a guardiã certa até nós e um dia a maldição será quebrada, assim terá sua redenção e poderá descansar em paz - ele disse desviando o olhar de Medusa e olhando diretamente para a sua direção… espera, não tinha como ele estar olhando para ela ali, ele não podia enxergá-la certo? já que aquilo era uma lembrança de um passado bem distante… Shara estava ficando desconfortável, quando ele sorriu para ela – Shara - ele sussurrou seu nome, ela se assustou… ele podia mesmo vê-la ali? Ele sabia sobre ela? Ela era a guardiã certa que ele havia mencionado?

—O que disse? - Medusa pediu confusa.

—Nada, apenas vislumbrando o futuro - ele continuava sorrindo para ela, aquilo não era possível… era loucura, ela deu dois passos para trás, e então ela caiu em um abismo escuro que havia se formado bem em baixo dos seus pés, a obrigando a abrir os olhos mais uma vez, sentindo o ar quente das narinas da Hidra a sua frente, ela estava tão perto, havia tanta dor, aquela marca era mesmo uma maldição.

—SHARA – ela ouviu, aquela que era a voz do professor Snape, ele a estava chamando pelo seu primeiro nome, parecia mais perto agora, e ele soava desesperado, a serpente, a Hidra, ela estava bem a sua frente e prestes a atacá-la, a dor na sua cicatriz era estridente, ela estava de volta a sua realidade, daquela que havia sido a visão mais longa e também mais reveladora de todas que ela já havia tido até ali, ela certamente não havia visto aquilo tudo, para simplesmente morrer assim ali, daquela maneira, não!

—Eu sei – Shara disse de forma desafiadora para a serpente - eu sei quem eu sou – a serpente não podia vê-la, não aquela, mas ela havia cessado o seu movimento ao ouvi-la instantaneamente - eu sou Shara, sou uma guardiã, sou descente de Medusa sua irmã e de Antony o amor da vida dela, eu sei a verdade, toda a verdade, sou uma ameaça por que sou o futuro, o futuro que poderá detê-la - ela disse se mantendo de pé, mas não sabendo por quanto tempo mais ela aguentaria, a serpente recuou um pouco, urrando ainda mais alto, de alguma forma, aquelas palavras haviam sido muito mais eficientes do que todos os feitiços lançados contra ela ali até aquele momento.

—E será também Shara a última das guardiãs a ter vivido,  já que faremos questão de matá-la - o tom de voz havia mudado, era muito mais ameaçador agora - Se acha esperta, mais esperta do que nós… nós temos milhares de anos a sua frente, de todas és a mais tola… com que direito achas que podes me enfrentar?  - ela perguntou.

—Poseidon - Shara sussurrou, vendo o incômodo que aquela informação havia causado ali, a serpente começou a se debater no ar de forma violenta, como se estivesse lutando contra um fantasma do passado, não parecia alguém do qual ela gostaria de ser lembrada.

—SHARA - a voz do professor estava ainda mais perto agora - pare o que está fazendo e me ouça, isso é uma ordem - ele pediu, ela queria correr até ele, mas ela havia congelado ali, a dor parecia poder afetar até mesmo suas articulações.

—NÃO Poseidon, NÃO! - a extensão que estava na água gritou - Precisamos agir rápido - ela disse - Vamos matar o mestre primeiro, ele está se aproximando, antes que ele se torne uma ameaça maior - Shara não entendeu o que aquilo poderia significar mas ela sabia que o perigo era real e ele era o seu elo fraco, ela sentiu as lágrimas de medo, de culpa e de dor… sabendo que não poderia intervir, ao mesmo tempo em que sentia uma corda invisível a prender e num impulso a puxar dali, não… não… não havia como lutar contra aquilo, espera, aquilo era um feitiço? O professor Snape havia lançado aquilo? Aquele feitiço a arrastou direto para ele que a amparou com força contra si.

—Epson, você foi longe demais dessa vez - ele disse para ela, num tom mortal, porém parecendo um pouco mais aliviado, mas eles ainda não estavam seguros, não… aquilo foi estranho, mas por um momento Shara sabia o que fazer, sim ela poderia intervir…

—Ataque-os AGORA - a serpente da água ordenou, Shara tirou o colar do bolso, enrolando apressadamente o cordão de prata no seu próprio pulso e colocando a pedra, o pingente dentro da palma da mão livre do professor Snape e a pressionando com força contra a sua própria mão ali, entrelaçando os dedos com os dele, ele que agora parecia se dar conta do perigo, já que havia enrijecido, Shara podia sentir a tensão que o ele emanava, e numa tentativa desesperada ela o ouviu lançar um feitiço de bloqueio sobre eles ali, ele estava tão focado nisso que mal havia notado aquilo que ela acabará de fazer, embora ainda assim e de forma completamente involuntária, ele tenha respondido, pressionando igualmente sua mão contra a dela, prendendo o pingente ali entre eles, ela o abraçou, passando a outra mão pela sua cintura e apoiando sua cabeça contra o seu peito, sentindo as batidas aceleradas do seu coração, então Shara se deu conta do que ela sentia, ela o amava, sim aquele sentimento era uma espécie de amor fraternal, ela estava dando nome a um sentimento pela primeira vez, sim era mesmo amor, ela sentiu a pedra esquentar, de todas as descobertas do dia, aquela havia sido de longe a mais importante, ela sorriu, entre as lágrimas, agora até ele parecia notar o que estava acontecendo ali, baixando sua defesa completamente e correspondendo ao abraço, nada nunca foi tão intenso como aquilo, nada poderia ser.

—Severo – Shara escutou o diretor o chamar, ele estava se aproximando, quando ambos se soltaram, embora nenhum dos dois parecesse interessado em fazê-lo… quanto tempo isso durou e o que exatamente havia acontecido, ela não sabia, a Hidra já não estava mais perto, em tempo Shara ainda conseguiu vê-la se afastar, sobre as águas, enquanto se debatia, como se algo invisível a tivesse atingido, antes de submergir por completo, a criatura sequer havia gritado, bem e eles, eles haviam mesmo sobrevivido, o colar ainda estava quente quando ela o guardou no bolso outra vez, respirando profundamente, Shara viu Draco imóvel a uma certa distância, ele parecia bastante transtornado com tudo que havia visto ali, não por menos, ela entendia aquilo, com toda certeza ele não havia imaginado nada parecido quando se prontificou a acompanhá-la mais cedo, surpreendentemente ele não havia fugido ou sequer demonstrado interesse em fazê-lo, ele também havia sido uma peça importante, ela sorriu para ele agora, ele retribuiu com certa discrição, ela ainda estava um caos, e conversar agora não seria nada apropriado, havia muito para organizar em sua cabeça antes disso, a dor dilacerante que ela havia sentido sobre a cicatriz tinha cessado, mas aquilo ainda incomodava… ela odiava aquela marca, e agora ela odiava por todos os motivos que ela de fato representava. O corte no outro braço, sim aquilo também doía,  era mesmo loucura se cortar daquela maneira.

— Definitivamente não Alvo, isso foi o suficiente e isso está encerrando aqui, então não ouse pedir mais nada – ele respondeu de forma ríspida e aquilo chamou sua atenção, Shara estava tão entretida em seus pensamentos que havia perdido completamente o que eles estavam discutindo ali, mas a forma como foi dito por ele soava bastante protetora, como tudo que ele havia feito ali, ela nunca o presenciou responder o diretor daquela maneira, embora o diretor não parecesse se impressionar, era como se aquela fosse uma resposta esperada ali, ele se virou olhando para ela e demonstrando não haver nenhuma pretensão em insistir.

—Impressionante… - ele disse para ela - verdadeiramente impressionante, em anos, nunca vi magia assim - ele sorriu  - bom acredito não haver mais nada a se discutir aqui fora, proponho encerrarmos isso no meu escritório - ele pediu, passando a frente de todos. Shara estava prestes a segui-lo, como notou Draco fazer, quando ela sentiu a mão do professor sobre o seu ombro saudável, ela se virou, eles se olharam por um longo momento ali, quando ela não resistiu se jogando nos braços dele mais uma vez, ele parecia esperar por aquilo já que a abraçou com força, muita força.

—Está me sufocando - ela conseguiu dizer, não era bem uma reclamação, pelo contrário, ela não queria que ele se afastasse nunca mais, não como ele havia feito no início daquela semana, aquilo tinha sido muito ruim, ela não queria mais chorar daquele jeito. Ela tinha muito a dizer agora, muito a discutir, eles teriam quem sabe algumas conversas difíceis no decorrer daquilo, mas ainda assim, ela estava disposta a tentar uma abordagem diferente, embora muitas coisas ali a deixassem chateada e outras tantas ela ainda não entendia, ele era um ponto de interrogação completo e era óbvio que ele não era perfeito, longe disso, ele mesmo fazia questão de apontar isso, o tempo todo, mas ainda assim ela o amava de uma maneira fraternal, que ironia do destino, dentre tantos, tinha que ser justamente ele o pior e mais assustador professor que ela já teve. Ele a soltou.

—Agradeça por não estar sendo devorada por aquela criatura sua garota estúpida - ele disse com sua ironia habitual, garota estúpida era quase um apelido agora - e devolva meu canivete, não pense que não tenho controle sobre os materiais da minha dispensa - ele respondeu bastante irritado, caramba, com tudo isso acontecendo, ele ainda conseguia se lembrar de uma peça que tenha sumido, ela pensou... Sim ele conseguia, ela sorriu.

—Obrigada professor por me salvar mais uma vez - ela disse e era verdadeiro.

—Dessa vez, não fui eu… foi você que nos salvou - ele devolveu arqueando a sobrancelha - achei que tivesse notado - ele disse com ainda mais ironia, enquanto começava a caminhar de forma apressada sentido ao castelo, fazendo sua capa se movimentar ainda mais com o vento que havia do lado de fora - é claro que nada disso teria acontecido se não fosse sua total falta de controle de impulsos - ele estava de costas a uma boa distância agora, ela sorriu revirando os olhos de forma divertida ao ouvir aquele velho discurso outra vez - Não revire os olhos para mim Epson, já está suficientemente encrencada - ele ordenou a pegando de surpresa, ele podia ser ainda mais assustador que a própria Hidra quando ele queria, ela olhou uma última vez para o lago a sua frente e então correu para alcançá-los. 

 

 


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Notas finais do capítulo

Não sei nem o que dizer, pela primeira vez...
Bom dizer que agora Shara sabe, quase tudo sobre o passado... Em tempo, afinal ela buscou tanto por isso né, e ela é a guardiã certa, Poseidon sabia.

Ver uma versão diferente da história de Medusa e ter empatia, acho isso fantástico, e me faz refletir sobre julgamentos (mesmo que isso aqui seja lorota inventada pela minha cabeça kkk)

Antony amamos... Mas todos erram, e ele errou feio.

Shara tem o coração mais lindo que eu já vi, existe uma versão dessa história na minha cabeça, onde ela chuta o balde e manda todo mundo tomar seu rumo, do tanto que todos mentem o tempo todo,... Mas ela não faria isso, então eu tive que ceder. Medusa fez, vejam a diferença!

E Shara entendendo o que sentia pelo Snape, amor fraternal.... E não é ironia do destino não garota e coisa de sangue mesmo, alouuuu vocês cheiram iguais, acorda garota kkkk
Eu sei que esse negócio da paternidade parece estar em segundo plano, mas achei que resolver questões como essas do passado antes, fariam mais sentido, me perdoem!

Ahhh e namorem com alguém como o Draco, que enfrenta uma Hidra em troca de um selinho, tadinho! Kkkk



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