Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 49
Futuro - O beijo


Notas iniciais do capítulo

Apenas... OMG!



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Severo abriu a porta do seus aposentos, mas ele ainda estava bastante desnorteado com a cena que acabara de se desenrolar no corredor, Shara entrou, passando a sua frente, ela também parecia estar com os pensamentos distantes dali, pela primeira vez ele não sabia muito bem como começar aquilo com ela, quem sabe um começo adequado seria gritar com a criança como de costume e pontuar os diversos motivos pelos quais ele estava tão transtornado, sim ele tinha muitos motivos, aquela briga mais cedo no pátio externo fez o seu humor piorar consideravelmente naquele dia, ele poderia mais uma vez discursar sobre a total falta de controle de impulsos que ela não possuía e que mais uma vez resultou em sua quase expulsão, poderia dizer que odiava perder seu tempo, sua folga com questões como aquelas, poderia apontar as falhas, incontáveis, por tudo aquilo que ele mais detestava, e que aquela garotinha estúpida fazia com uma certa maestria, poderia encurralar ela novamente já que tanto ela como aquele pássaro abusado havia desobedecido suas ordens e saído dos seus aposentos, mas ele estava simplesmente exasperado e completamente sem norte ali, poucas coisas podiam deixá-lo assim… Shara, aquela criança chegou para virar seu mundo caótico ainda mais de cabeça pra baixo, ele havia sido uma pessoa ruim, ele sabia, talvez aquilo fosse mesmo algum tipo de castigo para compensar seus erros, seus pecados do passado e trazendo os anos de terror de volta para ele, só que com muito mais emoção, ele suspirou… pensar que aquilo nunca foi algo que ele desejasse… 

—Me desculpe pelo tapete - ela disse quebrando o silencio que havia se formado ali e o tirando dos seus devaneios, ele se deu conta de que estava parado na entrada da porta, sem dizer uma palavra sequer, sabe-se lá por quanto tempo, ela havia sentado no sofá, se sentindo bastante à vontade por sinal, já que ele não havia dado autorização para isso, mas quem se importa com formalidades tão triviais como aquelas? Ele… ele se importava, ele olhou para o tapete identificando o problema em questão ali, havia uma poção quebrada e uma mancha, sim aquilo não sairia nunca mais… aqueles eram os primeiros sinais de que sua vida impecável e completamente organizada estava mesmo desmoronando, ele olhou de forma apática para aquilo - O senhor está bem? - ela perguntou - aquilo era relativo, ele não sabia responder.

—Epson - ele disse devagar se aproximando da sua estante de bebidas, enquanto batia com uma certa força a porta atrás de si, fazendo suas vestes negras, dançarem no ar devido ao impulso que ele havia dado ali, e desde quando ele bebia a esse horário? Enfim tudo na sua vida estava desajustado, que diferença faria, ela o olhou de maneira estranha, talvez ela estivesse julgando aquele comportamento... – hoje é seu dia de sorte - ele disse de forma fria, ela ainda o encarava.

—Eu realmente sinto muito pelo tapete - ela disse pontuando aquela situação mais uma vez, sim aquela era uma tapeçaria cara, e sim ele podia mais uma vez gritar o tanto que ele estava frustrado com tudo aquilo, ele segurou o copo com a bebida na mão com força enquanto se virava para encará-la - o Antony ele derrubou… mas foi culpa minha admito - ela informou baixando a cabeça.

—Claro que foi - ele sorriu com ironia a olhando, ela era mesmo bem pequena, tinha o olhar compenetrado da mãe, além da cor dos olhos, mas de resto ela se parecia muito mais com ele, sim ela era bastante geniosa também, aquilo era algo que agora ele podia enxergar com bastante perfeição, e de alguma forma ela era terrivelmente propensa a tirá-lo do sério - não será expulsa - ele disse de uma só vez - como disse, seu dia de sorte - ele informou, vendo ela relaxar um pouco, enquanto ele dava um longo gole no whisky de fogo que desceu queimando pela sua garganta - passou bem perto dessa vez - ele concluiu enquanto ainda a encarava.

—Obrigada - ela disse completamente encabulada – se não fosse pelo...

—Diretor, agradeça ao diretor - ele disse sem emoção – apenas a ele – ele a cortou, deixando seus pensamentos vagarem mais uma vez para aquilo que havia acontecido lá fora, ele nunca havia visto aquela ave daquela maneira... ele não queria e ele não iria perguntar sobre aquilo, ele preferia não saber.

—O senhor está chateado com o tapete, não está? - ela tocou no assunto pela terceira vez, de tudo o que estava acontecendo ali, de todas as mudanças, de todos os desafios e tudo que veio depois dela, o tapete era apenas um mero acaso, no meio de todo aquele caos.

—Acha mesmo que o tapete é o nosso maior problema aqui? - ele disse com ironia, vendo ela se encolher - de todos os problemas em que você vem se metendo, e que me consomem tamanha energia, você realmente acha que estou chateado por causa de um maldito tapete? – ele perguntou sabendo que soava de forma rude e ameaçadora agora – me responda – ele exigiu, ele não podia controlar aquilo, ele definitivamente não podia.

—Não – ela respondeu – quando eu cheguei aqui na escola, o senhor não imaginava que eu pudesse trazer tantos problemas assim. Não é mesmo? – ela perguntou baixinho, ele a olhou através do copo, ele estava contemplando aquela bebida com muito apreço – foi o que o senhor disse mais cedo, na sala do diretor...  Um Poço de problemas... o senhor tem razão sobre isso – ela o analisou

—Muito perspicaz Epson – ele respondeu balançando a bebida dentro do copo.

—Está arrependido – ela disse o encarando – eu sei, eu... posso ver - ele manteve os olhos sobre a bebida... não havia como se arrepender de algo que ele não tinha decidido, havia? aquilo tudo caiu como um paraquedas em sua vida, um turbilhão de mudanças sem medidas, ele sabia que não havia mais volta, ele havia sim se afeiçoado a ela, suas atitudes e tudo mais eram a prova de que ele estava mudando, alguém que recebe abraços coletivos no corredor ou que passa a não se importar com um mancha em sua tapeçaria cara, Maeva… seja lá o que o diretor pensasse sobre ela, sobre o que ela fez naquele dia, sobre ele achar que era necessário tudo aquilo, da forma como foi... ele não, Severo não concordava com nada daquilo, embora ainda assim, ele soubesse que aquele velho estava escondendo parte importante do jogo ali, e isso também o irritava, o que exatamente não o irritava? Era até mesmo difícil dizer, saber que estava mudando, encarar as mudanças, não poder ter controle sobre elas, maldição... ele notou Shara se levantar e pegar a bolsa que estava caída no chão ao lado do sofá e se aproximar da porta, ele não havia respondido… e obviamente ela estava deduzido o pior ali, ele não podia julgar aquilo, mas ele estava em conflito, ele não podia lidar com aquilo, não agora, com o tempo ela passaria a entende-lo melhor, ele se viu pensando, como se houvesse uma continuidade, sim algo havia mesmo mudado.

—Embora não tenha perguntado – ela disse parecendo triste, enquanto colocava a mão no centro da porta e ele não pode deixar de notar em como ela fazia isso com tanta naturalidade, parecia que ela sempre esteve ali que ela fazia mesmo parte daquilo, daquele lugar – eu tive uma visão com ele, bem… com o seu AMIGO Antony – ela enfatizou – e bem seria legal procurá-lo, pois ele meio que descobriu algo, descobriu que teve uma filha – ela disse se virando para encará-lo, aquilo despertou sua atenção o tirando do transe em que estava.

—O que disse? – ele se limitou a perguntar, embora ainda soasse distante e frio.

—Sim, isso mesmo uma filha – ela repetiu – eu não sei, não posso imaginar... mas penso que deve ser mesmo muito assustador descobrir que tem uma filha, assim de maneira tão inesperada – ela disse séria e ele sentiu que estava perdendo as forças ali com aquele comentário tão certeiro, fato foi que o copo que ele segurava, deslizou, caindo de sua mão, mas ele manteve a postura – ah foi exatamente assim que ele deixou a poção cair no tapete, a diferença que Antony conseguiu ser um pouco mais sensível sobre isso – ela respondeu o criticando – a parte triste, é que a filha dele já morreu, bom foi o que ele disse – ela ainda o encarava –  então imagino que deva ser ainda mais difícil descobrir que além de ter tido uma filha, infelizmente não haverá mais tempo para resgatar aquilo que se perdeu, pois ela se foi... para sempre  – Aquilo, dito daquela maneira por ela ali, acertou em cheio o que restava de um coração que ele achava não possuir – enfim, acho que ele precisará de um apoio, sei lá… – ela disse fechando a porta com um certa força e sumindo do seu campo de visão. Ele olhou para o estrago no chão, puxando novamente a garrafa de whisky da prateleira, mas ao invés de se servir ele a segurou e a arremessou com força contra a parede.

—____

—Shara é impressão minha ou Carla meio que está te evitando, bem desde... você sabe... – Gina disse enquanto segurava um riso durante a aula de poções de sexta-feira.

—Insignificante – Shara disse dando de ombros e Gina sorriu.

—Sabe parece que o jogo virou não é mesmo – a amiga abriu um sorriso ainda mais largo – eu gosto dessa nova versão sua, não sei, você parece mais ousada sabe.

—Cansei eu acho – Shara admitiu.

—Entendo e bem eu mesma farei questão de não deixar com que ninguém esqueça desse episódio tão memorável... eu quase consigo escuta-la chorando mais uma vez – Gina disse encarando a loira que estava de costas a algumas bancadas a frente – foi bom sério.

—Quase fui expulsa, mas... faria novamente – Shara disse virando uma página do livro de poções que estava a sua frente de maneira desinteressada.

—Honestamente eu não sei como não te expulsaram por causa disso, é sério, eles, aquela familiazinha asquerosa, bem eles tem um certo prestigio, você sabe – Gina disse fazendo caretas - meu pai disse que você teve muita sorte – Gina sussurrou, aquilo foi o mesmo que o professor Snape havia dito naquele dia, Shara podia sentir seu estomago embrulhar, quando parava para pensar na forma indiferente com que ele a tratou, se ele não desejava aquilo, não desejava uma proximidade, por que ele a manteve por perto? Por que ele agia como quem se importasse a ponto de parecer zelar por ela? Por que ele deixou com que ela criasse esse tipo de esperanças? – mas se bem que... você tem o poderoso e mais temido professor dessa escola para te proteger né – Gina a provocou.

—Está enganada...– Shara respondeu de forma aberta, fazendo Gina a olhar de maneira diferente.

—Aconteceu alguma coisa? – ela perguntou baixando o tom – sabe eu meio que notei ele lançando vários olhares na sua direção durante toda a aula – o professor Snape estava em sua bancada parecendo concentrado em algum trabalho.

—Não quero falar sobre isso – Shara encarou a amiga

—Ah mas é obvio que você vai falar... vamos desembucha, bem que Beta disse que você estava mais triste essa semana – Gina falava baixinho agora.

—Beta? – Shara disse com ironia – não sabia que ela andava reparando em mim.

—Bem como eu te disse aquele dia, apenas dê um espaço para ela, tenho certeza que logo vocês retomam a amizade, e ela sente sua falta – Gina disse tentando anima-la.

—Talvez, quando ela decidir sobre isso, apenas eu não deseje mais... – Shara fechou a cara.

—Ok, tem alguma coisa acontecendo sim... – Gina parou de mexer no caldeirão para encara-la - o que tem te deixado tão chateada? - Gina era uma boa amiga, ela suspirou.

—Começando com o fato de que minha vida toda é uma mentira – Shara cuspiu - sabe talvez eu apenas esteja cansada disso também, todos aqui parecem saber de algo sobre mim, sobre o meu passado, e ninguém me conta nada... é sigiloso é segredo... estou apenas cansada dessas dissimulações – ela suspirou – eu sempre me virei sozinha e bem é isso que eu pretendo continuar fazendo...

—Caramba – Gina disse voltando a mexer o caldeirão – e obvio que você tem algo em mente nesse sentido – ela disse olhando para frente notando que o professor havia se levantado e começado a analisar as poções nas bancadas.

—Ir atrás de respostas... do meu jeito, e por conta própria... eu só preciso ligar alguns pontos – Shara disse de forma pensativa, sim era exatamente isso que ela faria, e ela já sabia muito bem por onde começar, ela tinha uma teoria, uma das boas e ela não se importava em fazer isso sozinha... até por que seria melhor assim – Eu vou me virar... eu não preciso de ninguém – ela sorriu com o canto da boca.

—Sério quando você sorri assim. – Gina disse tensa – você se parece tanto com ele... que chega a dar medo – ela sinalizou com a cabeça na direção do professor que estava apenas a duas bancadas de distância agora.

—Não exagere – Shara corrigiu a amiga – agora mexa para o outro lado – ela pediu.

—Oque? Não está escrito isso no livro... de onde tirou isso? – Gina perguntou indignada.

—Apenas faça, confie em mim, sabe nem sempre os livros são confiáveis – Shara disse com bastante naturalidade, ao mesmo tempo que o professor passava pelo corredor a obrigando a ter uma pequena troca de olhares com ele ali, ele que sequer havia se dado ao trabalho de parar na bancada delas.

—Ele pulou nossa bancada? – Gina disse surpresa – não sei o que aconteceu, mas começo a achar que é grave.

—É por que não tem nada para criticar na nossa poção, vai por mim – Shara olhou para Gina – está no ponto ideal, vamos engarrafar – Shara orientou.

—Você vai substitui-lo no futuro, falo sério – Gina disse – ficou mesmo perfeita, vou tirar um A nessa matéria por sua causa, meus pais vão te amar – Gina parecia animada.

—Sabe né, são anos de dedicação – Shara riu de forma descontraída – agora vamos... eu preciso ir.

—Ok e posso saber o motivo de tanta pressa? – Gina perguntou – será que tem algum gatinho por aí te esperando lá fora? – ela disse a cutucando. 

—Não... pare com isso – Shara disse séria - mas falando em gatos, não vejo Flocos desde ontem de manhã – ela não tinha tanta experiência com gatos, ela havia perguntado a Hermione que disse ser normal eles sumirem por uns dias, de acordo com ela, eles saiam para caçar – Hermione disse para não me preocupar com isso, mas ainda assim acho estranho.

—Bom Mione sabe bem... ela tem Bichano desde o primeiro ano... – Gina completou, e ela assentiu, Shara deixou a poção na bancada do professor e saiu com Gina da sala de aula, o professor não havia dito nada, desde o ocorrido naquela terça de manhã eles não tinha mais trocado nenhuma palavra, honestamente depois daquilo ela queria mesmo evita-lo, ela estava tão magoada, triste enfim... aquilo havia sido bastante difícil para ela, sim ela havia se afeiçoado a ele, ela sabia... mas estava errado, ele era um professor e não tinha obrigações especiais com ela, e havia ficado evidente que depois daquela briga com Diaz, ele parecia ter se cansado de todos os problemas que ela trazia, possivelmente se arrependido por ter dado algum espaço ali, então teve o episódio com Antony, teve o tapete e aquilo deve ter sido a gota d’água para ele. Ainda assim havia a moeda e Shara a contemplava todas as noites, ela se sentia desafiada a segura-la com mais força, apenas para ver se ele viria, eram naqueles momentos que ela se sentia mais sozinha, mas ela não faria, não... então ela chorava de forma silenciosa no seu travesseiro até dormir, ela estava exausta de tudo isso, ele havia sido bom para ela, a sua maneira é claro, mas algo havia mudado, e ela tinha conseguido afasta-lo, aquilo era normal, ele que apenas havia demorado um pouco mais que os outros para perceber o quão problemática ela seria.

E de qualquer maneira, tinha algo sobre ele que realmente a incomodava, pois apesar dele ter sido honesto sobre algumas coisas e de todos os adultos acessíveis ele ter sido o único a lhe dar alguma informação útil ainda assim ele não estava sendo verdadeiro, já que ele sabia muito sobre Antony, e obviamente sobre o seu passado, e ele não parecia estar disposto a ajudar sobre isso... bem pelo contrário, enfim ela estava disposta a conseguir as respostas sem depender de mais ninguém, então por hora o melhor a se fazer era se esquivar da presença dele, mas para ajudar ele esteva presente em todas as refeições daquela semana, e como o jogo de quadribol era naquele final de semana, esporadicamente ele passava na mesa da Sonserina para dar alguns recados para Flint, o capitão do time, e em todas aquelas oportunidades ela podia sentir os olhos dele sobre si.

—Onde está indo? – Gina perguntou - o salão principal é para o outro lado, você não vai almoçar? – não, hoje ela não iria, Shara havia planejado isso nos últimos dois dias com muito cuidado dessa vez, e ela faria, já que as tardes de sextas eram livres, aquilo era algo para ser feito durante o dia e não de forma alguma em finais de semana, já que haveriam alunos espalhados por todos os lugares naquele jardim. 

—Ah não agora, talvez mais tarde – ela disse se despedindo da amiga que a olhou confusa, Shara correu até o pátio externo, o dia estava ensolarado, mas já estava bastante frio lá fora, ela se encolheu um pouco ao sentir a mudança de temperatura, ela atravessou o pátio, tirando o colar do pescoço e o colocando dentro do bolso das vestes “perfeito” ela disse mais para si mesma, ao contempla-lo a luz do sol.

—Shara – ela ouviu alguém chamar de longe – aquilo era algo que ela queria fazer sem companhia e aquele já era quase o horário do almoço, por que havia alguém ali fora, justamente agora? ela suspirou se virando – onde vai com tanta pressa? – era Draco, ele se despediu do restante do time de quadribol, e correu até a sua direção.

—Ah… eu ia fazer uma coisa – ela disse dando pouca informação – então, você está indo almoçar? – ela disse tentando soar educada, mas ao mesmo tempo querendo se livrar dele, ele arqueou as sobrancelhas.

—Que coisa? – ele perguntou desconfiado, ele era um Sonserino, ele não iria desistir tão fácil.

—Eu preciso resolver algo – ela disse por fim – algo pessoal – ela enfatizou.

—Pessoal? ... aqui fora... sozinha? – ele a analisou – não parece boa coisa, vou com você - ele disse decidido, ela suspirou outra vez, sabendo que seria difícil se livrar dele a partir dali.

—Não... olha só, melhor não ok? amanhã tem o jogo de quadribol e eu sei o quanto isso é importante para você, veja só – ela disse apontando para suas roupas – você vem treinando a dias... não quero que se meta em problemas, não por minha causa – aquilo era verdadeiro

—Problemas? – ele se aproximou um pouco mais dela a deixando sem graça – você vai se arriscar fazendo algo que provavelmente vai se arrepender depois, não vai? – ele disse baixando o tom de voz – eu sei... posso ver isso – ele concluiu.

—E você não vai desistir não é? – ela devolveu.

—Não, sou um Malfoy, lembra? – ele disse com aquele sorrisso de canto.

—Claro, um Malfoy... e o que isso quer dizer... exatamente? – ela provocou, cruzando os braços, ela não dava a mínima para essa coisa de sobrenomes e também não fazia a menor questão de disfarçar.

—Deveria significar algo, mas pelo visto você é a única nessa escola que não se importa com isso – ele arqueou a sobrancelha se aproximando ainda um pouco mais ao responder aquela pergunta com um certo tom de ironia, ele estava bem perto agora – garota do sobrenome duvidoso – ele sussurrou, ela podia sentir seu hálito e a resposta do seu corpo para aquilo foi liberar instantaneamente uma alta dose de adrenalina, nenhum menino havia se aproximado tanto assim, mas ela não recuou, ela não iria.

—Hummm o meu sobrenome duvidoso – ela repetiu aquilo que ele havia dito – me faz ver as coisas por uma outra ótica – ela disse um pouquinho mais baixo também, ela quase podia sentir a respiração dele ali, ela mesmo estava segurando a dela.

—Interessante – ele disse, ele estava tão perto agora, e automaticamente ela fechou os olhos, sentindo o lábio dele colar contra o seu, foram apenas alguns segundos, que pareciam uma verdadeira eternidade, aquele não foi um beijo cinematográfico, como ela já havia visto em novelas e programações de TV, não, aquilo era algo inocente e puro, por um momento ela desejou poder parar o tempo apenas por se sentir normal pela primeira vez, sim aquela havia sido a primeira vez que ela estava se comportando como uma menina normal da sua idade, alguém com uma vida comum, e isso era tudo que ela mais queria, ser comum... ela nunca teve tempo para discutir sobre meninos, não como Gina fazia e como ela ouvia as outras meninas fazendo, ela sempre tinha tanto em suas costas para fazer, se preocupar e se defender, ela abriu os olhos – Shara, eu... – ele estava encabulado, era evidente que aquilo não havia sido planejado e isso tornava tudo ainda melhor.

—Você vai comigo – ela disse prontamente, não dando qualquer margem ou espaço para que ele pudesse se desculpar por aquilo, aparentemente era o que ele faria, mas aquilo não era algo para se arrepender, não… – só prometa que seja lá o que acontecer, ou seja lá oque você ver.... Você não irá contar  para ninguém, ok? – ela perguntou, ele parecia confuso, obviamente... com a mudança brusca que havia acontecido ali, mas não ousou questionar.

—Bem falando assim, começo a achar que vai enfrentar alguma espécie de fera marinha ou algo do tipo – ele disse um pouco mais à vontade e da forma debochada de sempre, ela olhou para o lago mais a frente, bem era mais ou menos isso e ficou séria – Não, não... espera...– ele havia entendido – se acha que vou deixar você entrar naquele lago... está muito enganada, não depois do que aconteceu da última vez... eu não vou permitir isso – ele disse de maneira protetora e aquilo foi diferente.

—Não...  eu não vou entrar ok – ela respondeu, gostando daquela preocupação que estava vendo ele externar ali – eu não faria uma loucura dessas novamente, ainda mais agora que eu sei o que tem lá dentro...  Apenas preciso chegar perto – ela explicou.

—Perto? Como assim perto? ... Não, nem pensar - ele disse a encarando - levo você no arrasto, com ou sem magia de volta até o castelo – ele impôs.

—Sério? – essa era a vez dela soar debochada – e como pretende fazer isso Malfoy? - ela disse o sobrenome de propósito - Achei que depois do que aconteceu com a Carla no início dessa semana, você e todos os outros tivessem pelo menos um pouquinho mais de medo de mim - ela disse conseguindo soar espontânea.

—Medo de uma garota? - ele devolveu de forma esnobe - bom penso que o professor Snape vai adorar saber no que está se metendo dessa vez – ele disse a fazendo lembrar que tinha sido ele a contar sobre sua última e desastrosa aventura.

—Não, você não vai me delatar novamente, agora pare de me fazer perder tempo, apenas prometa – ela pediu – é simples.

—Deixe me pensar – ele disse caminhando em meio circulos em torno dela – mas ressalto aqui que delatar o seu plano mirabolante e mal elaborado, salvou a sua vida da outra vez – ele disse se sentindo vitorioso e ele tinha razão.

—E eu já disse o quanto sou grata por isso e sim agradeço também por toda a preocupação aqui, mas é sério, isso é muito importante pra mim e eu só preciso chegar perto, por alguns minutos, nada mais que isso e bem a criatura se ela estiver lá, você precisa concordar que ela não pode sair da água, não é mesmo? – ele parecia considerar aquilo - e bem… ela é uma serpente, algumas eu sei… já que tem mais de uma cabeça – ela disse ao refletir sobre aquilo - e isso torna tudo pior, admito, mas eu posso falar com ela, lembra? Ofidioglota... - ela sorriu entregando parte do seu plano dessa vez não tão mirabolante e nem mal elaborado como ele havia dito – é importante – ela repetiu – por favor – ela implorou.

—Façamos uma troca - ele disse a encarando – sou um Sonserino, você sabe – Ali estava aquilo que o professor Snape tanto insistia em dizer, sobre o garoto e sobre ele não fazer nada sem esperar algo em troca.

—O que você quer? – ela suspirou visivelmente irritada.

—Calma – ele a provocou – algo bastante simples... – ele sorriu com o canto da boca - outro beijo – ele disse sem sequer ficar constrangido, que garoto abusado.

—Você é mesmo abusado heim garoto – ele tinha conseguido deixa-la envergonhada, mas aquele pedido, bem não era algo exatamente ruim e nem difícil, ela pensou, sentindo um frio no estomago ao se dar conta de que ela estava realmente cogitando aquilo – bem... vejamos, prometa o que te pedi e eu vou analisar o seu comportamento, se achar que merece, bem então eu posso fazer isso, do contrário... não – ela impôs – sabe, também sou sonserina – ela sorriu.

—Tem minha palavra – ele disse jogando as mãos para cima – mas não entendo pelo que estarei sendo avaliado aqui – ele pediu.

—Hummm quem sabe por quanto tempo você aguenta, antes de sair correndo, com medo e pedir ajuda – ela o provocou, ele ficou sério, visivelmente encomodado e passando por ela apressadamente.

—Vai se surpreender Epson – ele disse usando seu sobrenome, sobrenome duvidoso ela mesmo repetiu na sua mente com a voz dele de forma divertida, era a vez dele de ficar irritado – Vamos – ele disse olhando para trás – ou será que já desistiu? – ele perguntou com ironia.

—Não mesmo – ela disse, correndo até conseguir alcansa-lo, o lago não era tão longe dali, mas aquela pequena caminhada lhe rendeu um certo tempo para pensar sobre aquilo que ela estava buscando hoje, desde a visão com Antony, algo que Shara vinha repassando muito nesses últimos dias, ela percebeu que ele não só conhecia aquela mulher da sua visão, mas como havia tido um filho com ela, ou seja eles eram bem íntimos... ela era a mesma mulher do ritual e que também possuía o colar que curiosamente foi da sua mãe, e mais estranho ainda também possuía a sua atual varinha, aquela varinha que foi entregue no Olivaras e que tinha uma forte ligação com a lenda, agora sua segunda visão foi com a Hidra, e bem era evidente que havia uma conexão entre as visões, já que elas pareciam ser na verdade lembranças da mesma pessoa, por mais que não houvesse uma explicação adequada para tudo isso, Shara sabia que aquilo tudo girava em torno daquela mulher misteriosa e era isso que ela estava disposta em descobrir ali, quem era ela afinal das contas? 

Shara não podia contar com a ajuda de Antony, aquilo foi algo que ficou bastante evidente naquele dia, e bem ela não queria piorar ainda mais as coisas para ele ali, ele que ainda parecia estar visivelmente abalado e tentando absorver aquela noticia, Shara havia cruzado com ele no corredor dia desses e ele ainda estava completamente fora de orbita, e bem é obvio que ela não poderia contar com a ajuda do professor Snape, pois além do fato deles serem próximos, ambos pareciam estar bem ajustados sobre dificultar e mantê-la longe de qualquer informação útil, Shara se deu conta disso ao se lembrar de como o professor havia ficado incomodado com o fato dela ter conseguido ter acesso a aquele livro da sessão restrita, livro que falava sobre as lendas bruxas, sim desde lá ele não queria que ela soubesse a verdade, na época ela havia deduzido que ele apenas não a queria correndo atrás de assuntos triviais e alimentando fantasias como ele mesmo dizia, algo que não fosse pertinente e nem parte de suas atividades curriculares, o que poderia até ser parcialmente parte daquela intenção, mas não era toda a verdade... Shara sabia também que o diretor, ele que havia sido o primeiro a ler a carta da sua mãe depois dela, no dia que ela havia chego em Hogwarts, ele mais do que todos ali, detinha informações importantes sobre o seu passado, sim ele sabia mais do que todos ali, aquilo era mais claro do que cristal, e ele também não diria. Foi então que depois de muito pensar a respeito e esgotar todas as suas possibilidades, lhe ocorreu que ainda havia alguém a quem ela não tivesse recorrido... Na verdade algo.... sim a Hidra e por mais que aquela criatura a odiasse e desejasse matá-la, o que ficou suficientemente claro nos poucos encontros que tiveram, ela arriscaria, já que verdades sejam ditas, ela não poderia mesmo sair da água, não naquelas circusntancias, então tentar, mal também não faria...

— Alouuu Shara? Você está me ouvindo? – ela ouviu Draco chamar, eles haviam chegado até a encosta do lago – e então, qual o plano? – ele soava como quem estivesse repetindo aquilo por mais de uma vez - o que pretende fazer agora? - ele perguntou insistentemente, eles haviam parado a apenas alguns metros de distância da agua, ela analisou o lugar que estava completamente calmo, nem parecia que uma fera daquela magnitude habitava aquelas águas.

—Vou chama-la - Shara disse por fim, se sentindo apreensiva e tentando manter o auto controle para que aquele medo que ela estava começando a sentir ali, não dominasse todo o seu corpo, ela tirou um canivete de dentro da bolsa, objeto que ela havia pego escondido durante a aula de poções dessa manhã, era bem afiado, na medida certa, já que ele era preparado para o corte preciso dos ingredientes.

—Como? - Draco perguntou parecendo igualmente apreensivo, Shara notou que ele havia sacado sua varinha, e permanecia em posição de ataque, talvez por precaução, ela não podia julgar aquilo, mas a fera em questão ali era uma Hidra, aquilo certamente não faria nenhuma diferença contra a criatura.

—Vejamos - ela disse se aproximando do lago um pouco mais, sentindo a adrenalina consumi-la, ela estava tremendo.

—Não chegue tão perto – ele pediu com cautela.

—Espere... pretendo me afastar em instantes - ela disse enquanto erguia a manga da camisa e puxava as vestes para cima, passando a lâmina pela parte interna do seu braço, abrindo um corte razoavelmente grande ali, que começou a sangrar imediatamente.

—O que... o que está fazendo? Isso… isso parece magia negra, é magia negra? - ele perguntou gaguejando - isso é escuro.

—Eu sei o que parece… mas não, isso não é magia negra - ela disse completamente concentrada naquilo que estava fazendo ali, enquanto olhava o sangue escorrer pelo braço e pela sua mão, até que as primeiras gotas atingiram a superficie da água, ela nem podia sentir a dor que provavelmente viria daquilo, já que aquela adrenalina toda a deixava completamente anestesiada, ela se afastou alguns bons metros e Draco fez o mesmo a seguindo… era só esperar agora… ela sabia que dessa vez seus planos ali, dariam certo... 

—Por que o seu sangue? – ele pediu, mantendo a mesma postura de ataque de antes.

—Acredite Draco, eu também me pergunto a mesma coisa – ela disse notando a confusão que havia se formado no rosto dele, sim, por que o seu sangue importava tanto era algo que ela também gostaria muito de saber – por hora, é apenas um palpite – ela disse por fim, eles ficaram ali em silencio por alguns instantes mas nada havia acontecido.

—Vamos embora – ele disse, parecendo um pouco mais relaxado... mas algo se moveu, Shara percebeu aquilo.

—Você viu isso? - ela perguntou, ela estava com os olhos vidrados na água… e ele fez o mesmo, sim havia uma ondulação entranha ali quando de repente, eles viram aquela enorme criatura saltar, jogando um volume considerável de água para fora, e mesmo na distância que eles estavam, eles agora se encontravam completamente encharcados, a Hidra era ainda maior do que ela havia imaginado, Draco estava completamente sem cor, mas não havia fugido, como ela imaginou que ele faria, pelo contrário ele se mantinha firme ali, ele se aproximou dela, segurando a sua mão, era inevitável, ambos estavam tremendo agora, mas aquilo ajudava.

Depois daquele espetáculo de entrada, sentindo que estava segurando o ar, Shara o soltou, tentando pensar com mais clareza, ela havia conseguido... sim ela havia mesmo atraído a Hidra até ali, e agora ela estava bem na sua frente, e ela não podia recuar, não agora...  A Hidra, colocou duas das sabe se lá quantas cabeças possuía para fora da água, ela era uma serpente enorme a lenda estava certa sobre isso, ela era assustadoramente terrível, mas assustadoramente majestosa também, apesar de tudo, era uma criatura para se apreciar, já que eram raras e quase impossíveis de ver, ao contempla-la algo chamou sua atenção, uma das duas cabeças parecia ter os olhos machucados e parecia não poder enxergar, a Hidra urrou, a trazendo de volta e os assustando, aquilo era um som extremamente alto e agudo, tanto ela como Draco tiveram que fechar os ouvidos com as duas mãos, certamente aquilo era algo que poderia ser ouvido a uma boa distância, e isso não era bom, logo eles não estariam mais sozinhos, sendo assim ela precisava se apressar.

—Olá mais uma vez Shara - ela ouviu aquela voz pegajosa e fria e aquilo fez seu corpo todo estremecer... ela sentiu sua cicatriz começando a queimar, o que a faz levar a mão até o ombro instantaneamente – o que deseja de mim filha de Poseidon? – a Hidra perguntou de forma arrastada.

Poseidon, espera? Ela havia dito Poseidon? Aquilo tudo era mesmo loucura.


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Notas finais do capítulo

OMG! OMG! OMG!
Querido Harry você pode até ganhar a partida de quadribol que ainda vai acontecer amanhã... Mas o coração de Shara.... Hummmm não sei, parece que Draco levou essa.
O primeiro beijo a gente nunca esquece não é mesmo (bem um selinho no caso né...) Mas foi fofo.
Por essa Shara não esperava e imagino que nem vocês kkk mas ela parece ter gostado..

E sobre a Hidra, prevejo verdades sendo reveladas em 3,2,1....



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