Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 110
Futuro - Terceira despedida


Notas iniciais do capítulo

Alerta lencinho
Fica mais emocionante ao som de "https://www.youtube.com/watch?v=J5F9bPTm1xM"
Sleeping last - Turning Page

Dependendo do seu nível de engajamento, sugiro prestar atenção nessa letra, é simplesmente perfeita aqui!



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Aquela havia sido uma semana diferente, todas as atenções do mundo mágico estavam sobre Hogwarts, haviam pessoas do ministério circulando pela escola, o pai de Draco aparecia vez ou outra publicamente, o profeta diário não parava de publicar notícias sensacionalistas sobre o caso, os professores pareciam sempre tensos, correndo e ainda mais preocupados do que de costume, a professora e agora também diretora McGonagall não aparecia nas refeições já tinha dias, até a aula de transfiguração daquela semana havia sido cancelada, os alunos e em especial aqueles de outras casas, não paravam de falar sobre o terrível impacto causado pelo afastamento do diretor Dumbledore, e também de quão ruim era a prisão de Hagrid já os da Sonserina evitavam tocar no assunto, quase como se aquilo fosse uma espécie de tabu... mas independente disso o clima estava ruim em diversos aspectos diferentes, seu pai havia feito uma reunião com todos os alunos de sua casa na comunal na noite anterior, explicando as novas implicações e regras em vigor, haviam rumores sobre o fechamento da escola mas ninguém mencionou ou citou o último ataque, Hermione Granger estava petrificada na ala hospitalar agora e Shara era a única aluna ali que sabia que eles ainda não estavam seguros, e que novos ataques não poderiam ser descartados já que o verdadeiro culpado continuava solto e o diário dele continuava perdido pelo castelo… e sendo assim havia nada mais e nada menos do que um basilisco à espreita, sem hora marcada para atacar... e isso era algo que a deixava em estado de alerta redobrado, o que vinha refletindo em sua qualidade de sono e em sua alimentação deficitária.

—Alouuu – Carla chamou sua atenção, passando a mão na frente do seu rosto em movimentos circulares e repetitivos– você anda muito distraída ultimamente – ela retrucou.

—Desculpe eu... estava apenas pensando... bem deixa pra lá – Shara respondeu, se servindo de mais suco de abobora – você tem razão... tenho andado distraída – ela concluiu

—Todos nós na verdade – Carla pesou... haviam poucos alunos no jantar essa noite sendo que o toque de recolher estava cada vez mais curto – precisamos ir, e você mal encostou na comida – ela complementou, Shara olhou para o prato parcialmente cheio... ela mal sentia fome.

—Você acha que as coisas... elas vão voltar ao normal... sei lá está uma bagunça não é mesmo? – Shara perguntou pensativa.

—Eu não sei... Mas espero que não fechem, eu não gostaria... – Carla a olhou baixando a voz – você sabe... ter que ir para casa – elas podiam não ser as melhores amigas, mas uma coisa era fato, Carla admitia essas coisas apenas para ela...

—Eu sequer tenho pra onde ir – Shara disse, o lar... bem aquele lugar não a pertencia mais, embora as coisas pudessem ser mais promissoras por lá... depois de Noah, com uma nova direção assumindo... mas agora a professora Minerva detinha sua guarda, embora elas nunca tivessem discutido aquela situação, mas ela certamente tinha mais do que se preocupar no momento e seu pai, obviamente não poderia assumi-la por razões mais do que lógicas... Carla a estudou, com um olhar solidário...

—Eu sei que é ruim... mas no meu caso também tem sido – ela se levantou – afinal ter uma casa, não necessariamente significa ter um lar – ela disse de forma triste – vamos Shara, precisamos mesmo ir... – e elas saíram.

Naquela noite Shara sonhou mais uma vez com o basilisco, e assim como os sonhos anteriores ela era a próxima vítima, ela queria correr, mas não conseguia, ela queria gritar mas não podia, então ela despertou, estando agitada e com aquela sensação de horror que vinha à acompanhando todas as noites nos últimos dias... Estava no meio da madrugada e ela se levantou não podendo mais dormir... descendo as escadas até a comunal, que naquele horário estava vazia... ela analisou o lugar, se sentindo cada vez mais familiarizada e pertencente a aquela casa, que vista de fora, podia ser meio do avesso mesmo e provocar sentimentos dúbios, mas tanto ela... como Carla e até mesmo Draco... eram a prova viva de que nem todos ali era verdadeiramente ruins, mesmo que as circunstâncias pudessem ser favoráveis a isso, mas a verdade é que todos carregam dentro de si a capacidade de escolher mudar e alguns pareciam mesmo dispostos a isso… quem sabe e se tudo desse certo, eles não seriam a geração predestinada a quebrar tradições milenares de puro preconceito, ela sorriu ao pensar nisso, ela adorava a palavra predestinação agora... e aquele era o seu terceiro lugar preferido na escola, o perigo estava lá fora, distante… era o que ela achava, mas ela estava completamente enganada sobre isso.

—O que você está fazendo aqui a esta hora? - A voz de Flint ecoou pelas sombras, fazendo Shara se virar repentinamente. Ele sorriu, descendo as escadas, um sorriso que parecia tingido de um desejo de intimidá-la… e falando em pessoas ruins, ela suspirou… ali estava uma delas.

—Isso não é exatamente da sua conta - ela respondeu, tentando manter a postura, contudo ela não pode deixar de sentir a onda de adrenalina que percorreu o seu corpo. Flint era perigoso, era mais velho, e ali estavam eles, sozinhos. Ele nutria ódio por ela, e naquele momento, ela estava desprovida de magia, ela sentiu sua vulnerabilidade ao estar completamente exposta daquela forma. Mas se havia algo que Shara tinha aprendido ao enfrentar os valentões de sua antiga escola, era a importância de jamais mostrar fraqueza.

—Se eu estou perguntando, então é da minha conta - Flint retrucou com um sorriso mordaz, exibindo seus dentes irregulares enquanto dava um passo em direção a ela, fazendo-a congelar – O que foi? O gato comeu sua língua? – ele provocou, e Shara sentiu uma onda de raiva pelo comentário cruel.

—Eu não lhe devo explicações… - ela começou, mas antes que pudesse terminar, Flint a empurrou violentamente contra a parede, uma mão pressionando seu pescoço, dificultando sua respiração. Sua força física era evidente, mesmo sem recorrer à magia.

—Olhe só para você agora - ele zombou, seu rosto perigosamente perto do dela - apenas uma garotinha tola e assustada… uma pena não ter ninguém para ajudá-la, uma pena encontrá-la tão vulnerável - disse ele, passando uma de suas mãos pelos cabelos dela de forma maliciosa - Uma pena estar no lugar e na hora errados esta noite - ele desceu a mão pelo seu rosto.

—Você não quer… fazer isso - ela conseguiu dizer, sua voz falhando.

—Ah, mas você não faz ideia do que eu realmente quero fazer - Flint respondeu, seu tom baixo e ameaçador – Agora, seja boazinha e me dê sua varinha – ele ordenou, mas ela não a tinha trazido, afinal de que adiantaria?

—Eu não a trouxe - ela disse, ofegante. Ele sorriu.

—Erro de principiante… achei que fosse mais esperta - ele comentou, soltando-a apenas para apontar sua própria varinha em sua direção, estudando-a por um momento. Shara, aproveitou a pausa, esfregando o pescoço dolorido, lembrando-se da moeda que seu pai lhe dera, ela não estava com a moeda, Shara a havia guardado no bolso de suas vestes, onde fazia mais sentido que estivesse e suas roupas escolares estavam em seu dormitório - Agora, faça exatamente o que eu disser… suba a escada, sem fazer barulho, nós vamos usar o banheiro... juntos - ordenou ele, um sorriso cruel em seus lábios.

—Você... você realmente não quer fazer isso - ela gaguejou, tentando uma outra vez, lágrimas formando-se em seus olhos… usar o banheiro juntos, nada de bom poderia vir daquilo.

—Eu não te dei permissão para falar - ele disse, claramente agitado - Agora, suba essa maldita escada - ele mandou e ela começou a subir, sentindo a ponta da varinha dele em suas costas a pressionando, as lágrimas agora correndo livremente… aquele era para ser um lugar seguro, aquilo não deveria estar acontecendo, estava errado… ninguém poderia socorrê-la ali, seu pai sequer estranharia, afinal se ele consultasse o anel, veria que ela está justamente no lugar que deveria… ela também não podia gritar e muito menos correr e isso a lembrava do seu pesadelo, Flint não era um basilisco, mas ele era um cobra astuta… pronta para atacar, Shara deveria saber… na metade da escada, ela ouviu um movimento, e segundos depois alguém apareceu no topo dela.

—Que inferno é isso? - Draco perguntou, sacando sua própria varinha.

—Saia do caminho, Draco - Flint disse, sem perder o tom de deboche - A menos que queira se juntar a nós é claro...

—Está brincando? - Draco se manteve firme, bloqueando o caminho, um vislumbre de alívio acendendo no coração de Shara ao encontrar os olhos dele - Deixe-a em paz Marcus - Draco ordenou, com uma autoridade que surpreendeu até mesmo Flint.

—O quê? - Flint pareceu genuinamente surpreso - Ah, vamos, Draco, mostre que tem as calças de um Malfoy… - ele provocou - sabe um pouco de diversão com essa daqui, não faria mal nenhum… ela pode até ser uma sangue ruim nojenta, mas veja que injúria... de todas aqui… ela teve a sorte de ser a mais bonita… ou vai dizer que não notou - ele disse a última parte ao pé do seu ouvido… o que fez Shara estremecer ao se lembrar da ameaça feita pelo seu pai a uma semana atrás, para todo aquele que se aproximasse dela daquela maneira, mas acontece que ele não estava ali agora, e ela sequer podia convocá-lo naquelas circunstâncias… Shara olhou para Draco, não o reconhecendo… ele estava sério, ele tinha uma postura impecável… seu olhar era frio, talvez de relance ele se parecesse mesmo com o seu pai, com Lucius.

—Como quiser - Draco disse enquanto erguia sua varinha ainda mais, os olhos dele faiscavam com uma determinação que ela nunca havia visto - Sabe que não sou de repetir - ele alertou, a voz carregada de um poder que parecia reverberar nas paredes de pedra ao redor deles… Shara notou que Flint havia hesitado diante de Draco, mesmo ele sendo mais velho que o loiro, mas esse era o poder de se ter um sobrenome… Shara podia sentir a animação de Flint desaparecendo conforme ele media a seriedade com um Malfoy. No entanto, sua hesitação durou apenas um momento antes de ele dar um passo ameaçador na direção de Shara novamente... ela se encolheu, esperando o pior.

—Estupefaça – Draco proferiu e um jato de luz vermelha atingiu Flint em cheio, lançando-o para trás... ele tropeçou, perdendo o equilíbrio e caiu escada abaixo, desacordado antes mesmo de atingir o chão. Shara, ainda na metade da escada, observou a cena com olhos arregalados, tomada por uma mistura de alívio, mas também de desespero. Draco, sem hesitar, desceu os degraus, aproximando-se dela, a preocupação marcada em seu semblante… era incrível como ele parecia muito mais velho ali…

—Está tudo bem agora - ele disse, numa tentativa de tranquilizá-la, embora a gravidade da situação fosse inegável.

—O que… o que vamos fazer? - ela perguntou, a voz trêmula, o medo e de certa forma a gratidão misturando-se em seu olhar ao encontrar o de Draco - Merlin… e se ele estiver ferido? - Shara encarou o garoto no chão… ela conhecia o feitiço, sabia das implicações e que ele ficaria desacordado por um tempo, mas ele havia caído de uma escada e isso tornava tudo pior.

—Vamos chamar o professor Snape - Draco disse, parecia decidido, enquanto guardava sua varinha, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia e natural do mundo a se fazer... Shara sabia que a situação era grave e que o correto era requerer a intervenção de um adulto, mas isso não necessariamente seria fácil… não com Snape.

—Não, por favor, Draco... olha só, o meu pai... ele vai ficar furioso... ele... ele vai me culpar por estar aqui... fora da cama a esse horário... ele vai odiá-lo por estar envolvido nisso, ele não vai ouvir aquilo que temos a dizer… vai ser ruim - Shara protestou, as lágrimas agora correndo livremente por seu rosto... a ideia de enfrentar a ira de seu pai a aterrorizava mais do que o confronto que acabara de vivenciar ali, Draco se aproximou dela, sua expressão suavizando.

—Shara, olhe para mim - ele pediu gentilmente levantando o queixo dela para que seus olhos se encontrassem, algo muito semelhante ao que seu pai sempre fazia, e isso a surpreendeu, era doce e gentil -  Snape vai ter que saber... ele é o chefe dessa casa, e Flint, ele poderia ter feito algo muito pior se eu não tivesse intervindo, eu entendo o seu ponto... mas é melhor que o professor Snape, bem que ele saiba por nós do que por rumores ou ainda pior, que ele encontre Flint desacordado, sem saber o que aconteceu... - Ela mordeu o lábio, lutando contra a lógica inegável das palavras dele, ele estava certo... ela colocou as mãos no rosto, se não fosse aquele pesadelo, se não fosse o basilisco, os ataques… o diário, nada daquilo teria acontecido... - Assumirei a responsabilidade - Draco disse determinado - já que fui eu que lancei o feitiço... coloco minha varinha a disposição, caso queiram fiscaliza-la – ele não parecia se importar com as consequências, talvez ele não as tenha compreendido.

—Snape vai odiá-lo ainda mais – Shara estava desesperada – ele vai marcá-lo… embora acho que ele já tem feito isso - ela se encostou contra a parede – vai ser ruim...

—Não me importo... – ele deu de ombros – e faria… novamente... eu não podia permitir que Flint continuasse com isso e machuca-se você... - Shara olhou para Draco, vendo a sinceridade em seus olhos… havia mesmo algo na maneira como ele se posicionou ali por ela e na firmeza de sua decisão, e aquilo a fez ceder, a confiar nele de uma maneira que ela raramente confiava em alguém... e com um aceno de cabeça, ela concordou. Aquele momento, embora tenso, marcou um ponto de virada entre eles... já que a princípio ele também parecia estar disposto a defendê-la a qualquer custo – eu vou até ele – Draco ofereceu… descendo a escada, prestes a sair.

—Não... não precisa – ela disse – quer dizer, eu tenho algo, eu posso chamá-lo daqui... melhor que ele venha e veja – ela sugeriu... se levantando e indo buscar a moeda, ela voltou o mais rápido que pode, pressionando a moeda por alguns segundos em sua mão, agora era só esperar... e de fato, não demorou muito para que o Flu crepitasse e as sombras se movessem com a figura austera de Severo Snape pairando diante deles, ele ainda usava suas vestes de escola, o que fazia parecer que ele não dormia nunca… ele os encarou sem dizer uma única palavra e então ele caminhou até Flint que permanecia desacordado no chão, ele empalideceu, sua expressão se transformando em uma mistura de horror e de raiva.

—O que diabos aconteceu aqui? - ele rosnou, lançando um feitiço de privacidade sobre o ambiente, ciente de que sua voz grave seria facilmente ouvida e despertaria os demais alunos ou quem sabe, ele os puniria ali mesmo os torturando e não queria que seus gritos de horror fossem ouvidos por todo o castelo, ela se encolheu, Draco não – VOCES DOIS... - ele começou, soava terrivelmente assustador e sua voz foi interrompida quando seus olhos pousaram sobre Draco estando completamente compenetrado nele – Isso... mas é claro que o encantador piralho Malfoy estaria envolvido em algo assim? Deixe-me adivinhar... isso faz parte de mais um de seus planos?... uma bomba de bosta não foi o suficiente para incriminá-lo, então resolveram mata-lo... JUNTOS? – ele perguntou, não permitindo qualquer defesa da parte deles – Malfoy, eu o avisei… eu disse para ficar fora do caminho, não uma... mas várias vezes – sua voz arrastada fez com que um calafrio percorresse sua espinha, principalmente ao ver a varinha dele em punhos, uma ameaça direcionada a Draco, o acusando sem ouvir a versão dos fatos... Ela se apressou em intervir, se posicionando entre eles, numa tentativa de chamar a atenção sobre si e assim conseguir explicar ao menos aquela situação - e você… - aquilo era para ela - eu mandei não se envolver com Flint, eu mandei deixar a situação em minhas mãos… mas o que eu deveria esperar de alguém que é sempre tão insubordinada... - ele rosnou para ela - o que exatamente vocês fizeram? – ela respirou fundo...

—Pai… precisa ouvir, nós não fizemos nada... quer dizer, foi ele… foi o Flint que começou - ela implorou, as lágrimas se acumulando em seus olhos.

—Saia do caminho - ele mandou, impondo com autoridade - Seus atos de insubordinação só pioram ainda mais a situação – ele a repreendeu, ignorando suas palavras, e sequer olhando para ela, seus olhos vidrados em Draco.

—Sim - Draco respondeu, mantendo-se firme sem sequer oscilar – tem razão, fui eu… é minha culpa que Flint esteja nesse estado - ele respondeu, mas dito daquela maneira não ajudava, Draco era deverás orgulhoso e isso era péssimo… seu pai sorriu… Shara conhecia aquele sorriso…

—DRACO, SALVOU A MINHA VIDA – ela se adiantou, aquilo foi dito com bastante ousadia, e ela pode ver o choque estampado em seu rosto - se ele não tivesse acordado essa madrugada… se ele não tivesse descido a esse horário... se ele não tivesse interferido... Flint ele teria… – ela fechou os olhos e pôs as mãos no rosto, era vergonhoso, era humilhante também… ela se sentia exposta daquela maneira – teria sido ruim – ela complementou.

—Do que está falando? - ele baixou a varinha, estudando Draco com curiosidade.

—O que ela está dizendo senhor é que sim eu azarei Marcus Flint, por que flagrei ele a aliciando - Draco foi objetivo.

—Eu estava sem a moeda - ela explicou… - o perigo deveria estar lá fora e não aqui… dentro  - ela desabafou - não achei que fosse precisar… - era honesto - eu desci para espairecer, já que não estava conseguindo dormir… tive um pesadelo - ela admitiu - e então sem notar, ele me abordou… eu estava sozinha… - ela ergueu a cabeça revelando as marcas em seu pescoço… seu pai se aproximou dela, analisando os ferimentos de perto.

—Ele teria feito pior – ela ouviu Draco dizer, seu pai grunhiu, Shara piscou os olhos, estavam cheios de lágrimas… e ela sentiu ele mergulhar, de forma sutil, mas ela sabia que ele estava em sua mente, ela não se importava, era melhor que ele visse do que se ela tivesse que explicar todos os detalhes… foi rápido, e quando ele saiu o seu olhar estava carregado de desprezo, mas dessa vez aquilo não era para ela e também não era direcionado para Draco, ele voltou sua atenção para Flint, ainda apagado no chão.

—Flint pagará as consequências… embora me arrependo de não ter sido ainda mais cruel em minha punição - ele rosnou… meio que confessando sua participação naquele acidente que ele chamava de punição - agora… Malfoy - seu pai disse se virando para Draco outra vez, sua voz continuava fria e penetrante - me diga, o que você fazia acordado, exatamente no mesmo horário? Ou quer mesmo que eu acredite que tudo isso se trata apenas de uma coincidência incrível? - ele parecia… desconfiado? Draco ficou visivelmente desconfortável.

—Eu… tenho descido todas as noites senhor - ele admitiu - quase sempre no mesmo horário, estou com dificuldades para dormir - ele disse abertamente - bem... desde que meu pai começou a frequentar mais a escola, tem sido difícil… já que ele tem me pressionado, o senhor sabe - Draco confessou, fazendo seu pai massagear as têmporas… Draco não parecia mentir sobre aquilo, ainda mais por que era algo que o deixava desconfortável - minha mente também está à disposição – ele ofereceu – caso sinta necessidade de confirmar...

—E sabendo disso… - seu pai continuou, sua voz arrastada -  teve a capacidade de se envolver em mais uma confusão, ou acha que Flint não vai acusá-lo quando acordar? - Seu pai disse afiado... – Como acha que Lucius Malfoy vai reagir ao descobrir que o seu brilhante e estupido filho atacou o filho de um aliado tão precioso para ele? - Draco baixou a cabeça, ciente da problemática, e Shara entendeu... Por Merlin, a gravidade daquele ato, ele havia se arriscado essa noite por ela, muito mais do que deveria... ele se expôs e se expondo, ele expos sua família, nada de bom poderia vir disso... então Shara sentiu por ele, já que aquilo tudo era sua culpa.

—Eu sei que não estou na lista dos seus alunos favoritos professor e que minha presença aqui o incomoda… - Draco olhou para Shara - mas Flint estava ameaçando-a, o que espera que eu fizesse? - ele perguntou, parecendo nervoso - que simplesmente ignorasse aquilo… e deixasse acontecer? - Draco era incrivelmente corajoso, ou talvez fosse imprudente mesmo, ainda assim o seu coração disparou… pela forma como ele havia dito aquilo, ambos pareciam lutar por ela, embora de maneiras distintas e se detestavam por isso - bem certamente se eu o tivesse feito, o senhor teria argumentos suficientes para me acusar e dizer que eu sou como ele, o meu pai... um Malfoy… terrivelmente egoísta e que agi conforme o que se era esperado, enfim… serviria para reforçar tudo aquilo que acredita ao meu respeito… dessa forma, bem... devo desculpas por desapontá-lo padrinho - Draco sustentou o olhar… ele não era mesmo do tipo que se deixava intimidar, Shara não sabia dizer se admirava isso nele ou se batia nele, para que ele se contesse.

—Então… está admitindo que fez o que fez apenas para ganhar algum crédito sobre sua imagem - Seu pai acusou, mas ele estava sendo injusto…

—Não – Draco se manteve sério – isso não foi o que eu disse, o senhor viu… a mente dela, não viu? - Draco suspirou – quer saber, tanto faz... independentemente do que eu disser aqui, não mudará nada sobre o que pensa ao meu respeito… então apenas faça, me puna e está tudo bem… - ele se jogou no sofá como se aquela fosse apenas uma conversa informal - eu posso lidar com isso… eu disse que faria - Draco disse, em uma autoconfiança que atrelado a aquele comportamento soava de forma prepotente, e talvez um tanto desrespeitosa sim Draco tinha disso... e era péssimo - mas ainda assim... não teria feito diferente - ele lhe lançou um olhar que dizia muito mais do que palavras, ela sentiu um frio percorrer sua barriga, agora ela sabia muito bem o que era aquilo.

—Eu sei - Shara disse, não se importando com o fato do seu pai estar presente - eu… posso ver isso Draco e bem... é isso que importa - ela completou - de qualquer forma, obrigada por intervir - ela tentou um sorriso, e depois encarou o seu pai… que não parecia muito satisfeito, aquilo tudo só reforçava uma coisa, aquilo que ela havia descoberto a apenas alguns dias atrás… ela estava apaixonada por Draco Malfoy e sim… aparentemente ele sentia o mesmo por ela, contudo o seu pai o odiava, assim como o pai de Draco a odiava também e portanto isso jamais daria certo… jamais… e quem disse que era para dar? eles eram apenas crianças e não havia espaço para algo assim naquela idade… não agora e não no futuro, aquilo sim estava predestinado a dar errado, seu pai ainda a analisava, e ele parecia perdido - o que vamos fazer agora? - ela perguntou… tentando ser racional...

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Severo Snape permaneceu em sua postura rígida, seu olhar penetrante fixado em sua filha. "Eu posso ver isso, Draco, e é isso que importa", ela havia dito. Contudo, Severo não conseguia esconder sua aversão pelo rapaz, refletindo a animosidade entre ele e o peso do sobrenome que ele carregava... apesar disso, também reconhecia a coragem de Draco ao intervir em defesa dela. "Ele teria feito pior", ponderou Draco, e Severo sabia que ele tinha razão sobre isso… a ameaça que Flint representava era inegável, evidenciada pelo tratamento brutal dado ao gato dela anteriormente, uma clara demonstração da maligna influência familiar da qual ele havia sido submetido, revelando sua natureza desdenhosa e vil… contudo, Severo não achou que o garoto pudesse se mover daquela maneira, do contrário ele o teria matado no dia do acidente, Flint havia passado completamente dos limites, aquele era um comportamento  inapropriado independente dele ser ou não um Sonserino, um comportamento digno de expulsão… "O que vamos fazer agora?" Shara perguntou, tentando assumir um papel de liderança, apesar da tensão palpável entre eles e dos eventos recentes… ela tentava ser racional, um bom ponto ele pensou… Severo recuperando a razão, assumiu o controle da situação, afinal era o que se esperava dele, se concentrando naquele que era o problema imediato: Flint.

—Flint precisará de cuidados médicos - ele salientou… voltando sua atenção para o garoto arrogante que estava sentado no sofá de forma despreocupada - Depois disso, vamos discutir suas ações Malfoy, e as possíveis consequências - sua voz era gélida, deixando claro que não pretendia deixar Draco escapar impune... Shara estava atenta, ciente do abismo que existia entre ele e Draco. No entanto, Severo percebeu que mesmo prestando atenção nela, que ele havia perdido algo, sim algo importante: o afeto mútuo entre sua filha e Draco, evidenciado tanto pela maneira como ela se posicionava quanto pelos olhares discretos que trocavam - obviamente que Flint irá sofrer as consequências de seus atos – ele informou fingindo não ter ciência alguma daquilo, mas não podendo deixar de sentir ainda mais desgostoso com aquela percepção e principalmente pela petulância que Draco estava demonstrando - não pense que isso, muda minha opinião sobre você, Malfoy – acrescentou asperamente - Shara…virá comigo, ficará em meus aposentos e esperará enquanto eu tomo as devidas providências... Malfoy, ficará aqui até que eu retorne com Antony para levar Flint à enfermaria... Depois, discutiremos o que será feito a seguir - ordenou, grato por não encontrar resistência. Ao se dirigir para a saída, não resistiu ao advertir - Mantenha distância da minha filha, Malfoy… ou irá se arrepender de ter cruzado o meu caminho - uma ameaça dita mais por hábito do que por expectativa de obediência, antes de partir com Shara a seu lado.

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A caminhada até os aposentos do seu pai, apesar de curta, arrastou-se como uma eternidade para ela, proporcionando-lhe um tempo para refletir sobre decisões que já deveriam ter sido tomadas a algum tempo, antes mesmo daqueles sentimentos que haviam surgido entre ela e Draco aflorarem de maneira tão evidente. Esse percurso forçado a fez reconsiderar tudo que havia acontecido naquela noite, levando-a à dolorosa constatação de que, independentemente das ações de Draco, nada alteraria a percepção que seu pai tinha sobre ele... era óbvio para ela que seu pai falhava em não reconhecer o gesto nobre de Draco ao confrontar Flint para protegê-la de um mal ainda maior. Draco tinha arriscado tudo por ela, enfrentando não apenas a ira dele, mas também colocando em jogo as delicadas relações entre famílias de sangue puro.

Carla havia mencionado certa vez o peso que tinham tais conexões, destacando a posição estratégica da família Flint entre os puros-sangues. E agora, um Malfoy havia se colocado em uma situação ruim, isso para defender uma Epson, um sobrenome sem legado algum ou reconhecimento no mundo bruxo. A pergunta certa era na verdade: como será que Lucius Malfoy reagiria ao saber que seu filho havia desafiado Flint daquela maneira, e isso por alguém como ela?

A complexidade dessa rede de lealdades e as expectativas sobre isso tornava a situação ainda mais difícil e complicada, e provava também que seu pai tinha razão, sim... ele estava certo desde o início, não sobre Draco ser como o pai, mas sobre não haver nenhuma conexão plausível entre eles, e isso dizia muito sobre as consequências que o seu sentimento por Draco poderiam desencadear, tanto para ela, como para ele, quanto para suas famílias. A gravidade dos recentes acontecimentos serviu como um amargo lembrete das barreiras que se erguiam entre eles e sobre a aceitação por aqueles que seguiam as rígidas tradições do mundo bruxo.

Ao chegarem aos aposentos dele, Shara com os olhos marejados pelas emoções que a consumiam, estava reunindo coragem para apresentar uma proposta que sacrificaria seus próprios sentimentos, isso para proteger Draco dos problemas eminentes que surgiriam... afinal ele havia dado tudo por ela essa noite, algo que Shara se sentiu na obrigação de devolver... a altura.

—Pai – ela disse, com a voz oscilante, ele a analisou por um longo momento, e ela achou que esse podia ser um sutil sinal para que ela prosseguisse – a família do Marcus... o senhor os conhece? – ela perguntou, ele assentiu apenas – bem é ruim... não é? – seu olhar penetrante dizia muito.

—o bastante – ele respondeu, e ela reuniu toda a coragem que ainda lhe restava...

—Bem... antes que o senhor saia.... eu tenho algo a propor – ela disse para ele, cuja expressão geralmente imparcial mostrava sinais de surpresa, dessa vez ele assentiu efetivamente para que ela continuasse - Se o senhor puder... digo se o senhor fizer algo para garantir que Flint não possa acusar Draco pelo que aconteceu essa noite... algo como... apagar a memória dele sobre o incidente - ela hesitou, sabendo que estava sendo ousada demais em pedir aquilo - eu prometo, eu juro… que… me afastarei de Draco definitivamente - As últimas palavras saíram quase como um sussurro, sufocadas pela dor que ela não podia imaginar sentir ao pronunciá-las... ela fechou os olhos... aquilo era a coisa certa a se fazer, ela repetiu para si mesma, eles não tinham nenhum futuro, nenhuma amizade sequer poderia prevalecer entre a divergência que eram suas vidas, suas famílias, nem a amizade entre seu pai e a mãe dele, podia ajudar nesse sentido... não, afinal Severo Snape o temido e cruel comensal da morte, não tinha filhos... ela teoricamente não existia em sua vida... ninguém poderia saber a verdade sobre eles... seu sobrenome era Epson e não Snape.

—Shara - sua voz inesperadamente suave, a surpreendeu - consegue entender o que está me pedindo? – ele perguntou - Ele deu um passo em sua direção, a severidade habitual de seu olhar dando lugar a uma preocupação paternal... aquilo era tudo que ele mais queria, ela sabia… vê-los afastados, longe um do outro, isso para o seu bem, mas do ponto de vista dela, era também para o bem de Draco... Shara não o estava protegendo apenas dela, ou da ira iminente do seu pai... como ela ponderou no início, ela o estava protegendo de sua própria família… Shara apenas acenou, incapaz de confiar em sua voz para falar novamente... lágrimas começaram a descer livremente por seu rosto, cada gota um testemunho da intensidade de sua decisão... ela estava se permitindo, ao menos liberar suas emoções, sem nenhuma ressalva... na frente dele.

—Eu farei - ele declarou – Porque essa é simplesmente a decisão mais sensata que você já tomou até o momento... farei por você... algo que você está tentando fazer por ele – seu pai estava sério – isso é sobre proteção... e eu posso ver o que está tentando fazer aqui – ele complementou, sim ele havia entendido – saiba que estarei infringindo todas as regras e diretrizes dos docentes nessa instituição ao fazê-lo e me arriscando com isso – ele disse com o intuito de fazê-la compreender a gravidade daquilo, Shara olhou para o seu pai, sim ele estava disposto a cruzar linhas que normalmente não cruzaria por ninguém, ela sabia -  Contudo, precisa me prometer que seguirá em frente, conforme acordamos? - ele perguntou, buscando uma confirmação de seu compromisso e com um aceno trêmulo, ela confirmou sua decisão, sabendo que, ao fazer isso, estaria fechando um ciclo em sua vida, um ciclo que continha alguns dos momentos mais preciosos que ela já havia vivido com alguém... ela fechou os olhos.

Como o seu primeiro beijo e a forma como ele havia segurado sua mão diante da Hydra naquele dia, mesmo sentindo medo daquela criatura, sobre como ele havia salvado sua vida ao avisar seu pai que ela havia ido até a floresta proibida… sobre as coisas que ele dizia ao seu respeito e que a fazia corar, das vezes que eles se trombavam nos corredores, da maneira como ele a fazia rir das coisas mais simples e idiotas... do dia no campo de quadribol, em que eles haviam voado juntos, e de como ela  havia perdido o medo de altura ali com ele, do brinco que ele havia lhe dado de aniversário, junto com o coldre, isso por ele tinha notado e se preocupado com o fato dela esquecer sua varinha o tempo todo, o visco encantado no natal eternizando algo que não seria mais possível, dos galeões, juntamente com a ajuda entregue por ele para que ela pudesse fugir das masmorras... a maneira que ele a olhava, das conversas complexas na torre de astronomia, de como ele havia soprado sua cicatriz machucada, da troca de olhares no dia da redação... daquela redação tão perfeita e repleta de significados para ela, e pra finalizar de forma honrosa, da maneira como ele a defendeu essa noite... se arriscando e se expondo para protegê-la... ela abriu os olhos outra vez, ela precisava alerta-lo, ao menos...

—Espere… - ela limpou as lágrimas… ciente de que ele deveria estar com alguma pressa, afinal cada minuto perdido ali com ela era um minuto a menos para os cuidados com Flint, mas aparentemente ele não parecia se importar tanto assim, ela se afastou, indo até o seu quarto, abrindo a última gaveta da cômoda e encontrando ali o pacote com os galões dados por Draco daquela vez, ela não os havia devolvido, já que ele havia dito que não os aceitaria de volta, ela buscou um pedaço de pergaminho, rabiscando algo "Draco, tomei providências quanto ao nosso problema com Flint; ele não terá memória do ocorrido após esta noite. Precisamos admitir que isso foi um erro, assim como têm sido passar qualquer tempo juntos... Sinto muito, mas o que quero dizer é que não podemos mais sustentar uma amizade onde os nossos mundos e realidades sejam tão distantes e distintos... Essa decisão já está tomada, portanto, peço que respeite meu pedido e não torne esta situação ainda mais difícil do que já é. Com sinceridade, Shara. PS: não se sinta ofendido pelos galões" ela depositou o pedaço de pergaminho dentro do pacote com os galões e voltou até a sala - por favor… se puder entregar a ele, com isso ele saberá sobre o que tenho decidido aqui - seu pai olhou para o pacote com alguma desconfiança, ele obviamente não validaria algo assim, ela podia até ouvir o sermão sobre não aceitar dinheiro de nenhum Malfoy em sua cabeça - eu… posso explicar em outra oportunidade é claro - ela disse parecendo conseguir ler o que ele estava pensando ali - se puder apenas entregar a ele, eu agradeceria - ela tentou, estando à mercê dele para aquilo… ele pegou o pequeno pacote o guardando em suas vestes e o seu olhar rígido dizia que eles falariam sobre isso mais tarde.

—É a escolha certa a se fazer – ele disse, antes de sair... e ao vê-lo partir, ciente de que ele realmente faria aquilo que ela havia pedido... Shara cedeu, caindo de joelhos no chão frio das Masmorras, e então ela chorou, chorou como nunca por alguém... e enquanto as portas se fechavam atrás dele, aquela noite selava o fim de um capítulo de sua vida, como num livro... onde essa era uma despedida triste, não apenas de dois corações que se encontraram em circunstâncias impossíveis, mas uma despedida do que poderia ter sido as suas vidas, em um mundo onde Shara Epson e Draco Malfoy pudessem simplesmente ser Shara e Draco, livres para ser aquilo que quisessem, sem as sombras de seus sobrenomes e sem que seus destinos tivessem sido traçados... ela chorou.

—_

Haviam tanto a ser resolvido, e enquanto ele se deslocava para colocar em ação aquilo que lhe cabia, juntamente com aquilo que ele havia se disposto a fazer, estando diante da decisão de sua filha, e embora isso estivesse em perfeita consonância com aquilo que ele desejava... que era afastá-la e protegê-la do garoto Malfoy e de tudo aquilo que o seu sobrenome representava, ainda assim, o desenrolar daquela situação o deixou imerso em uma complexidade de sentimentos que ele não esperava sentir e nem ter que enfrentar, não naquelas circunstâncias.

O sobrenome Malfoy, em sua mente, sempre fora a personificação de tudo que ele mais desprezava no mundo bruxo: arrogância, pureza de sangue, privilégios e um legado de crueldade. E saber que sua filha poderia se envolver com alguém assim era algo que ele considerava um desvio amargo do destino... Shara já havia tido o bastante nesse sentido, mas a ação de Draco essa noite, ao se expor de forma irracional para defendê-la ao mesmo tempo em que ela se dispusera a renunciar algo tão pessoal e significativo por ele, despertava em Severo um sentimento confuso.

Ele se perguntava, enquanto seus passos ecoavam pelos corredores vazios e silenciosos, por que a satisfação que ele tanto esperava sentir ao ver sua filha decidindo por conta própria se afastar daquele garoto petulante que ele tanto detestava, não chegava... por que, em vez de alívio, uma sensação de peso se instalava em seu peito?

Severo sabia que parte daquilo, vinha do amor que ele sentia por ela...  e vê-la sofrer mesmo que sendo por uma causa que ele acreditava ser correta e também justa, era uma tortura para ele. Mas havia algo mais... uma reflexão mais profunda começava a tomar forma em sua mente… talvez, ele considerou, não fosse apenas sobre Draco ou qualquer preconceito que ele nutrisse contra o sobrenome Malfoy... talvez o cerne da questão, daquilo que ele estava sentindo ali residisse na sua própria interpretação de amor e sacrifício, moldada por experiências passadas nas quais ele se viu obrigado a renunciar aos seus próprios sentimentos, assim como ela e era ali naquele ponto, onde todas as suas tentativas de proteção haviam fracassado, e mais uma vez... apesar de não conter esforços para protegê-la das dores do mundo, ele não podia salvá-la ou protegê-la da dor do coração... Essa impotência reacendia aquilo que ele estava sentindo, um sentimento de fracasso.

Para alguém como ele, cuja existência fora pautada por decisões difíceis, equivocadas e, por vezes, desastrosas, essa percepção era particularmente desconfortável. A escolha feita por sua filha naquela noite o fazia revisitar sua própria juventude... e a ironia de seu destino era quase palpável… afinal ao tentar guiar sua filha por um caminho mais seguro, encontrava-se face a face com seus próprios fantasmas, com suas escolhas e com as consequências que elas haviam trazido... e não havia simplesmente como evitar aquilo, foi quando ele entendeu, enfim... que a verdadeira proteção não incide em evitar a dor, mas em ensinar ela a enfrentá-la... e diante dessa compreensão que Severo decidiu que, ao invés de tentar isolar sua filha das dores do mundo, ele dedicaria seus esforços para torná-la forte, ainda mais forte do que Shara já era.


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Notas finais do capítulo

E essa foi uma despedida diferente, embora ninguém tenha morrido aqui (ok, se vc imaginou que Flint morreria, não julgo, afinal ele bem que merecia, cair da escada e rachar a cabeça) mas esse não é um capitulo sobre Flint!

Esse capitulo tem uma ligação (quase que uma continuidade) com o Capitulo 108 - Reciprocidade. Onde Shara entendeu aquilo que ela sente por Draco, e aqui ela confirma algo que suspeitava, que é recíproco da parte dele também, e com essa descoberta e sem que seja intencionalmente ligado a isso, nesse capítulo ela se despede dele. (E não, não foi Snape que interveio ou destruiu sua vida amorosa, que como foi dito sequer começou).

Não me briguem, mas explico: essa história precisa acabar, eu sei... É difícil, mas é necessário haha e pretendo encerra-la nos próximos 10 capítulos, então esse é o momento de tirar Draco de cena e eu não queria fazer isso de qualquer jeito, não depois de tudo que construímos com os dois personagens até aqui, pensei em formas (diversas delas pra ser honesta) de poder fazer isso... E uma frustração de Shara com ele, poderia surtir o mesmo efeito, tipo Shara se machucar com algo que ele fez ou disse, mas acho que não cabia, e sem mencionar que eu não queria simplesmente validar tudo aquilo que Snape vinha arrotando e reforçava sobre ele, eu definitivamente não queria um Severo Snape dizendo "viu falei... ele é um Malfoy e é isso que um Malfoy faz e blablabla" não seria justo, eu queria algo que fosse mais chocante, como um conflito de convicções e dai brotou a ideia de fazer Draco se expor por ela, talvez ao se envolver em um incidente que o prejudicaria de fato, a ponto dele colocar a posição de sua familia em risco, deixando Snape perplexo e obrigando Shara a perceber que o fato de afasta-lo de sua vida, era a melhor, porém nada fácil decisão e isso não era unicamente para proteger a si mesma, ou até mesmo proteger Draco da ira de seu pai (como vemos ela concluir no final do capitulo 108)... mas sim para proteger Draco da família dele, e esse é um sacrifício, sim... e doeu muito fazê-lo, sentiram dai? Espero que sim, mais uma vez eu chorei ao escrever ( afinal, vem cá... com a melodia e letra dessa música tudo ficou ainda mais intenso).

E pra completar, temos um Severo Snape em conflito (adoroooo, objetivo alcançado) ele sequer conseguiu comemorar ou ficar feliz com aquela decisão... afinal ele reconhece (no fundo ele reconhece) aquilo que Draco fez por Shara, e embora o deteste, ele não pode desconsiderar isso... e vamos lá , isso não tem preço, e de quebra ele enxerga o sacrifício que Shara estava fazendo pelo garoto, ele vê e válida a dor dela, e ele se deixa doer por ela... que de lambuja vem de encontro com os sacrifícios que ele mesmo fez em sua vida... é meu caro, não dá pra proteger ela de tudo... então ele decide que com a bagagem que possui, que ele vai preparar ela ao ensina-la a ser forte... e isso tb é bem paternal...

E sim, essa é uma despedida... obrigada Draco, sua participação em Destinos Improváveis (UM) foi excepcional.

Spoiler: Nos próximos anos escolares, vejo um Draco Malfoy conforme o cânon, sendo o garoto mimado e idiota que eu tanto detesto nessa história (se tornando o que Snape se tornou sem a Lily... ) Eu os vejo, Shara e Draco, em sua adolescência, convivendo entre o amor e o ódio, se matando e sem admitir o que sentem, mas brigando e chamando a atenção um do outro, como qualquer outro casal de adolescente que se preze... de qualquer comédia romântica ridícula que vemos por aí, mas que sim... que nós tanto amamos, mas confesso, que eu os vejo em um futuro juntos! Sendo apenas Shara e Draco, como eles merecem ser

Obrigada aos que tem acompanhado! Tem sido especial compartilhar essa história com vocês.



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