Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 101
Futuro - Lord Voldemort


Notas iniciais do capítulo

Ok, eu amei escrever esse capitulo... eu verdadeiramente amei.



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O corredor sombrio de Hogwarts ecoava com os passos firmes e decididos de Severo Snape, sua capa negra esvoaçava atrás dele, enquanto ele se aproximava dos aposentos privativos do professor Gilderoy Lockhart, aquele ainda era um assunto pendente mas que Severo não havia se esquecido, não... ele nunca se esquecia daqueles que cruzavam o caminho e machucavam sua filha e por mais que Severo não o tivesse delatado ao diretor, nada impediria o prazer que uma pequena vingança pessoal, o proporcionaria.

E o fato de trazer a memória, o ocorrido daquela noite em que Shara o acionou, por medo dele, por medo daquilo que ele faria ali... fez Severo reviver a fúria que havia sentido, na forma como ele havia destruído seu próprio escritório depois de a ter feito dormir, Lockhart era um verme rastejante e pegajoso, pedindo para ser esmagado pelos seus pés... ele certamente sabia que dessa vez havia ido longe demais e que suas ações não passariam despercebidas, não por Severo Snape… e apesar de ser um completo inútil, Lockhart não era tão ingênuo assim, talvez por isso estiverá mais recluso por toda aquela semana, cancelando as aulas de terça e do dia seguinte... Não aparecendo nas refeições… com a desculpa esfarrapada de que não estava se sentido muito bem, mas Severo não esquecia, nunca esquecia… infelizmente seus compromissos com a escola, e agora também para com Lucius o impediram de ter vindo antes.

Sem bater, Severo abriu a porta com força, era patético para um professor de defesa não ter o mínimo de proteção em suas alas, mas ele não tinha... a porta reverberou contra a parede, revelando Lockhart em meio a seus objetos brilhantes e seus quadros autografados, o professor de Defesa ergueu os olhos, visivelmente surpreso, soltando o livro de autoglorificação que ele estava segurando em uma das mãos.

—Snape, que... que surpresa... desagradável – ele ousou dizer, ainda que gaguejando, enquanto tentava um sorriso com sua típica confiança exagerada.

—Você acha engraçado, Lockhart? – ele rosnou, seus olhos negros faiscando com uma intensidade assustadora – Dessa vez você foi longe... Você cruzou a linha, e como eu disse não vou tolerar esse tipo de comportamento com uma aluna… sendo ela quem é…. Sendo ela da minha casa… – Severo rapidamente corrigiu, enquanto se aproximava dele, Lockhart arqueou as sobrancelhas, numa tentativa vã de aparentar indiferença, mas uma sombra de nervosismo se instalou em seu rosto, ele estava com medo.

—Não sei do que está falando, Snape... eu não me recordo de nada do que aconteceu naquela noite... apenas uma dor de cabeça forte... já que bebi além da conta – ele tentou – Você disse aluna?... Olha eu sempre fui um cavalheiro com as damas... Eu não sei… – Severo avançou com ainda mais velocidade o agarrando pela gola de sua capa extravagante e o empurrando contra a parede.

—Posso refrescar sua memória professor... apenas me permita – Severo sorriu com escárnio - Shara Epson, primeiro ano, Sonserina, acha mesmo que não sei o que estava prestes a fazer... eu vi Lockhart...  eu estava lá, eu impedi... comentários impróprios, insinuações inaceitáveis, ela é apenas uma criança... e você... você não passa de um verme rastejante – ele cuspiu – e sabe o que vermes como você merecem? – Lockhart mal piscou, ele tentou se soltar, mas a força de Severo era avassaladora.

—Você não pode provar... é a minha palavra contra a dela e você... você apenas nos viu... no corredor... - ele exclamou, sua voz trêmula... Severo, perdendo completamente a paciência diante daquela negação desavergonhada, soltou um rosnado baixo antes de desferir um soco direto no rosto do professor de aparência vaidosa, com o intuito de deixar sua marca ali. O impacto fez com que Lockhart caísse no chão, gemendo de dor, Severo o ergueu novamente, agora com ainda mais brutalidade, ficando mais uma vez cara a cara com aquele ser asqueroso... Lockhart estava sangrando, certamente havia quebrado algum dente, ou quem sabe o nariz, Severo estava torcendo para que ambos... Embora fosse uma pena não poder quebrar muitas outras coisas ali.

—O que quer? – ele disse...  – já não é o bastante? – ele perguntou... cuspindo o próprio sangue.

—Não… nunca é – Severo ergueu sua varinha com uma precisão fria, apontando para as calças de Lockhart e murmurando palavras inaudíveis, lançou sobre ele um feitiço antigo.

—O que está fazendo?... ou o que você fez comigo? – ele perguntou preocupado, Severo sorriu… era divertido, era prazeroso.

—Um pequeno lembrete - ele alertou - Digamos que a partir de agora, toda vez que sentir qualquer tipo de interesse ou atração por uma aluna, sendo ela menor de idade, você sentirá dores excruciantes, nesse pequeno e insignificante volume que carrega no meio das pernas - Lockhart soltou um grito de agonia, suas mãos instintivamente indo parar naquela região, enquanto a maldição se enraizava em sua essência. A expressão de triunfo nos olhos de Severo deixava claro que a justiça estava sendo servida – apenas uma lembrança é claro do seu comportamento repugnante – ele concluiu.

—Não... espere... eu faço qualquer coisa... Severo... por Merlin... apenas desfaça – ele pediu, implorou... Severo o soltou.

—Seja grato por eu não expor suas ações publicamente, da próxima vez, as consequências serão ainda mais graves... apesar de que... – ele o encarou com repulsa pela última vez ali - não acredito que teremos uma próxima vez, não é mesmo?... Não depois disso - ele declarou bastante satisfeito, deixando os aposentos de Lockhart com a promessa de que suas ações teriam repercussões duradouras e bastante desagradáveis para aquele bruxo, já que a reputação galanteadora dele estava agora irremediavelmente manchada pela maldição imposta... mas não havia arrependimento algum da parte de Severo, não... afinal nenhum homem deveria sequer imaginar, em pensamento tocar em uma criança... Não! Ainda mais sendo ela a sua criança…  e visto dessa forma Severo havia pegado leve.

—__

Aquilo não ia ser fácil, não... não iria, Shara releu aquele pergaminho entregue pelo seu pai inúmeras vezes antes de convocar as amigas, ela mesmo não conhecia nada sobre aquela condição, um obscuros… era algo terrível, assustadoramente terrível… uma força mágica, um parasita das trevas, algo que pode ser desenvolvido por um bruxo logo na primeira infância, quando ele tem sua magia suprimida de forma física ou psicológica… Essa pessoa, então, se torna uma Obscurial... Era o que diziam as anotações... Gina e Beta agora estavam bem a sua frente e a encaravam um tanto quanto aflitas, ainda mais pelo lugar inusitado em que aquilo se desenrolaria, Shara havia decidido fazer isso na torre de astronomia, pelo menos ali ela se sentia mais à vontade e sem mencionar que elas estariam longe das vistas e dos ouvidos dos demais alunos... mas ainda assim aquilo não seria fácil, afinal aquilo também era sobre o seu passado, não tinha como simplesmente desassociar a sua dor, já que ela precisava soar verdadeira... Shara suspirou, tentando encontrar uma maneira de começar aquela conversa.

—Shara, você me parece muito diferente hoje, aconteceu alguma coisa? – Gina perguntou, ela não estava na biblioteca com Beta essa manhã, portanto Gina não fazia ideia do que esperar daquela convocação, já Beta estreitou o olhar, sem dizer qualquer palavra esperando que Shara dissesse as circunstâncias daquilo que ela já sabia, a sua doença, Shara hesitou por um momento antes de começar a abrir sua situação.

—Gina... Beta, há algo que eu preciso compartilhar com vocês. Algo que eu nunca disse a ninguém antes – ela soltou o ar, ar esse que Shara nem havia notado estar segurando ali... que Merlin a ajuda-se com aquilo - Eu tenho uma doença, uma condição bastante rara na verdade e que afeta minha saúde física e mental de maneira muito profunda... – as amigas trocaram olhares confusos – Eu demorei para entender essa condição e demorei ainda mais para aceita-la – Shara mentiu, mas aquilo justificaria o fato dela não ter comentado nada sobre o assunto com elas antes dali - É difícil… sabe às vezes eu sinto que estou sozinha nisso... já que é algo que adquiri, proveniente do meu passado escuro, foi bastante doloroso a compreensão de que a maneira como vivi até aqui, a minha criação, são os responsáveis por aquilo que me tornei – Shara focou no seu passado, e naquilo que ela viveu de fato naquele orfanato trouxa, na miserável infância que ela teve ali, nos maus tratos sofridos... na dor que lhe era infringida, na solidão, nas tentativas mal sucedidas de tirar a própria vida... era muito mais fácil falar com o coração, quando se tinha algo, e ela tinha muito.

—Doente? – Gina franziu a testa – Shara... eu não entendi, como assim... que tipo de doença? É que… você não me parece sabe, doente… – Beta se aproximou segurando sua mão, encorajando-a continuar… Beta não iria questionar, obviamente não depois de ouvir da própria boca do professor Snape aquilo.

—A doença, ela é apenas uma parte disso… - Shara continuou, sua voz agora trêmula, ela nunca havia externado aquilo, seu pai sabia, Madame Pomfrey também... mas era diferente, eles meio que foram descobrindo com o tempo, Shara se sentia tão exposta, tendo que revelar algo tão pessoal assim - Eu venho de um lar onde o abuso... tanto físico, quanto psicológico, eram quase que uma regra…. O meu passado é uma série de cicatrizes emocionais que eu tento esconder todos os dias – ela confessou, sentindo seus olhos marejarem... e as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, uma torrente de emoções que ela havia guardado por tanto tempo... Gina repousou a mão gentilmente em seu ombro, enquanto Beta apertou sua mão, oferecendo algum conforto silencioso.

—Eu nunca falei sobre isso com ninguém porque é doloroso demais... Eu me sinto fraca por ter permitido que isso acontecesse, e sinto que a escuridão... ela está sempre à espreita, pronta para me consumir de novo e de novo... Todas as vezes que algo ruim acontece, todas as vezes que eu me lembro de como foram aqueles dias – ela soluçou... ela não estava mentindo, exceto pela doença, mas a doença era apenas um mero título, que por sorte ela não possuía..., mas todo o resto sim, era verdadeiro... era real e era doloroso.

—E como… você está lidando com tudo isso agora? – Foi a vez de Beta se manifestar... Shara encarou a amiga... ela havia ouvido sobre o tratamento, ela queria mais informações, Shara não podia julgá-la, do contrário, ela também faria.

—Eu... tenho buscado ajuda, tanto de professores quanto de profissionais de Hogwarts, e eu estarei me submetendo a um tratamento..., mas mesmo com todo o apoio, às vezes é difícil pois tenho que lidar com as memórias e o medo do passado – e então Shara estava mentindo um tanto, e ela se sentia mal... imensamente mal por isso... - às vezes é insustentável – ela completou.

—Saiba que você não está sozinha, Shara.... nós estamos aqui para você, para apoiá-la em cada passo do caminho. E, por favor, nunca se sinta mal por compartilhar isso conosco... – Gina acariciou suas costas... enquanto as lágrimas desciam também pelo rosto da amiga - eu sinto muito por não ter percebido isso antes… - ela disse, Gina estava sendo muito sensível…

—Tudo bem, eu nunca fiz questão de que percebessem… eu meio que tentava fingir que não era real, que não estava lá… mas alguns dias podem ser mais difíceis do que outros e isso justifica grande parte da minha ausência… - ela revelou, isso era verdadeiro, tão imensamente verdadeiro.

—Shara, se você se sentir confortável, pode nos contar mais sobre a sua doença? Queremos entender e apoiar da melhor maneira possível – Beta de fato era muito mais racional, o que fazia dela alguém com perfil mais investigativo e por isso ela era a pessoa certa para pesquisas e desvendar desafios, já Gina era o oposto dela, Gina era emoção, era coração... Shara respirou fundo, tentando reunir a coragem necessária para compartilhar os detalhes daquela trama…

—A doença que tenho, ela é uma condição rara que afeta o sistema nervoso, causando dores agonizantes e dificuldades respiratórias. Às vezes, sinto como se estivesse afogando em minha própria dor – Shara se esforçou para repetir o que dizia o pergaminho.... – A doença que tenho, bem ela se chama... – Shara oscilou vendo os olhares atentos das amigas sobre si – Obscuros - ela disse finalmente, Gina e Beta estavam prestando atenção… sim, no entanto, ao mencionar a palavra "Obscuros," Shara sentiu uma onda de angústia crescendo nas feições delas, elas conheciam o termo... Talvez conhecessem a doença - Mas há algo mais... - Shara hesitou antes de continuar - Obscuros também é uma espécie de maldição que carrego e que pode tomar proporções... bastante catastróficas – ela podia começar a sentir seu estômago embrulhar ali, a revelação por mais que não fosse verdadeira trouxe uma carga emocional intensa. Sua respiração começou a ficar mais rápida, e uma sensação de aperto tomou conta de seu peito.

—Errrr... Agora posso ver a relação e a influência que isso tem sobre o seu passado… e eu realmente sinto muito… muito mesmo, não quero ser invasiva... mas não sabia que podia ser tão ruim Shara… como algo pode ser tão ruim? – Beta perguntou receosa, Shara sabia que as perguntas viriam, elas sempre vinham... Shara fechou os olhos por um momento, revivendo algumas das memórias dolorosas.

—Era ruim… um ambiente tóxico, repleto de abusos físicos e verbais. Eu era constantemente diminuída, desvalorizada. O amor era algo que eu só ouvia falar, nunca experimentei pra ser sincera... com uma exceção, para não ser injusta – Shara pontuou – Catie... ela foi meu porto seguro, tantas vezes… eu devo tanto a ela - outra lágrima.

—Sinto muito que você tenha passado por isso, Shara. Ninguém merece ser tratado assim... - As palavras solidárias das amigas trouxeram uma mistura de emoções, ela lutava para encontrar as palavras certas, sentindo uma sensação opressiva no peito.

—Foi terrível...  as vezes eu só queria não existir, entende? As vezes... eu tentei… – ela começou a soluçar novamente, ela estava completamente quebrada diante das amigas… ao se lembrar das vezes em que atentou contra sua própria vida.

—Shara, não precisa se forçar a falar mais se não quiser. Estamos aqui para apoiá-la, não para causar mais dor - Gina interveio, no entanto, a ansiedade continuava a se intensificar, transformando-se em uma tempestade dentro dela... ela já havia sentido isso tantas outras vezes antes, ela conhecia aquelas emoções… era uma crise, mas não apenas isso...  sua mão, ela estava começando a pipocar... E aquilo era sobre a sua magia, não... não agora...  isso podia ser ainda pior, talvez seu pai estivesse certo sobre a magia, Shara não podia controlar, ela nunca sabia o que poderia ser o responsável por despertá-la... não era sempre, mas estava acontecendo… por que agora? Por que ali?

—Eu... eu sinto muito, mas preciso de um momento - Shara, conseguiu dizer... ela ia tomar a poção para suprimir sua magia no dia seguinte... ela não podia estragar tudo agora... então sem dizer mais nenhuma palavra, ela se afastou das amigas e correu escada abaixo.... ela precisava se acalmar, ela precisava de um local mais isolado, onde pudesse enfrentar aquela avalanche de emoções sozinha... onde pudesse controlar sua magia... ela teria que fazer…

“Shara espere…”– ela ouvia uma das amigas gritar... mas ela já estava longe e ela precisava se afastar... Shara correu para fora do castelo, era o melhor a se fazer… sua mão estava latejando, aquilo era perigoso, tão perigoso como um obscuros de fato seria... ela precisava fazer alguma coisa, estava chovendo lá fora, uma chuva torrencial, Shara não se importava em se molhar... ela correu ainda mais, a chuva estava gelada… ela atravessou o pátio da escola, passou pela ponte de madeira... quando por fim, ela parou, estando longe o suficiente, mas o chão estava liso e ela escorregou... descendo desordenadamente a pequena ladeira que havia na sua frente, e caindo assim que alcançou a parte baixa, agora além de molhada... ela estava também completamente suja, mas ela também não se importava... E ali naquele chão gelado, no que parecia ser uma plantação de abóboras gigantes… ela chorou... Suas lágrimas se misturavam com as gotas que caíam do céu, e ela se sentia envolvida em uma tempestade interna. A veste da Sonserina agora completamente encharcada colava-se ao seu corpo, ela colocou as mãos sobre os braços, por dentro das largas mangas da sua capa... e os arranhou com toda a sua força, machucando sua pele livre... ela podia sentir a dor, junto com o sangue que vertia dos cortes... e aquilo por mais terrível que pudesse ser, parecia funcionar... de alguma maneira, aquela sensação era como uma descarga emocional, e fez com que a sua magia se dissipasse... então Shara repetiu a ação mais uma vez e mais uma… ela estava acostumada a se machucar... e assim como todo o resto ali, a dor também não importava.

—Quem está ai? – ela ouviu alguém chamar... – diga agora... ou soltarei o cachorro... ele é bem bravo se quer saber – Aquela era a voz de Hagrid... espera Hagrid? Ela nem havia percebido mais estava bem perto da cabana dele, sim as abóboras... ela podia ouvi-lo se aproximar, até que estivesse no seu campo de visão, com um guarda-chuva grande, sua silhueta robusta podia ser vista mesmo com tanta chuva, Shara hesitou por um momento antes de revelar sua presença.

—Hagrid, sou eu, Shara... – ela disse, depois de ter certeza que sua magia não seria mais um problema ali.

—O que aconteceu… Shara? Por que está correndo por aí nessa chuva? Você está chorando? – Agora ele estava ainda mais perto, perto o bastante… Shara tentou conter as lágrimas, mas era inútil, ela se levantou, se aproximando dele, ele a estudou por um longo momento - Venha criança, não é bom que fique aqui na chuva – ele pediu, a guiando com cuidado e a levando até sua cabana, quase nos limites da Floresta Proibida. A iluminação fraca do lugar contrastava com a névoa daquele dia chuvoso - Vou acender o fogo e fazer um chá quente para nós, vai se sentir muito melhor, vai ver - ele ofereceu, enquanto Shara se acomodava em uma cadeira. A cabana de Hagrid era aconchegante e cheia de objetos curiosos. Shara amava aquele lugar, sentindo um pouco de conforto naquela atmosfera acolhedora. Hagrid voltou com uma xícara de chá fumegante, colocando-a cuidadosamente na sua frente - Aqui está, esse é meu chá especial. Vai ajudar a acalmar seus nervos... – ele disse.

—Obrigada - ela agradeceu… seu estado era lastimável, ela sabia… e ele a estava observando com atenção, principalmente os braços, pois havia sangue escorrendo por eles... Shara não soube dizer o quanto daquilo ele de fato entendeu, já que Hagrid soube ser discreto, o que não era nada comum, não vindo dele.

—Vou pegar umas toalhas… vejo que se machucou - ele avisou, e embora ele não dissesse, ela se sentiu envergonhada.

—Talvez… eu tenha me machucado… um pouquinho - ela disse se encolhendo, enquanto ele se aproximava com um balde parcialmente cheio de água morna e umas toalhas limpas, ele ergueu cuidadosamente a manga de suas vestes… e começou a passar a toalha molhada sobre seus ferimentos recém feitos os limpando com delicadeza, embora ele fosse um meio gigante… ele não era bruto, pelo menos não estava sendo ali.

—Não deveria se machucar assim - ele disse depois de um tempo, sim ele havia entendido - sabe existem outras maneiras de amenizar… as dores da alma - ele a olhou de forma profunda - existem outras cicatrizes aqui - ele analisou seus pulsos - elas parecem contar uma história… a sua história - ele estava sério, mas sua voz parecia ter enfraquecido um pouco ali.

—A minha história… - Shara disse com a voz embargada - não é muito flórida Hagrid, o meu passado não é algo para se orgulhar - ela disse sentindo que estava chorando outra vez, Merlin ela era uma bagunça.

—Ah o passado… o passado pode ser mesmo bastante difícil para alguns, mas todos nós temos um você sabe - ele devolveu e ela percebeu ali, naquele momento, que ela estava diante dele, sim era óbvio até… e ela estava sozinha com ele, na cabana dele… era justamente essa a oportunidade que ela havia buscado ter por toda aquela semana, um encontro a sós com ele para discutir o passado e agora… simplesmente o destino havia se encarregado disso… de uma forma estranha, ela diria, mas sim o destino havia interferido… afinal aquilo não podia ser mera coincidência… podia? Shara hesitou por um momento, mas ela percebeu que aquele era o momento oportuno para fazer sua abordagem.

—Hagrid, antes de mais nada, eu preciso agradecer por me acolher aqui e ser tão gentil comigo - era verdadeiro - mas já que estamos falando do passado… há algo, algo que eu gostaria muito de perguntar a você… - ela começou e Hagrid assentiu, encorajando-a a continuar - Eu ouvi falar sobre a Câmara Secreta, me refiro… não apenas o que tem acontecido no castelo agora… mas também do que aconteceu a 50 anos atrás, sua expulsão… e li sobre um estudante chamado Tom Marvolo Riddle… Hagrid, será que poderia me contar algo sobre isso? - Shara perguntou, Hagrid empalideceu ligeiramente, seus olhos revelando uma mistura de tristeza e relutância, obviamente ele não esperava por aquilo.

—Não posso falar sobre isso, lamento - ele a encarou, mas não como se ele estivesse de fato olhando para ela ali, ele parecia distante muito distante - Essa é uma parte do meu passado que... que prefiro esquecer - ele completou.

—Eu cresci num lar de meninas, em outras palavras um orfanato trouxa… - ela disse, sentindo que aquele era o momento certo para abrir suas próprias barreiras - a Sra. Manchester era responsável pela organização da casa, ela nos fazia trabalhar por comida, eu nunca fazia todas as refeições do dia, você sabe - ela corou admitindo sua falta de disciplina - teve uma vez que fiquei sem comer, por uns 3 dias… e eu estava com muita fome, foi quando depois de uma aula… eu recorri a um adulto na escola local, onde frequentava, eu só queria algo, um pão… eu ganhei o pão, e também uma surra… Noah era o diretor e ele me bateu todas as noites… durante pelo menos uma semana, assim eu aprendi que não devia pedir por ajuda… ele me mostrou onde era o meu lugar e ditou a minha identidade, ele me dizia coisas horríveis e eu não podia revidar, teve uma noite em que ele estava bêbado… muito bêbado, e ele entrou em meu quarto - ela estava chorando agora - eu estava sozinha e ele sentou na minha cama, eu fiquei com tanto medo ali... ele me olhava de forma diferente e ele estava preparado para… - ela enxugou as lágrimas, a lembrança era ruim, mas expô-la para ele não, por incrível que pareça... não estava sendo ruim…

—Oh não… ele não fez isso - Hagrid disse, ele também estava emocionado.

—Ele faria… mas algo aconteceu, minha magia... eu acho – ela olhou para as mãos - eu quase o matei naquela noite - ela disse, era um refrigério poder revelar a sua dor daquela maneira, sem que fosse uma obrigação, ela estava falando por que ela de fato queria falar… por que ela se sentia a vontade de faze-lo e isso era diferente - Noah, ele não tentou mais, não depois daquele dia… Manchester sim, ela usava a régua comigo com frequência mas ele usava algo muito pior, ele usava as palavras, ele me humilhava, me rebaixava… e eu acreditei nele, nas suas mentiras, naquilo que ele dizia ao meu respeito… foi assim que eu tentei, uma… duas… um pouco mais, tirar a minha vida - ela admitiu - essa é a história por trás das cicatrizes que você viu no meu pulso… por isso é tão difícil expô-las, embora elas façam parte de quem eu sou, de quem me tornei, elas são o meu passado... já as marcas novas – ela olhou para os cortes em seus braços – essas... bem, elas são uma forma de amenizar algo… são as marcas… do presente, eu sei que parece ruim, mas não é tão terrível como parece - ela disse, afinal se cortar daquela maneira havia dissipado sua magia e aquilo sim teria sido bastante ruim se não tivesse sido controlado.

—Shara querida - ele mesmo estava limpando as próprias lágrimas com as mãos, ele estava chorando... ela sorriu para ele… ele era tão puro, tão sensível e era tão libertador poder estar com alguém como ele, contar algo tão pessoal para ele… Hagrid era bom, e ele jamais machucaria alguém… jamais - eu sinto muito - ele disse para ela - pelo que teve que passar criança… - ela assentiu.

—Hagrid… eu não acho que você tenha sido o responsável pela criatura, que atacou os alunos a 50 anos atrás - Shara disse - mas posso entender o porquê deseja se esquecer do seu passado… como pode ver, eu não consigo me esquecer do meu, mas se pudesse também o faria... já no seu caso, eu não posso imaginar o quão cruel pode ter sido ser acusado, por algo que não fez… você também era apenas uma criança... E eu também sinto muito Hagrid, sua expulsão foi um erro - ele a encarava e agora o seu olhar, revelava que ele de fato estava ali.

—Ah, Shara, foi um período terrível aquele, que antecedeu a minha expulsão… eu fui acusado por algo que não cometi... Sim fazem cinquenta anos agora, mas às vezes parece que foi ontem… eu ainda posso ver e sentir os olhares condenatórios dos governadores desse castelo - ele disse emocionado - uma aluna foi atacada por uma criatura em um dos banheiros da escola e infelizmente, ela não resistiu... foi quando todas as circunstâncias apontavam para mim, dizendo que eu era o responsável por trazer e manter a criatura que a atacou no castelo, que eu era o culpado pela sua morte, mas não fui eu... eu juro pela minha vida… - ele disse visivelmente perturbado enquanto as lágrimas escapavam dos seus olhos robustos, ele estava se recordando das acusações que o marcaram para sempre - Houve quem acreditasse em mim, Dumbledore foi um deles. Ele sempre soube da minha inocência, mas mesmo ele não pôde reverter o que já estava decidido - Hagrid lamentou.

—Foi o Riddle não foi? - Shara perguntou, sentido que o destino parecia mesmo querer que aquele encontro acontecesse, não apenas pelas informações que seriam ditas um para o outro, mas ambos estavam se curando através delas - ele é o verdadeiro culpado, não é? - ela disse, uma pergunta em tom de afirmação.

—Tom Riddle era diferente desde o início, sim um garoto de grande inteligência… ele era brilhante, mas algo nele era perturbador, ele parecia saber coisas demais, entender coisas que outros não conseguiam, contudo havia uma frieza nele, um vazio nos olhos, como se não tivesse compaixão por nada e por ninguém, como se não tivesse alma - Shara absorveu aquela declaração, como alguém assim poderia prestar um serviço de grande valia a escola, isso por si só já era demasiadamente suspeito - Riddle se destacava na escola, impressionava os professores, mas havia algo sinistro em suas ações, Riddle tinha um dom para manipular, para influenciar os outros, e ele usava suas habilidades para conseguir o que queria, para descobrir segredos que ninguém mais ousava explorar - Shara sentiu um frio percorrendo todo o seu corpo, suas roupas estavam encharcadas e bem… talvez fosse apenas isso… mas ela achava que não, um dom para manipular… Hagrid havia dito, era isso, exatamente isso que o diário fazia com Gina… Hagrid estava certo, Riddle estava manipulando Gina, esse tempo todo, para que ela fizesse o que ele queria.

—Isso… isso não me parece muito bom - ela conseguiu dizer…

—Ah não… nada bom - ele alertou - Riddle descobriu coisas... coisas sobre criaturas das trevas, sobre magia escura, havia uma sede de conhecimento que o consumia… foi quando ele plantou a armadilha, uma emboscada e as acusações caíram sobre mim, fui condenado e Riddle estava lá, calmo e calculista... Apontando o dedo na minha direção, ele sabia que eu não era o verdadeiro responsável pelo que estava acontecendo na escola, mas ainda assim permitiu que eu fosse expulso - Hagrid parecia mais sério agora - eles quebraram minha varinha - ele disse triste.

—Esse Riddle… bem… ele ainda está vivo? digo… nos dias atuais? - ela perguntou, afinal se houvesse uma forma de alcançá-lo ela iria, sim ela faria… faria isso por Hagrid e por tudo que ele teve que passar nas mãos dele, afinal que Hagrid não era o responsável pelos ataques isso era mais do que óbvio, e que Riddle o havia denunciado, como ela havia suspeitado também se comprovou ser verdadeiro… mas ele era mal… Hagrid a olhou nos olhos, parecendo pensar na sua pergunta… Shara buscava algo a mais sobre ele, não apenas a história, mas também a conexão com o presente, com a realidade que cercava Hogwarts nesse exato momento.

—A quem diga que sim, a quem diga que não… mas seus seguidores, esperam ansiosamente pelo seu retorno triunfal… - ele disse, Hagrid havia dito seguidores? Riddle tinha seguidores?... O único que possuía seguidores e que Shara tinha ouvido falar era... ela congelou completamente naquele momento, quando ela se deu conta de que Riddle, ele... não era mesmo um bruxo qualquer… seu estômago deu algumas voltas junto com o seu cérebro  - Tom Marvolo Riddle… se tornou o maior mal que o mundo bruxo já conheceu Shara, ao longo dos anos sua ambição o consumiu completamente… então Riddle se tornou Lord Voldemort, aquele cujo nome muitos temem até hoje pronunciar….- Sua respiração estava falhando, miseravelmente ali… não podia ser, esse tempo todo... o chão parecia se abrir bem debaixo dos seus pés… - Shara? - Hagrid a chamou agora ele soava preocupado…

—Se Riddle… é Voldemort, se Riddle é o passado dele… - ela repetiu, sua garganta ficando seca… esse era o motivo do nome dele ter desaparecido na história, ele o havia trocado, assumido um novo nome, como quem mudasse de identidade… ele era… o maior bruxo das trevas de que Shara havia ouvido falar… e se ele era Voldemort, então o diário que estava agora circulando pela escola era de ninguém menos do que Voldemort, a magia negra no diário… havia sido criada por Voldemort, quem havia possuído Gina todas aquelas vezes… era na verdade Voldemort… queimado sua mão... Voldemort… - eu acho que vou vomitar - ela disse se abaixando… sorte o balde ainda estar bem ali na sua frente.

—Eu não devia ter dito isso… - Hagrid disse apavorado - Dumbledore… o que o diretor vai dizer quando souber… eu não devia ter dito isso, não devia… - ele repetiu - não sei o que deu em mim.

—Está tudo bem… Hagrid - ela tentou acalmá-lo, enquanto se levantava - É claro que... é muita coisa para se assimilar - ela disse - E eu não fazia ideia de algo assim... Mas nada vai mudar, ok? - acontece que mudava, mudava tudo e agora ela simplesmente não sabia o que fazer com aquela descoberta… não era algo que pudesse ser compartilhado, talvez não fosse adequado mencionar com Beta… muito menos com Gina, Shara precisava pensar, pensar bem… também não dava para incriminá-lo, não como ela achou que faria, afinal o que ela diria? Que Voldemort havia se infiltrado novamente em Hogwarts… que ele estava liberando a besta selvagem usando um diário? ela não tinha provas, ninguém acreditaria em algo assim, aquilo não era como no ano anterior, onde Harry o enfrentou, onde ele estava no corpo daquele professor de defesa e tentou roubar a tal da pedra filosofal, Shara havia ouvido mil versões daquela história… mas dessa vez era diferente, não era alguém… não era físico, era um objeto, era um diário…

—Eu sinto muito Shara… eu penso ter piorado a situação… eu deveria chamar um professor, sim… alguém para levá-la de volta a escola, está mesmo ficando tarde, e ainda está chovendo bastante, e você não deveria andar por aí sozinha, não nessas condições, você precisa de cuidados - Shara olhou de relance para a janela, estava começando a escurecer lá fora.

—Hagrid, por favor... e eu estou bem, honestamente... eu agradeço por me acolher, por cuidar de mim da forma como você fez, mas principalmente por me ouvir hoje… e também por confiar em mim e ter compartilhado a sua história comigo… - ele gesticulava a cabeça negativamente, se sentindo culpado por ter feito - Hagrid, me escute… ouça eu sei que minha história é bastante diferente da sua, diferente daquilo que você passou aqui… esses anos todos, eu nunca fui expulsa, não pretendo e também não sei como é ser descredibilizada por todos como você foi - Shara confessou tentando alcançar o coração dele outra vez, ela não queria lhe causar preocupações, ele não merecia - mas quero que saiba que apesar de tudo isso, você se tornou uma pessoa boa e nobre... e eu nunca me senti tão confortável em me abrir com alguém antes… como me senti hoje com você aqui, olhar para quem você se tornou, me dá forças... esperanças, eu quero me curar e ser como você um dia… - ela sorriu era genoíno - e isso por si só, foi importante... importante pra mim e eu sei que poderá guardar tudo aquilo que eu disse aqui para si… e bem quero que saiba que eu também sei guardar segredos… eu farei o mesmo - ela queria que ele soubesse, que não haviam riscos... que ela faria aquilo por ele e que ela estava bem.

—Ah, minha querida criança - ele também sorriu - cada um de nós carrega sua própria carga, não importa o tamanho. Você passou por momentos muito difíceis, mas olhe para você agora, aqui em Hogwarts, uma bruxinha tão corajosa e determinada - ele disse colocando uma mão gentil no seu ombro e Shara sentiu um calor reconfortante inundar seu coração, era como se ele visse além de suas cicatrizes externas… ela estava prestes a abraçá-lo, quando eles foram interrompidos, com batidas fortes na porta, Hagrid parecia confuso com aquela intromissão… - estranho não estou esperando por visitas – ele disse se aproximando da porta.

—Boa noite Hagrid, estou aqui em busca da Srta. Epson - Shara ouviu a voz do seu pai, se havia alguma dúvida sobre se ele ainda a monitorava de alguma forma, isso podia ser sanado ali naquele exato instante, Shara pôs a mão sobre o colar, ela era facilmente rastreável quando usava aquilo - Ela simplesmente não compareceu à mentoria designada para esta tarde. Isso não é tolerável, especialmente para alguém que busca se destacar em Poções - ele havia dito com seu tom habitual de arrogância.

—Desculpe-me professor Snape, Shara estava... precisando de um momento - Hagrid disse incerto, ao abrir ainda mais a porta para ele - Ela está lidando com algumas questões e estávamos apenas conversando - Hagrid estava visivelmente preocupado e também defensivo… mas Shara sabia que seu pai estava na verdade atuando ali, já que não havia mentoria alguma, obviamente ele precisava de uma boa desculpa para justificar o fato de ter ido atrás dela, então para não prolongar aquilo ainda mais, Shara se posicionou na frente deles, como quem estivesse pronta para enfrentar a situação.

—Estou aqui, professor Snape... eu peço desculpas por minha ausência, eu tive um imprevisto essa tarde… - ela disse se sentindo constrangida com o olhar que havia recebido dele, ele a estava estudando, o seu estado… suas roupas molhadas, completamente sujas… os cortes nos braços, e suas feições marcadas pelas lágrimas, ela estava um caos.

—Imprevisto? Chama isso de imprevisto? - seu olhar gélido a atravessou completamente, embora fosse possível ler o choque que era para ele encontrá-la naquelas condições - o que exatamente aconteceu aqui? - ele grunhiu irritado… - o seu estado é tudo menos… aceitável… - ele disse de forma curta se aproximando dela e segurando um de seus braços, apenas para avaliar mais de perto aquele estrago - por acaso estava rolando na lama lá fora? ou talvez brigando com alguma espécie de centauro na floresta proibida? - ele voltou sua atenção para Hagrid novamente - Estou aguardando explicações - ele disse de maneira arrastada e Shara notou que até mesmo Hagrid, podia se sentir intimidado por ele.

—Eu a encontrei próxima da minha cabana… professor Snape - Hagrid começou explicando - certamente ela estava em um momento difícil então a trouxe comigo... ela precisava de um tempo, estava completamente perturbada a menina - Shara encarou Hagrid por um momento, pensando se ele estava de fato ajudando ou quem sabe piorando um pouco mais as condições para ela - penso… que não seja o momento para tantas perguntas e eu posso me responsabilizar por isso, por ela, posso ir até o diretor se desejar… - Hagrid interveio, certo… a intenção era boa, ele estava tentando suavizar as coisas para ela ali, ele talvez só não tivesse muito jeito para isso… seu pai voltou a analisá-la, claramente insatisfeito com aquela resposta.

—Agradeço, contudo não será necessário Hagrid - ele disse sério - Epson, acompanhe-me imediatamente, estaremos voltando à escola, vou encaminhá-la a enfermaria e assim que estiver devidamente recomposta, falaremos em minha sala de aula… mas quero que saiba que independente do que tenha acontecido, isso não justifica sua ausência sem aviso… você deve aprender a priorizar suas responsabilidades - ele disse para ela, Hagrid a encarou com pesar, desejando poder fazer algo para mudar a situação.

—Sinto muito, Shara… mas o professor Snape está certo sobre voltar a escola, lá você poderá ser assistida de forma adequada, mas saiba que se precisar de qualquer coisa, estarei aqui… pode me procurar quando achar necessário, minha casa, ela está sempre de portas abertas para você - o meio gigante ofereceu - e o cachorro, bem… ele não é brabo… na verdade é um completo bobalhão… mas não conte isso a mais ninguém - Shara riu, lhe agradecendo com o olhar antes de se voltar para o seu pai, que demonstrava impaciência, e assim eles saíram.

—__

Severo se manteve firme, liderando o caminho de volta à escola, e Shara o seguia em completo silêncio, assim que eles estavam a uma distância considerável tanto da cabana de Hagrid como da entrada do castelo, ele parou brutalmente, fazendo com que ela trombasse nele…

—Me desculpe - ela pediu… seus olhos ainda estavam inchados, ela havia chorado mais do que uma vez naquele dia, ele sabia que aquilo, aquela situação toda, não seria algo fácil, mas ele não esperava que fosse tão difícil… algo estava errado.

—O que aconteceu afinal? - ele perguntou, sua entonação agora tão diferente de antes, estava repleta de preocupação, aquela era a pergunta que ele havia desejado fazer desde o instante em que a viu… ou talvez desde quando havia acionado sua localização pelo anel e visto as emoções conflituosas com as quais ela estava lidando… isso naquele lugar improvável, a cabana do guarda costas da escola… ela o encarou suas feições abatidas.

—Eu sinto muito… eu quase estraguei tudo… a minha magia - ela olhou para as mãos, ele acompanhou o movimento, e então ele entendeu - o senhor tem razão sobre minha magia… não posso controlar, se a poção estiver finalizada… eu gostaria de toma-lá ainda hoje - era um pedido bastante improvável… ele a analisou por um longo momento.

—Posso arranjar isso - ele disse - contudo preciso que me conte o que aconteceu - ele precisava de mais detalhes, ela baixou a cabeça, uma reação tímida, para algo que havia tomado proporções tão grandes e feito com que ela se ferisse daquela forma outra vez… - ou talvez eu devesse perguntar como suas amigas reagiram a novidade? - ele reformulou a pergunta, vendo a confusão se formar em seu semblante.

—Eu não disse… que já havia dito a elas… como pode saber? - ela devolveu a pergunta.

—Por qual motivo mais você passaria tempo na torre de astronomia essa tarde? - ele a encarou.

—Eu sempre… vou lá, não necessariamente precisa ter um motivo… como sabe que eu estava lá? - ela perguntou, olhando para o anel em sua mão - da mesma maneira que me encontrou na cabana do Hagrid é claro… eu já deveria ter me acostumado a isso na verdade, a ser vigiada… o tempo inteiro - ela suspirou.

—Eu não chamaria dessa forma - ele disse - eu chamaria de… não estar nisso sozinha - sim ele não iria mentir que a monitorava, era quase um hábito agora, ele sentia necessidade de saber onde e como ela estava se sentindo, principalmente naquelas circunstâncias, ela fungou… ela estava oscilando emocionalmente, ela se aproximou um pouco mais dele e então o envolveu pela cintura, o obrigando a levantar as duas mãos com aquele abraço inesperado.

—Já foi suficientemente difícil ter que aceitar e me acostumar, com sua excessiva necessidade e demonstração de afeto, através disso que chama de abraços - ele disse tentando descontrair um pouquinho - contudo não sou obrigado a tolera-los nesse seu estado, pois caso não tenha notado, está deplorável, completamente molhada e imunda - aquilo não era uma completa mentira - apenas não é compatível com minha postura impecável - ela se afastou um pouco apenas para poder encará-lo melhor.

—O que? - ela disse - o professor Snape não gosta de se sentir sujo? - ela brincou, enquanto o abraçava com ainda mais força se esfregando de forma intencional… Antony tinha mesmo razão, ela era uma adorável pestinha.

—SHARA - ele vociferou, tentando parecer irritado, e ouvindo o som espontâneo da sua gargalhada… ele preferia quando ela sorria, principalmente daquela maneira, ele até podia tolerar um pouco de sujeira… ok pensando bem, ele não podia - JÁ CHEGA - ela era de fato terrível.


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Notas finais do capítulo

Háaaa
Ele não azarou o pau do Lockhart não né? (desculpem a palavra chula aqui) mas eu estava devendo um soco bem dado naquele rostinho de Ken de Taubaté, o resto foi apenas cortesia. Sério... esse foi o verdadeiro significado de "se fudeu" contudo no pior sentido da palavra kkk e como Snape mesmo disse, acho que isso não vai mais se repetir. Ahhh o sabor da vingança, ADOREI em letra maiúscula.

Agora sobre o conteúdo denso desse capitulo... uma magica aconteceu, sim vou chamar desse jeito... algo do qual não sei se consigo e posso explicar, mas esse capitulo fluiu de maneira muito natural, como se a própria história pedisse para que fosse assim... bom, para quem escreve, sabe que por vezes é muito difícil encaixar as peças da trama, mas aqui... não foi, simplesmente fluiu, Shara buscava pelo segredo de Hagrid, e na verdade ela precisou entregar o segredo dela primeiro, quase como se fosse uma troca... sem que isso soasse forçado ou intencional, foi uma entrega de ambos os personagens, sobre os momentos mais difíceis de suas histórias, o passado... um passado intragável convenhamos.

E por mais que Beta e Gina fossem suas amigas, podemos nitidamente perceber a mudança de postura da personagem, e sentir o desconforto de Shara em ter que se expor daquela maneira para elas, já dizia a regra... de que é muito mais fácil se abrir com quem está fora do que com quem está dentro, as vezes por vergonha, as vezes por se sentir julgada, as vezes por não querer ser motivo de pena... enfim, existem tantas razões, e tudo isso faz com que a carga emocional dessa conversa se torne algo grande para Shara administrar e isso faz sua magia eclodir... então ela foge.

Ainda sobre Hagrid, aqui ele revela a verdadeira identidade de Tom Riddle e agora Shara é a única personagem dessa fic, que sabe a verdade a respeito de toda a trama sobre a câmara secreta, estando ela muito a frente do trio de ouro.
E ai... me ajudem, ela deve ou não contar a verdade ao Snape? (enquete mesmo) não me importo de fugir o cânon, se for necessário.

E esse final... hahahaha Snape sujinho... é eu acho que não consigo imaginar essa cena kkkk Mas amei a forma como ele tem conseguido separar as coisas, sendo literalmente duas pessoas com ela, dependendo do ambiente e da situação.
"eu chamaria de… não estar nisso sozinha" Oinnn ele é um pai muito foda! (mesmo querendo justificar seu modo possesivo de monitoramento)



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