Plano B escrita por Kuchiki001


Capítulo 3
Encontro




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Esperei pacientemente meu primo atender minha ligação. A empresa que eu estava iniciando seria no ramo de equipamentos hospitalares e Uryuu havia me prometido ser meu parceiro de negócios, ele era um jovem médico renomado, dono de um dos maiores hospitais de Karakura, ele tinha dado muita sorte que o pai dele depositava rios de dinheiro em sua conta bancária, diferente do meu velho que me deserdou no primeiro fracasso.

Caminhei até a bancada e despejei um pouco de pó de café instantâneo numa xícara.  Assim que Uryuu atendeu contei que eu estava com todo o dinheiro necessário para dar inicio aos negócios.

— Então você conseguiu. –ele me disse não muito feliz.

Cocei a nuca me sentindo por um momento constrangido.

— É. Como te falei.

— Dessa vez me parece confiante. Tem certeza que não quer aceitar minha proposta e exercer sua profissão? – ele perguntou numa falha tentativa de me convencer a mudar de ideia.

—Você sabe que eu só me formei em pediatria, por que meu pai me garantiu passar os negócios da família, mas não imaginava que o velho não ia manter a palavra e me deserdar. –falei com desgosto.

 Uryuu ficou em silêncio por alguns minutos.

— A aposta ainda está em pé? –me perguntou sério.

Puxei na memória a conversa que tivemos uns dias atrás.

— Sim, eu entro com o investimento inicial e você com os fornecedores.

— Se os negócios fracassarem, você irá trabalhar no meu hospital. —completou.

Retorci meu rosto numa carranca, eu não tive muita alternativa a não ser concordar.

— Eu não irei fracassar. –garanti.

— Veremos. –ele disse por fim e desligou.

Guardei o celular no bolso e observei pela janela as crianças brincarem em frente à casa do meu tio Kaien. Em alguns anos eu também teria uma criança em algum lugar brincando em frente à casa de seus pais. Balancei a cabeça, agora era tarde para arrependimentos e Miyako tinha me garantido que ele ou ela teria uma boa mãe e isso me tranquilizava. Fechei as cortinas e finalizei o café, depositando a xícara sobre a bancada.

Três meses depois

Estava eu mais uma vez na alfândega do aeroporto de Karakura. A mercadoria tinha sido barrada pela fiscalização. Eles me disseram algo como irregularidades do destinatário que eu não entendi bem, essa era a segunda vez em menos de um mês que minha mercadoria não era liberada e eu recebia mais uma intimação fiscal. Passar por todo o processo administrativo era cansativo e eu estava aguardando a liberação da primeira carga de insumos.

Peguei toda papelada na administração e desanimado e estressado me dirigi aos corredores em busca dos elevadores. Quando cheguei ao térreo recebi uma ligação de Uryuu, ele estava terrivelmente feliz com a minha desgraça.

— E então primo, quando vai desistir e vim trabalhar para mim?

Retorci a boca, as coisas estavam indo de mal a pior, mas eu não ia desistir.

— Para um sócio você está muito feliz vendo seu negocio afundar. Ironizei.

— Nem ligo! Eu já fiz minha parte e o hospital não pode ficar sem os equipamentos, por isso não precisamos da sua mercadoria.

— QUÊ? É serio o que eu estou ouvindo? Tem ideia do quanto essa mercadoria me custou? –perguntei indignado. – Você não pode simplesmente cancelar e me deixar com todo prejuízo.

— Se você estivesse trabalhando no hospital não teria prejuízo nenhum, seria chefe de departamento e ainda por cim−.

Desliguei a ligação.

Eu não estava com um bom humor para ouvir ladainhas, meu celular tocou novamente e eu recusei a chamada, meu primo não sabia quando desistir.  Comecei a desconfiar de que tudo que estava dando errado nos negócios tinha um dedo dele no meio ou eu era muito azarado.

Entrei no carro emprestado pelo meu tio Kaien e suspirei derrotado, eu teria que conversar pessoalmente com Uryuu. Dirigi até o hospital se ele queria as coisas de forma suja ele teria. Não demorou vinte minutos e eu já estava em frente ao prédio do Hospital particular de Karakura. Ajeitei minha gravata e me encaminhei aos elevadores repassando na mente as mil maneiras de mandar meu primo babaca a merda.

Entrei no elevador e segurei as portas para que uma garota baixinha carregando milhares de sacolas pudesse entrar.

— Obrigada. – ela agradeceu.

Fiquei exatamente dez segundos a olhando feito um idiota, até que eu desviei minha atenção e coloquei as mãos nos bolsos da calça. A garota me olhou e arrumou as sacolas nos braços e apertou o painel de botões, a setinha indicou que estávamos subindo, fiz o mesmo. A sala do meu primo ficava na parte administrativa, ou seja, no penúltimo andar.

A garota de cabelos escuros me olhou e notei que seus olhos eram de um tom violáceo, olhos de uma cor tão linda e incomum no Japão. Fiquei ainda mais embasbacado. De repente o elevador parou e as luzes apagaram, ouvi barulhos de sacolas no chão e por impulso agarrei a garota entre meus braços. Senti seu coração acelerado junto ao meu e me acalmei para não fazê-la entrar em pânico.

As luzes de emergência do elevador acenderam e eu a olhei me certificando de que ela estava bem.

— Está tudo bem com você? –perguntei ao soltá-la.

Ela me olhou com seus olhos grandes e assentiu:

—Estou, obrigada! –disse com uma voz quase hipnótica me fazendo piscar desnorteado.

Suspirei aliviado e esticando o braço apertei o botão de emergência.

— Alguém está me ouvindo? O elevador parou e estamos presos no quinto andar.

Uma voz me respondeu:

— Estamos com um problema técnico, fique tranquilo em menos de uma hora estará tudo resolvido.

Agradeci e encostei-me à parede metalizada do elevador, a garota me olhou ainda assustada e sorri para ela numa tentativa de acalmá-la.

— Você ouviu? Logo sairemos daqui.

Ela não disse nada, mas notei que suas mãos tremiam. Desviei meus olhos para as sacolas no chão: Ursinhos de pelúcia, sapatinhos e roupinhas de bebê estavam espalhados pelo chão do elevador.

— Você está grávida? –perguntei surpreso e ao mesmo tempo me recriminei por ter feito uma pergunta idiota.

— Estou com doze semanas. –ela disse e suas mãos foram para a barriga ainda inexistente.

— Ah! –exclamei um pouco decepcionado. – Então você já é casada. –pensei alto demais e quis me estapear pela minha burrice.

— Não é necessário estar casada para ter um bebê. –ela foi sucinta e percebi pelo tom de voz sério que eu não deveria ter falado besteira.

—Desculpa! –tentei consertar minha estupidez, ser uma mulher grávida sem um marido ainda era um tabu num país conservador que era o Japão. – Só fiquei surpreso. –acrescentei.

A morena franziu a testa e se abaixou para recolher todas as coisas da sacola, a ajudei e tentei mudar de assunto para quebrar aquele clima estranho que se instalou entre nós, eu tinha sido muito invasivo com uma mulher que eu não conhecia e não estava entendendo o por quê que eu estava me sentindo aliviado ao mesmo tempo que curioso.

— Kurosaki Ichigo. –me apresentei assim que me levantei.

— Kuchiki Rukia.

— Seu nome não é tão comum no Japão. –comentei ao entregar a sacola para ela.

Ela deu um sorrisinho que eu achei a coisa mais fofa do mundo.

— Meu pai é japonês, mas minha mãe é sueca. — explicou.

Assenti compreendendo.

— O mesmo comigo, meu pai é japonês e minha mãe é americana.

Olhando para meu cabelo, Rukia perguntou com um olhar de curiosidade:

— Então a cor do seu cabelo é... —ela não precisou finalizar a pergunta para que eu entendesse.

Ri com aquela pergunta inocente e peguei uma mecha da franja do meu cabelo.

— Huhum. Tudo em mim... É natural Senhorita Kuchiki.

— Me chame apenas de Rukia, não precisa de tanta formalidade. – ela disse corando, e acrescentou. — Apesar de eu ter nascido no Japão, morei grande parte da minha vida na Suécia.

Pisquei os olhos me sentindo deslumbrado. Tudo naquela mulher era fascinante e perfeito. A forma como os lábios dela se moviam para formar as palavras e de como seus olhos grandes eram claros e brilhantes ao me olhar, as bochechas rosadas e o nariz pequeno. Eu só conseguia a admirar ainda mais.

— Somos parecidos. Também nasci aqui, mas desde os dez anos morei nos Estados Unidos, faz pouco tempo que voltei para o Japão a negócios.

 Negocio esse que estava prestes a falir, o que me lembrou do motivo de estar nesse momento num elevador quebrado.

— Ichigo? –meu nome sendo pronunciado por ela soava de uma forma diferente me fazendo derreter.

— Sim? – respondi.

— Obrigada! Se eu estivesse sozinha... Eu estaria em pânico e isso não faria bem ao meu bebê.

Sorri para ela.

— O que importa é que você e seu bebê estejam bem e seguros.

Ficamos nos olhando por alguns segundos prolongados e intensos, até ela desviar seus lindos olhos dos meus. Limpando a garganta cocei a nuca me sentindo repentinamente tímido.

— Ele vem te buscar?-perguntei como se estivesse perguntando sobre o clima.

Rukia me olhou, sem entender minha pergunta.

— Ele?

— O pai do bebê, ele está te esperando? —perguntei me sentindo incomodado por perguntar sobre o possível namorado.

Ela negou e sentou no chão do elevador.

—Ninguém vem me buscar, assim que eu terminar minha consulta eu vou pegar um táxi... Você está bastante curioso sobre mim, Ichigo.

— Talvez sim, talvez não. Tudo depende do ponto de vista, mas se quiser descobrir só basta me passar seu número de telefone. —Também sentei no chão. — Posso te ajudar te dando uma carona.

Rindo, ela estendeu a palma da mão para mim.

— Me empresta seu celular?

Tirando do bolso entreguei para ela que sorriu ao ver minha foto de bloqueio.

Sentindo minhas bochechas esquentarem eu tratei de explicar:

— Obra da minha irmã, ela queria um aniversario a fantasia então fui praticamente obrigado a vestir uma fantasia de morango.

Rukia riu e digitou.

— Prontinho. –ela disse e me entregou o aparelho. —É só mandar uma mensagem que eu salvo seu número.

A olhei incrédulo, ela tinha me dado o número de seu celular? Olhei nos contatos e estava lá, RUKIA, com todas as letras.

— É só um número de telefone, não fique tão surpreso. –ela disse e riu.

Sorri enormemente.

— Bom, agora tenho uma nova amiga em Karakura.

Ela me olhou atentamente, seus lábios se curvaram em um sorriso e aquele simples movimento era muito tentador para mim. Fazendo-me engolir em seco.

As luzes do elevador se normalizaram e me levantei a ajudando também a se levantar, peguei todas as sacolas das mãos delas.

— A carona ainda está de pé. —eu disse esperançoso.

Rukia sorriu e me olhou pensativa.

— Não quero te incomodar com meus problemas, ainda tenho uma consulta com minha obstetra.

Não pensei direito, só falei:

—Posso te acompanhar, não tenho nada para fazer.

O elevador abriu as portas e eu a acompanhei pelo corredor. Ela não disse nada apenas se apresentou na recepção. Eu não sabia o que estava fazendo, eu só queria continuar olhando para aquela mulher por todo tempo possível.

Sentamos nas cadeiras de espera e ao nosso lado um casal estava conversando baixinho e rindo olhando para uns papéis, a mulher exibia uma barriga protuberante sob o vestido.

Rukia me olhou sem graça.

— Sério você não precisa me acompanhar, posso fazer isso sozinha.

Neguei.

— Não é bom que fique sozinha, ainda mais depois do susto que passou no elevador. –ignorei o casal ao lado e suspirei. — De hoje em diante quando precisar vim ao hospital eu posso te acompanhar.

— Eu não entendo. Por que você faria isso se você mal me conhece? –perguntou confusa.

— Por quê? –parei para pensar.

Ela tinha razão, por que eu estava fazendo isso? Não era como se eu fosse o responsável por tê-la engravidado e muito menos pai do bebê, eu tinha acabado de conhecê-la, mas saber que ela estava sozinha e grávida e que o irresponsável do pai dessa criança tinha a abandonado me deixava com raiva.

— Por que sou médico e seu amigo. — foi o que eu consegui pensar em tão pouco tempo.

Ela soltou um ah! E riu.

— Vocês médicos têm um senso de responsabilidade estranho.

Apertei os lábios para conter o sorriso e cocei a nuca.

— Sou pediatra. –acrescentei.

Confirmando, Rukia desviou sua atenção para a porta quando seu nome foi chamado. Ela se levantou e eu fiz o mesmo.

— Têm certeza que quer entrar comigo?

Confirmei.

Entramos na sala, a médica obstetra pediu para sentarmos e deu inicio a consulta fazendo algumas perguntas para Rukia. Ela entregou uma receita e eu a peguei e analisei, fiz alguns questionamentos a respeito da alimentação e sobre a dosagem das vitaminas necessárias e a médica sorriu para mim.

— Não se preocupe, os últimos exames indicam que está tudo bem com a saúde da mãe. Está preparado papai para ouvir o coraçãozinho do seu filho? –me perguntou.

— E-ele na-nã... –apertei a mão de Rukia a interrompendo.

— Tudo bem. –falei.

Inspirei o ar e soltei me sentindo nervoso. Rukia me olhou com os seus olhos grandes surpresa.

— Você está tremendo Ichigo. Não está se sentindo bem?

— É normal os papais de primeira viagem se sentirem nervosos, logo ele se acalma. – a médica diz rindo da situação.

Rukia se levantou ainda me olhando preocupada e se deitou na maca levantando a blusa, a médica passou um gel sobre a barriga ainda plana da baixinha e em poucos minutos a sala foi preenchida por um barulho alto e forte.

Engoli em seco e desviei meus olhos de Rukia. Era um perigo para mim, ficar olhando para a parte exposta do corpo dela.

— É a primeira vez que escuto o coração do meu bebê. – Rukia diz com uma voz animada.

Meu coração batia rápido no peito e senti que eu estava bastante nervoso por que comecei a suar. A médica conectou outro aparelho e na tela marcou dois pequenos pontos e nos mostrou:

— Aqui veja, temos dois sacos gestacionais.

Arregalei os olhos ao ver que se tratava de uma gestação gemelar. Por impulso segurei na mão de Rukia que me olhou radiante e apesar de não sabermos quase nada um do outro estranhamente eu me senti confortável por estar ali com ela.


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