Felix sentou-se ao lado de Bang Chan, entregando-lhe uma latinha de refrigerante. Quando Bang Chan pegou a latinha, suas mãos se tocaram involuntariamente. Ele sorriu timidamente, mas Felix pareceu não dar importância. Na verdade, ele exibia uma expressão preocupada e distante.

— Não é nenhuma Coca-Cola mas serve — Felix abriu a latinha e deu um gole, fez careta, pois o líquido estava morno, mas o açúcar dava um certo ânimo. 

— Você está bem? — Perguntou Bang Chan. 

— Estou sim. Por que a pergunta? 

— Você está diferente. Depois que o Han chegou você parece um pouco tenso.

— Não gosto dele. 

— Do Han? Essa é a primeira vez que ouço isso. 

— Me fale sobre ele. Você o conhece há muito tempo? 

— Sim, na verdade eu conheci o Lee Know primeiro, nós fizemos faculdade na mesma universidade, apesar do curso diferente a gente sempre se esbarrava e acabamos nos tornando bons amigos desde então. Eu sempre fui na casa do Lino e por ele ser órfão meus pais até considerava ele e o irmão como filhos. Inclusive já até cuidei do Hyunjin, o irmão caçula dele, quando ele era mais novo. Lee Know conheceu o Han quando começou a trabalhar na JYP. Não nos afastamos como muitos fazem quando começam a namorar, pelo contrário, ganhei mais um amigo. Han sempre foi adorável, não existia uma pessoa em nosso ciclo social que não gostasse dele logo de cara. O único problema com ele era sua bondade e inocência, algumas pessoas se aproveitavam disso. Estou surpreso por você não gostar dele. Ele falou algo que não gostou? 

— Não — Felix olhou para Han abraçado a Lee Know, os dois não se desgrudavam desde que ele tinha chegado — Ele não disse nada mas… algo está me incomodando. Pra ser sincero ele me deixa inquieto, não sei bem o porquê, é como se eu tivesse medo dele. 

Chan conteve a risada, achando engraçado alguém sentir medo de Jisung devido à sua personalidade tão pacífica. Mesmo achando a situação cômica, ele não queria debochar dos sentimentos de Felix. Pela primeira vez, estava testemunhando um lado mais humano e verdadeiro em Felix, que costumava agir com sarcasmo e oportunismo.

— Talvez com o tempo se acostume com ele. 

— Mas você que o conhece a tanto tempo, não notou nada diferente? 

Chan observou Han, agora com uma expressão sonolenta no colo de Lee Know. Apesar de manter a aura meiga e inocente que caracterizava Han, algo nele parecia diferente.

— Pra ser sincero… sim. Ele está um pouco diferente, mas creio que seja trauma daquele lugar que ele ficou preso por quase um mês. Não deve ter sido fácil, ele ainda não conseguiu falar nada sobre lá ou sobre como conseguiu sair de lá… 

— Isso é o mais estranho. Mas como Lee Know não quer pressioná-lo, temos que esperar. 

— Por hora é melhor termos paciência — Chan se levantou — Vou pegar algo para comermos. 

Felix continuou fixando seu olhar em Han enquanto Chan saía. Han aparentava normalidade, com uma expressão serena, olhos fechados e um sorriso suave, como se estivesse desfrutando do calor e do abraço de seu noivo. "Deve ser coisa da minha cabeça", pensou Felix. No entanto, Han abriu os olhos subitamente e o encarou, como se tivesse captado seus pensamentos. Um sorriso surgiu nos lábios de Han, e Felix sentiu um arrepio percorrer sua espinha, como se alguém tivesse chegado furtivamente em sua nuca para soprar. Aquilo não era um sorriso humano.

…

Antes de prosseguirem com a viagem, realizaram uma reunião para acertar os detalhes do resgate dos irmãos. Lee Know deu um beijo carinhoso na testa de Han e dirigiu-se ao centro da roda, determinado a compartilhar suas ideias com todos.

— Amigos, sabemos que não será uma missão fácil e agradeço desde já a ajuda de todos, mesmo os que não tem obrigação em nos ajudar. Como sabem, Han é meu noivo e estávamos de casamento marcado antes de tudo acontecer. Ele foi levado para Cidade do Futuro junto com meu irmão Hyunjin. Como Han esteve lá, sabe como podemos entrar e concordou em nos levar. 

Han se aproximou do centro do círculo para falar. 

— Alguns ainda não me conhecem e entendo que não confiem muito em mim — Han olhou para Felix —, mas quero ajudar. Amo meu cunhado, ele ainda está lá e quero vê-lo em segurança ao nosso lado, assim como as irmãs do Changbin. Não é muito fácil relembrar tudo o que passei naquele lugar mas quero fazer isso pelo bem dos nossos. Não conheço as irmãs de Changbin então não sei se as vi, já que tem milhares de pessoas presas naquele lugar. Mas como já havia dito a meu noivo, vi Hyunjin lá, ele não me viu, mas está bem, está sendo cuidado por um andróide e até onde sei, temos tempo para resgatá-lo antes de fazerem a extração. 

— Extração? — Seungmin fechou o livro que estava lendo e sem querer demonstrou interesse na conversa de Han. 

— Sim, eles estão extraindo as memórias dos humanos e implantando em um corpo sintético idêntico ao do humano em questão. Estão construindo uma nova classe de humanos invulneráveis. 

— Isso é loucura — Seungmin se levantou — Tem noção do que está dizendo? 

— Sim, eu sei que parece surreal, mas eu estive lá. 

— Eles querem acabar com a raça humana.

— Não é esse o objetivo de Zero Um — Disse Han — Ele foi programado para tornar a raça humana perfeita. 

Felix se aproximou e encarou Han.

— Você fala como se fosse um deles. Parece até que está defendendo o que estão fazendo com nosso planeta. 

Han sorriu como um sommelier exigente, saboreando o melhor vinho já produzido. Não pareceu ofendido nem afetado com as palavras de Felix. Lee Know achou isso um pouco estranho, já que Han era uma pessoa sensível. Normalmente, ele ficaria triste quando confrontado ou criticado, mas agora parecia enxergar Felix como uma criança que não merecia seu tempo e atenção.

— Estou sendo franco. Não estou defendendo as máquinas e vi em primeira mão o que eles causaram com os humanos que estão à deriva num mar de violência em um mundo sem lei. Independentemente de minhas opiniões sobre o assunto, quero deixar claro os objetivos da I.A responsável por isso, precisamos conhecê-lo se queremos enfrentá-lo. 

Felix bufou irritado e voltou a se sentar em seu lugar. 

— Enfrentar Zero Um não deve ser nossa prioridade — Seungmin parecia interessado no assunto, de certa forma estava curioso sobre Zero Um, nunca antes havia enfrentado algo do tipo. Já tinha invadido diversos sistemas com alta segurança, mas Zero Um era algo que estava além de sua capacidade — Mas Han está certo, precisamos conhecer o inimigo. Vou fazer questão de deletar todos os dados desse tal 01. 

Han olhou Seungmin de canto e sorriu. 

— Interessante. Acha que pode ir contra Zero Um, Senhor Seungmin? 

— Preciso cultivar meus desejos antes de realizá-los, correto? Sou Minnie Mitnick o maior hacker que esse mundo já viu e vou fazer o possível para trazer nosso mundo de volta. 

— Gosto da sua determinação — Disse Han — Mas não se esqueça que não estamos lidando com os programinhas tolos que você burlava na solidão de seu quarto. Estamos falando de uma inteligência artificial, superior a tudo o que já enfrentamos. Não o subestime.