Fique escrita por Lari Teefey, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 2
Agridoce




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808411/chapter/2

Em um corredor branco de um consultório em Londres, Harry Potter lia um jornal. O Pasquim, jornal do pai de Luna, era o único que ele tinha paciência, embora repleto de informações aleatórias e curiosidades inúteis, mantinha o bom senso e o distraía.

Ele ouviu a porta abrir, e se aprumou, já que ele era o próximo na sala de espera. Mas quando virou o olhar na direção da porta, esperando ser chamado, ficou completamente surpreso de encontrar Draco Malfoy saindo de um consultório de uma terapeuta. Se ele não estivesse tão estupefato, teria se beliscado. Afinal, de todas as coisas que poderiam ocorrer, em qualquer situação, um Malfoy numa terapia seria a menos esperada.

Eles estavam próximos agora, de forma que ignorar a presença um do outro seria imaturo. Draco parecia tão surpreso quanto ele, mas rapidamente manteve a expressão neutra novamente.

— Potter. — ele cumprimentou, seco. Mas inacreditavelmente, sem toda a arrogância do Malfoy que ele conhecia tão bem.

— Malfoy. — ele devolveu, desconfiado. Deu uma olhada rápida de cima a baixo. — Fazendo terapia?

Imediatamente se arrependeu da pergunta. Além de ser absurdamente óbvio, sua voz falhou bem no final, fazendo-o se sentir pequeno e estúpido. A expressão de Draco mudou, e ele o olhou com raiva, apenas brevemente. Fez menção de abrir a boca, mas pensou melhor quando viu o jornal que Harry carregava.

Por um momento, que pareceu mais longo do que realmente foi, eles ficaram apenas se encarando, um de frente para o outro, na frente da porta da Dra. Limus. Quando o nome de Harry foi chamado, ele não se mexeu, mas Draco fez um minúsculo cumprimento com a cabeça e virou as costas, andando rápido demais em direção ao portal de aparatação.

Harry se sentou no sofá branco à frente da mulher, que tinha cabelos curtos loiros e um sorriso convidativo, muito parecido com o da senhora Weasley.

— Bem vindo a sua primeira sessão, Sr. Potter. Sou a Dra. Limus, como já deve saber e estou aqui para ajudá-lo. Prefere começar me contando o que anda acontecendo ou deseja que eu o ajude a dirigir a conversa?

Ele pensou, não sabia por onde começar. Eram tantas as coisas que haviam acontecido nos últimos meses, então escolheu a segunda opção.

— Por que não começa me contando como foi sua semana? O que aconteceu que te fez feliz e o que não te agradou?

— Pra ser sincero, — ele remexeu-se — não tenho feito muita coisa durante a semana. Na maior parte das vezes prefiro passear pelas ruas trouxas, e torcer para não ser reconhecido. Respondo as cartas dos meus amigos para confirmar que estou vivo e ignoro os pedidos do Ministério da Magia para ser seu Auror. De fato, não sei se tô pronto para enfrentar as pessoas novamente. A verdade é que me sinto exausto.

— Perfeitamente compreensível

Era a resposta que ele não esperava. Em geral as pessoas não entendiam como o Eleito não poderia estar menos que triunfante, principalmente depois da guerra. E então ele se deixou levar pela necessidade e contou tudo que o afligia nos últimos meses.

— As pessoas olhavam pra mim e viam o menino que sobreviveu, o primeiro que sobreviveu à maldição da morte e derrotou o lorde das trevas mesmo sendo um bebê. Depois começaram a me nomear como o Eleito, aquele que estava destinado, a mais uma vez derrotar as trevas. Por fim, termino aqui, como o garoto que matou Voldemort. E as pessoas me param na rua, felizes, saltitantes, me agradecem. Mas não me sinto um herói. A guerra acabou, derrotamos Voldemort e seus seguidores, mas a que preço?

E então ele contou sobre as perdas. Lupin, Tonks, Fred, Sirius, sua mãe e seu pai e todos que lutaram para que ele pudesse atingir o objetivo. A vitória era agridoce. Durante todos esses anos vivendo intensamente a ascensão de Voldemort, ele não tinha tido tempo de sentir o luto por nenhuma das perdas, senão por um breve momento de inércia, onde tudo passava como um vulto ao seu redor, mas ele não conseguia acompanhar. Ele não entendia porque só comemoravam, se haviam tantas perdas.

— Vivemos momentos de medo, Sr. Potter. É natural que aqueles de nós que mais perderam precisem de mais tempo até que possam finalmente sentir a felicidade.

— Também me afastei um pouco dos meus amigos. — ele confessou, envergonhado. — Não consigo explicar porquê fiz isso, sei que não vai ser pra sempre e que eles sempre estarão lá pra mim. Mas sinto que preciso ficar um tempo só, sobrevivendo ao luto, até que possa voltar a viver como uma pessoa normal.

— Sr. Potter, — ela o fitou com os redondos olhos verdes — receio dizer que o senhor não se verá livre do luto, não vai voltar a ser a pessoa que era antes, nunca mais. Ele se torna suportável, mas nunca desaparece. O luto e os traumas farão parte de você, viverá com eles.

Ele virou o olhar, evitando-a.

— Como posso fazer o luto ser suportável?

— Mantenha as pessoas que ama por perto. Se permita ser amparado, se sentir querido e cuidado. Com o tempo, geralmente melhora.

Três semanas se passaram após seu primeiro encontro com a terapia, Harry se sentia bem melhor. Os sentimentos não haviam passado completamente, mas ele conseguiu os contornar e agora estava rindo com Rony e Hermione no novo bar recentemente inaugurado na Nova Londres bruxa, onde ainda moravam muitos trouxas, mas que estava lentamente sendo populada através de uniões mestiças. Sentaram confortavelmente numa mesa mais escondida no canto, enquanto compartilhavam planos para o natal.

— Harry, tem certeza que não quer vir conosco? O sul da França é encantador! Eu já li um livro que sugere destinos incríveis para visitar e o que fazer para aproveitar.

Harry riu de como os olhos de Hermione brilhavam ao imaginar um natal com a família Weasley e os Delacour, agora que Fleur e Gui podiam finalmente aproveitar uma vida de casados em segurança. Mas ele ainda não se sentia bem o suficiente para uma viagem grande como essa, ao invés disso ele marcou com Neville para passarem a véspera no Divine Charm e brindarem.

Ela o encarou, ainda preocupada e nada convencida, Rony disse que ele ainda poderia mudar de ideia quando quisesse, ao que Harry o assegurou que estaria bem. Porém os dois foram distraídos por uma Hermione ofegante, olhando surpresa para algo atrás deles. Logo, os outros dois amigos também encararam perplexos Draco Malfoy servir uma mesa do outro lado do salão!

— Pelas barbas de Merlin! — Rony exclamou, cético. — Me diz que tô sonhando. Malfoy, um garçom?!

Harry ficou olhando Draco, sem realmente acreditar no que estava vendo. Ele com calça social preta e uniforme de trabalho, ainda não os tinha notado. Primeiro nas sessões de terapia, e então como garçom num bar? Era demais para processar. Não conseguia descrever o que estava sentindo sobre Malfoy recentemente, parecia outra pessoa completamente distinta. Sempre que se encontravam nos corredores brancos do consultório da Dra. Limus, eles trocavam pequenos cumprimentos não verbais e seguiam para caminhos opostos. Ele ainda não conseguia compreender o aumento de adrenalina que sentia quando o via, não sabia se eram reflexos de batalha, receio, desconfiança ou o quê, mas definitivamente estava curioso. Hermione interrompeu seus pensamentos.

— Isso é, se ele ainda gostar de ser chamado de Malfoy. — o tom de assombro na voz dela ativou uma sirene em Harry.

— O que quer dizer com isso?

Rony o olhou, exasperado.

— Onde esteve nos últimos meses, Harry? Nas cavernas nos confins do mundo, com certeza.

Diante da confusão de Harry, Hermione se aproximou, para sussurrar.

— Harry, foi noticiado em todos os jornais bruxos, exceto O Pasquim, imagino. Draco abdicou do nome e do dinheiro da família Malfoy. Ninguém ao certo sabe como chamá-lo agora.

— Impossível.

Seus amigos não pareciam estar fazendo uma piada ou brincadeira de mal gosto. Harry se virou para que pudesse olhar com clareza.

— Eu não sei quão seguro me sinto de ser servido por um comensal da morte. — Rony resmungou.

E Harry Potter percebeu que ele não era o único. Draco tinha vários olhares direcionados a ele, uns mais discretos que outros, porém ele conseguia ouvir os murmúrios. Se percebia, não parecia se importar. No entanto, algo não era o mesmo nele. A forma de andar não era mais tão confiante, agora ele parecia menor, como se quisesse se esconder. De tudo que poderia vir de um Malfoy, especialmente esse, isso era o que ele nunca esperaria.

Talvez tenha sido a sensação de queimação na nuca, Draco se virou exatamente para onde ele estava. Os olhos se cruzaram, os azuis se estreitaram e Harry sentiu um ardor preencher-lhe toda a face, mas ele quebrou o contato, como um covarde. Rony e Hermione fingiam folhear o cardápio para que não tivessem que encará-lo. Harry Potter sentia as batidas do seu coração como um tambor, refletindo por todo o seu corpo.

Por que Malfoy abriria mão do nome e de toda fortuna que a família fez de tudo para ter?

Nenhuma resposta que ele elaborasse era suficiente. Draco Malfoy não era confiável. Mas agora ele não era mais um Malfoy.

Quem era aquele novo Draco?

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fique" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.