Fique escrita por Lari Teefey, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 1
Luto


Notas iniciais do capítulo

Espero que goste! Ter tirado você no amigo secreto me surpreendeu e muito :D Dizem que escrever é um exercício, então descobri que sou uma autora sedentária. Em algum lugar do mundo ou realidade, ainda é dia 27.



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“Draco, eu sei que você consegue nos escutar. Sei que você está aí. Pare de nos ignorar ou vamos tomar medidas esdrúxulas! Não, agora sério, responda a gente! Você sabe que nos importamos e estaremos aqui.”

Ele deixou escapar um meio sorriso, ainda divido entre isso e a irritação de ter a voz estridente de Pansy Parkinson na sua secretaria mágica. Bem, poderia ter sido pior. Poderia ser Blaise, seu melhor amigo, que intercalava com Pansy para ver quem o deixaria louco mais rápido. Desde que eles conseguiram seu contato com Narcisa, deixaram de mandar cartas todos os dias, e se entregaram a uma nova tecnologia para tentar, sem sucesso, contatar o amigo.

Ele terminou de fazer sua gravata, do jeito trouxa mesmo. Antes de sair, ele encarou a pessoa apática no espelho; blusa social branca com o sobretudo e calça em tom de preto fosco. Era o seu clássico, a sua identidade. Isso ele ainda não tinha conseguido mudar, e não sabia se pretendia. Recentemente ele abandonou o cabelo perfeitamente alinhado por fios rebeldes, que ele cortou de qualquer jeito. Apesar disso, ele se rendeu às antigas tradições nesse dia em especial. Queria fazer tudo certo, suas oportunidades estavam se esgotando e ele precisava se manter, afinal de contas. Principalmente depois do que fez… encarou o jornal do Profeta Diário com nojo e desprezo. Já faziam quase dois meses e eles continuavam lucrando em cima do nome Malfoy. Mas é claro, o que seria dos Skeeter sem seus escândalos?

Um longo e profundo suspiro antes de dar o primeiro passo para fora de casa. As mãos esfregam uma à outra, nervosamente, fingindo tentar se aquecer. Ao tocar a maçaneta, ele hesitou. Pensamentos de diversos tipos, sempre pessimistas, invadiam a sua mente, e o maior deles era a vontade de simplesmente dar meia volta e ficar em casa pra sempre, esperando que todos o esquecessem.

Preciso fazer isso.

Dezembro tinha chegado em Londres, e com ele, o inverno e as chuvas. E aquele era um dia daqueles bem chuvosos, em que as pessoas apenas querem voltar para suas casas, quentes e confortáveis, o mais rápido possível. Ele agradeceu mentalmente por isso, assim ele não teria que se preocupar em parecer suspeito andando rápido demais quando todos os outros ao seu redor passeavam calmamente. Por fim, mais rápido do que ele pensou, o destino da sua viagem apareceu diante dele.

O mais novo bar do Beco Diagonal, chamado Divine Charm, tinha se provado um sucesso, desafiando até mesmo as expectativas de críticos. O número de clientes aumentou consideravelmente em razão do clima e das inovações criativas do seu novo dono. Ela foi construída com a inspiração de uma casa no meio da floresta, em tons amadeirados por todo o lado. A entrada era um mini caminho em curva, cercado por plantas. Por fora já dava pra notar a decoração natalina, com folhas de pinheiro e Viscos, misturados com bolas de decoração vermelhas e verdes. Por dentro havia uma extensão da vegetação no teto, mas a decoração tinha um ar mais moderno, com poltronas aveludadas na cor verde musgo de um lado e poltronas estilo lanchonetes norte-americanas do outro, o que dava um charme.

Todas essas observações foram feitas em questão de segundos, já que Draco não queria se demorar em nenhum lugar que tivesse o menor sinal de aglomeração, e entrar nesse ambiente era uma das coisas mais desafiadoras que ele estava fazendo. Na entrada, ele pediu para falar com o responsável pelas contratações. Os olhos da mulher se demoraram nele, claramente surpresa. Antes que pudesse desistir e voltar para casa como um covarde, um homem alto e magro, com um olhar bem amigável o cumprimentou e se apresentou como Emílio Podmore.

— Bem, — Podmore pigarreou, se sentando já em seu escritório, e sinalizou para que Draco se sentasse à sua frente — suponho que esteja aqui para se candidatar a alguma de nossas novas vagas.

— Sim. — ele limpou a garganta, usando toda a sua força para dizer a seguinte frase: — Quero me candidatar a vaga para auxiliar nas cozinhas.

Ele podia sentir o rosto esquentando, e agradeceu pelo homem não o estar olhando naquele momento. Ele folheava o seu currículo, mas quando levantou os olhos, o olhar amigável tinha sido substituído por um de… receio. Não dele, mas pela situação. Podmore mexeu as mãos, desconfortável, e descansou as folhas na mesa. E então o fitou.

— Sr. Mal… É.. Ahn… Sr. Como quer que queira ser chamado agora, o senhor tem um belo currículo, Hogwarts, notas excelentes, de fato. Eu devo admitir que tenho uma inclinação muito forte a segundas chances, ainda mais em tempos pós guerra. Mas devo ser honesto, todas as nossas outras vagas já foram preenchidas, exceto as de garçom. E para estas, alguém como o senhor poderia… veja bem, balançar os números. Sinto muito, verdadeiramente. No entanto, por hora receio não poder aceitá-lo. Não descarto, porém, negócios futuros, quando os ânimos de guerra já não estiverem altos.

Desesperado. Ele relutou até mesmo em pensar nessa palavra para descrever a si mesmo, mas em vão. O que mais poderia fazer? Essa era exatamente a décima segunda vaga que ele procurava em menos de dois meses. Diante do reconhecimento da derrota, seu corpo cedeu assim que chegou em casa, como se fosse uma gelatina se derretendo sem pressa, caída no sofá, sem vontade de se reerguer.

O som de passos o colocou completamente alerta, de pé, com a varinha já a mão, mas só então percebeu que desde que chegara, não tinha realmente reparado na casa. Sua mãe estava de pé, com uma péssima cara de preocupação que só ela sabia fazer bem.

— O que diabos você faz aqui, mãe? — o ardor do seu rosto ao confirmar que ela o vira chorando era mais humilhante que quinhentos “não” em entrevistas de emprego — Invadiu a minha casa!

— Não seja dramático, Draco. Vim ver como você estava. Não responde ninguém há dias, estamos preocupados…

— Preocupados? — ele urrou, desistindo de tentar manter qualquer aparência — Vocês deveriam ter se preocupado anos atrás, quando eu era uma criança! Quando me colocaram numa maldita missão de matar um bruxo como Dumbledore, quando me deixaram fazer a marca, quando fizeram a nossa casa de ponto de comensais da morte!

— Draco… — Narcisa hesitou, ressentida. — Draco, olha pra mim.

Ele não recuou quando ela lhe tocou o rosto com as duas mãos, forçando seus olhos na direção dela. Narcisa era excelente em esconder seus sentimentos, mas naquele momento, ela não estava se esforçando tanto. Ele conseguia ver seus olhos piscando excessivamente e a boca se contraindo, trêmula.

— Estou aqui, Draco. Estou aqui por você. Não vou pedir que volte, sei que está querendo viver sua vida, e respeito isso. Mas imploro que não esqueça aqueles que estão lá por você.

Draco sabia que era verdade. Sua mãe faria tudo por ele, não a toa colocou em risco a própria vida quando mentiu ao Lorde das Trevas, na batalha de Hogwarts. Era doloroso admitir para si que estava descontando nela toda sua frustração pessoal na qual estava inserido desde o fim da guerra, e o ressentimento com seu pai, que não o dirigia palavra ou carta desde que ele desistiu do nome e fortuna.

— Preciso ficar sozinho agora.

Ela o olhou com resignação, beijou sua testa e o abraçou, mesmo que ele não retribuísse ultimamente, ela sempre fazia a mesma coisa.

— Tivemos algum progresso essa semana?

A pergunta o despertou da confusão de pensamentos que era sua cabeça. Ele ponderou, tentando lembrar todas as vezes que tentou praticar o que haviam combinado. Estava novamente na sessão de terapia, que ele ainda não entendia como tinha tido a audácia de procurar. Talvez fosse carência, vontade de ter alguém pra conversar. Fazia pouco mais de um mês, e apesar da relutância, ele reconhecia a importância que estava tendo para a sua rotina. Não foi fácil. No primeiro dia ele permaneceu em silêncio durante toda a sessão, com o corpo enrijecido em defensiva, apenas encarando as paredes brancas, com somente algumas pinturas e umas plantas aleatórias espalhadas pelas bancadas e mesas. Não fossem elas, a sala iria mergulhar em um ambiente frio e imponente, exatamente como a sua antiga casa. A Dra. Limus apenas tentou o deixar confortável para falar quando se sentisse pronto, o que não aconteceu naquele dia. Ela deve ter achado que ele não voltaria, e até ele achou isso. Mas, na semana seguinte, ele retornou. Ainda não existia um diálogo ou confiança por parte dele, mas ela começou perguntando-o sobre sua semana, até desenterrar seu passado.

— Eu fui até o novo bar Divine Charm, procurar um emprego.

— Isso é muito bom — ela pareceu genuinamente feliz. — E como…

— Eu não consegui. — a resposta veio antecipada e seca. — De novo.

— Essa é a dura vida real, Draco. Não se preocupe, você irá falhar muitas vezes e cada uma delas será responsável por moldar o que você vai se tornar no futuro. Todos os nossos erros, as nossas escolhas, guiam quem somos. Até as pessoas que você ama ou já amou mudam você.

— Ultimamente eu tenho me sentido perdido. Como se o mundo estivesse contra mim e eu nunca mais conseguisse viver uma vida normal. Pensei que abdicar do nome Malfoy, e de tudo que vem junto, fosse fazer com que eu me sentisse melhor, ou, pelo menos, com que me aceitassem mais. Eu não poderia estar mais errado, como sempre. Agora estou sem nome, sem dinheiro, desempregado e sem perspectiva de futuro. Como se não fosse suficiente, tenho de lidar com os problemas que fiz quando era mais novo.

— Com os problemas que foi obrigado a fazer — ela o corrigiu, e só então ele percebeu que estava ofegante, como alguém que tivesse corrido uma maratona difícil. Ele não iria chorar ali, orgulho foi uma das poucas coisas que lhe restou. — Você foi uma criança condicionada a ser algo, obrigado a lidar com responsabilidades perigosas muito cedo. E agora está em luto pela pessoa que você já foi, pela vida e amigos que você mantinha. Você deve se permitir sentir.

— Sentir o quê?

— Tudo. Esse é o seu novo desafio. Enfrentar o seu novo eu, se permitindo sentir tudo que vier. Só assim você vai conseguir passar essa fase do jogo chamado vida.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Resolvi dividir a história em 3 partes, para não ficar muita informação num capítulo só. Para que vocês consigam acompanhar melhor.



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