Some More escrita por Deby Costa


Capítulo 3
Encontros, desencontros e reencontros.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite.
Pessoal! Como é difícil editar um capítulo quando não se alguém ajudando com a betagem. SOCORRO!
Espero que gostem.



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Assim que damos uma chance, uma lacuna se abre. Algumas emoções inconscientemente começam a acordar e crescer gradualmente.

(Frase retirada da série Boys Love, My Tooth Your Love)

 

Antes de continuar sua explicação, Yamato, capitão do Grupamento de Salvamento Florestal da Vila da Névoa, entregou a garrafa térmica e a mochila de Ino nas mãos dos pais da jovem:

— Fenômenos naturais como este são atípicos no início da primavera. Estou falando de algo que está além da minha compreensão.

Os objetos que haviam sido entregues ao casal de Alphas foram encontrados às margens da cachoeira da morte, como era conhecida a perigosa queda d'água localizada na região montanhosa da Vila Oculta da Pedra. Depois de analisar rastros de pneus de bicicleta próximo ao acesso que levava até a nascente do rio, Yamato concluiu que Ino, desaparecida há três semanas, havia caído no despenhadeiro.

— Sinto muito Inoichi e Aimi-san, mas é arriscado ordenar que meus homens continuem as buscas na divisa, considerando as atuais condições meteorológicas naquela região. — O oficial militar não via outra forma de dar aquela notícia aos dois.

A exemplo de Yamato, o capitão do grupamento de socorro e resgate florestal da Vila da Pedra, também havia encerrado suas buscas pela Alpha, há uma semana. Segundo o homem, que não teve igual sensibilidade durante a condução do resgate e também ao esclarecer seus motivos para cessar a procura pela jovem, se Ino tivesse sobrevivido à queda da cachoeira, dificilmente teria a vida poupada pelos lobos selvagens que habitavam aquela região.

Para os dois homens, enviar contingente para aquele trecho da divisa, com o nível do rio subindo diariamente como vinha acontecendo naquela semana, seria enviá-los para a morte.

— Como se trata de um evento climático fora de época, creio que o nível do rio baixe logo, assim, eu e meus homens conseguiremos avançar pela região de desnível e chegar às montanhas. Sei que meu colega da Vila Oculta da Pedra fará o mesmo. — O capitão tinha uma opinião muito particular sobre toda aquela situação. Para ele, se os deuses não queriam intervenção humana naquele resgate, então, eles deveriam aguardar até que os deuses a quisessem.

Kankuro e Shino, que deram suporte aos pais de Ino durante as buscas pela filha, compreendiam a decisão final dos militares, no entanto, também se solidarizavam com a dor e a angústia de Inoichi e Aimi-san, que só queriam que os oficiais não desistissem da busca por sua garotinha, custasse o que custasse.

Yamato deu um fio de esperança ao casal:

 — Se sua filha estiver viva, possivelmente ela está em terras Inuzukas.

— Terras Inuzukas?– Inoichi manifestou perplexidade diante da fala do capitão, no entanto, foi sua esposa que colocou em palavras o que passava pela mente deles.

— Mas, aquele clã é composto por selvagens!

Tanto Shino quanto Kankuro notaram a súbita mudança na postura e tom de voz de Yamato assim que o comentário deixou os lábios da mãe de Ino.

— Não acredite em tudo que a senhora escutou por aí sobre o clã Inuzuka. Devido a pensamentos como este, um clã que tem muito a contribuir com a nossa sociedade, segue vivendo isolado nas cordilheiras. Se a senhorita Yamanaka estiver com os shifters das montanhas, posso lhe assegurar que sua filha está em ótimas mãos.

— Shino… — Kankuro sussurrou no ouvido do Aburame e o chamou para que ambos fossem para fora da sala. — Eu não sinto que a loira tá morta como disse o cara do grupamento da Pedra. — O Sabaku disse chegando ao corredor. — Acho que o Beta lá dentro da sala pode ter razão.

O Aburame também achava, e este havia sido o motivo de seu interesse no clã Inuzuka, sobre o qual fez inúmeras pesquisas. Após esse minucioso estudo, ele entendia a empatia do capitão com aquele povo e suas razões para ficar tão ofendido após ouvir aquele comentário.

Devido a muitos erros históricos o clã Inuzuka ainda sofria com o preconceito enraizado na sociedade shifter, apenas por possuírem várias características físicas semelhantes a de animais, em especial dos cães, com quem os membros do clã mantinham uma forte ligação física e espiritual. Embora as novas gerações dos Inuzukas fizessem de tudo para retirar o estigma de clã selvagem que carregavam ao longo dos séculos, as pessoas nas regiões distantes das montanhas ainda não os viam com bons olhos.

— Assim que a intensidade da água que desce da cascata der uma trégua, seguiremos para aquela aldeia e tenho certeza que encontraremos Ino e a traremos de volta para casa.

— Sabia que você estava comigo nessa.

— Enquanto isso, pesquisarei mais sobre eles. Quem sabe eu descubro se há outro meio para chegarmos até a aldeia. — Shino pensou em voz alta.

Kankuro estendeu a mão para o Aburame, que a apertou, selando assim um pacto entre eles. Como Yamato havia dito, por ora, era arriscado avançar nas buscas enquanto a passagem que dava acesso à região montanhosa estivesse submersa. O jeito seria esperar.

 

*******

 

— É tão estranho. O nível da água não costuma subir a ponto de fechar a passagem, no início da primavera. 'Tamos fodidos. Inu vai aprontar das suas esse ano. — Kiba riu de modo escandaloso antes de se jogar diante da irmã, que o encarou zangada. — Desculpa…

O Ômega se ajeitou diante da chadubai onde a refeição já havia sido servida pela Inuzuka e reformulou toda a frase, afinal, Kiba estava se referindo a uma divindade:

— É estranho. O nível da água não costuma subir, a ponto de fechar a passagem, no início da primavera. Inu-Sama quer nos ensinar algo esse ano.

Hana olhou para o adolescente como quem diz: agora sim.        Ela sempre cobrava de Kiba boas maneiras, mesmo estando convicta de que eles viveriam para sempre na aldeia, onde o comportamento deselegante do rapaz não era um fator desagregador.  

— Itadakimasu!

Os irmãos agradeceram pelo alimento e Kiba olhou na direção do futon arrumado no chão do quarto que foi de sua saudosa mãe.

— É uma pena ela não fazer as refeições com a gente. — O Ômega sentiu pena da Alpha que continuava dormindo profundamente desde que eles a encontraram aos pés da cachoeira da morte. — Será que ela ainda continuará mortinha assim por muito tempo?

— Ela não está morta otouto! — Hana falou alto e Kiba olhou-a com estranheza. — Está apenas dormindo.

Desconcertada, Hana enfiou um pouco de arroz na boca e Kiba continuou analisando a irmã.

— Por que você age assim sempre que eu falo algo ruim em relação a ela?

— Porque as pessoas que estão no estado que ela está conseguem nos ouvir enquanto estão dormindo; por isso, precisam sempre ouvir coisas boas. A gente já conversou sobre isso. — Hana apontou o hashi para a tigela do irmão. — Seu arroz irá esfriar.

O Caçula bufou antes de começar a comer também.

— Como foi seu dia com as crianças?

 Nesse momento o Ômega sorriu largo. Estava adorando o trabalho que o líder do clã lhe incumbiu de realizar. Kiba começou a falar sobre como foi seu dia na escolinha da aldeia, onde ele ajudava os adultos a cuidar das crianças menorzinhas, enquanto seus pais trabalhavam na plantação de bastão-do-imperador.

— Hananee, nem te conto o que aquelas pestinhas aprontaram comigo hoje…

 

******

 

Hana terminou de limpar as costas da Alpha e passou o quimono por seus ombros, em seguida, com muito cuidado, deitou a moça novamente e ajeitou o obi em sua cintura. Quando percebeu, a Inuzuka já acariciava a face da jovem e também os cabelos que havia escovado há alguns minutos. Há sete semanas a garota seguia sem esboçar nenhuma reação.

— Eu queria ver seus olhos outra vez.

A Inuzuka viu-se surpreendida com o desejo que a inquietou por anos até aquele fim de tarde, quando encontrou sua menina dos olhos azuis aos pés da cachoeira da morte. Sem escolha, Hana deixou sua mente e coração levá-la numa viagem ao passado, enquanto ela acariciava os fios loiros da outra.

 

— O que podemos fazer para resolver isso, Tsunade-san? Não é uma opção morrer antes da minha filha entrar na universidade e se tornar uma grande veterinária, tampouco deixar um bebê Ômega sob os cuidados de terceiros. — Tsume colocou a mão no ombro de Hana e sorriu para ela.

— Tsume-san, eu já esperava essa atitude de sua parte. — A médica sorriu para sua mãe e continuou: — Vou começar explicando para vocês como funciona a quimioterapia.

— Okay, estamos ouvindo doutora!

Como Hana poderia esquecer o sorriso ou a força de sua mãe quando o carcinoma cruzou o destino delas pela primeira vez. Naquele dia, embora fosse apenas uma adolescente, ela tomou consciência de uma das características mais encantadoras dos Inuzukas. A resiliência. Tsume jamais se deixou abater diante das dificuldades que enfrentou ao longo dos anos que tratou a doença.  O dia que sua mãe recebeu o diagnóstico de câncer ficou registrado em sua memória não como um dia ruim, pois foi também naquele dia que teve algumas das suas mais importantes primeiras vezes. Ela foi a Konohagakure e conheceu o famoso templo de fogo, comeu hambúrguer e tomou sorvete de chocolate com banana, dentre tantas outras coisas que sua mãe fez questão de lhe apresentar. 

Aquele vinte e três de maio perdido em algum lugar do passado também foi o dia escolhido pelos deuses para a Alpha dos olhos azuis atravessar em seu caminho pela primeira vez.  Hana jamais esqueceria o desespero no rosto daquela menininha ao tentar tocá-la, muito menos o horror que viu nos olhos de seus pais quando os dois Alphas entenderam a ligação espiritual que unia as duas.

 

— Hananee?

Hana despertou do déjà-vu ao ouvir o chamado do irmão. Rapidamente ela se recompôs.

— O que foi otouto? — A mais velha cobriu a Alpha com uma manta para mantê-la aquecida. Mesmo estando na primavera, estavam passando por um período bastante úmido e chuvoso, tudo que não precisava era que a moça tivesse alguma complicação em seu quadro.

— Hm… — Kiba ergueu uma das sobrancelhas. O Ômega não compreendia o porquê da Alpha de aura encardida mexer tanto com Hana. Com nenhum dos seus pacientes, sendo eles gente ou cachorros, Hana tinha aquele comportamento ou zelo.

— Inuzuka Akita ‘tá chamando você.

— Cuide dela até eu voltar, não a deixe sozinha. Entendeu?

Cuidar dela… cuidar dela… Como se ela fosse a algum lugar. — Kiba reclamou baixinho.

— Kiba…

— Quer que eu converse com ela também? — Kiba debochou.

 Evitando discutir com o irmão, Hana vestiu seu casaco e chamou os trigêmeos para acompanhá-la até a casa da amiga. O Ômega achava que ela não soubesse que quando saía, ele enchia os ouvidos da Alpha com uma grande variedade das suas histórias.

— Não irei demorar.

Hana e os trigêmeos saíram porta afora.

 

********

 

— Meu pai está bem melhor! O elixir do bastão-do-imperador está começando a surtir efeito. — Akita sorriu ao perceber o alívio na respiração de Hana. — Eu não tinha dúvidas de que daria certo. É uma pena que aqueles turrões do centro de pesquisa não tenham lhe dado ouvidos.

Mais do que a jovem, Hana sabia disso.

— Eu pensei em desistir de tudo, mas não consigo. Não quando vejo como a fórmula age também em humanos.

— E o que você está pensando em fazer, sendo que nenhum laboratório de pesquisa quis lhe ouvir até agora?

— Irei seguir o conselho do capitão Yamato.

— Mas, Hana…

— Eu sei que é arriscado me filiar a alguma farmacêutica que produz medicamentos em massa apenas visando lucro e não o bem-estar das pessoas, no entanto, preciso da tecnologia utilizada por eles para avançar nas minhas pesquisas referentes a fórmula. Deve haver gente boa e honesta nesse ramo. Como disse o capitão. Quem sabe empresas pequenas, por exemplo. Eu tenho que tentar, Akita.

— Irei te apoiar em qualquer decisão que tomar.

— Obrigada, minha querida amiga.

 

******

 

— Inoichi segure-a com mais firmeza! Ino, volte aqui! Você viu aquelas marcas?

— Não temos com o que se preocupar Aimi. Elas devem estar somente de passagem pela Vila. Talvez nunca mais as vejamos.

— Tousan, me solte! Me solte!

A Yamanaka nunca soube o que a motivou a correr atrás daquela adolescente que passou por ela e seus pais enquanto os três passeavam pelo centro de Konoha, nem o porquê de ter sentido um ódio enorme de Inoichi e Aimi quando os dois a impediram de chegar perto da menina, quando ela sentia necessitar daquela proximidade a todo custo. O sentimento de tristeza quando eles a levaram para longe foi tão intenso, que nos dias que se seguiram ao episódio Ino teve febre e adoeceu.

Ino havia esquecido desse acontecimento e seus pais nunca colaboraram para que ela recordasse. Quando era criança às vezes ela sonhava com olhos negros, cabelos longos e castanhos, presas vermelhas… Com o avançar dos anos, a pressão do mundo adulto e o mergulho nos estudos, nunca mais sonhou com tais coisas. Enterrando de vez em sua mente aquela memória singular, até que seu inconsciente a fez emergir das profundezas de sua alma outra vez. 

 

Quando a Alpha abriu os olhos, sentiu um calor gostoso envolvendo seu corpo. Ao lado do futon onde estava deitada havia uma espécie de aquecedor caseiro com velas aromáticas e aos seus pés o cão de pelagem branca que a encontrou na cachoeira, dormia tranquilamente. A universitária ergueu-se devagar e retirou a manta que cobria seu corpo, notou-se vestida num confortável quimono de cor neutra e sentiu em seus cabelos um gostoso cheiro de lavanda.

A estudante esquadrinhou o cômodo e viu ser um quarto humilde, porém aconchegante. As paredes de madeira explicavam o conforto térmico que sentia, e no painel deslizante que funcionava como porta na entrada do cômodo, havia lindas pinturas de flores e uma caligrafia muito bem desenhada escrita:

— Okaasan. — Ino leu em voz alta e quase não reconheceu a própria voz, tamanha rouquidão.

Sua movimentação fez o cão acordar.

— Olá, amigão. — Sua voz quase não saiu de novo, ainda assim, ao vê-la acordada, o cão abanou o rabo. — Foi você que me encontrou. Obrigada. — O animal aproximou-se de seu rosto e lambeu suas bochechas. — Calma, garoto.

O cachorro latiu forte em resposta e a Alpha sentiu uma leve dor na cabeça. Ao tocar em sua testa, percebeu uma cicatriz no lugar que recordou haver um corte. — Quanto tempo eu dormi? Acho que você não tem condições de me dar essa resposta, não é? Onde estão seus donos? Você pode me levar até eles?

Animado, o cão se levantou e foi até um canto, onde Ino viu uma espécie de bengala. O cachorro pegou o objeto de madeira com a boca e o levou para ela. Como se pretendesse ajudá-la a se levantar, o animal se colocou numa posição estratégica e ajudou-a a sair do futon.

— Você é muito esperto, sabia? — Ino riu.

Ela se levantou com a ajuda do cão e da bengala e foi até a entrada do cômodo, pode perceber que a sala, tal como o cômodo em que estava, era pequena, mas igualmente bem decorada e aconchegante. Ao chegar no genkan, logo reconheceu os próprios sapatos, mas preferiu calçar outro mais confortável que estava à direita do seu e que lhe servia perfeitamente. Ao colocar os pés do lado de fora, tendo o cão no seu encalço, sentiu o impacto. A paisagem que a recepcionou era tão bela, quanto aparentava ser familiar. A sensação de tranquilidade e bem-estar tomou conta de todo seu ser.

Do lado de fora, havia um jardim oriental, e este com certeza tinha sido pensado para captar a essência da natureza. Havia uma ponte de bambu sobre um pequeno lago de carpas, em todo o canto, existiam arbustos, flores perfumadas e graminhas acercando um sinuoso caminho de pedras que levava a outras casinhas, igualmente graciosas. À direita da casa onde estava havia uma cerejeira florida com um balanço suspenso em um de seus galhos.

O choque foi tão grande que a Alpha se sentiu tonta, contudo, sem se dar conta, caminhou devagar em direção a árvore. Estando diante da cerejeira, Ino acariciou seu tronco como quem acaricia a face de uma velha amiga, em seguida, ela segurou em uma das cordas que mantinha o balanço preso a árvore e passou a empurrá-lo para frente e para trás.

A cicatriz em sua testa doeu novamente e, ao tocar o local que doía, flashes invadiram sua mente.

— Eu sonhei com esse lugar, com essas casas, essas flores, essa cerejeira, esse balanço…

A Yamanaka recordou. Na lembrança, havia uma linda moça, a mesma que invadia seus sonhos quando era criança. A moça estava sentada sobre aquele mesmo balanço, seus cabelos estavam soltos e havia uma flor atrás de sua orelha direita, Ino foi quem a pôs ali…

O cão branco latiu a seu lado e Ino se assustou, porém, não mais do que quando ouviu novamente o som daquela doce voz que invadiu seus ouvidos durante o acidente na cachoeira.

— Você está acordada?!

A Alpha se voltou para a mulher que falava às suas costas.

— É você! — Ino reconheceu a moça, todavia não apenas por ela salvar sua vida na cachoeira. Ela era também… — A mulher que esteve sempre em meus sonhos.


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Notas finais do capítulo

Amados, não aguentava mais ler esse capítulo na tentativa de edita-lo, então, caso encontrem muitos erros por aqui, me perdoem. rsrsrsrs
Sobre a cor dos olhos de Ino, no anime eles são azuis, mas no mangá são descritos como sendo verdes.
Espero que tenham gostado.
Bjs e até.



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