House of The Rising Sun escrita por Alexis Rodrigues


Capítulo 2
Culpa




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Um álbum de fotos antigas, a brisa gélida vinda do mar, o cheiro de café recém passado vindo da cozinha aliando-se ao aconchego do sofá da sala de estar inebriava-o com nostalgia que tanto lhe doía quanto o fazia sorrir.

Lembranças de um ensino médio que agora pareciam assustadoramente distantes, velhas como se décadas tivessem se passado e ele fosse apenas um velho arrependido no fim da vida. Quanto tempo havia se passado desde que partira? Pensar na forma como havia agido provocava em si um forte desejo de se estapear pela própria estupidez. ‘‘Que espécie de idiota vai embora sem se despedir?’’, franziu os lábios, ‘‘Devo ser o único que faz isso’’.

— Sabe, eu fico preocupado que você passe tanto tempo sozinho, perambulando por aí. Você sabe que pode voltar sempre que quiser, não sabe?

Thomas Curry encarava de forma encucada seu único filho conforme lhe entregava uma caneca com café recém passado e se sentava ao seu lado. Arthur deixou o álbum aberto sobre a mesa de centro e assoprou o café para arriscar alguns goles para aquecer a garganta.

— Sabe que não posso viver às suas custas – Arthur arqueou as sobrancelhas para ele, encarando-o.

— Não estou dizendo que irei te sustentar como uma criança, estou apenas sugerindo que volte para Amnesty Bay. Sempre há serviço e precisamos de gente para trabalhar. A maioria desses meninos está fazendo as malas antes mesmo de terminar o colegial. Há muitos aposentados para poucos jovens, precisamos de mão de obra nova.

— Não sei se quero voltar. Não sei se há lugar para mim nessa cidade.

— Arthur… – seu pai suspirou.

— Sabe o que quero dizer – tragou mais alguns goles de café quente. – Eu fiz merda. Com ela, com você e comigo mesmo. Como acha que ela vai reagir quando me ver? Ela vai querer me esganar e eu vou merecer.

— Só há uma forma de descobrir.

— Acha mesmo que ela vai querer ver um vagabundo zero à esquerda como eu? – riu, desesperado internamente. – Um idiota que foi embora com um único propósito, que nem ao menos teve a decência de alcançar.

— Filho, você precisa parar de se menosprezar. Nem tudo na vida dá certo – deu de ombros. – Não significa que precise desistir de viver sua vida. Faça algo que goste, qualquer que seja o trabalho. Não precisa ser um doutor ou um engravatado se não quiser. Sabe disso. Sabe que eu te amo independente do que escolher e estarei aqui por você.

O mais novo baixou a cabeça, sentindo os olhos começando a arder e a visão embaçar. Engolira a seco, recusando-se a chorar, e disfarçou o nó em sua garganta com alguns goles de café quente. Thomas percebera, é claro, mas nada dissera. Temia que mostrar apoio emocional fizesse com que o filho entrasse em uma negação ainda maior, em invés de se aceitar.

Arthur fechou o álbum de fotos sobre a mesa de centro, terminando de tomar o café quente e então se afastando do pai. Subindo até seu antigo quarto, surpreendeu-se ao perceber que ele continuava da mesma forma que fora deixado.

Os muitos pôsteres de bandas espalhados na parede, revistas de histórias em quadrinhos organizadas linearmente sobre a prateleira acima da mesa de estudos empoeirada, algumas histórias clássicas cujos livros estavam em suas versões surradas pelas muitas releituras. Uma guitarra em um suporte ao lado da cama. Ele encarou a prateleira por um bom tempo antes de apanhar sua cópia de Oliver Twist e a folheara de um extremo ao outro, até que o livro permanecesse aberto em uma página marcada por espaçamento.

Um envelope que começava a amarelar devido a ação do tempo. Um adesivo de flor parecia determinado a cumprir seu papel em manter o envelope fechado, mesmo depois de ter sido aberto anos antes. Cuidadosamente, Arthur descolou o adesivo para abrir o envelope, retirando deste uma carta cujas folhas estavam coladas para formar uma única, cuidadosamente dobrada em três partes. Ele a leu, e seu peito encheu-se de melancolia ao relembrar da pergunta feita por Olivia ao final daquela carta.

O baile de formatura. Quando pensava naquela noite, seu coração batia mais forte. Contrariando os maiores temores de Olivia, Arthur não apenas queria ir ao baile com ela, como também gostava, e muito, dela. Não um gostar qualquer, não apenas o gostar de amigos. A carta de Olivia tirara de sua consciência um peso que carregava silenciosamente, o de gostar dela romanticamente. Quais eram as chances de duas pessoas se gostarem da mesma forma? Não muitas pessoas tinham essa sorte. Ele acreditava que havia sido o caso de seus pais, mas tinha receio de perguntar e deixar seu pai triste com as memórias.

Ele se lembrava dos olhares incrédulos dos demais estudantes quando eles passaram pelos corredores da escola abraçados um ao outro, seu braço sobre o ombro dela enquanto ela se apoiava em sua cintura, ambos rindo das caras que os outros faziam. O sujeito mais mal encarado da Amnesty Bay High School, famoso por intimidar os demais com um mero olhar e ter a falsa fama de briguento, guitarrista da banda da escola, saindo com a ratazana de biblioteca que adorava estudar casos criminais e aspirava trabalhar com o pai na polícia, cantora profissional de chuveiro, e que acontecia de ser sua única real amiga desde sempre.

Eram tidos como os mais esquisitos da escola inteira.

Também acontecia de terem sido os mais felizes durante muito tempo.

Como geralmente acontece, devido a motivos peculiares da psique humana, quando espalhou-se na escola que Arthur e Olivia estariam juntos, ao que tudo indicava, romanticamente, ele começou a ser notado pelas demais garotas. Olivia não sofreu com essa simples inconveniência, mas com algo bem pior. Arthur soube, ouvindo cochichos de pessoas aleatórias, que havia uma aposta nada agradável sobre Olivia, o que os uniu mais ainda.

Mas a cada vez que ele ouvia cochichos a respeito de ambos, sentia que o nó em seu peito tornava-se maior e ainda mais emaranhado, sufocando-o lentamente. E se não fosse bom o suficiente para ela? E se o pai dela não aprovasse? E se quando ele fosse embora para iniciar seus estudos em uma faculdade, ela gostasse de outro e não o quisesse mais? E se ele começasse a gostar de outra pessoa? O nó emaranhava-se mais e sua mente perturbava-se com as possibilidades totalmente distintas que seus futuros poderiam ter.

Thomas Curry acompanhara o filho na cerimônia de formatura do ensino médio, assim como Olivia e seus pais, mas o sorriso no rosto de Arthur quando recebera seu diploma não era genuíno.

As gargalhadas, as piadas, as brincadeiras. Era tudo um disfarce, já que ele só conseguia pensar na possibilidade de as coisas darem errado. Pensava no fato de sua mãe não estar presente por ter sido sacrificada por um rei imbecil por sua causa. Mesmo com todo o apoio de Thomas, Arthur ainda sentia o vazio onde deveria estar o amor de sua mãe, ainda sentia a culpa o esmagando.

Olivia, sempre que percebia tal comportamento, tentava animá-lo para desfazer o nó e tentar apaziguar sua tristeza, mas nem sempre ela conseguia. Ele sabia que ela sabia do que se passava em sua cabeça, mas ficava grato por ela não ter dito nada no dia do baile.

Talvez ela já soubesse.

Talvez já suspeitasse do que viria a acontecer depois da formatura.

‘‘Não teria como dar certo’’, ele guardara a carta de volta em seu envelope e então no livro, que encaixara na prateleira. Sentou-se em sua antiga cama e suspirou. ‘‘O quanto será que ela me odeia por ser mais uma decepção em sua vida? Será que se lembra de mim? Provavelmente jogará um copo na minha cara quando me vir’’.

Mas, como era costumeiro da parte dela, Olivia o surpreendera quando ele adentrara o bar do Joe.

Ela pareceu tão assombrada em vê-lo quanto ele por vê-la. Estava tão linda quanto ele se lembrava, e agora lhe parecia mais baixa em comparação à própria altura. Os cabelos continuavam longos, e seu rosto ainda lhe parecia afável. Os olhos azuis como o céu delineados de preto e os lábios rosados de brilho labial com cheiro de cereja. Arthur sentiu que o coração pularia de sua boca a qualquer momento quando a viu e esforçou-se para parecer natural, mesmo quando ela rapidamente se afastara deles para ir a cozinha.

— Eu disse que não seria uma boa ideia – ele sussurrara ao pai.

— Calma. Ela não estava esperando por isso, estava? Tenha paciência, Arthur.

Paciência. Aquela palavra seu coração desconhecia.

Sentou-se ao bar e durante toda a noite bebericara cerveja com seu velho, eventualmente se esforçando para sorrir para não preocupar o pai. Ter passado a noite toda no bar também não ajudou em nada. Sabia que ela estava evitando seu olhar. É claro que estava evitando. Qualquer pessoa sã o evitaria. Quem gostaria de se sentar para beber a noite toda com um desempregado beberrão e briguento? Ele ainda se surpreendia com o fato de ainda ter o amor de seu pai.

O amor ou a pena, já não tinha certeza.

Ao irem embora, o olhar desconfortável dela. A forma como rapidamente acelerara para longe, na direção oposta a deles. Arthur sentiu-se grato pelo pai estar bêbado demais para perceber que ele estava com os olhos marejados enquanto observava, pelo retrovisor, Olivia partir com sua moto para a direção oposta na estrada.

Decidiu que não poderia continuar em Amnesty Bay.

Partiria assim que deixasse seu pai em segurança em casa. Ali não era lugar para um fracassado como ele, nunca seria. Todos estavam bem melhor sem ele e ele precisava encontrar algo para fazer da vida, bem longe dali. Ao chegarem no farol, levou seu pai para o quarto e o puxou o cobertor sobre ele. Mesmo bêbado, Thomas ainda arriscara alguns dizeres a ele.

— Não fique triste, filho, vai dar tudo certo. Espere e verá – balbuciou antes de se virar na cama e dormir.

‘‘Esperar? Pelo que? Não há nada para esperar aqui’’, ele engoliu a seco, fechando a porta do quarto ao sair. Deixara sobre o sofá o casaco e a camisa que o pai havia lhe emprestado e saiu.

Demorou-se algum tempo observando onde o farol apontava suas luzes no mar. Os ventos frios e a rápida movimentação das nuvens lhe diziam que choveria em algum tempo, mas já chovia em seus olhos. Sempre havia gente presa em tempestades no mar e logo ele teria trabalho a fazer, trabalho esse que não deveria ter reconhecimento. Seus pagamentos vinham em bebida ou em pratos de comida, e às vezes um teto sobre sua cabeça, mas não por muito tempo.

Logo ele correu em direção ao mar e pulou na água. Com tantas opções ao seu dispor, ele não sabia em qual direção deveria seguir, já que sempre haveria algo em qualquer uma delas. Decidiu nadar pela costa por mais algum tempo, despedindo-se de Amnesty Bay novamente.

Foi quando ouvira gritos. Gritos de desespero de alguém que deveria estar nas proximidades. Calculando a provável direção, ele avançou para o norte, seguindo o som. Até que, para seu desespero, eles cessaram. Arthur continuou nadando, ainda mais rápido. Não vendo nada na superfície, mergulhou, perguntando aos peixes de onde viriam os gritos, e foi conduzido até a dona da voz.

O sangue fugira de seu rosto quando se deparara com aquele corpo que afundava, bolhas de ar subido rápido demais para a superfície enquanto seus pulmões começavam a se encher.

Avançou rapidamente para apanhá-la e levá-la de volta à superfície, para terra firme. Deitou-a na relva e tentou massagem cardíaca, as mãos tremendo como as uma criança assustada. Tão logo tentara respiração boca a boca, a água começara a deixá-la, que tossia e ofegava, atordoada.

Havia socorrido Olivia na hora certa, mais um pouco e seria tarde demais. Ele caíra sentado sobre a relva, respirando aliviado. As mãos ainda tremiam, mas ao menos agora ela estava bem. Ela, depois de expulsar toda a água possível e ainda um pouco desorientada, apoiou-se sobre os cotovelos.

— Arthur? – seu cenho franzido denunciava a incredulidade. – O que está fazendo aqui?

— Isso não importa. Como foi parar lá em baixo? Alguém te empurrou? Alguém fez alguma coisa com você?

— Não – ela suspirou, sentando e então se levantando.

Cambaleou um pouco, o que o fez se levantar em um pulo a fim de segurá-la. Ela logo desvencilhou-se de seus braços e se afastou, caminhando em outra direção.

— Como foi parar no mar, Olivia? – ele a seguia. – O que aconteceu?

— Não tentei me matar, se é isso que tá pensando – respondeu irritada. – Tive uma ideia estúpida e me ferrei – e observou ao seu redor. – Caramba, onde diabos está a minha moto? Ah, droga, ela está muito longe! – estreitou o olhar para tentar enxergar algo.

— Podemos conversar?

— Estamos conversando – ela continuou andando.

— Sabe do que estou falando.

— Não é uma boa hora. Meu pai deve estar preocupado com a minha demora.

— Eu estou indo embora, Olivia.

Ela interrompeu seus passos e virou-se de súbito, encarando-o. Mesmo com a iluminação precária da estrada ele conseguia perceber sua expressão furiosa.

— Por quê? Por que está indo embora de novo?

— Não posso ficar aqui.

— Por que não pode, Arthur? Não voltou da faculdade? Não está de férias?

Ele soltara um longo suspiro. Estava encurralado e não teria como se esquivar daquele tópico.

— Eu não estou fazendo faculdade. Eu não terminei, nem cheguei ao doutorado que eu precisava. Enfim, isso não importa. Tenho que ir embora. Eu… Eu só voltei porque queria pedir desculpas.

O queixo de Olivia caíra, é claro, como ele imaginara. No momento seguinte, sua surpresa transformou-se em raiva mais uma vez. Ela correu até sua moto, vestindo a jaqueta que havia deixado sobre a relva e ligou a moto, acelerando até ele, pedindo para que subisse na garupa.

— Olivia, eu tenho que ir.

— Não queria conversar comigo? – encarou-o. – Nós vamos conversar – ofereceu-lhe o capacete.

Ele colocou o capacete, percebendo que não tinha muita escolha, sentindo-se pequeno na garupa da motocicleta. Ela acelerara violentamente, quase o derrubando, e a velocidade o obrigara a se segurar na cintura dela para não cair, o que fez com mãos trêmulas.

A vizinhança dela parecia a mesma de anos antes. Casas simples e escondidas atrás de árvores, algumas outras de dois andares, de onde alguns vizinhos mais curiosos espiavam a movimentação alheia. Ele sentiu alguns olhares sobre si de uma janela por onde passaram, o de uma velha conhecida, suposta rainha da fofoca que sabia da vida de todos e não perdia a oportunidade de causar problemas. Arthur e Olivia tiveram sérios problemas com ela no passado.

Os dois desceram da moto ao chegar em casa. Ela abriu o portão da pequena garagem que ficava ao lado da casa de dois andares para guardar a motocicleta e gesticulou para que ele entrasse. Acendeu a luz da garagem e pediu que ele esperasse, o que ele fez por bons quinze minutos. Ao retornar, o chamou até a área de serviço. Aparentemente, seu pai havia acabado de se retirar para dormir depois de ser tranquilizado por uma rápida explicação.

Ela então se encostara à máquina de lavar enquanto ele se sentara em uma cadeira dobrável oferecida por ela.

Um longo silêncio seguira entre eles antes que alguém se arriscasse a falar. Ele tentara iniciar a conversa, mas não sabia como. Olivia, abraçada a si mesma, com frio, encarava o chão, seus pés inquietos então descalços e ainda molhados enquanto ela puxava uma toalha sobre seus ombros.

— Por quê? – sua voz estava embargada enquanto ela mantinha o olhar fixo sobre o chão. – Por que foi embora daquele jeito? O que eu fiz para que você fosse embora sem se despedir?

— Não fez nada de errado – ele sentiu um nó se formar em sua garganta, ameaçando sufocá-lo. – Não fez nada de errado, nunca. Eu… – engoliu em seco. – Me peguei pensando nas coisas que haviam acontecido entre nós até o baile. Eu só… Eu não sabia o que fazer quando fui embora.

— Se você não queria nada, bastava ter falado – ela fungou.

— Não era isso… – cobriu o rosto com as mãos, prendendo a respiração por um momento antes de retomar a fala. – Eu me peguei pensando que talvez fosse atrapalhar a sua vida, que talvez eu fosse me tornar um peso pra você – ergueu os olhos para encará-la. – Não queria que ficasse presa a mim, não queria que se sentisse deixada para trás.

— Mas foi exatamente o que aconteceu! – ela subitamente arrebentou-se em choro, fazendo com que seu peito se apertasse em vê-la daquela forma. – Passei tanto tempo imaginando se iria ou não me pedir em namoro, se ia ou não querer apenas ser meu amigo…! Quando foi embora sem dizer nada, tudo que consegui imaginar era se eu havia feito algo errado! – cobriu o rosto com a toalha para que ele não visse suas lágrimas.

— Não, Olivia, não é isso! – tentou se explicar, sentindo as lágrimas verterem. – Eu estraguei tudo! Eu, entendeu? Você não fez nada de errado! Eu não queria ser um peso pra você igual eu era pro meu pai, entende? Minha mãe está morta por culpa minha! Eu não queria ser um problema pra você como eu sou pra ele! – tentou, grosseiramente, enxugar as lágrimas que caíam e lhe embaçavam a visão. – Droga! – irritou-se com as próprias lágrimas.

— Quem, em algum momento, disse que você era um problema?! – ela se aproximou, se ajoelhando à sua frente. – De onde você tirou isso, Arthur?!

— Meu pai ainda espera por ela todos os dias no cais – fitou-a. – Todos os dias pela manhã, porque ele prometeu que a esperaria, mas ela nunca retornou, e a culpa é minha! – baixou a cabeça.

— Não é verdade! Aquele rei é um cuzão, ponto! Se temos que culpar alguém, é ele! Você não é um problema, tá legal? Não fez nada de errado! Eu preciso que entenda isso. Não vá embora – afagou seu rosto, erguendo-o para que ele a encarasse. – Fique aqui, fique com a gente. Sentimos tanto a sua falta! – afastou as mechas queimadas do sol para o ver melhor.

— Eu deixei vocês no escuro por cinco anos – engoliu a seco. – Não concluí a faculdade, não tenho um trabalho. Como pode dizer que eu não fiz nada de errado?

— Merdas acontecem – Olivia tomou suas mãos entre as dela. – Por acaso parece que eu fiz faculdade ou que eu tenho o melhor trabalho do mundo? Isso não importa agora. Você está aqui, está em casa. Por favor, fique.

Arthur baixou a cabeça, entrelaçando suas mãos as dela e as beijando. Não sabia ao certo se o que estava sentindo era alívio ou total desespero. Cinco anos haviam se passado e ela ainda o tratava da mesma forma, a amável e espontânea Olivia de sempre. Como ela conseguia? Ele não sabia como encará-la, não se sentia digno da afeição dela.

Sentiu suas mãos se soltarem e o envolverem em um abraço. Ele não sabia o quanto sentira falta de seus braços até os sentir novamente. Era um garoto de novo, abraçado a Olivia na praia como se ela fosse a única ilhota no mar quando Vulko dissera a verdade sobre o estado de sua mãe. Quanto mais chorava, mais ela o abraçava. Chorou até que não tivesse mais nada a derramar. Era como se um peso tivesse sido tirado de si, e o aperto em seu peito desapareceu, tão rápida e intensamente quanto as lágrimas que verteram de seus olhos dourados.

— Está tudo bem agora. Você está em casa. Você está seguro, não está sozinho – secou suas lágrimas, beijando-lhe a fronte e levantando-se. – Venha. Vamos trocar essas roupas molhadas.

Pensou em perguntar o que o pai dela diria se o visse adentrando a casa dele seminu, mas, pela primeira vez em muito tempo, despreocupou-se com o controle da situação. Olivia parecia segura do que fazia, de qualquer forma, pegando algumas roupas que supostamente não cabiam mais em seu velho pai para que ele usasse para dormir, e o conduzindo pela escada até seu quarto.

A nostalgia o invadiu ao adentrar o quarto dela enquanto ela seguia para o banho. Tal como ele, ainda possuía pôsteres espalhados pelas paredes e muitos livros. Havia um mural ao lado de uma mesa de estudos, onde fotos e anotações se espalhavam em uma teia. Ela estava analisando algum caso criminal, de certo. Ele se perguntou, enquanto lia os dados espalhados, quem seria o serial killer. Imaginava se ela ainda se interessava em patologia forense e criminologia.

Depois de um bom banho quente, Arthur juntara-se a Olivia na pequena cama de solteiro, aconchegando-se em seu colo enquanto ela o abraçava. Passaram horas conversando sobre suas vidas, as coisas que haviam acontecido nos últimos cinco anos, e pela primeira vez em muito tempo, quando dormira naquela noite, ele tivera um sono leve, sem sonhos ou pesadelos.


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