Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 9
Capítulo 9




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Lizzy não pensou no decoro, ao se aproximar de Alexander. Ela simplesmente queria ir para casa. E ali estava ele, diante dela, acompanhado de uma dama que lhe era muito familiar. Suas vestes eram austeras e ela tinha optado por usar um vestido com gola alta, de cor marrom. Ela parecia tanto com alguém que Lizzy já tinha visto na vida. Na verdade, em um quadro.

— Senhor Alexander, bom dia – Lizzy cumprimentou, de forma educada.

Alexander parou de andar, de forma elegante. Seus olhos que pareciam prata líquida a fitaram com curiosidade. Ele não parecia abalado por vê-la ali.

— Senhorita Elizabeth, que prazer revê-la – ele disse cortes. Nem parecia o homem que ela viu no bar, há dois dias – Permita-me apresentar a senhorita Jane Austen – ele olhou para sua acompanhante, que tinha cabelos negros e pele pálida – Senhorita Austen, essa é a senhorita Elizabeth Bennet.

Lizzy ficou sem palavras, piscando algumas vezes. Não poderia ser. Mas, as semelhanças não desmentiam Alexander. Diante de si, estava a escritora de romances maravilhosos, que ficaram para posteridade.

— Senhorita Austen, é um prazer conhecê-la – Lizzy fez uma reverência curta e falou de todo seu coração. Afinal, aquela era uma das suas escritoras preferidas. E fez a faculdade de Literatura movida pelos livros que devorou da autora.

— É um prazer conhece-la, senhorita Bennet – ela respondeu, de forma polida.

Ela não sorria, mas não era mal educada. Era apenas tímida. E Lizzy queria fazer tantas perguntas a ela, mas seu olhar voltou para Alexander. Havia um assunto inacabado entre eles.

— Senhor Alexander, eu preciso muito falar com o senhor. Poderíamos conversar em particular? – ela pediu.

— É claro – ele respondeu, sem transparecer nada – Senhorita Austen. Eu volto em alguns minutos. Ainda precisamos discutir sobre seu livro.

— Sim, senhor. Eu esperarei aqui – Austen assentiu, ficando fora da trilha.

Lizzy seguiu com Alexander, para o outro lado do parque. Ela não sabia, mas de longe, Darcy observava tudo, com desconfiança. E tomou o caminho que ela fez para chegar a Alexander mas foi impedido por Bingley.

— Darcy, pare com isso. Por que não a deixa conversar em privado?- ele perguntou.

— Ora, eu não posso simplesmente deixa-la sozinha – Darcy respondeu, irritado.

— Então, mande à senhorita Lucia – Bingley sugeriu.

— Eu posso ir senhor. Cuidarei da senhorita Elizabeth – Lucia aceitou.

— Então, vá – Darcy disse, de forma ríspida, olhando para Lizzy e Alexander. Ele não sabia quem era o rapaz, mas estava desconfiado. Não conseguia entender o motivo para estar tão preocupado com ela. Talvez, fosse por ela parecer tão jovem quanto sua irmã. E por tê-la encontrado em situações adversas.

Lizzy, alheia as preocupações de Darcy, distante dele, estava saindo da trilha e seguindo por entre as árvores. Enquanto andava, ela inquiriu Alexander.

— Me diga, por que eu estou aqui? Por que você fez isso comigo?

— Calma, moça – ele pediu, com um sorriso afável – Uma pergunta de cada vez.

— Eu não vou ficar calma! – ela retrucou entredentes, gesticulando com as mãos, que estavam sem luvas. Ela nem ao menos saíra com chapéu. O que era diferente das damas que por ali passavam. Elas fitavam Lizzy com espanto e julgamento – Quero me leve de volta ao meu tempo!

Ele respirou profundamente, olhando para Lizzy. Ele parecia pensativo. Foi então que Lizzy percebeu que ele vestia roupas erradas para aquele século. Era uma roupa para o fim do século XIX.

— Sabia que você está trajando roupas erradas, não está? Um terno? – ela zombou, parnado de andar e cruzando os braços.

Ele sorriu. E seu sorriso esticou um pouco sua cicatriz no rosto. Ele tinha um ar imponente, alto e forte. Poderia colocar medo em qualquer cavalheiro daquele tempo.

— Eu tive problemas com as minhas roupas. Mas, isso vai ser resolvido. Você é minha última missão, antes de eu conseguir minha protegida – ele falou isso com entusiasmo.

— Protegida? – ela inquiriu. E começou a andar para mais perto das árvores.

Ele a acompanhou lado a lado, mas não ofereceu seu braço a ela.

Lucia estava se aproximando deles, mas não quis se fazer notada, então Lizzy, não percebeu que a criada estava próxima deles.

— Sim, protegida. Eu vou ter meu primeiro trabalho sério, depois de anos – ele comentou – Afinal, eu sou um APAM.

— O que é isso? – ela perguntou, confusa – Você parece mais com feiticeiro ou mago, que controla o tempo com um celular. Mas, nunca tinha ouvida falar em APAM.

Ele gargalhou.

— Não mesmo. Eu sou um tipo de fada madrinha. Mas, eu prefiro Assistente Pessoal para Assuntos Mágicos— Dessa vez, foi Lizzy quem riu – Ei, não ria, Lizzie. Eu sou a pessoa que pode lhe trazer seu final feliz.

— Tá bom, tá – Ela limpou a lágrima que escorria no canto dos seus olhos. Estava ofegante por rir – Então, meu assistente, meu final feliz é ir direto pra minha casa. Não ficar presa nesse maldito século! Alexander, não tem papel higiênico nesse lugar. Não tem eletricidade – Ele riu do desespero dela.

Eles nem perceberam, mas chegaram ao lago Serpentine. E pararam ali, contemplando o rio que corria, talvez, muito mais limpo do que no tempo de Lizzy.

— Eu sei muito bem como é. Um penico é uma questão bem difícil de aceitar, não é? – ele brincou.

— É isso, exatamente isso – Lizzy concordou – Por isso, quero ir para casa Alexander. Ou eu vou matar você!

Ele deu um passo para o lado, para longe dela. O olhar de Lizzy era feroz.

— Estou morrendo de medo – ele zombou, mas a uma distância segura – Mas, tente entender. Você só vai para casa quando cumprir sua missão. E você é uma cabeça oca. Está bem perto de cumpri-la, mas está deixando seu objetivo escapar por entre seus dedos.

— Eu sou uma cabeça oca? E você, Alexander? Um maluco com um poder inimaginável nas mãos, que age como se fosse Deus? – Dessa vez a voz dela estava elevada. E por sorte, ninguém estava por ali. Mas, Lucia, por entre as árvores, escutava tudo que os dois diziam, sem entender nada – Já parou para pensar que eu não quero estar aqui?

— Muito menos eu! – ele retrucou, parecendo cansado – Eu deveria estar na minha missão, mas você me dá muito trabalho. Por isso, estou aqui ainda. Preciso que você cumpra seu objetivo.

— E qual é meu objetivo? Me diga, por obsequio – ela falou, de forma irônica.

Ele arqueou a sobrancelha escura. Seus olhos prateados demonstravam toda sua impaciência com ela.

— Lizzie, já parou para pensar que seu objetivo seja uma pessoa? E que você tenha nascido do século errado, talvez?

Ela respirou fundo, sem entender. Mas, no seu inconsciente ela entendia. Não era por acaso que foi colocada bem ao lado da família Darcy. No momento certo, na hora certa. Mas, ela não poderia admitir isso. Não devia ser o que estava pensando.

— Não, não mesmo. Você está inventando –Ela se negava a acreditar que nascera no século errado – Eu tenho uma família do outro lado. Eu tenho a Jane para cuidar. Me leve de volta agora!

Ele soltou o ar que estava prendendo e massageou as têmporas. Tirou o chapéu estilo fedora da cabeça e andou de um lado a outro.

— Lizzie, seu destino é aqui. Você precisa entender isso. Enquanto não entender qual é seu objetivo, não vai poder voltar para casa. Eu sinto muito mesmo.

Ele parecia sincero, mas Lizzy estava cansada de falar com ele. Ela simplesmente avançou alguns passos, querendo aceita-lo com um soco, mas escutou passos sob o cascalho. Era Darcy, que vinha por entre as árvores. Ele fitou os dois com um olhar solene. E Lizzy, que estava com o punho preparado para aceitar Alexander, baixou a mão, com um olhar constrangido.

— Algum problema por aqui, senhorita Elizabeth? – ele perguntou, olhando para ela. Depois, fitou Alexander.

O rapaz parecia a vontade, mas tinha um olhar tenso.

— Nenhum, senhor Darcy – ela respondeu.

Alexander respirou com mais calma. Afinal, ele já havia levado um tiro para salvar Sofia e Ian. Não queria ser chamado para um duelo ao amanhecer. Ele poderia estar morte em questão de segundos.

— Tem certeza, senhorita? – ele insistiu na pergunta, como se não estivesse convencido. Lizzy piscou, de forma culpada. Ele se virou para Alexander, que estava tentando sair sem ser percebido – Quem é o senhor?

Mas que inferno!— Alexander praguejou baixinho – Eu sou Alexander Malcolm Mackenzie Fraser.

Lizzy se segurou para não rir. Aquele nome não poderia ser verdadeiro. Ela fitou Alexander, procurando uma resposta dele, mas o homem não a olhava. Parecia tão sério e respeitável. A não ser pelo terno que estava vestindo, que não condizia em nada com as calças de montaria e as botas que os cavalheiros vestiam naquele tempo.

— Senhor Fraser – Darcy disse, um pouco confuso pelo sobrenome de Alexander – Eu não tive o prazer de conhecer a família Fraser. De que parte da Inglaterra são, se me permite saber?

Alexander relaxou os músculos, parecendo aliviado pela pergunta simples.

— Somos da Escócia – ele respondeu, mas Lizzy praguejou. Escoceses não eram vistos com bons olhos e ela olhou para ele, tentando passar aquele pensamento. Ele se encolheu.

— Ah, sim – Darcy parecia não acreditar em uma palavra que Alexander disse – E o senhor tem alguma relação com a senhorita Elizabeth? Pareciam discutir algo de suma importância. Na verdade, pareciam exaltados. E saiba, senhor Fraser, ela está sob minha proteção. E não vou tolerar que o senhor faça mal a ela.

— Com certeza que não farei nenhum mal a senhorita Elizabeth – Alexander garantiu – Apenas estávamos discutindo questões...er...politicas.

— Questões políticas? – Darcy perguntou, descrente e olhou para Lizzy, que não transpareceu nada – Tem certeza? O senhor ainda não me disse qual é sua relação com a senhorita Elizabeth.

— Eu...- Alexander parecia não saber o que responder.

— Ele estava com...ele...estava com Jane Austen! – Lizzy disse, de forma estridente. Darcy virou para ela, confuso – É a senhorita Austen é uma conhecida minha. E o senhor Fraser estava a acompanhado no parque. Nós começamos a discutir sobre a situação da Escócia e fiquei um pouco exaltada.

Ela não queria dizer quem era Alexander. Seria um problema se ela falasse que ele era o culpado por ela estar ali. Darcy iria achar que Alexander era um perigo para Lizzy. E poderia fazer algo que fosse se arrepender depois. Por mais que ela quisesse acabar com Alexander por tê-la levado para aquele tempo, ela não queria que o sangue dele fosse derramado. Ele era seu único meio de voltar para casa.

Darcy estava tão confuso com a resposta, que não notou que Alexander estava se afastando. Ele disse:

— Eu preciso ir, senhor, senhorita. Estou vendo meu amigo, o senhor Potter, bem ali – ele indicou com a cabeça e colocou o chapéu sobre a cabeça – Até mais ver.

Lizzy mordeu os lábios, vendo ele andar em passadas largas, se afastando de Darcy e dela. Ela não podia acreditar que ele usou aquele nome. Nem que disse ver o senhor Potter. Com toda certeza, ele estava falando sobre coisas que somente ela conhecia, no seu século. E que ali, não faria a menor diferença para os habitantes do século XVIII. Alexander era um homem cômico. Se não fosse por ele tê-la transportado do seu tempo para outro, eles poderiam ser amigos.

— Mas, quem é ele, Elizabeth? – Darcy exigiu saber. E ele a chamou pelo primeiro nome, parecendo zangado.

— Não é ninguém – Lizzy respondeu.

E viu que Lucia saiu por de trás de uma árvore. Ela ficou preocupada.

— De...desculpe, senhor. Eu tentei cuidar da senhorita Elizabeth – a criada disse, com a voz tremula – Mas, ele não fez...mal a ela.

— Não? E se eu não tivesse chegado, sabe-se Deus o que teria acontecido – Darcy parecia fora de si.

Mas, com que direito? Eles nem ao menos eram parentes.

— Escuta aqui, Sr. Esquentadinho— ela apontou um dedo para ele. Darcy a fitou confuso – Dá pra parar de ser tão agressivo? Aquele senhor ali é uma pessoa que não me fez nada. E quer saber, vou atrás da Jane Austen.

Ela se afastou, andando a passos largos para bem longe de Darcy.

— Senhorita Elizabeth, espere – ele pediu, andando atrás dela.

*

A busca por Jane Austen fora infrutífera, inclusive, Lizzy não cruzou mais com Alexander. O que era um problema. Quando o encontraria novamente? Se Darcy não tivesse aparecido, ela poderia ter derrubado Alexander e roubado o celular e caído fora do maldito século XVIII. Mas, infelizmente, parecia que tudo estava contra ela. Ao menos ela deu um passeio de cavalo com o senhor Bingley, que fez questão de ajudá-la a tentar encontrar a senhorita Austen. A qual ele nunca tinha ouvido falar. A intenção de Lizzy, na verdade, era ficar o mais tempo possível no parque para não ter de voltar para residência dos Darcy e manter distância de um certo Darcy, que acompanhava tudo com olhos estreitos.

Lizzy ficou montado de lado, sobre o cavalo negro, enquanto Bingley a levava. Muitas pessoas cumprimentaram o jovem cavalheiro e perguntavam se ela era sua noiva. Ele dizia:

— É apenas minha querida amiga. Senhorita Elizabeth Bennet.

Todos estavam curiosos para saber quem era ela. E como ela conseguira a atenção do jovem senhor Bingley e do senhor Darcy. E Darcy estava de cabelos em pé, por ver como estavam chamando a atenção. Ao menos Lucia era acompanhante de Lizzy e não saia de perto deles.

— Podemos ir agora? – Darcy pediu, depois de uma hora de passeio – Eu tenho assuntos a tratar com meu advogado...as propriedades...Pemberley...

Lizzy fingiu não ouvir.

— É, está na hora mesmo – Bingley concordou – Eu poderia levar a senhorita Elizabeth em meu cavalo. O que acha, senhorita?

— Seria perfeito – Lizzy respondeu, mirando o rapaz ruivo e atencioso.

Ela estava adorando estar na companhia dele. Ele tinha senso de humor e eles nunca perdiam o assunto. Não era como Darcy, que a deixava desconfortável com seu silêncio. Parecia que ele somente abria a boca para reclamar dela. Ou para ordenar alguma coisa a ela.

— Não – Darcy discordou – A senhorita Elizabeth vai voltar comigo. Não quero lhe dar esse trabalho, Bingley. E seria escandaloso você leva-la sozinho. Ao menos comigo, ela tem a senhorita Lucia de acompanhante.

— Ah, é verdade. Uma pena, senhorita Elizabeth. Mas, vou passar para visita-la essa tarde. O que acha? – Bingley perguntou a Lizzy.

— Sim, por favor. Será um prazer revê-lo, senhor Bingley.

Depois que eles se despediram, ela pode ver Bingley se afastar com seu cavalo negro, em um trote rápido e preciso. Ela gostava de cavalos e para sua sorte, ao menos quando criança e adolescente, montara em cavalos, devido ao seu pai, que gostava de esportes equestres.

Ela seguiu a frente de Darcy, sem prestar a atenção em quanto isso o deixaria aborrecido. Lucia seguiu ao lado dela e deu um olhar pesaroso ao patrão, mas Darcy apenas fitava os cabelos negros de Lizzy, trançados com tanta graça. Aquela dama estava o tirando do sério. Deveria estar cuidando dos seus negócios, mas ele estava a perseguindo como um cachorrinho.

— A senhorita parecia muito feliz ao lado do senhor Bingley – ele comentou, alcançando as duas mulheres, enquanto faziam o caminho de volta a residência dos Darcy.

— Eu adorei estar na companhia dele – ela comentou, sem malicia alguma – Ele é tão gentil e divertido.

— Ah, sim. Todas as damas o apreciam – ele comentou, sincero, mas irritado ao mesmo tempo. Por que seu amigo era tão apreciado por ela? O que ele tinha de tão especial? Mas, seria pensar pouco de Bingley. Ele era tudo que Darcy não era. Ele era jovial, carismático e nunca lhe faltava um assunto. Ele falava muito mais do que Darcy. E as vezes, Darcy ficava em silêncio apenas escutando o amigo tagarelar sem pausa. Na verdade, Bingley era ótimo para sua solidão. Mesmo que ele não gostasse de admitir.

— E já vejo o porquê. A mulher que se casar com ele será afortunada – ela disse – Não concorda, Lucia?

— Sim, senhorita – Lucia respondeu, com a voz fraca, surpresa por ser incluída na conversa.

— E a senhorita gostaria de se casar com ele, senhorita Elizabeth? – Darcy perguntou, em tom presunçoso.

— Eu? Jamais. Ele já tem seu par, eu tenho certeza – ela negou, veemente. O que o deixou surpreendido. Como ela poderia saber que Bingley tinha um par?

— Como pode saber tanto sobre Bingley, senhorita?

— Ora, pois eu ouvi no jantar que ele tinha uma preferida entre as Bennet, de Hertfordshire. Era senhorita Jane, se não estou enganada.

A resposta dela o satisfez. Realmente, eles comentaram sobre Jane Bennet na mesa do jantar, na noite anterior.

— De fato, ele apreciava muito a senhorita Bennet. Mas, infelizmente, ela não lhe tinha qualquer afeição – ele comentou, sem se dar conta.

Estavam já na calçada e já haviam passados os portões de Hyde Park.

— O senhor deveria ter deixado que seu amigo decidisse o que fazer, senhor Darcy – ela disse de forma severa, como se estivesse brigando com ele. E como ela sabia que ele havia aconselhado seu amigo a desistir de Jane?

— Como a senhorita sabe desse assunto, senhorita Elizabeth? Bingley disse algo sobre isso?

Ele estava mortificado somente de pensar na possibilidade.

— O senhor Bingley não disse, mas Caroline Bingley sim – Lizzy respondeu – E acredito que vocês tenham estragado tudo para Bingley. Ele não merecia isso.

— Ora, mas a senhorita não conhece os Bennet. Nunca conviveu com nenhum deles. Não sabe quem é a senhorita Jane, nem se ela o amava ou não – Darcy estava ficando irritado com a intromissão dela naquele assunto particular.

— Acredito que nenhum de nós saiba, senhor. Quem deveria saber é Bingley. E ele não deveria se deixar influenciar por ninguém – ela rebateu.

O silêncio predominou o ambiente. Darcy ficou desconfortável, enquanto andava com Lizzy na rua. Alguns conhecidos os cumprimentaram, até mesmo o filho do senhor Harris. Ele parou apenas para conversar, mas não parava de dar suas atenções a Lizzy, como se fossem conhecidos. E ela sorria, encantadoramente. Na verdade, não havia ninguém que não recebesse aquele sorriso. E Darcy começou a se perguntar quando ele receberia um de novo, pois ela sempre que o encarava, era de forma séria e altiva. Até no café da manhã, ela estava mais cordial com ele. O que ele havia feito de errado?

Depois que Lizzy ficou em casa, Darcy saiu para resolver assuntos da sua propriedade e seus rendimentos com o advogado. Lizzy encontrou Georgiana, que estava vestida e pronta para o dia. Naquela tarde, elas ficaram juntas e receberam visitas. Era a senhora Dashwood com as suas filhas Marianne e Elinor Dashwood. Elas eram educadas e amáveis. Marianne era mais efusiva e conversou com Lizzy como se já fossem amigas. Já Elinor, demonstrava ter um temperamento tranquilo e racional. Lizzy não estava acreditando que elas tinham os mesmos nomes dos personagens do livro de Jane Austen. Ela tentou não pensar muito no assunto e acreditou que os nomes deveriam ser comuns para a época.

As visitantes se despediram perto da hora do chá. E Lizzy se lembrou de que queria que Georgiana tocasse uma música para ela, no piano. E elas foram para sala de música, que não era tão grande, mas espaçosa para um piano de parede. Lizzy cantarolou a música e Georgiana tentou reproduzir o som no piano. Demorou um pouco, mas Lizzy conseguiu cantar junto, enquanto ela tocava.

Underneath the bridge. Tarp has sprung a leak and the animals I've trapped... Have all become my pets and I'm living off of grass. And the drippings from my ceiling. It's okay to eat fish. Cause they don't have any feelings...Something in the way...Yeah! Humm-mmm...Something in the way, yeah! Hummm-mmm...

Ela cantava de forma improvisada, mas com o piano sua voz se elevou. Lizzy gostava de música. Não era profissional, mas apreciava de todo seu coração. E agora sabia a melodia que Alexander cantava no dia anterior, quando o viu passar na rua. Era Something in The Way, do Nirvana. Realmente, Alexander não era um cavalheiro daquele tempo, mas alguém como ela. Como ele tinha tanto poder nas mãos? E por que ela estava ali? Qual era seu objetivo? Se cumprisse o que ele disse, ele a deixaria voltar? Poderia confiar nele? Ela fazia-se aquelas perguntas e não sabia a resposta para nada.

— Essa música é triste, mas muito bonita – Georgiana comentou, quando parou de tocar.

Elas não sabiam, mas estavam sendo observadas por Darcy, que estava na soleira da porta, enquanto que elas estavam de costas para ele.

— É, realmente triste – Lizzy concordou, de pé, ao lado de Georgiana, olhando para a varanda aberta – Uma música sobre alguém morando de baixo de uma ponte, sobrevivendo...

— Nossa, que tristeza, Elizabeth. Não consigo imaginar uma situação dessas. É de partir o coração.

— Então, Georgiana, você tem um bom coração, pois quase ninguém se preocupa com moradores de rua – Lizzy constatou orgulhosa de jovem.

— Darcy, meu querido irmão sempre pensa em ajudar quem não tem muito, Elizabeth. Ele me disse que muitas pessoas passam necessidade no mundo. Se eu pudesse ajudar todas, eu ajudaria.

Darcy queria se fazer presente, pois estava ali ouvindo uma conversa que não lhe dizia respeito. Mas, estava gostando de ouvir sua irmã interagir. Georgiana normalmente era tímida e depois do que aconteceu com ela há dois anos, ela se tornou fechada e reclusa. Parecia que Lizzy tirava o melhor dos outros e Darcy estava surpreso por constatar isso. Ele estava gostando da presença dela naquela casa.

— Senhoritas, boa tarde! – ele se fez presente, sentindo que já era o momento certo para adentrar na sala.

Elas se viraram surpresas. Lizzy estava corada.

— Uma voz encantadora a sua, senhorita – ele elogiou.

— Eu agradeço, senhor – ela disse, fitando os pés, parecendo constrangida e na visão dele, adorável – Mas, foi Georgiana que tornou tudo isso especial.

— Eu não... Foi você, Elizabeth. Com sua voz doce e melodiosa – Georgiana fizera questão de ressaltar as qualidades de Lizzy.

— Ora essa. Podem parar com isso – Lizzy pediu, ainda mais envergonhada.

— Devemos elogia-la, irmão – Georgiana disse, com uma voz alegre.

— Ah, eu devo concordar com você, Georgie – Darcy disse, com um sorriso genuíno, gostando de ver Lizzy sem graça.

— Ora, vocês dois...eu vou para meu quarto – ela ameaçou, mas acabou rindo.

— Não vá ainda. Quero ouvi-la cantar mais uma vez – Georgiana pediu.

— Não...eu não consigo fazer isso...- Lizzy parecia mortificada.

— Por favor. Irmão, precisamos força-la a isso – Georgiana procurou a ajuda de Darcy.

— Vamos, senhorita. Não seja tímida – ele incentivou.

Lizzy deu um suspirando desalentado.

— Muito bem, então irei cantar outra. Mas, eu só sei musicas que você não conhece, Georgiana.

— Não tem problema. Eu aprendo rápido.

Então, Lizzy cantarolou mais uma música do seu tempo para Georgiana, que reproduziu no piano, com facilidade. Era incrível como a jovem era boa musicista. Era uma música de Elton John, Your Song. Era uma música que sempre escutava com seu pai, quando viajavam para velejar. Como sentia falta dele. Sentia falta de Jane. Lágrimas escorreram de seus olhos e assim que a música encerrou, não ficou para ouvir os elogios dos irmãos Darcy. Ela pediu licença, pois seu coração estava transbordando de sentimentos conflitantes. Seguiu direto para seu quarto e ali deixou que seu mundo desmoronando. Fazia tanto anos que não chorava que não esperava que fosse ali.

Não sabia por quanto tempo ficou no quarto, sentada sobre a cama de dossel, tendo como companhia seu amigo Boris, que suspirava em seu colo. Alguém bateu na porta e Lizzy limpou os olhos com as costas da mão e autorizou a entrada de quem quer que fosse.

— Oi, Elizabeth – Georgiana disse, preocupada – Você está bem?

— Eu...estou sim, querida – ela disse – Só um pouco cansada.

— A senhorita quer conversar? – ela perguntou receosa.

— Não, prefiro não conversar por hoje, Georgiana. Por favor, não fique chateada.

— Tudo bem. Darcy também é assim. Ele nunca me conta o que se passa na mente dele – Georgiana parecia ter desabafado – Mas, gostaria de se unir a nós? Darcy queria ver você o senhor Bingley está aqui. Ele vai jantar conosco essa noite.

— Ele está aqui? – Lizzy perguntou surpresa. Afinal, achou que ele não viria mais – E a senhorita Caroline?

Lizzy ficava irritada somente de pensar em ver aquela ruiva em sua frente. Como ela poderia ser tão diferente do seu irmão, que era gentil e amável?

— Não, ela não vem – Georgiana respondeu, parecendo aliviada – Então, vamos?

— Sim, acho que preciso de uma distração – Lizzy concordou.

A noite fora tranquila na presença dos irmãos Darcy e na de Bingley. Lizzy e ele conversaram longamente. Até mesmo depois do jantar, tomaram vinho do porto, lado a lado, em uma saleta, discutindo sobre politica e até mesmo jogaram xadrez juntos. Darcy observava tudo de canto e apenas respondia a aquilo que perguntavam. Mas, ele parecia tão quieto, que Lizzy pensou que deveria estar incomodando com sua presença. E que talvez, Darcy gostaria de ficar a sós com seu amigo.

— A noite está agradável, mas sinto que devo me retirar. Estou cansada – ela falou a Bingley e a Darcy, que eram os únicos da sala de estar.

— Mas, já vai, senhorita Elizabeth? Sua companhia é revigorante. E esta me devendo uma revanche no xadrez – Bingley brincou.

— E terá uma próxima vez, senhor. Mas, estou um pouco cansada, mesmo – Bingley assentiu.

Quando ela ficou de pé, ele fez o mesmo, assim como Darcy. Bingley puxou a mão dela, depositando um beijo em seu dorso e desejou a ela boa noite. Ela também e saiu do cômodo, feliz por ter encontrado um amigo. Uma pena que Darcy não era nem um pouco receptivo, mas Lizzy não se incomodava com isso, afinal, devia ser da natureza dele ser quieto.

Ela subiu as escadas, para os quartos, quando Darcy a chamou. Ele parecia preocupado.

— A senhorita esta bem?

— Sim, estou – ela lhe assegurou, parando ao lado do corrimão.

— Vi a senhorita chorar, depois que cantou para mim e Georgiana. Eu me preocupei com isso. Está tudo bem mesmo? Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou.

— Está sim. Asseguro-lhe que tudo está bem – ela insistiu, pois não queria abrir seu coração a ninguém. Sempre fora sozinha e poderia lidar com isso. Nem sua irmã sabia o quanto ela sofria em silencio. Mas, fazia parte da vida e de ser uma pessoa adulta.

— Eu espero poder ajuda-la, se for necessário. Tem minha amizade.

— O senhor é gentil, senhor Darcy. E agradeço muito.

Eles ficaram em silêncio, depois daquela conversa, que relevou tudo, mas não relevou nada ao mesmo tempo, pois nenhum dos dois falava sobre o que lhe ia ao intimo. Ela foi a primeira a quebrar o silêncio e lhe deu boa noite. Foi para seu quarto, ainda pensando em Darcy e o quanto ele parecia ser contraditório. Ao mesmo tempo em que se preocupava com ela, ele se fechava para o mundo. Ela não o entendia totalmente, mas resolveu que não teria tempo para isso, afinal, seu lugar não era naquele século. 


 


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Notas finais do capítulo

Gente eu optei pela música do Nirvana, não por causa do Batman, mas a Carina Rissi menciona que Alexander canta ela no último livro que ela lançou na saga perdida, e isso foi antes do Batman ser lançado. Então, estou apenas pegando essa referência emprestada do livro da Carina Rissi. E Elton John foi mencionado pois eu amo demais as músicas deles e são perfeitas para o piano.
Enfim, espero que tenham gostado. Vou continuar postando de forma frenetica por aqui hehehehe



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