Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 37
Capítulo 37




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À volta para Pemberley fora tranquila. E Lizzy acabou adormecendo nos braços de Darcy. Nem ao menos se incomodou com a posição torta que estava, ao lado dele. Apenas se agarrou a ele, com medo de que em algum momento, ele desaparecesse e tudo não passasse de um sonho. O que Lizzy não sabia, era que Darcy a segurava com a mesma intensidade, sem ter pregado os olhos durante a viagem. Mesmo exausto, ele a embalou em seus braços, mal acreditando na própria sorte que tinha. Ela ter surgido misteriosamente em sua vida, novamente, era algo curioso, confuso, mas ele não perderia a chance de retê-la consigo. Lutaria com forças invisíveis, se fosse necessário, apenas para mantê-la ao seu lado.

— Eu amo você – ele sussurrou, com lábios na testa dela, acariciando suas costas.

Só o que pode ouvir foram os resmungos dela. E ela o abraçou mais forte pela cintura, com a cabeça apoiada em seu peito. A vida era realmente boa. E Darcy poderia ficar assim com ela, para sempre. Mas, infelizmente, a vida o chamava para responsabilidade. Teria que lidar com um casamento, cuidar da sua irmã e também, algo que ainda lhe causava medo, não por não querer tomar aquela atitude, mas temia perguntar a Lizzy se ela realmente queria ainda se casar com ele. Aquela dama não era comum, mas destemida e ele temia não ser o suficiente para ela. Temia que ela o rechaçasse. Iria adiar o pedido, por algum tempo. Não poderia esperar muito, pois a reputação dela poderia ficar comprometida, mas daria um tempo para ela se adaptar a sua nova realidade. Se ela viera mesmo de outro tempo, de outro lugar, com outros costumes, ele deveria respeita-la. E faria o possível para ser paciente, mesmo não compreendendo os pensamentos dela e sua forma desinibida de pensar e agir.

Se fosse em outros tempos, Darcy nunca teria escolhido ela como sua esposa. Ele era apegado às convenções, além de desejar manter controle sobre tudo e todos ao seu redor.  E Lizzy nunca agia conforme o que ele desejava. Ela fazia o que bem queria e até mesmo trabalhou, algo que uma dama não faria na situação dela. Foi justamente por isso que ele se apaixonou. Ela era um contraste das damas da alta sociedade, até mesmo dos círculos mais baixos. Uma mulher ter de trabalhar era uma lastima, sendo mal visto e somente uma atitude das classes baixas, que dependiam da própria força de trabalho para se sustentar. Darcy fazia alguma ideia do que eram as diferenças de classes e compreendia que a fortuna e status eram para poucos, por isso, sempre tentou ajudar aqueles que não tinham muito. E se a pessoa se mostrava capaz no trabalho, ele empregava em uma de suas propriedades espalhadas pela Inglaterra.  Mas, percebeu isso mais profundamente, mais sobre as diferenças sociais, vendo como Lizzy tentou se sustentar sozinha, sendo uma governanta. Quando ele a conheceu, acreditou que ela fosse uma dama que apenas estava desorientada e perdida. Por isso, achou estranho o comportamento dela, desde o principio. E agora sabia os motivos para ela ser tão diferente. Ela não era daquele tempo. Ela era especial e diferente. E Darcy se sentia sortudo e abençoado por ela o ter escolhido. Não faria com que ela se arrependesse da decisão tomada.

Lizzy acordou logo depois, sendo despertada por um beijo em seus lábios. Abriu os olhos, se deparando com um mar azul. Os olhos de Darcy eram tão deslumbrantes, que ela sempre ficava admirada pela beleza que ele emanava.

— Chegamos – ele sussurrou, acariciando sua bochecha – Devemos entrar agora, mas não estou inclinado a deixa-la essa noite.

— Então, não me deixe – ela pediu, sem sair da posição em que estava, com a cabeça apoiada em seu peito.

Ele sorriu para ela, com pesar.

— Não podemos, Elizabeth. Não enquanto não formos casados.

Ela fez uma careta, desgostosa. As convenções eram irritantes.

— Não gosta da ideia de se casar comigo? – ele perguntou, parecendo preocupado.

— Não é isso. Com certeza, teremos que esperar os proclamas para nos casar. O que pode levar um mês, não é?

Ele assentiu e soltou o ar. O que ela achou estranho. Ele parecia tenso.

— Está tudo bem? – ela inquiriu, se ajeitando no banco da carruagem.

Alguém bateu na porta ao seu lado e ela se abriu.

— Chegamos, Sr. Darcy – O Sr. Dawson apareceu, deixando a porta aberta – Gostaria de ajuda para descer, Srta. Elizabeth?

— Não precisa – Ela desceu sozinha, dando um pulo, sem usar as escadas.

Pode ouvir a risada abafada de Darcy. O Sr. Dawson, como sempre, a fitava de esguelhar. Darcy saiu em seguida e pegou a mão dela, levando aos lábios. Infelizmente, ela sabia que por causa das convenções sociais e do decoro, ele não poderia abraça-la, ou beija-la, em publico, é claro. Como fariam isso, então? Ela pensou. Teria que com certeza, entrar no seu quarto, às escondidas. O que não era uma má ideia.

— Vou leva-la até seu quarto – Darcy disse, soltando a mão dela e mantendo uma distancia adequada.  O que deixou ela um pouco ressentida. Ela queria ser envolvida em seus braços e ser levado aos aposentos dele. E não sair tão cedo – Vamos?

Ele ofereceu o braço, para que ela enganchasse. Ela não se fez de rogada. Quanto mais perto ficasse dele, melhor. Ele beijou a lateral da cabeça dela, rapidamente, como se estivesse fazendo uma travessura. Ela sorriu, largamente. Mesmo que não pudessem dar vazão aos sentimentos que sentiam um pelo outro, ele ainda se mostrava amoroso. O que deixava seu coração inflado e os olhos um pouco marejados. Estava emocionada por constatar que ele realmente a amava e parecia tão louco por ela, assim como ela era por ele.

Os dois adentraram o hall de entrada, sendo recebidos pelo mordomo, que olhou confuso para Lizzy.

— A Srta. Elizabeth voltou de uma viagem a Escócia – Darcy disse ao mordomo – Ela veio apenas para o casamento do meu amigo, o Sr. Bingley, com a Srta. Bennet. Acredito que tenha um quarto disponível para ela, essa noite?

— Sim, Sr. Darcy – ele respondeu, assentindo mais de uma vez e olhando para Lizzy com surpresa mal disfarçada – Na ala leste da mansão. No terceiro andar, sendo o último quarto do corredor.

— Obrigado – Darcy agradeceu, se afastando com Lizzy.

— Não é errado que você me leve até lá? – ela perguntou, preocupada, enquanto eles subiam as escadas – Ah, e deixei minha bolsa dentro da carruagem. Tenho que voltar.

— O Sr. Dawson já deve ter se encarregado disso – Darcy lhe assegurou – E nesse momento, eu não estou me importando com a opinião de ninguém, quanto ao leva-la até seu quarto.

— Tudo bem...mas, hum, muitas pessoas estão hospedadas na sua casa? – ela perguntou, receosa, subindo as escadas, prestando a atenção para não tropeçar.

— Infelizmente, sim – ele respondeu – A família de Bingley está aqui, meus tios, o conde e a condessa de Metlock, Richard, toda a família Bennet, alguns vizinhos e pessoas que nos conhecem de Londres. E virão mais pessoas para prestigiar o casamento, pela manhã.

— Entendo – Lizzy disse, com estomago retorcido – A Srta. Caroline Bingley também está? – Ela temia ver a irmã de Bingley, afinal, as duas não se davam bem e ela temia ter um acesso de raiva, se Caroline tocasse mais uma vez em Darcy. Mesmo que fosse um toque amigável.

— Sim, está – ele respondeu, sem demonstrar qualquer emoção. O que deixou Lizzy mais confiante. Se ele não se importava com Caroline, ela não deveria ficar tão nervosa com sua presença.

— E por que disse que eu estava na Escócia? O que você disse a todos, sobre meu desaparecimento?

— Precisei dizer a todos que você partiu em uma viagem. Aos meus funcionários de mais confiança, como o Sr. Dawson, disse que você havia desaparecido. Procuramos por você por toda propriedade, contudo, eu sabia que não a encontraria. Você sumiu misteriosamente, em minha frente. Eu tinha certeza que estava plenamente consciente desse fato e que não estava delirando. Mas, em alguns momentos cheguei a duvidar da minha própria sanidade.

Ela engoliu a seco ao ouvir a confissão dele. Subiram mais um lance de escada, enquanto ele continuava a falar sobre os meses que passou longe dela.

— Conversei com alguns amigos da universidade, mantendo contato com os mais estudiosos e acadêmicos de Oxford e Cambridge, mas nenhum deles sabia dizer se havia a possibilidade de alguém simplesmente sumir, sem deixar vestígios. Perguntei isso como uma hipótese, é claro. Nunca contei que uma luz estranha a levou. Não era fogo, o que é interessante, tinha uma luminosidade branca...

— Como a luz de uma lâmpada ou lanterna – Lizzy complementou.

— Perdão? – Darcy disse, confuso.

— Esquece – Lizzy abanou com a mão.

E ela pode ver ele sorrir.

— Está vendo?  Você fala palavras que não conheço. Nem meus os mais renomados estudiosos saberiam o que aconteceu com você, nem que existe viagem no tempo.

— No meu tempo, essa hipótese é testa na literatura, cinema e descartada pela ciência, pela impossibilidade de se mover através do tempo e espaço – Lizzy explicou.

 O que deixou Darcy com o cenho franzido.

— O conceito de literatura eu compreendo.  O que seria o cinema? – ele testou a palavra, parecendo hesitante. O que ela achou muito atraente.

— Vou ter muito tempo para explicar isso a você – Lizzy disse, apoiando a cabeça no ombro dele, enquanto subiam o último lance de escada – Posso ir ao seu quarto, mais tarde?

— Lizzie – ele disse, com a voz exasperada- Sabe que não podemos.

Humf... – ela resmungou. O que causou risadas contidas por parte de Darcy.

— Teremos muito tempo para ficarmos juntos, se aceitar se casar comigo, é claro. Não estou tentando obriga-la a isso...mas, socialmente seriamos aceitos...bom...

— Você ainda quer? – ela indagou. Ainda se sentia receosa com isso. Temia que ele não a desejasse, por ela não ser uma dama perfeita.

— É claro que sim – ele respondeu veemente – Me pergunto se eu seria o suficiente para você, Elizabeth.

Eles pararam então, em frente, ao aposento dela.

— Eu a deixarei, por agora – ele disse, tomando a mão dela, beijando-a – Amanhã nos encontramos no salão principal. Será servido o café lá. E manteremos o fato de que você apenas desapareceu por estar...

— Na Escócia, entendi – ela completou – Vou dizer que estava com a minha irmã.

— Ótima desculpa – ele disse, com um sorriso contido, soltando a mão dela. Então, respirou profundamente – Até amanhã, Elizabeth.

Então, se virou, dando as costas para ela, caminhando elegantemente, mesmo com roupas que não estavam a sua altura e elegância.

Lizzy acreditou que receberia um beijo de boa noite, mas ficou a ver navios, vendo o andar para longe dela. Suspirou, desanimada, já ciente de que ele a trataria como um cavalheiro. Distante, frio e educado. O que era muito irritante.

Ela entrou no quarto, que estava escuro, sem alguma vela para que ela pudesse enxergar. Mas, quando seus olhos se acostumaram com a escuridão, pode divisar uma cama de dossel. Sentou-se ali, para retirar suas botas. Então, bateram na porta, de repente.

— Senhorita, sou eu – O Sr. Dawson disse da porta, sem abri-la – Posso entrar?

— Pode sim – ela disse.

Ele abriu a porta, deixando que uma fresta de luz do lado de fora entrasse. Ele carregava a bolsa dela e uma sacola. Deixou no chão do quarto.

— Precisa de mais alguma coisa, senhorita? Gostaria que eu chamasse uma criada para ajuda-la a se vestir? – ele perguntou.

— Não, obrigada, Sr. Dawson – ela agradeceu.

— Então, boa noite, senhorita – ele se despediu, fazendo uma leve reverência.

Ele fechou a porta e a luz do cômodo desapareceu, mergulhando o quarto em um breu. Contudo, ela não foi deixada sozinha por muito tempo. Mesmo que ela tenha negado ajuda, uma criada apareceu no quarto, assim que ela estava tentando desatar o espartilho.

Depois que estava vestida com uma camisola, que ela trouxe consigo dentro da bolsa e que deixou a criada ruborizada, por sem com alças e com um v profundo entre os seios, de cor preta, Lizzy se deitou na cama macia. A lareira estava acesa, deixando o ambiente aconchegante. Contudo, ela não conseguia dormir. Pensava nos últimos acontecimentos daquele dia. Passou um momento maravilhoso com Darcy, para depois se desentenderem e se entenderem de novo. Ela riu consigo mesma, pela confusão que fizera, ao pensar que ele se casaria. Respirou mais tranquila, sabendo que não era ele que casaria no dia seguinte.

Estava quase dormindo, quando escutou batidas na porta. Ela se levantou, desorientada e se deparou com Darcy, com uma camisa entreaberta, mangas arregaçadas, usando uma calça de montaria, que deixava entrever os músculos das suas coxas e botas hessian. Ele era atraente, mesmo que não estivesse com a vestimenta completa de um cavalheiro. E seus cabelos bagunçados deixavam um ar de selvageria nele, que causou uma contração no ventre de Lizzy.

Ela desviou o olhar da sua figura, com as pernas bambas pela presença dele, para ver uma bolsa de couro em sua mão direita.

— Não queria acorda-la – ele disse, com a voz baixa. Então, ele olhou mais atentamente para ela – Elizabeth, onde estão suas roupas de dormir?

— Estou usando – ela respondeu, mordendo a bochecha para não rir.

Ele balançou a cabeça, desalentado e parecendo envergonhado.

— Espero que não saia desse quarto. Por Deus – ele disse, com a voz mortificada – Você está...eu...

Ele a fitava com os olhos surpresos, mas ela podia ver algo crepitar neles. Havia um fogo que Darcy escondia dentro de si. E ela queria muito atiça-lo.

— Não quer entrar? – ela perguntou, casualmente.

Ele desviou o olhar, estendendo a bolsa para ela. Que a tomou, mas não tirou os olhos dele, que parecia constrangido.

— Isso é seu – ele disse, com a voz rouca e baixa – Tem algumas coisas que pertencem a você. Guardei enquanto você estava fora.

— Obrigada – ela disse, comovida, esquecendo-se da sua tentativa de seduzi-lo.

Ela abriu a bolsa e retirou de dentro sua calça de malha. Sorriu ao vê-la. Estava usando ela quando encontrou Darcy pela primeira vez. E sua regata estava ali, assim com sua jaqueta com zíper.

— Guardou tudo isso...mas por que? – ela perguntou.

Ele a olhava com admiração. Não havia mais nada em seu olhar, a não ser, amor.

— Porque eu torcia para que um dia o que levou você embora, pudesse trazê-la de volta. Eu apenas me afiancei nisso, Elizabeth. E tudo que era seu me trazia um pouco de você. E eu senti....sua falta – ele disse com a voz entrecortada – Guardei sua aliança – ele tirou de dentro do bolso da calça um objeto brilhante – Gostaria que usasse, pois é meu presente que demonstra minha total devoção a você.

Ela sentiu a garganta apertada. Os olhos pinicaram. Largou suas coisas aos seus pés e então, jogou os braços em volta do seu pescoço, beijando-o nos lábios. Ele ficou sem reação por alguns segundos, mas logo a enlaçou pela cintura, retribuindo o beijo com avidez. Mas, o beijou durou muito pouco. Ele a afastou novamente, respirando com força.

— Devo partir, Elizabeth – ele disse, com a voz dolorida. Puxando os braços dela entorno do seu pescoço, colocando-os para baixo. Mas, puxou a mão esquerda dela, colocando o anel de compromisso no anelar – Boa noite.

Ele beijou a testa dela, rapidamente e se afastou, fechando a porta. Lizzy suspirou frustrada, mas seus olhos recaíram sobre a mão esquerda. O anel de safiras brilhava e ela se sentiu especial. Ele guardou tudo o que era dela, apenas na esperança de que um pudesse vê-la novamente. E isso a encheu por dentro. Ela estava emocionada e repleta de amor para dar a ele. Esperava ansiosamente para o dia em que ela pudesse fazer isso, sem se preocupar com nada que pudesse impedi-los de se amar por completo.


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