Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 36
Capítulo 36




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Lizzy abriu os olhos, sentindo todo seu corpo relaxado. Cada musculo do seu corpo parecia pesar, mas ela sentia-se flutuar, na verdade. Braços fortes a envolviam e ela não queria acordar daquele sonho bom, de estar de conchinha com o único homem que ela desejou com loucura. O Sr. Darcy.

— Precisamos levantar – ele soprou no ouvido dela.

— Me deixe dormir, só mais um pouco – ela pediu, puxando a mão dele, que estava sobre a cintura dela.

Então, notou que estava nua, com apenas um lençol a cobrindo. E dividia a cama com ele. Com Darcy. Não era um sonho. Era bem real. Ela abriu os olhos em um estalo, se virando para ele e a primeira coisa que fez foi toca-lo no rosto. A barba por fazer pinicava a palma das suas mãos e mal conseguia vê-lo, devido à escuridão que fazia no quarto. Não havia uma vela acesa, para iluminar o cômodo. O que era muito injusto. Ela queria ver cada parte do seu corpo. Além de tocar e beijar sua pele, como ela vinha imaginando há muito tempo.

— Lizzie – ele disse, com a voz rouca – Precisamos ir ao salão. Você precisa se alimentar e eu também.

— Não – ela disse, dengosa, ficando por cima dele, com os quadris em volta da cintura dele.

Pode senti-lo endurecer debaixo dela. E ele gemeu. Ela aproveitou que ele estava mergulhado em êxtase, para beija-lo, buscando sua boca com sofreguidão. Em resposta, ele retribuiu o beijo, com força, empurrando seu quadril contra sua intimidade. Mas, o beijo para ela não bastava. Precisava senti-lo, precisava senti-lo preenche-la. Iria fazer isso, mas alguém bateu na porta.

Ela se afastou, a contragosto. Sentando-se ao lado dele. Darcy puxou o rosto dela, plantando um beijo em sua testa.

— Eu já volto – ele sussurrou – Se vista e vamos comer alguma coisa. Por mais que esteja delicioso estar assim com você, precisamos manter o decoro. E eu preciso chegar logo a Pemberley.

Ela não perguntou o motivo para a pressa dele em chegar a Pemberley. Não sabia se gostaria de ouvir a resposta. Então, sentiu que Darcy saiu da cama. E escutou a porta ser aberta, mas era apenas uma fresta. Mesmo assim ela cobriu seu corpo com o lençol e tratou de ficar quieta sobre a cama. Eles não eram casados. E entendia perfeitamente que a reputação dos dois estava em jogo.

— Gostaria que servisse o jantar aqui, senhor? – Lizzy pode estar à voz de uma mulher.

Lizzy queria que ele dissesse que sim, mas ele não parecia estar em sintonia com seus pensamentos, pois respondeu:

— Não é necessário. Comeremos no salão e logo partiremos - ele respondeu.

— Sim, senhor.

Ele fechou a porta e Lizzy tentou não se incomodar com isso, com sua pressa em partir. Tratou de pegar suas roupas no chão e vesti-las.

— Frank e o Sr. Dawson conseguiram retirar a carruagem da estrada – Darcy disse.

Ela pode ver a silhueta dele, com os olhos mais acostumados a escuridão do quarto. Ele também se vestia. E parecia com pressa de partir. Ela engoliu o bolo se formava em sua garganta.

— Que bom – ela sussurrou. Nem havia percebido que sua voz tinha falhava.

Se perguntava se ele iria se casar em breve e era por isso que precisava voltar com tanta pressa para Pemberley.

— Deixe-me ajudar com seu espartilho – ele disse, se aproximando por trás dela.

Ele a ajudou a ata-lo, de forma um pouco firme. Então, ela se sentou na cama, colocando suas botas, que haviam sido limpas pela criada e deixada ao lado da cama. Demorou para amarrar, pois desejava saber o motivo para ele querer partir tão cedo.

— Elizabeth, eu gostaria de conversar com você – Darcy disse, sentando-se ao lado dela, na cama.

— Eu também – ela disse, com a voz baixa, sentindo o coração dolorido. A garganta apertada. Ele parecia tão distante e frio. O que a incomodava profundamente.

— Eu sei que é algo muito pessoal de se perguntar. E não quero ofenda-la, de maneira alguma, mas a senhorita já esteve com outro homem? – E ali estava. Ele a chamava de senhorita. Mantinha a distancia entre os dois.

— Eu...sim...- ela respondeu, quase um sussurro.

Então, era por isso que ele estava frio e distante, por ela não ser virgem? Escutou ele soltar o ar.

— Bom...isso explica muita coisa – ele disse, parecendo um pouco chateado – A senhorita parece ser...uma amante experiente.

Ela ruborizou de raiva. De fato, Lizzy era uma mulher livre, desimpedida e talvez, uma amante experiente. Mas, para os padrões da sua época, aquilo era totalmente aceitável. Mas, não para o Sr. Darcy. Não para as pessoas que viviam naquele século atrasado.

— O que quer dizer, Darcy? – ela perguntou, tentando conter a sua ira.

— Nada, eu não quero...dizer nada – ele respondeu, com a voz aguda – Eu só...- Ele respirou fundo – Droga...precisamos voltar. Há um casamento em andamento, para tarde de amanhã e eu não posso ficar aqui, não desse jeito. Preciso resolver nossa situação também.

— Não precisa se preocupar com isso – ela se levantou, de um salto – Não precisa resolver qualquer situação comigo. Se puder me emprestar a carruagem para voltar a Londres, irei ficar na casa dos Gardiner.

— Elizabeth! – ele exclamou, com a voz instável, se levantando também. Parou diante dela, mas não a tocou – Não pode simplesmente querer partir. O que houve entre nós é sério. Passível de arruinar a sua reputação.

— Não se preocupe com isso. Eu posso lidar com minha reputação sozinha!

A voz dela continha toda a raiva que sentia. Ele não estava preocupado com ela, mas com um casamento eminente. O seu casamento, com outra mulher. E ela não ficaria no caminho.

— Elizabeth, você prometeu não partir...- ele disse, com a voz baixa, contendo magoa.

— Mas, não há como ser diferente, há? – ela indagou, de forma irônica, tentando alfineta-lo, afinal ele escolheu casar com outra mulher.

— Como não pode haver?  Você não me ama? – ele se aproximou dela, tocando-a nos ombros, mas ela se afastou – Tudo bem. Compreendi perfeitamente.

Sua voz estava endurecida, de repente. E Lizzy sentiu-se fria por dentro, por isso abraçou-se com mais força. Como se pudesse se proteger.

— Ao menos, vamos jantar e eu a deixarei partir.

Ela engoliu a seco, sentindo lagrimas se formando em seus olhos.

— Tudo bem – sussurrou.

Ele saiu na frente e ela ficou logo atrás, tentando imprimir uma distancia entre os dois. Tentou entender como em instantes tudo se alterou entre os dois. Como um dia ensolarado se transformou em uma tempestade a vista. Mas, estava implícita a resposta. Ele se casaria e a queria como amante. Como ela não lhe deu qualquer opção, ele a deixaria partir. Sentia-se tão burra, por acreditar que ele a amava. Mas, não, ele a amava. Nunca a amou. Era culpa dela por acreditar em suas palavras no calor do momento, enquanto os dois faziam amor. Fácil mentir, enquanto se estava entregue a paixão. Muito fácil.

Lizzy o seguiu, até o andar de baixo, com os olhos marejados. E ela tentava com todas as suas forças, segura-las, engolindo-as, mas seus olhos doíam, pela força. O gosto amargo em sua boca a deixou sem apetite, a ver a mesa posta para eles, quando entrou no salão. Havia várias mesas de madeira, com cadeiras com encosto. Ao todo, vinte mesas. Alguns hóspedes estavam ali, ceando. Ela pode sentir o cheiro forte de cerveja e carne assada. E o menu principal era cordeiro assado. Ela não gostava nada daquela carne.

Darcy se aproximou da mesa, puxando a cadeira para ela. Lizzy disse um “obrigada” murmurado, sem a menor vontade de agradecê-lo. Sentia a apatia ir embora e raiva a consumir. Ela estava prestes a entrar em combustão.  Como pode acreditar nele e em seu amor? Como era tola por deixa-lo engana-la.  Ele se sentou a frente dela, evitando seu olhar. Mas, ela podia vê-lo trincar o maxilar. Ótimo, que estive com raiva tanto quanto ela.

— Não vai comer? – ele perguntou, anuindo com a cabeça, em direção a prato dela, intocado.

— Não estou com fome – Seu estomago roncou, em protesto. Mas, sua mente estava fervilhando. Teria uma indigestão se comesse, com certeza.

— Deveria comer. A viagem será longa – ele sugeriu, em tom neutro e mirando seus olhos para seu prato, garfando a carne de cordeiro com batata assada.

Lizzy olhou para o próprio prato, sem sentir o menor apetite.

— É claro. Uma viagem para o casamento – ela debochou, em voz baixa.

— Sim, eu disse que haverá um casamento – ele disse, sem entender a ironia. Então, a fitou de forma estudada – A senhorita não parece bem. Esta com o rosto avermelhado.

Isso era pelo fato de quase estar chorando, no caminho do quarto até o salão. Mas, ela não iria admitir isso a ele.

— Não deve ser nada. É o calor – ela mentiu, pois se sentia gelada por dentro.

Ele a fitou, descrente.

— Me diga, como passou seus dias, antes de chegar até aqui? – ele perguntou, de forma educada e verteu um pouco do vinho da sua taça.

Ela fez o mesmo, apenas para sentir o estomago queimar, quando a bebida desceu pelo esôfago.

— Eu vivi – ela respondeu – Meus dias foram cheios de trabalho e sem algum significado maior.

Ela queria dizer que cada dia que passou longe dele fora uma tortura, mas para que dizer a verdade? Ele não a amava. Estava mais interessado em se casar com outra mulher.

Darcy parecia perscruta-la com o olhar e havia se esquecido da comida. Ela desviou o olhar para o prato. Não queria ver seus olhos intensos. Não queria se sentir mais apaixonada por ele. Queria sentir a raiva, pois só assim poderia seguir em frente e não implorar que ele não casasse com outra mulher.

— Georgiana esta organizando o casamento dela – Isso acendeu as esperanças de Lizzy. Seria esse o casamento para o qual ele estava falando? Que Deus permitisse que fosse esse – Ela sente sua falta. Vai ao menos cumprimenta-la, antes de partir? – Havia acusação em sua voz. E isso a feriu profundamente.

— Se me permitir vê-la, eu gostaria disso – ela respondeu.

— Ótimo – ele disse, voltando a comer. Mas, parou alguns segundos depois – Ela vai se casar na primavera, no próximo ano. Eu queria que ela se casasse com pelo menos vinte anos, mas aparentemente, ela é teimosa com minha mãe. Sempre querendo apressar as coisas.

Então, toda a esperança que Lizzy sentia ao pensar que o casamento de amanhã fosse de Georgiana, desabou, como um castelo de areia, sendo engolido pelas ondas. É claro que não era. Darcy ainda iria se casar e Lizzy teria que conviver com isso. Talvez, fosse o melhor para ele, afinal, ela nunca seria uma boa esposa e uma dama perfeita. Não tinha os pré-requisitos, nem a boa etiqueta. Não sabia se portar corretamente nos eventos que iriam exigir a presença dele, mesmo sabendo de antemão o que poderia esperar desses eventos. É pelo fato de que ela não iria conseguir fingir falso interesse em conversas que não interessavam a ela, nem ser educada com pessoas que se mostrassem falsas para com ela. Além do mais, ela falava o que pensava. Uma boa dama guardava os pensamentos para si.  E Lizzy sabia, ela iria se remoer de raiva ao fazer tal esforço. O melhor era que Darcy tivesse a esposa perfeita. Ele merecia isso. Então, seu coração afundou no peito. Era um peso tão grande aceitar que o homem da sua vida não pertenceria a ela. E que suas noites seriam todas da mulher que ele desposasse. E que ele a tocaria, a beijaria, faria amor com ela, como fiz com Lizzy. O que a deixou enciumada e fervendo de inveja da próxima Sra. Darcy.

— Georgiana deve escolher aquilo que tiver vontade – Lizzy disse, quanto ao casamento apressado de Georgiana.

Darcy a fitou com um olhar estreito. Não parecia agradado com o comentário de Lizzy, mas ela deu de ombros e resolveu experimentar as batatas. Estavam com um gosto ótimo. Defumado. Era bom, derretendo facilmente na boca. Ela suspirou, tentando ignorar a dor no peito.

— A senhorita parece triste – ele sussurrou.

— Não há muitos motivos para estar feliz, há? – ela rebateu, trincando os dentes. Como ele poderia fazer tal observação, sabendo que ela o amava e que teria que deixa-lo partir?

Ele balançou a cabeça, parecendo discordar.

— Eu posso lhe dizer vários motivos para estar feliz – ele disse, sem olha-la.

— Ah, é? E quais? – ela provocou.

Ele não respondeu, dando de ombros, voltando a comer. Com certeza, estava fazendo isso para evitar responde-la.  Lizzy tentou de fato terminar o que tinha no prato, vendo que não haveria mais conversa entre os dois. Mas, mal conseguiu tocar na carne de cordeiro e ainda sentia seu estomago reclamar. As batatas não pareciam o suficiente, por isso, ela verteu todo o vinho tinto da sua taça. Era bom, queimava e a deixava entorpecida.

Darcy pediu que ela aguardasse no saguão de entrada da hospedaria, enquanto ele pagava o Sr. Landon. Ela ficou perto das portas de madeira maciça, olhando para a noite coberta de nuvens. Logo uma criada apareceu, deixando com ela a sacola das suas roupas molhadas pela chuva.

— Sra. Darcy, tentamos secar o máximo possível. Esperamos vê-la novamente.

Então, ela fez uma reverência e se afastou. Lizzy riu baixo da forma com a criada se referiu a ela. Se aquela jovem soubesse que ela não era a Sra. Darcy e que passou horas com um homem que estava noivo de outra, em um quarto, ficaria escandalizada.

A carruagem parou em seguida, em frente à hospedaria. Frank estava sobre o banco, assim com o Sr. Dawson. Ele acenou para ela e ela devolveu o aceno, seguindo em frente. Iria entrar no veículo primeiro. Não queria ficar mais um segundo ali. No lugar onde deu seu coração a Darcy e o viu ser despedaçado, pela pressa que ele tinha em chegar a Pemberley, para seu casamento. Que ele e sua esposa fosse para o inferno, sendo bem felizes, em seu maldito casamento.

O Sr. Dawson, vendo-a se aproximar, pulou do seu assento, abrindo a porta da carruagem.

— Senhorita – ele disse, em tom educado.

— Obrigada, Sr. Dawson.

Ela entrou e sentou-se no banco acolchoado. Olhou o interior da carruagem. Depois para a janela aberta. O frio da noite entrava pela fresta. Ela fechou e recostou a testa no vidro, sentindo-se desanimada. Não saberia como seguir sem Darcy, mas era necessário. Era o melhor para os dois, mas por que seu coração parecia sangrar?

A porta da carruagem se abriu, de repente e ela deu um salto, assustada. Darcy entrou, se ajeitando no banco em frente a ela. Então, a carruagem entrou em movimento.

— É melhor dormir – ele aconselhou, em tom de voz brando – Ainda nos restam quatro horas de viagem.

— Onde está seu cavalo? – ela perguntou, afinal, ela esperava que ele voltasse com sua montaria.

— Ele está atrelado à carruagem. – ele explicou – E se eu não estivesse tão cansado, eu iria voltar montando, para não impor minha presença a senhorita.

— Eu não estou incomodada com sua presença. Mas, o senhor deve estar – ela replicou, voltando a recostar a testa na janela.

Então, escutou ele suspirar.

— Não coloque palavras na minha boca, Elizabeth – sua voz estava seca. Ele parecia irritado.

Ela voltou seu olhar para ele, em desafio.

— Como não pode se incomodar comigo, sendo que está me tratando com frieza desde que saímos do quarto?

Ele bufou e ela fez o mesmo. Ela pode vê-lo passar a mão pelos cabelos, bagunçando as mechas ainda mais.

— Você disse que queria partir. Como acha que estou me sentindo? – ele acusou.

— Por que acha que vou partir, para começo de conversar? – ela rebatou.

— Essa conversa não vai chegar a nenhum lugar – ele balançou a cabeça, desalentado.

— Ótimo, então podemos ficar em silêncio.

— Ótimo.

— Ótimo – ela provocou.

Então, ele gargalhou.

— Quantos anos a senhorita têm mesmo?

Ela riu.

— Tenho vinte e quatro anos – ela respondeu, com orgulho – E sou muito mais crescida que você, Sr. Darcy.

— Ah, é claro que é. Muito experiente. Muito racional e adulta – ele disse irônico. Então, fez algo que ela não esperava, tomou o assento vago ao lado dela e colocou o braço em torno do seu ombro. Todo seu corpo retesou diante da aproximação dele. Sua boca se colou ao seu ouvido e ela arfou pelo toque tão intimo – Diga-me, Srta. Elizabeth, por que eu me sinto tão usado pela senhorita?

— Eu posso dizer o mesmo – ela rebateu, trincando os dentes – Agora, quer se sentar direito?

Mas, ele ignorou seu pedido, beijando a base do seu maxilar. Ela suspirou em prazer, mal conseguindo manter sua sanidade. Ele estava a enlouquecendo de proposito.

— Acho que há um erro de comunicação entre nós, Srta. Elizabeth – ele soprou em seu ouvido. Uma voz baixa, tenra e sensual. E isso a estava levando ao delírio. Ela queria beija-lo, mas se conteve no lugar. Contudo, seu corpo implorava pela boca dele – Devíamos tentar uma conversa civilizada e tentar entender o que está acontecendo entre nós, não acha?

— Eu não acho não – Ela o empurrou pelo peito. E ele se afastou, com a respiração ruidosa. Era visível que ele também estava tão abalado quanto ela estava – O senhor não tem um casamento marcado? Acaso quer que eu seja sua amante, é isso?

De repente, ele riu. Uma risada densa, que fez todos os pelos do corpo dela se arrepiarem. Mas, a raiva eclodiu. Como ele se atrevia a rir dela?

— Sr. Darcy, o senhor não tem o menor respeito por mim? – ela protestou.

— Ah, minha querida. Agora entendo o que você andou pensando – ele disse, puxando-a para si. Ela ficou frente a frente a ele, com seus narizes e lábios milímetros um do outro. Ela podia sentir a respiração dele beija-la. E era uma sensação inebriante – Pensa que amanhã é meu casamento, é isso?

— E não é? – ela perguntou surpresa.

— Não – ele negou, então levou a mão que estava na cintura dela, a seu queixo- Quem se casará amanhã e Bingley a Srta. Bennet. E eu cedi a mansão para eles.

— Mas...não entendo – ela disse, confusa – O Sr. Dawson disse que você iria se casar.

— Deve ter entendido errado. Não sou eu que me casarei. Eu nunca iria me casar. Decidi isso, desde que você partiu – ele disse, com a voz suave, acariciando com o dedão o lábio inferior dela. Ela beijou, com carinho, sentindo toda a tensão esvair. Agradeceu mentalmente por ele não desejar se casar mais, mesmo sendo injusto com ele, caso ela nunca voltasse – E agora entendo nosso desentendimento. Estava com isso na sua cabeça o tempo todo e mesmo assim, veio atrás de mim? Pensava em impedir o casamento?

A voz dele continha humor e ele parecia ter gostado daquela ideia.

— Eu...claro que não iria impedi-lo – ela respondeu, sem jeito. Talvez, fosse impedi-lo, de alguma forma, mas pensou melhor. Se ela fosse à noiva, ficaria arrasada. Não seria justo arruinar um casamento, apenas porque ela voltara - Eu só queria explicar o que tinha acontecido comigo. E que eu jamais desapareci por um simples capricho. E dizer que eu o amo. E nunca vou deixa-lo de amar.

Ele a beijou na testa, depois na ponta do nariz dela, depois nos lábios, de forma leve. Ela queria que ele a beijasse com paixão, mas ao que parecia, Darcy tinha outros planos.

— Se você me dissesse isso e se eu estivesse noivo, infelizmente, eu não poderia seguir adiante com o meu casamento – ele confessou, com bom humor – Eu iria fugir com você e depois faria uma compensação a pobre noiva. Não há como qualquer mulher competir com você, Elizabeth. Meu coração está irrevogavelmente apaixonado por você. Cada parte de mim está atrelada a você e não há como desatar – Ela riu – Ora, eu não sou o melhor poeta, nem muito romântico. Dê-me um desconto, sim? – Ela assentiu, sorrindo, com uma tola apaixonada que era. Não havia como negar isso – Mas, Elizabeth, quando você partiu, eu senti como se algo fosse arrancado do meu peito. Eu não sentia mais as batidas do meu coração. Eu estava vazio, oco por dentro. Mas, no momento em que a vi de novo, senti meu coração bater mais uma vez. E ele bateu tão rápido, tão depressa, que eu senti que iria desmaiar. E se eu fizesse isso na sua frente, me sentiria um paspalho.

Ela gargalhou e ele riu com ela. Mas, a risada se esvaiu, no momento em que ele a beijou com força, penetrando sua língua na boca dela, buscando-a com fervor. E ela queria entregar-se a ele de boa vontade, sem reclamar.

Suas bocas se afastaram, apenas para que pudessem respirar. Ela sentiu seu coração batendo com força. E não conseguia parar de suspirar. Era quase involuntário.

— Me conte para onde você foi – ele pediu, em voz baixa, beijando a testa dela.

Então, ela explicou a ele seus últimos quatro meses. Contou que viera do futuro e que ao que parecia sua fada madrinha disse que ele era seu destino e sua alma gêmea, por isso os dois se encontraram.

— Eu acreditei que você era uma fada – ele brincou – Talvez, uma feiticeira, pois, Elizabeth, você me enfeitiçou de corpo e alma e não consigo mais pensar em outra coisa que não seja você.

Ela riu feliz por ele a amar daquela forma, tão profunda. E como não conseguia manter as mãos longe dele, sentou em seu colo, mesmo com o perigo de cair no chão e o beijou. Depois que os dois se afastaram, ela acariciou seu rosto, sentindo a barba áspera dele sobre a palma da mão.

— Eu sou comum, como você, Darcy. A diferença está no fato de que eu estava no tempo errado. E nosso presente se encontrou, finalmente. Para você, meu futuro encontrou seu presente e para mim, o seu passado encontrou o meu presente.

— Isso é um pouco confuso – ele confessou – Mal posso acreditar que você veio do futuro, apenas para completar meu coração.

— Se você continuar a ser tão doce desse jeito, eu vou ficar mal acostumada.

— Se acostume com isso, minha futura Sra. Darcy – ele roubou um beijo dela, fazendo-a suspirar – Então, o Sr. Alexander disse que você não precisara mais voltar para seu tempo?

E o tom de voz dele se tornou acido. Ele não havia gostado nada de saber que Alexander estava por trás disso. Havia confessado que queria mata-lo desde que o viu sozinho com ela na biblioteca.

— Sim, Darcy. E não precisa se preocupar. Ele nunca mais vai aparecer em nossas vidas - ela respondeu, adorando vê-lo enciumado.

— É o que espero Lizzie. Pois, se ele se aproximar um pouco que seja de você, vou ignorar que ele é o responsável por sua vinda para meu tempo e vou atirar nele, sem pensar duas vezes.

Ela gargalhou da ameaça dele. Nunca imaginou que Darcy poderia ser tão exaltado.

— Não acredito que você saiba atirar – ela provocou.

— Ora, eu sei – ele respondeu, parecendo ofendido e apertou sua cintura, puxando-a mais para si – Minha pontaria é ótima. Sou muito bom com arco e flecha também. Era comum caçar com meu pai e seus amigos, em Pemberley. Não sou adepto a violência, é claro. Eu já devo ter lhe dito que gosto mais da pesca – E ela se lembrava disso, com toda certeza. Fora uma das primeiras coisas que soube dele, no primeiro dia que o encontrou – Mas, eu não me importo de defendê-la do que for, Elizabeth, mesmo que eu precise ferir para isso. Eu não quero perde-la de novo. E não irei permitir isso.

O seu tom de voz era sombrio e Lizzy tentou distrai-lo com beijos. Ele logo relaxou, retribuindo suas caricias com avidez.

— Meu amor, eu deveria estar me comportando, com decoro – ele sussurrou – Mas, esta difícil agir como cavalheiro, quando você me incita dessa maneira.

— Então, vou ter que incita-lo mais – ela sussurrou em seu ouvido, se ajeitando no colo dele, colocando uma perna de cada lado do seu quadril, levantando as saias para que não a atrapalhasse – Assim está bem melhor.

— Elizabeth – ele a repreendeu, mas sem convicção – O que você está fazendo comigo? Estou me tornando um homem vil, por estar adorando isso.

— Então, adore Darcy. Sou toda sua.

Ela o beijou de novo, descendo os lábios pelo maxilar, pescoço, escutando com prazer os suspiros e gemidos dele. Então, ele puxou a cabeça dela para trás, pelos cabelos, sem usar a força, beijando o pescoço dela. Ela arfou em surpresa e sentiu as mãos dele sobre um dos seus seios.

Infelizmente, a carruagem trepidou no chão. Consequentemente, Lizzy caiu sentada. Ela gemeu de dor e riu ao mesmo tempo.

— Querida, me desculpe – ele pediu, a puxando pelo braço, colocando-a sentada ao seu lado – É melhor ficarmos mais comportados. Vê só como estamos nos portando como dois devassos?

Ela massageou o quadril, resmungando.

— Eu só estou tentando demonstrar meu amor por você – ela protestou, baixinho – E olha o que recebo. Vou ficar com a bunda dolorida.

Ele gargalhou.

— Deixe-me cuidar de você. Venha aqui – ele estendeu os braços para ela.

Lizzy se aconchegou em seu colo e ele a enlaçou pela cintura, beijando sua testa. Ficaram em silêncio, apenas em companhia um do outro. Ela podia ouvir a respiração dele relaxar. E estava quase dormindo assim, agarrada a ele, quando uma pergunta surgiu em sua mente.

— O que você teria feito, se não tivéssemos nos reconciliado aqui? Me deixaria partir?

— Eu jamais deixaria que você se fosse, Elizabeth. Apenas se você dissesse que não me ama. Estava disposto a arrasta-la a Pemberley e nunca mais deixa-la sair.

Ela riu baixinho.

— Está falando sério?

— Muito – ele confirmou – Mas, se você me explicasse que não me ama, bom...partiria meu coração, mas eu jamais iria força-la a me amar.

— Você não precisa. Eu amo você, de todo meu coração. E para ser bem romântica brega, eu amo você para sempre e sempre.

— Romântica brega? – ele repetiu, sem entender.

— Quer dizer que é algo de mau gosto, é bobo – ela explicou.

— Conceitos estranhos que você tem, no futuro, Lizzie – ele brincou, passando a mão pelas costas dela, subindo e descendo, de forma lenta – Eu não acho isso...como é mesmo a palavra? Brega? – ela anuiu com a cabeça – Saber que você vai me amar para sempre é algo que me inunda de prazer.

Ela sorriu, contra a pele do seu pescoço, mordiscando com os lábios.

— Lizzie, o que foi que disse para nos comportar? – ele advertiu.

— Acho que você disse para não fazer – ela provocou.

Ele riu, mas depois, se calou, puxando-a para um beijo apaixonado, que a deixou extasiada. Se ela pudesse, ficaria assim para sempre e sempre com ele. Mas, ela interrompeu o beijo, pois algo ainda não estava claro para ela.

— Darcy, se há um casamento amanhã, por que você não está em Pemberley agora?

— Porque eu fui ver minha tia, em Kent – ele respondeu, suspirando. Aquele assunto não parecia fácil para ele – Ao que parece, ela ainda me odeia e tentei estabelecer laços com ela durante esse período em que você esteve desaparecida. Mas, ela se recusa a me ver. Então, aparentemente, essa semana ela pediu para ver a mim e a Georgiana. Pediu por carta que fossemos o mais breve possível. Disse que estava muito doente. Nós empreendemos a viagem e ela estava aparentemente saudável. Então, começou a fazer um discurso sobre meu casamento com Anne – Lizzy soltou um bufo irritado – Eu sei, sua insistência não tem limites. Resolvi partir o mais breve possível, afinal, havia oferecido minha casa para Bingley e a Srta. Bennet, para o casamento. Então, fui à frente, enquanto minha irmã foi dentro da carruagem. Ela deve estar lá, incluso. Por isso, minha insistência em voltar tão cedo, meu amor.

— Eu sinto muito por pensar bobagens quanto a isso – ela pediu.

— Eu sei que você pensou. Pensou que era meu casamento. Por isso, eu não posso culpa-la. Por mim, eu teria ficado na hospedaria até o dia seguinte. Com certeza, na minha casa não teremos a menor privacidade. Tecnicamente, somos noivos ainda, Lizzie. E eu nem poderia tocar em um fio de cabelo seu – Mas, ao contrário do que ele disse, ele beijou os cabelos dela, respirando profundamente – Mas, não consigo manter minhas mãos longe de você. Por isso, você terá que me ajudar.

— Sinto muito, mas estou gostando de ver essa versão mais desinibida - Ele gargalhou. Então a beijou mais uma vez.

Contudo, os dois não sabiam que em breve que uma noticia desagradável viria de Kent. E que iria atrapalhar toda a harmonia que eles tinham.


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