Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 28
Capítulo 28




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Um baile demandava muita atenção do responsável pela organização de um grande evento como aquele. Principalmente, contratar os músicos, comprar o arranjo certo de flores para enfeitar o salão, a escolha da mobília que estaria no local, ou se não havia nada, apenas um espaço aberto para dançar, e a questão do buffet. Deveria se servir apenas quitutes ou um jantar? Georgiana optou por servir quitutes na festa, pela quantidade de convidados que viriam. Pelo menos, duzentas pessoas estavam confirmadas. A propriedade era extensa, mas ela não poderia comportar aquelas pessoas em uma sala de jantar. Poderia talvez, colocar mesas ao redor do salão e deixar que os convidados se acomodassem e fossem servidos, mas não havia tempo para isso.

— O que devo fazer? - Ela murmurou, passando a ponta da pena nos lábios, olhando para o salão a sua frente e vendo sua lista de afazeres.

Dali mais ou menos uma semana e meia, o baile iria acontecer. Era um grande evento que precisava acontecer de forma perfeita. Ou sua família seria motivo de risos. Ela não queria que Darcy ficasse decepcionado com ela por causa disso, também.

— Suspirando, Georgie? - Ela se sobressaltou ao ouvir a voz aveludada do primo.

— Richard - ela se virou, com um sorriso. Ele a fitou de forma diferente. Na verdade, fazia dias que ela notava isso. Uma mudança nele. Ela estava esperançosa. Seria possível que...?

— O que se passa na sua mente, querida prima? - Ele perguntou, interrompendo o fluxo dos seus pensamentos.

— Apenas estava pensando no que devo fazer para o baile - ela respondeu, suspirando. Afinal, estava sendo uma tarefa difícil.

O salão já estava com algumas mesas ao fundo, para um possível buffet. Nada muito elaborado. Apenas quitutes e canapês. Circulando no salão, ela pensou em servir champanhe, da melhor safra que tinha na adega da casa. Darcy era apreciador de bons vinhos e champanhes, então ela poderia confiar no gosto dele.

— Não fique tão ansiosa, Georgie – Richard o aconselhou, com um sorriso ameno - Você vai se sair bem, eu tenho certeza.

E por um momento, os olhos dele reluziram. Havia dor contida em seu olhar, ou era impressão dela?

— Primo, está tudo bem? - Ela perguntou, preocupada. Eles poderiam não se ver muito, mas se comunicavam por cartas e eram muito íntimos. Melhores amigos, se assim poderia se dizer. E ela conhecia bem Richard, quase como a si mesma. Ele era a pessoa mais importante da sua vida, depois de Darcy.

— Eu...estou - ele deixou o ar escapar, desviando o olhar - Eu apenas...

Ele se calou, como se reconsiderasse o que falar. E Georgiana se viu ansiosa para saber o que se passava na mente dele. O que ele não estava compartilhado?

— Eu vou dar uma volta, Georgie - ele disse, com um sorriso amarelo e um olhar inquieto. Ela percebeu o quanto ele estava bonito com sua casaca de red coat. Ele costumava usa-la, mesmo fora de serviço. E isso a fazia olha-lo com outros olhos. Aumentava seu interesse por ele e despertava pensamentos que uma boa dama não deveria possuir. Mas ela não conseguia se conter. Quem poderia culpa-la, afinal? Era jovem, sonhadora e romântica.

— Posso ir junto? - Ela se adiantou, querendo estar perto de Richard. Fazia dias que desejava um tempo a sós com ele. Mas, longe de olhos vistos.

— Não acredito que seja uma boa ideia - ele respondeu, com a voz tensa - Eu preciso ficar sozinho agora.

— Mas, por que? Você sempre me convidava para sair, quando vinha a Pemberley. Andávamos a cavalo, quase todos os dias. E agora...agora você está distante, como se não desejasse minha presença.

— Georgie, você não faz ideia, não é? - Ele perguntou, com a voz profunda, causando arrepios nela. Ele estava diferente. A olhava de uma maneira muito intensa. E isso a fez renovar suas esperanças.

— Poderia me explicar, por gentileza? - Ela pediu, em um tom irônico.

Ele bufou e riu ao mesmo tempo, passando a mão pelo rosto. Estava atordoado e ela queria saber o motivo para isso.

— Georgie...eu...não deveria nem pensar em você, em qualquer termo que fosse, a não ser para pensar em você como minha irmã.

Sua resposta não satisfez Georgiana. Na verdade, lhe causou um gosto amargo na boca. Ela sempre pensou nele naqueles termos. Mas, não naquele ano. Tudo parecia ter mudado para ela. Havia algo de especial em Richard. Na verdade, desde que ela se decepcionou com George Wickham e depois de ter sido resgatada por seu irmão, ouvindo um duro sermão e sendo trancada no campo, ela sentiu algo mudar em relação ao seu primo. Ele lhe enviava cartas, as vezes a visitava. E era solicito. Seu amigo mais íntimo e também, não havia a julgado pelo seu mal passo. Apenas estava preocupado. Ela também adorava seu lado espirituoso, engraçado e leve. Ele era sempre tranquilo, com um sorriso nos lábios. E ela queria tanto que ele sorrisse para ela.

— O que quer dizer, Richard? Eu não compreendo - Ela queria entender o motivo para ele não poder pensar nela em outros termos. Por que precisava vê-la como sua irmã? Não poderia ser de outro modo?

— Georgie...- ele pronunciou seu nome de forma dolorosa, como se fosse difícil para ele expressar o que vinha em sua alma. E isso só aumentou sua aflição - Que mundo eu poderia oferecer a você? Sou apenas um coronel do exército. Um mísero soldado...

O coração de Georgiana disparou, de repente. Seria uma confissão de amor? Ele estava interessado nela? Por Deus, ela queria que sim.

— Como não poderia me oferecer algo bom, Richard? Eu só me importo com seu coração e seus sentimentos. Aliás, o que há de errado em seu um coronel? Não é porque seu irmão, Geoffray é o herdeiro do condado que você não tenha valor.

Ele balançou a cabeça, parecendo atormentado. E isso deixou o peito dela dolorido. Ela tentou alcançar a mão dele, para conforta-lo, mas ele deu um passo para trás.

— Esqueça essa conversa, Georgiana, por favor.

Ele se afastou, deixando Georgiana no salão. De repente, ela se sentiu fria por dentro. A sensação da boca seca e decepção se espalhando em sua mente. Ela não conseguia compreender por que ele estava fugindo dela. E isso a magoou profundamente.

 

 

*

No quarto de Georgiana, Lizzy estava passando sua maior provação. Vestir várias camadas de roupa, para compor um vestido de baile elegante e majestoso.

— Vamos lá Lizzie, você precisa vestir esse aqui - Georgiana pediu, mostrando um vestido lindo, com pedrarias do corpete a saia rodada e vistosa. Com certeza, havia algumas camadas de anágua por baixo para colocar, para que o vestido ficasse frondoso e rodado. O que deixava Lizzy um pouco irritada. Na verdade, muito irritada. Além da crinolina, que parecia uma gaiola de ferro. E o espartilho. Talvez, fosse o pior de todos.

Mas, Lizzy poderia relevar. As mangas bufantes e longas deixavam o vestido requintado. E tom azul gelo era perfeito para seu tom de pele. Talvez, ela pudesse se acostumar a parecer uma princesa. Mas, os sapatos...aquilo já era demais.

— Não dá - Lizzy resmungou, sentindo os pés apertados. Não era possível calçar o número de Georgiana. Não mesmo, impossível!

Ela sentou-se na cama, sentindo o tecido atrapalha-la. Quase quicou para o lado, causando risadinhas em Georgiana. A criada, Marieen, estava calada, mas comprimindo os lábios. Talvez, ela quisesse rir de Lizzy. Ótimo, que todos rissem dela e de como ela era um desastre. Não serviria nem para ser a noiva de Darcy.

Lizzy tentou se abaixar para tirar o sapato, mas mal conseguia se mexer devido à o espartilho, então, usou os próprios pés para retira-los. Sentiu novamente a circulação em seus dedos, suspirando aliviada.

— Não me diga que vai usar botas no baile, Elizabeth - Georgiana parecia horrorizada com a possibilidade.

Lizzy apenas lhe deu um sorriso afiado.

— É claro que não. Estou pensando em ir descalçada. Que tal? - Ela provocou.

Georgiana mordeu os lábios, tentando conter o riso, mas explodiu em uma gargalhada.

— Não posso vestir esses sapatos, Georgie. É uma tortura - Lizzy confessou, passando a mão pelo rosto - Como é que você consegue usar isso aí? - Ela indicou com o pé o sapato caído no chão, de um tom azul claro, com um salto pequeno.

— Ora, usando. Não há nada demais - Georgiana disse, como se tudo aquilo fosse fácil. Não para uma mulher que usou a vida toda tênis All Star. Seus preferidos, aliás.

— Não consigo. Vai ter que ser as botas que eu tenho.

— Não - Georgiana disse, mortificada, com uma expressão do quadro o Grito, de Edward Munch. O "O" que ela formava sua boca era engraçado e adorável - Isso jamais. E se alguém ver? Vão pensar muitas coisas. Vão fazer suposições...vão...

Lizzy suspirou, desalentada, olhando para Marieen, que tinha uma expressão séria. Voltou seu olhar para Georgiana. Ela enumerava uma lista sobre possíveis comentários que fariam sobre Lizzy, quase a vissem usando uma bota ao invés de um sapato delicado nos pés. Pobres pés de Lizzy. Como ela conseguiria usar aqueles sapatos, de pano, desconfortáveis?

— Lizzy, use pelo menos no começo do baile, depois você troca - Georgiana argumentou.

— Ok, ok. Se é tão importante assim - Lizzy bateu com as mãos abertas sobre as coxas, sentindo a crinolina machucar suas mãos, devido a força que usou - Aí. Eu odeio esses vestidos. Humf!

*

— O que há, George? - Lizzy perguntou. Assim que se viu livre das roupas sufocantes. Estava apenas usando seu vestido azul matinal. Faltava apenas uma semana para o baile. Havia encontrado Georgiana na sala de música e a jovem estava com uma expressão triste, quando parou de dedilhar uma melodia no piano.

— Não é nada, Lizzie - ela respondeu, desviando o olhar para os dedos, sobre as teclas brancas do piano.

O instrumento era impressionante. Era de calda, de uma cor preta, como carvão. Mas, tinha brilho e parecia ser bem conservado e cuidado.

— Não posso acreditar que não há nada - Lizzy disse, circulando pela sala, olhando os outros instrumentos.

Uma harpa estava apoiada perto da janela. Um violino, no pedestal, um violoncelo estava apoiado em suporte. Todos os instrumentos pareciam novos, como se nunca tivessem sido usados.

— Eu não...- Georgiana soltou o ar. Lizzy levantou os olhos do violoncelo, para encarar sua futura cunhada. A jovem tinha uma expressão contrita, sofrida. Os olhos azuis estavam avermelhados. O pequeno nariz arrebitado também. O que estava havendo? - Ah Lizzie. Como...com você conseguiu conquistar o afeto do meu irmão?

A pergunta dela desarmou Lizzy. Ela ficou um pouco desconsertada. Mas, era uma ótima pergunta. Como ela fez para conquistar Darcy, afinal? Ela só foi ela mesma, se fosse se lembrar de todas as ocasiões que o encontrou. E ele antes mesmo de beija-la já queria casar com ela. Então, não foi um grande esforço. O grande esforço estava no fato de ela aceitar aquele amor e aceitar que nunca mais voltaria para casa. Mas, pensar nisso não doía tanto o peito. A não ser por seus amigos e Jane. Sua amada irmã Jane...

— Bom...eu não fiz nada - Lizzy tentou explicar que ela fora mais autêntica possível com Darcy - Aliás, por que essa pergunta repentina? Está apaixonada?

Ela ficou animada com isso. Já sabia até quem era seu amado. Georgiana ruborizou diante da pergunta e desviou o olhar. Mordia os lábios, deixando transparecer a imagem da desolação.

— A Lizzie, se você soubesse...- ela sussurrou - Eu o amo tanto...

— Quem? Quem é ele?

— Meu primo - Georgiana respondeu, com as faces afogueadas, desviando o olhar para longe - Mas, ele disse se afastou de mim...está tão frio e distante...

Lizzy sentiu um aperto no peito. Havia percebido que o coronel Fiztwilliam parecia evitar a companhia de Georgiana. Com a explicação de Georgiana, tudo fazia sentido. Richard parecia sentir algo pela prima. Lizzy era perceptiva e havia percebido o olhar de adoração dele para Georgiana, mas seu afastamento abrupto fazia Lizzy repensar sobre isso. Seria possível que estivesse enganada em seu julgamento?

— Eu sinto muito, Georgie - Lizzy disse, com a voz baixa, se aproximando da jovem, que estava sentada no banquinho, em frente ao piano. Georgiana apenas assentiu, dedilhando no piano, algumas notas, sem de fato tocar - Mas, sabe, sempre há esperanças.

— Mesmo? - Georgiana falou de forma amarga.

— Ora, sim - Lizzy insistiu - Você sempre pode dançar com outros rapazes para fazer ciúmes a ele.

— Não parece ser uma ideia sensata - Georgiana retrucou.

— Bom...tem razão...mas...- Que melhor conselho ela poderia dar? Lizzy era destemida. Nunca se importou com o amor. E quase gostou de alguns rapazes que não parecia enxerga-la, ela deu de ombros e seguiu adiante. Como explicar que Georgiana deveria se valorizar? E se fizesse isso, será que não estaria estragando um possível romance dela com o coronel? E se eles fossem destinados um ao outro? Ela mordiscou os lábios, ansiosa - Sabe, você deveria talvez, conversar com ele. Expor o que sente. Já tentou isso?

— Eu não...ah...- ela estava com uma expressão tímida. Tão vermelha. Pobre Georgie, pensou Lizzy.

— Uma carta, talvez? Tente escrever uma carta e dizer o que sente. Assim, você não precisa falar e ele vai entende-la.

— E se ele não me quiser, ainda assim? - Georgiana perguntou, com a voz agoniada, olhando-a com uma expressão sofrida.

Lizzy sentiu a garganta se apertar. O que fazer, Deus?

— Bom...quem sabe você então, esquece ele e segue adiante. Afinal, é uma moça linda. Uma dama educada. E quem é que não gostaria de tê-la como esposa, hum?

Lizzy não concordava com metade do que disse. Achava tudo uma bobagem. Georgiana deveria sim, se valorizar. Ser feliz e apenas se casar se realmente fosse seu desejo. E se um homem não desejasse, ela não deveria se lamentar pelos cantos.

— Talvez...você tenha razão. Lizzie - Georgiana anuiu levemente a cabeça. E seu olhar se tornou mais confiante, de repente. Ela até ensaiou um sorriso. O que deixou Lizzy aliviada - Talvez, eu deva esquece-lo, de fato.

— Eu não quis dizer para esquece-lo, Georgie...- Lizzy começou a se sentir uma idiota. Por que foi abrir sua boca para aconselhar Georgiana? Ela mal conseguia lidar com a própria vida amorosa.

— Não, tudo bem - a jovem interrompeu com a mão - Eu sinceramente não vou esperar por ele. Já sofri muito por causa de George. Ele me enganou, me usou e só queria meu dinheiro...E Richard...ele é confuso...E eu quero ser livre. Aquele livro que você me indicou, sobre os direitos das mulheres foi algo que me fez repensar muito.

O brilho do olhar dela se tornou feroz. E Lizzy se arrependeu amargamente por mudar a natureza dócil de Georgiana. Darcy ficaria irritado com a irmã desobediente, se ela se comportasse de forma repreensível.

— Georgie, escuta, você precisa relaxar - Lizzy tentou contornar - Só tem dezessete anos. É sua primeira temporada. Não precisa se casar agora. E com certeza seu primo só está inseguro com algo. Se quer a verdade, eu vi como ele olha para você. E ele não parece vê-la com sua prima.

Os olhos de Georgiana reluziram, mas logo sua luz se apagou. O que era algo triste de se ver. Lizzy gostava quando os olhos da jovem sorriam, como dois faróis acesos na escuridão.

— Eu vi seu olhar para mim, Lizzie...mas, ele não fez nada para mudar o que temos...disse que precisa apenas ser meu irmão. Que é o correto...eu...

Passos ecoaram no piso e Georgiana se calou, parecendo nervosa. Lizzy pode ver Darcy entrando na sala de música, com um sorriso nos lábios para ela. Lizzy sentiu seu ventre fisgar. Estava quente por dentro, de repente. Alguém havia ligado o ar-condicionado...opa, acendido a lareira?

— O que houve? - Darcy perguntou, alterando sua expressão apaixonada. Parecia preocupado.

— Hum...- Lizzy não sabia o que responder.

— Está tudo bem – Georgiana respondeu, com a voz rouca, limpando o rosto com o dorso da mão. Levantou-se do banquinho, de repente e disse: - Eu vou para o quarto, Lizzie, querida. Preciso começar a me arrumar para o baile. Gostaria de se juntar a mim?

— Eu gostaria de falar com a Srta. Elizabeth por alguns instantes, Georgiana, se não se importar – Darcy interveio. Mas, ele ainda olhava de forma avaliativa para a irmã, com certeza, tentando entender o que se passava no íntimo dela.

— Ah, claro. Eu os deixarei agora. Depois espero você no meu quarto, Lizzie – ela deu um sorriso fraco para Lizzy, se afastando para a porta, evitando olhar nos olhos do irmão.

Ele acompanhou a saída dela do cômodo de forma preocupada, com as mãos atrás das costas. Lizzy observava o carinho que ele tinha no olhar. Georgiana parecia ser a pessoa mais importante no mundo para ele, sem dúvida alguma. Então, ele se voltou para ela, e seu olhar se acendeu. Não havia como negar que ele realmente gostava dela, devido ao fato de que seus olhos escureceram, de forma apaixonada. Ela não estava muito diferente, mergulhada em seus olhos azuis vibrantes, que estavam a cativando a cada dia.

— Elizabeth – ele interrompeu o transe que os dois estavam – Eu gostaria apenas de saber...bom...eu...

— Você...? – Ela incentivou, de repente, sentindo o coração disparar.

— A senhorita deve saber das minhas intenções, não sabe? – Ela o fitou, sem entender, mas no fundo, sabia do que ele estava falando – Eu deixei claro minhas intenções e essa noite eu espero...bom...- Ele passou a mão pela nuca – Isso parece difícil de dizer...

Ele estava ruborizado, o que era algo difícil de se presenciar. O assunto devia ser penoso para ele e Lizzy se viu sorrindo. Gostava da forma como ele se esforçava para superar sua timidez, apenas para expressar seus sentimentos mais profundos. Isso a aquecia por dentro.

— Talvez, eu saiba do que está falando. É sobre o casamento? – Ela tentou ajuda-lo.

— Sim...eu...- ele soltou o ar, parecendo constrangido – Nunca fiz isso em minha vida. Nunca pensei que seria tão difícil fazer um pedido formal a uma dama, para que se casasse comigo. Eu sabia que teria de fazer isso um dia, mas estou ansioso...eu....

Ela viu o desconforto dele e resolveu se aproximar, colocando a mão sobre o braço dele. Ele a fitou atordoado.

— Está tudo bem, Darcy – ela garantiu – De verdade. Eu imagino que fara o anuncio essa noite, sobre o nosso noivado. Mas, de fato, não precisa fazer isso. Não há necessidade de anunciar nada. Apenas o que sentimos um pelo outro é o que importa.

— Elizabeth, querida, eu preciso fazer isso. Você é importante para mim e quero apresenta-la a todos meus conhecidos...- ele disse, levando a mão ao rosto dela, de forma carinhosa. Ela fechou os olhos, em deleitamento. Quando os abriu de novo, pode ver a doçura nos olhos azuis dele – Falar dos meus sentimentos a você foi a coisa mais difícil que fiz na minha vida, pois, eu nunca precisei me expressar nesse quesito, mas falar no meio de uma multidão....- Seu olhar se tornou exasperado – Vai estar comigo, ao meu lado, Elizabeth? Por favor.

— É claro que vou – ela sorriu para ele, demonstrando todo seu apoio – Não vou abandona-lo um segundo sequer, se é tão importante para você.

— Obrigado, meu amor – ele soltou o ar e ela percebeu que ele tremia. Então, ele a puxou pela cintura, plantando um beijo na testa dela e com a outra mão, acariciava suas costas. O seu toque era um deleite par ela. Lizzy envolveu seus braços ao redor da cintura dele, colocando sua cabeça sobre seu peito, escutando as batidas do seu coração. O coração dele estava acelerado e era possível escutar sua respiração profunda. Ela não se sentia muito diferente dele. Em todas as vezes que se virem naquela semana, ela sentia suas emoções afloradas. Estava se apaixonando por ele de forma irrevogável e profunda. Não imaginava um mundo sem ele e não queria nem pensar nisso – É tão bom ter você comigo, Elizabeth. Sinto que desde que a conheci, sinto-me mais leve, talvez, menos carrancudo, como Richard vive me dizendo.

Ela acabou rindo disso, acompanhada por ele. Sua risada era grave e envolvente, o que deixou Lizzy um pouco desorientada e com a respiração entrecortada. Ele realmente estava mexendo com seus sentidos.

— E sabe de uma coisa? Eu nunca sorri tanto quanto agora – ele confessou, procurando olhar para ela. E ali estava, um sorriso genuíno que fazia os olhos de Lizzy brilharem. Ela amava seu sorriso – E acredito que não sabia que não era feliz, de verdade. Algo estava faltando, Elizabeth. E era você que faltava em minha vida. Para deixar tudo certo, no eixo. Eu apenas vivia pelo dever e pelo dia que teria que ter uma esposa, para gerar um herdeiro e me auxiliar na educação de Georgiana. Mas, então, você chegou, Elizabeth e me transformou por inteiro. Mudou minha ideia e meus pensamentos. Eu sinto que agora, que se eu não tiver você comigo, com certeza, não poderei encontrar a felicidade real. Acredito que me tornarei a sombra de um homem, apenas vagando sem destino.

— Darcy...eu...- Ela estava comovida por suas palavras. Queria retribuir, na mesma intensidade, mas ele continuou a falar.

— Não, Elizabeth...me deixe terminar. Eu preciso lhe dizer que você é uma das pessoas mais importantes do mundo para mim. E que minha missão é faze-la feliz. Eu espero de fato fazer isso por você. Espero que todos os seus dias sejam repletos de amor e carinho, com tudo que desejar, também. Sou seu para fazer o que quiser de mim. E espero nunca a decepcionar.

— Ah...Darcy...isso é tão...- Ela estava emocionada, sentindo os olhos aguados, de repente. A garganta apertada. Mas, não era pela tristeza, mas sim pela emoção de estar ouvindo palavras tão sinceras – Eu também sou sua, para fazer o que quiser de mim. Sempre estarei ao seu lado, não importa as dificuldades que passarmos. Eu nunca vou deixa-lo e espero também, nunca o decepcionar. Não suportaria ser razão da sua tristeza, pois a cada dia, quero ser a razão da sua felicidade. Mas, precisamos ter os pés do chão – Ao dizer isso, ele a fitou com insegurança – Em algum momento, nós dois vamos nos ferir. Em algum momento, vamos ter opiniões dispares. É natural que nem sempre possamos nos dar bem, Darcy. Eu só espero que quando esse dia chegar, possamos fazer as pazes sempre.

Então, ele sorriu diante do que ela disse.

— Tem toda razão, Elizabeth – ele concordou e acariciou o rosto dela, com o polegar, na altura do maxilar – Farei de tudo para que esse dia não chegue, mas se um dia chegar, se um dia não nos entendermos, eu quero que nunca se esqueça que eu a amo. E que nunca vou deixar de ama-la, não importa o quão bravo eu pareça estar.

Ela gargalhou dessa vez.

— Isso eu quero ver – ela provocou.

— Ah, você não vai me querer bravo, senhorita – ele replicou, com um sorriso malicioso – Posso ser muito pedante, como Georgiana disse mesmo...Ah, que sou um bruto.

Ela riu ainda mais.

— Tenho certeza que posso lidar com seu mau humor e com seu lado bruto, Sr. Darcy – ela respondeu, sem deixar de sorrir.

— Eu espero que sim, Elizabeth. Mas, não quero perde-la. Nunca – Ele a abraçou novamente, parecendo tentar se fundir a ela, dessa vez. O que a deixou comovida, fazendo o mesmo, envolvendo seus braços ao redor dele, sentindo o toque do seu coração – Eu te amarei em todos os momentos, Elizabeth. Até o meu último suspiro.

*

Lizzy sentia-se ansiosa. Por todos os santos, ela não sabia nem como se portar naquele baile. Desceu as escadas, com seu vestido, sentindo-se tonta e incapaz de continuar andando, mas Georgiana a puxou, parecendo entender como ela estava se sentindo por dentro. Iria conhecer tantas pessoas aquela noite.

Quando as duas chegaram no salão de baile, Lizzy se encantou com a forma como Georgiana organizou tudo, com a Sra. Reynolds e os outros criados da casa. O salão estava decorado com cortinas em tons lilases nas grandes janelas que davam acesso a um jardim interno. Os arranjos de flores estavam sobre mesas altas, em tons brancos e rosas. Havia vasos de plantas espalhados ao redor, sem atrapalhar o fluxo de pessoas e uma mesa com quitutes variados. Criados de libré circulavam pelo salão com champanhe e limonada. Olhando para cima, Lizzy pode ver o grande lustre rodeado de vera de cela de abelha, deixando o salão iluminado e majestoso. Para completar a decoração do ambiente, haviam quadros nas paredes, de paisagens bucólicas e outros da família Darcy.

— Está tudo tão lindo, Georgiana – Lizzy sussurrou para sua futura cunhada.

— Verdade? – Ela perguntou, parecendo ansiosa – Eu me esforcei tanto para que tudo ficasse a contento.

Lizzy garantiu que sim. O salão já estava cheio de convidados, todos conversando e bebendo. Uma música ambiente e agradável era tocada por um quarteto de cordas. Os músicos estavam posicionados ao fundo do salão, onde não havia circulação de pessoas. Então, Lizzy sentiu-se congelar, de repente. Ao longe, perto das portas para o jardim, estava a Srta. Bingley, com seu irmão, o Sr. Bingley, acompanhado de Jane Bennet. E Darcy estava ao lado deles. A mão da Srta. Bingley estava sobre seu antebraço e ela falava muito perto dele. O que deixou Lizzy com estomago embrulhado. Não sabia porque sentia a sensação de perigo, com a chegada da Srta. Bingley ao baile dos Darcy. Mas, era o que sentia. Sentia-se ameaçada e não confiava naquela dama.

— Vamos, Lizzy? – Georgiana a chamou, retirando-a dos seus pensamentos – Meu irmão está acenando para nós.

Ela percebeu então, que Darcy estava olhando para ela, se afastando da Srta. Bingley, vindo em sua direção. E o olhar que ele dirigia a ela dissipou todos os medos que sentia. Ele a amava. Era impossível qualquer pessoa daquele cômodo não perceber isso. Então, ela deu um passo de cada vez até ele, com a confiança renovada, com a certeza de que aquela noite mudaria tudo para eles.


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