Blindwood escrita por Taigo Leão


Capítulo 25
Saliã




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A mulher permaneceu imóvel, olhando fixamente para Sarah Bove, até que levou seu olhar de desdém para o ser que vinha se arrastando lentamente enquanto segurava uma foice. Era como se caminhar fosse algo doloroso para ele naquele momento.
Ele chegou cada vez mais perto, enquanto Elaine observava-o de onde estava, colocando uma mão no ombro de Maria, em um gesto protetor. Para mostrar que ela estava ali caso a garota sentisse medo.
Mas Elaine notou algo diferente.
Enquanto os homens tremiam de medo e pareciam extremamente assustados, ela não sentia o mesmo temor da primeira vez em que esteve na presença dessa entidade.
O ser se aproximava. Passo por passo, lentamente, enquanto o som estranho ecoava por todo o local. Sarah Bove, que não podia enxergar, era a mais aterrorizada.
A entidade fez uma carnificina. Levando um de cada vez com sua foice e com as próprias mãos. Um a um, menos Sarah Bove e a mulher. Estas permaneceram intactas.
Quanto aos outros. Estes levaram golpes fortes. Alguns na barriga. Outros perderam braços ou partes de seus corpos. Um homem, o último, se assustou e tentou fugir correndo, mas assim que se virou, teve a cabeça arrancada pelo Ceifador.
O vestido branco que Sarah Bove usava ficou sujo de sangue, enquanto partes da veste da mulher também ficaram. Mas plena, longe de tudo que aconteceu a sua volta, a mulher da religião estava da mesma forma que estava antes, sem mover um músculo. Como se nada tivesse acontecido, ela apenas olhava para os corpos com desdém, enquanto o sangue deles caía nos espaços dos símbolos no chão e iam preenchendo o local, até que os corpos viraram cinzas e desapareceram, deixando apenas máscaras rachadas.
O Ceifador permaneceu ali imóvel e quieto, segurando sua foice.
— Criança... Já começou. Agora você deve servir o seu propósito.
A mulher se aproximou com a adaga que carregava em mãos e fez um pequeno corte em um dos pulsos de Sarah Bove. Elaine não aguentou aquela visão e pensou em impedir, mas o Ceifador estava ali, o que não daria chance nenhuma para os presentes.
Elaine cerrou bem os olhos e conseguiu ver um símbolo em seu braço esquerdo. Era o símbolo da religião.
Na hora ela se revelou, entrando na sala e mirando na mulher com o revólver.
— Saia de perto dela.– Elaine disse.
— Você... O que faz aqui?
Maria acompanhou Elaine, enquanto Marco ficou para trás, nas sombras.
— Eu já disse, saia de perto dela.
— Não podes entrar aqui e dar ordens deste jeito. Tu não é nada, apenas alguém tentando ser algo. Mas agora estás aqui... Deixe tudo para trás e morra.
O Ceifador se levantou e caminhou na direção de Elaine, enquanto a mulher pegou a corda que prendia Sarah Bove e a juntou a si, usando a garota de refém com uma adaga em sua garganta, enquanto fugia dali.
Marco relutou entre ir atrás da mulher ou ajudar Elaine, mas foi incentivado pela Elaine a sair dali. A princípio ele não queria fazer isso, mas Elaine possuía o revólver consigo. E essa era uma boa forma de proteção. E além disso, embora a vida de sua amiga fosse importante para ele, nada nesse mundo poderia ser mais importante do que Sarah Bove. Ele poderia perder tudo, até mesmo a própria vida, mas não poderia perder Sarah Bove.
Elaine pediu para Maria se afastar e enfrentou o Ceifador.
O ser caminhava lentamente e com passos tortos. A cada vez que se aproximava, ele usava a foice para tentar acertar Elaine. Era como um padrão.
Embora ele fosse maior, mais forte, e Elaine soubesse que o triscar daquela foice poderia tirar a sua vida, ela tentava se concentrar.
Apenas o balançar daquela foice lhe causava arrepios e um terror completo. Ela pensou em fugir dali, mas tinha medo de ser atingida pelas costas.
Usando os pilares do local como guarda, ela se escondia e atirava no homem, mas os tiros não pareciam surgir efeito, até que ele se aproximava e quebrava aquele pilar, indo em direção ao próximo.
Um, dois, três tiros sem efeito algum.
Só havia mais um único pilar onde ela poderia se esconder. Foi quando ela se lembrou da adaga de Pedenium.
— Maria, me dê a adaga!
Elaine correu na direção de Maria e a pegou, correndo para o outro lado em seguida. O homem a seguia lentamente.
Ela correu para o próximo pilar e se escondeu atrás deste, mas desta vez, não correu para o outro quando sentiu que o homem estava prestes a atacar.
Ela esperou ele chegar perto o suficiente e, graças aos céus, acertou um tiro em sua mão esquerda, o que fez com que ele soltasse a foice por um instante. Ele emitiu um barulho estranho, então aparentemente o tiro havia machucado.
Elaine aproveitou a situação e correu novamente, desta vez na direção do Ceifador.
Ele tentou acertá-la com um soco usando a mão direita, mas não a atingiu. Ela então perfurou suas costelas direitas usando a adaga e logo a puxou de volta, indo para as costas do ser.
Ele urrou novamente e levou as mãos até as costelas, quase atingindo Elaine, que já estava em suas costas.
A lâmina parecia diferente de antes. Agora era como se, o sangue que pegou do Ceifador, estivesse alimentando-a. Ela estava com uma cor diferente.
Elaine perfurou as costas do ser e desceu a lâmina o máximo que pôde, fazendo um grande corte profundo.
Com o golpe, ele caiu de joelhos e Elaine se afastou, com medo de que ele pegasse a foice e a atacasse de alguma forma.
O corte se abriu mais enquanto um sangue escuro saía dali, porém, não foi assim que ele morreu.
Ele pegou a foice, mas não atacou Elaine. Na realidade ele perfurou o próprio peito com ela, tão profundamente que quase atingiu Elaine dessa forma.
Ele então esticou os braços e abriu as mãos, tremendo os mesmos, como se estivesse agonizando, até que caiu para o lado e seu corpo desapareceu, deixando para trás apenas o corpo que parecia ser de uma pessoa normal. Mas, na realidade, era um daqueles monstros que pareciam manequins e possuíam o rosto liso. Este estava sem vida, e logo seu corpo virou cinzas e desapareceu.
— Eu sabia.– Elaine confessou, enquanto recuperava o fôlego.– Ele não era realmente o Ceifador.
— Você também sentiu, não foi?
— Sim... Fisicamente é a mesma coisa, mas a densidade do ambiente quando ele está presente é totalmente diferente. Aliás, Maria... Você já o viu?
Elaine perguntou mas Maria nada disse, apenas seguiu em direção a porta, dizendo que elas precisavam ir atrás de Marco.
As duas seguiram pelo mesmo caminho pelo qual a mulher havia fugido. Usando uma porta do outro lado desta grande sala.
Após subir algumas escadas, elas chegaram a uma sala maior com algumas portas, das quais uma estava aberta. Foi por lá que elas foram.
Após finalmente chegarem na parte principal da igreja, a cena que viram não foi das melhores.
Sarah Bove estava presa, sendo segurada por algumas pessoas, enquanto Marco era segurada por outros, frente a mulher. Haviam pessoas feridas ali, e Marco era uma dessas pessoas. Parecia que os presentes ainda não tinham visto Elaine e Maria, então continuaram o que estavam fazendo.
Elaine chegou a tempo de ver a mulher cortar novamente o pulso de Sarah Bove usando uma adaga, mas agora mais profundamente, fazendo seu sangue cair em uma tigela que segurava.
No momento Elaine ficou zonza e não conseguia mais enxergar as coisas. Foi como se o tempo tivesse parado.
Seu próximo passo foi ficando cada vez mais lento e ela percebia isso. Era como se nunca tivesse fim. Mais rápido do que um piscar de olhos, enquanto dava o próximo passo, Elaine saiu daquele local, com aquelas pessoas, e se viu em um lugar aberto. A neblina era presente ali e o chão estava rachado. Era como as ruas de Blindwood, mas não haviam estabelecimentos ou casas por perto. Não havia ninguém por perto, exceto um ser, frente Elaine.
Um grande ser branco. Do qual Elaine tinha a certeza de nunca ter visto nada parecido, mas sua aura era familiar. Não totalmente, mas era parecida com uma outra.
Três marcas atravessavam seu tronco, começando em seu ombro direito e indo até sua costela esquerda, como se fossem cicatrizes causadas por garras gigantes ou marcas. Também havia uma marca em formato de um V estreito que estava no meio de seu peito e subia até o seu pescoço.
Sua pele toda era carne vermelha e branca e seus braços estavam grudados em seu corpo, na região de suas costelas.
Seu rosto era composto por pequenos olhos vermelhos e os buracos de suas narinas.
Como se não tivesse boca, mas tivesse rasgado o lugar onde ela deveria estar, ele não possuía lábios. Sua boca era formada por pedaços rasgados de pele e entre estes era possível ver os seus dentes afiados.
Ele não possuía gênero, seu corpo era inteiramente liso como o de um manequim. Ele não usava roupa nenhuma e em seus pés não haviam dedos.
Embora estivessem no meio da neblina, o corpo forte daquele ser soltava uma espécie de fumaça, e, enquanto respirava, seu corpo seguia a respiração.
Tão rápida como chegou ali, Elaine já havia voltado para onde estava, na igreja.
Olhando para Maria ela notou que não havia sumido de verdade. Isso foi uma visão.
Essa visão deixou Elaine muito assustada. Ela nunca tinha visto nada parecido nem mesmo nos quadros, mas tinha a certeza de algo. Aquela aura era tão maligna quanto a do Ceifador.
Era ele. Saliã.
— Parem com isso! – Foi o que ela gritou quando retornou a realidade, revelando que estava ali, acompanhada de Maria.
— Hm? Ora. Você está viva? É mesmo alguém surpreendente.
— Eu vou dizer novamente. Saia de perto dela.
Elaine apontava a arma para a mulher.
Além da mulher desconhecida, haviam cinco pessoas ali. Elaine contou todas elas. Uma segurava os braços de Sarah Bove, que estavam presa à pilastra. Duas seguravam Marco e as outras duas estavam espalhadas pelo altar. Todos os presentes, usando as máscaras e túnicas, olhavam para Elaine, mas nenhum dos últimos quatro se atreveu a ir em sua direção.
— Abaixe essa arma. Você está em um lugar divino. Sua herege. Abaixe isso agora.
Um homem se moveu e ficou de prontidão para ir em direção a Elaine, mas a mulher fez um sinal com a mão esquerda para ele parar.
— Não podes evitar o inevitável. Eu sei bem o que tem feito neste vale, mas saiba que de nada adiantará. Não é a primeira a tentar impedir, mas será a última. Dessa vez, é certo, ele voltará.
A mulher despejou o sangue de Sarah Bove no centro do altar, onde havia uma depressão com um círculo e o símbolo da religião. Enquanto o mesmo ia preenchendo o desenho, o fogo nos candelabros ficaram mais fortes. Era como se houvesse uma ventania naquele lugar fechado.
Elaine se preparou para puxar o gatilho, e foi o que ela fez.
Porém um homem rápido a atrapalhou, golpeando sua mão e fazendo-a atirar para o alto. O barulho ensurdecedor do tiro ecoou por todo o lugar, mas não foi isso que surpreendeu Elaine. Após o susto pelo disparo – afinal, nunca havia atirado de verdade –, Elaine foi golpeada na cabeça.

Quando acordou, Elaine viu muitas pessoas com roupas da religião. Ela também viu Maria amarrada, presa em uma nova pilastra que havia sido colocada ali.
Marco também estava amarrado, sentado no chão, e Sarah Bove agora estava deitada no centro do altar, desacordada.
Elaine estava amarrada de frente para o altar, bem no início deste.
O pânico era presente no olhar de Maria, assim como a raiva extrema. A garota tentava se soltar a todo custo, mas seu corpo pequeno e frágil nada poderia fazer, apenas se machucar com as cordas que estavam bem apertadas.
Não havia mais esperança. Todos estavam presos ali, no covil do inimigo. Possivelmente Sarah Bove já estava morta. Ela estava imóvel e pálida, com os cortes em seus pulsos, que nem ao menos sangravam mais.
— Irei lhe revelar, forasteira, a verdade que existe aqui. Não sei o que sabes, mas sei que não é tudo. Estamos para trazer Saliã de volta, e sei bem tudo que você tem passado. Sei sobre teus passeios pela dimensão proibida. Mas saiba que, quando pensou que havia chegado mais perto, na realidade, estava nos ajudando. Sim, Sarah Bove é uma escolhida. Ela é... Digamos, pura. Sim, ela é. Talvez seja a única neste vale. Mas a realidade, Elaine, é que ela não é o último sacrifício. Ninguém disse que ela era, ou disse?
A mulher olhava com desdém para Elaine, e embora não demonstrasse, Elaine via um olhar raivoso naquela mulher, mas também certa superioridade.
— Maria... Você a trouxe para nós. Agora me diga, pequena, por que entrou aqui? Depois de tanto tempo fugindo e se escondendo... Não me diga que essa mulher conseguiu fazer a sua cabeça, fazendo com que arriscasse sua própria vida?
A mulher permaneceu imóvel e em silêncio por alguns segundos, olhando para Maria, agora com um olhar de satisfação.
A mulher pegou um grande livro velho, com uma capa marrom de couro gasto, e começou a folhear o mesmo.
— Venha a nós com tua escuridão. Nos preencha com tua agonia, que transcende as barreiras dimensionais. Nos mostre o teu inferno, onde estaremos seguros, banhados por teu sofrimento e agonia. Traga sua luz negra para nós, no corpo desta jovem pura. Venha com teus pesadelos e nos guie dentro da escuridão, oh, grande mestre. Aqui está o que tens pedido impacientemente. Teu último sacrifício e teu próximo corpo. Venha. Venha a nós!
A mulher começou a falar em um idioma desconhecido, iniciando um ritual. Maria abaixou sua cabeça e já não olhava para ninguém, como se tivesse desistido de tudo. Elaine se sentia muito culpada e desesperada por saber que, agora, não havia mais uma forma de sair dali. Era o fim para todos.
A mulher que falava então se aproximou lentamente de Maria, segurando um recipiente com sangue em uma mão e uma adaga na outra, enquanto Elaine gritava para ela parar. Elaine gritou com todo o ar de seus pulmões.
A mulher entregou o recipiente para uma pessoa que estava próxima e pegou o braço de Maria, se preparando para cortar seu pulso, mas a igreja começou a tremer.
Enquanto um suposto terremoto havia se iniciado, um sino foi escutado, seguido pelo som agoniante de uma sirene estranha. Era o mesmo som que Elaine havia escutado antes, mas agora estava mais forte; mais alto.
Elaine escutou o barulho de seu coração como um pistão, forte o bastante para machucar seus ouvidos, e olhou pelo vitral da igreja, mas se surpreendeu. Além do vento forte, ele estava sujo, muito sujo. Sujo de algo escuro. Sujo de sangue, que grudava na janela.
A porta da igreja se abriu enquanto todos estavam se recuperando do terremoto, que havia até mesmo rachado um pouco o chão da igreja, que era feito de madeira.
Elaine, que estava de costas para a porta, não conseguiu ver quem havia entrado ali e atrapalhado toda aquela cena, mas sentiu algo único. Ela não ousou mexer um único músculo e se entregou ao desespero.
O som daquela foice arranhando o chão e os passos pesados, além de todo o ambiente ter ficado extremamente pesado.
Era o Ceifador, desta vez, era ele mesmo.
— Você não pode entrar aqui! Esta é a casa de Saliã!
Mas a entidade continuou caminhando, arranhando o chão com sua foice.
Ao perceber que as ordens não eram ouvidas, todos entraram em um terror absoluto. Alguns tentaram correr e atravessar as portas que haviam por ali, mas elas simplesmente estavam trancadas. Não havia para onde fugir.
Elaine escutou sons de pessoas sendo dilaceradas pela foice e mais gritos de terror. Ela nem ao menos podia se virar para olhar, pois estava presa. Na realidade, ela não queria olhar. Apenas queria que tudo acabasse, ela queria sair dali.
Elaine olhou pelo vitral sujo da igreja e se sentiu no inferno. Ela se lembrou do que Agatha lhe disse e teve a certeza de que realmente estava no inferno, onde não havia esperança. Mas, como alguém que não deveria estar ali, ela procurava e pedia, em seu íntimo, por esperança. Ela via esperança no céu. Elaine abaixou a cabeça, esperando chegar a sua vez. Ela pediu desculpas mentalmente para Maria e para Marco, e também para Sarah Bove, mas não teve a coragem de os encarar.
Fechando os olhos com força, Elaine desejava de toda a sua alma sair dali e fugir desse inferno.
Elaine fechou os olhos e apagou.


Quando retornou para si, Elaine pensou que estava no céu, mas ainda estava viva, na igreja. Tudo já havia terminado e, de alguma forma, ela havia conseguido se livrar das amarras.
O lugar fedia a carne humana e estava banhado por sangue e corpos dilacerados, era uma cena horrível. Novamente Elaine pensou o mesmo que antes. Ela estava no inferno.
Marco estava em pânico, paralisado, com os olhos arregalados, e Maria estava no chão, desmaiada. Fora os três, não havia mais ninguém com vida naquele lugar.
— E...Ele... Eu... Não acredito...
Marco nem ao menos conseguia terminar uma frase.
O Ceifador não estava mais ali, mas havia deixado um rastro. Um rastro de destruição em massa. Um rastro do qual Elaine não iria esquecer nunca. Em todos os seus anos como jornalista, nem no pior dos casos que viu ou que estudou, ela teria presenciado algo tão horrendo como aquilo. Não era como um crime de ódio, não era como vingança. Era apenas... Morte. Sim, parecia haver raiva. Parecia haver muita fúria, mas no fim, era única e simplesmente, a morte.
Marco foi até Sarah Bove, que não havia sido atacada, para checar seu pulso, e permaneceu em silêncio. Isso era inevitável. Não havia uma explicação do por quê o Ceifador não tocou em Marco, Elaine e Maria, mas sobre Sarah Bove, talvez porque ela já estava sem vida.
Elaine olhou em volta, mas não viu resquícios de Agatha ou da mulher misteriosa.
Novamente a igreja começou a tremer. Era outro terremoto. E desta vez, o corpo de Sarah Bove também tremia, enquanto seus olhos se tornavam apenas buracos negros e algo estranho e escuro saía de sua boca.
— Elaine... Onde está a adaga? – Marco perguntou.
Elaine se lembrava que estava consigo, mas temia que alguém da religião tivesse pegado dela quando a fez desmaiar. Ela estava errada. De alguma forma, a adaga ainda estava no bolso do seu casaco.
Marco pegou a adaga das mãos de Elaine e, aos prantos, se aproximou de Sarah Bove, que ainda estava tremendo.
Marco havia feito uma promessa quando seu tio morreu. Ele não iria perder mais ninguém. Ele não poderia deixar isso acontecer novamente; seria algo muito cruel para si. Mas não havia escolha, ele sabia disso.
Em meio a juras de desculpas e amor, Marco pegou a adaga e perfurou o peito de Sarah Bove. Assim que a lâmina atravessou seu peito, um brilho fraco foi emanado da mesma, e Sarah Bove parecia ter se livrado do ataque epilético. Ela impulsionou seu corpo para cima e tentou puxar ar, então começou a chorar.
Sarah Bove, a pura, estava no centro de todo este inferno. Seu vestido branco estava sujo de sangue e de algo escuro. Ela nunca pensou que poderia ser um tipo de sacrifício, nem em seu pior pesadelo. Mas todos em Blindwood estão ali por algum propósito.
Ela olhou para Marco e tentou tocar seu rosto. Os dois estavam aos prantos.
— O que...
— Me perdoe, Sarah. Me perdoe...
— Marco... Está tudo bem... Não havia outro jeito, agora eu entendo...
— Por favor, não me odeie pela eternidade..
— Eu nunca odiei você em nenhum momento de minha vida. Não será agora que farei isso. Muito pelo contrário, Marco. Eu... Te...
Sarah Bove morreu.
Agora, mais do que nunca, Marco havia perdido tudo, mas ele não estava se lamentando ou em extrema depressão.
Marco continuou parado, olhando para o corpo sem vida de Sarah Bove. Ele então puxou a adaga do peito dela, e a mesma saiu sem marcas de sangue ou algo do tipo.
A adaga estava limpa.
Ele se levantou e foi até Maria, então a pegou em seus braços e ajudou Elaine a se levantar, falando para eles saírem dali.
Eles foram até o cubículo de Marco sem dizer uma única palavra.
O homem deitou Maria em sua cama e começou a fazer curativos na mesma, vendo se a garota, que estava desacordada, estava bem.
Elaine o observava de longe, em silêncio.
Marco decerto foi o mais afetado por essa tragédia. Ele foi o mais afetado pela religião. O homem, desde novo, estava perdendo coisas para esse culto e esse propósito, do qual ele nem ao menos compreendia ou fazia parte. Ele pagava por algo que não era sua culpa.
De certa forma, ele pagava pelos pecados dos outros.
Marco era um homem decente, mas teve sua inocência e vida perdidas por tudo isso. Elaine pensou que o melhor, agora, seria ele sair dali e ir para bem longe. Onde pudesse recomeçar sua vida. Mas primeiro, ela queria saber o que realmente havia acontecido.


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