Reflect escrita por Kurai


Capítulo 5
HoloMyth


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/805570/chapter/5

A porta da sala onde Gura estava, atualmente no meio de sua audição, foi escancarada com violência. Ela se virou, assustada, assim como o homem na mesa à sua frente e duas outras mulheres com ele, que eram quem a estavam julgando.

Três outras garotas irromperam porta adentro, de forma tempestuosa. Bom, duas. Uma falava sem parar para respirar, aparentemente sem necessidade de pulmões, numa voz grave e exaltada, e a outra correu até ela e a puxou pelos braços, chorando, enquanto choramingava alguma coisa num tom agudo demais para ela entender qualquer coisa. A terceira, que andava tranquilamente, só se aproximou em silêncio e parou a alguns passos de distância, esperando as demais.

Por fim, a primeira delas interrompeu tudo, nervosa, e decidiu puxar Gura, com a outra ainda chorando agarrada a ela, porta a fora.

— Quer saber, não temos tempo pra isso. Princesa, precisamos de você, e se seja lá o que Watson foi fazer no passado deu certo, você vai ajudar. – ela reiterou, ainda puxando-as pra fora do prédio.

Assim que ouviu aquele nome, Gura parou de resistir à estranha que lhe arrastava com uma força sobrenatural para fora de sua própria audição inacabada. A encarou surpresa.

— Watson? Watson de Amelia Watson, loira, olhos azuis, roupa engraçada?

— Ameeee.... – a ruiva confirmou, sendo arrastada ainda agarrada a Gura.

A que andava atrás das três, a calma, se pronunciou pela primeira vez.

— Você provavelmente a conheceu nove mil anos atrás, não foi? Para ela, a última vez que ela te viu foi hoje de manhã. Ela acabou de voltar para esse período. Amelia é uma viajante do tempo, princesa.

— É, muito legal, muitas revelações, mas temos-que-IR! Morte-sensei vai aparecer lá a qualquer segundo e levar ela embora.

— Wowowow. Morte? Como assim levar ela embora? – Gura travou os tornozelos no chão para fazer a garota parar de puxá-la e explicar algo. Ela cedeu, não sem um bufar exasperado.

— Ok, vamos lá. Eu sou Calliope Mori a primeira aprendiz do Ceifeiro da Morte e rapper. Essas são Takanashi Kiara e Nino’mae Ina’nis, ela é uma fênix—

— E CEO do KFP! – a garota soluçante corrigiu, a soltando para fazer uma pose confiante; um pouco apagada pelo fato de seu rosto ainda estar inchado de choro.

— ...E CEO de uma rede de fast-food, e ela é uma—

— ...Humana totalmente normal. Que por acaso encontrou um livro. – a garota calma também decidiu interromper. Calliope Mori jogou as mãos para cima em frustração.

— Querem parar de me corrigir? Estou tentando ir depressa!

— Gura! Ame está em perigo, e estamos todas indo tentar proteger ela! – Kiara interrompeu mais uma vez, roubando o holofote.

— O quê? Por quê?? – ela arregalou os olhos, surpresa.

— Por ter ido conhecer você. A viagem no tempo pra tão longe no passado e depois de volta acabou com ela, cara. Watson é só um ser humano. Eles não aguentam muita coisa.

— O quê? Mas por quê ela faria isso?

— É uma longa história, que não importa agora. – Ina’nis declarou.

— O que importa, é que ela vai ser levada pelo Morte-sensei se não fizermos nada!

— Ok! Ok! Entendi! Estou indo! – ela afirmou, subitamente determinada. Não tinha vindo de tão longe e quase sido presa e morrido de vergonha numa audição para idols para simplesmente deixar seu raio de sol morrer.

Sem hesitar mais um instante, Calli voltou a andar, e as demais a seguiram de perto.

—-------

Amelia Watson estava deitada numa espécie de coma, os olhos fechados escondendo o tom de azul pelo qual Gura ficara uma vez hipnotizada, mas fora isso, era exatamente igual a como ela se lembrava, naquela distante memória de um único ano passado junto a ela, nove milênios atrás. Era como se não tivesse envelhecido um dia sequer. Como se a tivesse visto ontem.

...Bom, tecnicamente, supunha que a tinha visto naquela mesma manhã, segundo as outras.

Haviam ainda mais garotas ali. ‘Senpais’, as outras tinham dito. Pessoas da agência de idols para a qual Gura tinha acabado de audicionar. E da qual Amelia e as outras três faziam parte. Tinha acertado em cheio. Era a mesma empresa.

Não que tivesse alguma chance de entrar, com a própria audição tendo sido interrompida pela metade. Mas ao menos a encontrara. Agora, se ao menos pudesse salvá-la...

You are my Sunshine, my only Sunshine...

Gura suspirou, se levantando. Estava prestes a sair do quarto quando os pelos de sua nuca se eriçaram. Um leve brilho vermelho nos olhos, ela materializou o tridente, rosnando. Se preparou para o que quer que estivesse vindo, mesmo que seus instintos a estivessem mandando correr.

Um esqueleto espectral de robes e capuz negros surgiu no meio do cômodo, névoa misteriosamente o rodeando. A temperatura despencou. Gura se colocou entre ele e Amelia na cama, tridente erguido.

— Não torne isso mais difícil, criança. É a hora dela.

— É porra nenhuma! – Calli gritou da porta, entrando. Tinha sentido a presença de seu professor. As outras duas estavam logo atrás. — Qual foi, sensei, precisamos dela. Você sabe que precisamos dela. Não é justo que ela precise morrer porque salvou a droga do planeta. De nós, ainda por cima.

— Calliope, eu não posso dobrar as regras, mesmo que as circunstâncias sejam infelizes. Você sabe disso. – O espectro se virou a ela, subitamente com a voz muito menos ameaçadora.

— Olha, se tem alguma coisa que eu sei de verdade, é que sempre tem um jeito. Sempre tem uma brecha, não é? Desembucha. Qual é a brecha? Poupa seu tempo e o nosso, porque não vamos deixar você levar ela fácil.

— ... – o espectro olhou de sua aprendiz para a garota-tubarão de guarda entre ele e a detetive, e então para as duas outras garotas que também pareciam prontas para resistir. E suspirou. — Algo precisa ser levado hoje. A alma de um ser humano... Que embora complexa e com um potencial quase ilimitado, é pequena e simples quando comparada à vasta imensidão do cosmos. Se algo não-humano decidisse tomar seu lugar, certamente ultrapassaria o valor necessário.

Gura e Kiara piscaram confusamente na direção da Morte. Calli franziu o cenho, aparentemente já conhecendo a regra da qual ele falava. Ina baixou o olhar um instante, e então o ergueu em compreensão súbita.

— ...Oh. Posso fazer isso. – ela declarou, erguendo as mãos. Um enorme grimório roxo se materializou à sua frente, se abrindo flutuando no ar, enquanto os olhos da sacerdotisa 100% humana brilhavam. As páginas sopraram rapidamente até parar em uma específica. — ...O selo de almas. Um remendo... Um ‘monstro de Frankenstein’ de pedaços de alma. Podemos criar uma alma para o lugar da de Amelia. Mas... – ela hesitou. Calli completou, a voz amarga.

— Tem que ser com pedaços de outras almas. Almas que foram tocadas pela dela, que tenham um ‘pedaço’ da dela.

— ...Nós quatro. – Kiara percebeu, prendendo o fôlego. Ame dera a vida para que as quatro tivessem uma chance. E agora, precisava que as quatro fizessem o mesmo por ela.

— Eu faço. – Gura declarou, a cauda batendo nervosamente contra o chão. Ainda não tinha baixado o tridente. Ina sorriu em sua direção, negando brevemente com a cabeça.

— Não precisa fazer sozinha, princesa. Se nós quatro aceitarmos, ninguém precisa morrer. Cada uma só dá um pedaço. Mas isso significa-

— Vamos perder parte da nossa força. Nossos poderes. Vamos ser praticamente seres humanos com superpoderes, ao invés de mitos e lendas. Uma ou duas vantagens e nada mais. – Calli concluiu, se aproximando de Ina. Tinha o punho cerrado. — Eu tô dentro. Watson me obrigou a correr atrás do meu maior sonho.

— Eu também estou, claro que estou! Não preciso dos meus poderes para ser a maior CEO do planeta. E eu gosto bastante desse negócio de idol. Também não preciso dos poderes pra isso. – Kiara declarou, se aproximando em seguida. Ina assentiu brevemente.

— Naturalmente, eu também aceito. E então, Ceifeiro? Temos um acordo? – Ina voltou sua atenção ao espectro. Ele assentiu solenemente, sem dizer nada.

Ina olhou para o livro e começou a recitar um feitiço. Todo o cômodo brilhou. Gura agarrou o cabo do tridente enquanto sentia o dreno em sua força, a parte vermelha dentro de sua alma sendo enfraquecida, selada.

Era um sacrifício enorme. Era a princesa de Atlantis. Com sua força debilitada, poderia não ser capaz de proteger seu reino. Mas vendo como os humanos realmente eram... Vendo Ame... Talvez não tivesse do que proteger. Talvez aquele caminho fosse o certo. Se tornaria uma idol... Cantaria para milhões de pessoas... Protegeria Atlantis ao encantar os seres humanos, não ao fazê-los temer.

De alguma forma, por alguma razão, enquanto assistia o Ceifeiro de Almas levar embora parte de quatro mitos no lugar de uma única alma humana, teve certeza de que fizera a escolha certa. Quando ouviu Amelia se mover atrás de si, começando a acordar, e fugiu para o corredor em pânico demais para encará-la diretamente depois de todos aqueles milênios, soube que as outras pensavam o mesmo.

Para Amelia, a missão era salvar o mundo.

Para as quatro, a missão era salvar Amelia.

Missão cumprida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Yay! Finalizado! Levou só uns anos mas eu realmente queria terminar essa -q Dá pra acreditar que tiveram 5 capítulos inteiros entre só o capítulo 29 e o 30 de Convergência? Verdadeira experiência de viagem no tempo aí.

Vão ler Convergência! Melhor ainda: vão assistir alguma coisa das meninas!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Reflect" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.