In The Woods Somewhere escrita por Vanilla Sky


Capítulo 1
Parte I – Matt Murdock


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal! Bem-vindos à mais uma história de Demolidor. Essa é uma história pela qual eu tenho MUITO carinho, e gostaria de conversar um pouco a respeito.

Essa é minha terceira fic com o casal Karen Page e Matt Murdock, e a ideia começou quando eu escutei "In the Woods Somewhere" pela primeira vez e pensei que se adequaria bem à acordar em um lugar desconhecido. Na época, eu ainda estava assistindo à segunda temporada, e admito que pulei Defensores hsuhusa só vi o final porque é interligado com a terceira temporada de Demolidor. E, baseado nessas cenas, eu pensei como poderia fazer uma fic.

Basicamente já que a série não faz a justiça Karedevil que a gente merece, a Vanilla Sky vai lá e faz.

Por isso algumas coisas, apesar de parecidas, não vão ser iguais, porque fui adaptando algumas ideias à série. Porém o reencontro do Matt com a Karen vai ser totalmente diferente!

Essa história deveria ser uma oneshot de mais ou menos 5.000 palavras (e ela está praticamente pronta), CONTUDO eu resolvi dividir em uma parte mais focada no Matt e uma um pouco mais focada na Karen que eu devo postar nos próximos dias (para quem for ler depois, é só clicar no "próximo capítulo" ali embaixo; novos leitores, acompanhem que logo logo a história é finalizada!)

Ah! A música para acompanhar a fic é essa aqui: https://www.youtube.com/watch?v=XlfCfEfbO48. Vocês vão notar que as estrofes são bem divididas, e praticamente não há repetição, porém, para não alongar mais ainda a fic, eu resolvi juntar às vezes duas para não se tornar repetitivo, já que seria a mesma cena dividida em duas.

Agradecimentos na notas finais, boa leitura! ♥



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Você me apelidou de “Homem Sem Medo” [Karen] e eu estou começando a perceber que meu maior temor…

... É viver num mundo sem você”.

(Demolidor: Amarelo #6, Jeph Loebe e Tim Sale, 2002).

I.

 

My head was warm

(minha cabeça estava quente)

My skin was soaked

(minha pele estava encharcada)

I called your name 'til the fever broke

(eu chamei seu nome até a febre passar)

 

Uma das primeiras tentativas de Matt Murdock para manter a sanidade foi contar os pingos que caíam no chão ao lado da sua cama.

O líquido caia exatamente na mesma horizontal que sua cabeça estava posicionada, e ele não sabia dizer se era água advinda de uma possível infiltração ou suor escorrido dos panos retorcidos usados para abrandar sua febre. Constantemente escutava o barulho do tecido, encharcado de água e possivelmente sangue, sendo enrolado até algumas fibras rasgarem, e pendurado em algum lugar improvisado.

De toda forma, contava os pingos cada vez que estes explodiam no chão. Um, dois, trinta, até a contagem ser interrompida por alguma lembrança intrusiva da memória que constantemente lhe traía, geralmente seguida de um mesmo pensamento destrutivo:

É sua culpa.

Elektra. O Tentáculo. Stick. Seus amigos estarem em perigo por sua causa.

A segunda tentativa foi buscando diferenciar a voz das pessoas que entravam e saiam daquele lugar, carinhosamente e silenciosamente apelidado de “o buraco” pela sua própria mente. Um lugar onde nem ele tinha forças o suficiente para distinguir se era um hospital, um mausoléu, ou um convento. A última opção era a com maior possibilidade entre as outras, pois constantemente ouvia vozes desconhecidas rezando, ou uma voz de mulher cantando os hinos da Igreja Católica enquanto cuidava dele. Entretanto, à noite, quando as vozes cessavam, a sanidade escorria por seus dedos e era mais difícil de manter a mente estável até a manhã seguinte.

A terceira, e última, tentativa, foi relembrar o quanto conseguisse os detalhes da sua vida.

Seu pai, o Batalhador Jack Murdock, e o cheiro de talco e gel pós-barba no roupão que usava para as lutas de boxe; a Academia Fogwell; os treinamentos com Stick; Foggy; a faculdade de Direito; os primeiros encontros com Elektra; o escritório que montou com tanto esforço; Karen.

Karen.

A febre, por muitas vezes, fazia sua cabeça queimar, e ele constantemente sentia o suor escorrer por seu rosto e corpo, encharcando o que pareciam ser faixas enroladas em seu tórax e abdômen. Também sentia tremores percorrendo sua espinha como uma bala atravessando sua carne, calafrios intensos e a constante sensação de falta de ar.

Algumas noites eram mais difíceis que outras, e Matt buscava se agarrar, o máximo possível, na memória mais feliz que tivera nos últimos tempos – o encontro no restaurante, a última vez que se sentira tão feliz. Quando as dores não o deixavam descansar, ele sussurrava, com o máximo de força que seus pulmões permitiam:

— Karen... Karen... Karen...

Os suspiros das pessoas as quais cuidavam dele demonstravam pena pelo chamado incessante, perceptível através da demora em soltar o ar preso nos pulmões por uma fresta mínima na boca. Nas poucas vezes que encontrava um pouco de lucidez entre as pessoas constantemente cuidando dele, ainda que não o suficiente para se levantar daquele sono estranho cobrindo seu corpo, mantinha-se o máximo possível em silêncio.

No fundo, porém, ele sabia que não estava completamente sozinho.

 

II.

 

When I awoke

(quando eu acordei)

The moon still hung

(a lua ainda estava pendurada)

The night so black that the darkness hummed

(a noite tão escura que a escuridão murmurava)

 

Algo que verdadeiramente fascinava o jovem Matt Murdock era observar velas.

Em algumas noites completamente escuras no seu lar de infância em Hell’s Kitchen, quando o dinheiro do mês não cobria a conta de luz do apartamento, os cômodos ficavam repletos de velas espalhadas. Quando criança, Matt gostava de olhar o tremular do fogo sobre o pavio, aumentando e diminuindo de intensidade, ao mesmo tempo que refletia em paredes e móveis, provocando sombras ou clareando a escuridão.

Em uma missa de domingo, uma das várias que fora com seu pai, o padre dissera na homilia que a chama significava a brevidade da vida; a flama brilhante por vezes se apagava antes do pavio chegar ao final, quando deveria durar até a parafina derreter por completo.

Ao sair da Igreja no final daquela manhã, Matt pediu ao pai alguns centavos para acender uma vela. Um pouco desajeitado, segurou-a com as duas mãos, mas deixou-a cair no próprio local onde as velas eram expostas – uma área de pedra dentro da Igreja com uma espécie de escadinha para deixar todas a vista –, levando a flama a momentaneamente apagar sobre a parafina seca das demais velas, acendendo uma chama mais fraca quando reerguida.

Tomando por base o dito pelo Padre, ele interpretou a chama que se apaga, e depois mantém um brilho ameno, como uma perda que traria algum ganho, mesmo em meio à miséria.

Uma semana depois, um acidente com material radioativo tirou a sua capacidade de enxergar.

Mesmo em situações distintas, ele aplicava aquela ideia, quando descobriu ter seus sentidos remanescentes aumentados, por exemplo, ou quando defendera Karen Page e a trouxera para gerenciar seu escritório. Foi uma época complicada, contudo, ela era uma moça extremamente competente, além de alegrar os dias de Matt e Foggy desde que chegara.

Manter o pensamento em Karen, por vezes, era também manter sua última conexão à realidade.

 

III.

 

I raised myself

(eu me levantei)

My legs were weak

(minhas pernas estavam fracas)

I prayed my mind be good to me

(eu rezei para a minha mente ser boa para mim)

An awful noise

(um barulho horrível)

Filled the air

(preencheu o ar)

I heard a scream in the woods somewhere

(eu escutei um grito em algum lugar da floresta)

 

Uma noite, quando não havia ninguém por perto que pudesse vê-lo, Matt Murdock apoiou os cotovelos no colchão para impulsionar o corpo e se levantar pela primeira vez em período considerável.

Todos os músculos de sua composição corporal doíam, e ele teve certeza de possuir algumas costelas quebradas e vértebras fora do lugar. Se conseguisse ficar de pé sem cair já seria uma vitória. Sua mandíbula encontrava-se contraída quase como se arame farpado segurasse seus ossos, além de a região compreendida entre as maçãs do rosto e as orelhas doer tanto que seus ouvidos pareciam ter explodido, uma sensação parecida com a de estar submerso.

As costas, por sua vez, estavam rígidas devido aos dias, talvez semanas, recostadas em uma cama desconfortável de solteiro. Os braços levantados chegavam, com razoável esforço, até a linha dos ombros, e sua lombar estava machucada devido ao tombo. Pouco a pouco, lembranças começavam a ser um pouco mais claras, desde o barulho da explosão até a queda de metros após o desabamento do prédio. O último beijo agridoce com Elektra, sendo que, ao levar os lábios a boca, ainda conseguia sentir o calor de seus lábios. A falta de um batimento cardíaco em macas próximas à sua indicava solidão. Elektra não tivera a mesma sorte que ele.

Matt esticou os braços o quanto pode, abrindo-os ao lado do corpo; um deles tocou o nada, enquanto a mão oposta, à sua direita, encontrou concreto frio nas pontas dos dedos. Pôde sentir, através da mínima vibração da parede, que havia algo pendurado acima de sua cabeça e, pelo barulho quase nulo, era de madeira – um quadro, talvez, porém mais provável que um crucifixo, aumentando as chances de o lugar ser um convento ou uma Igreja. Dobrando os dedos em gatilho, Matt notou vestir uma blusa de agasalho por cima das gazes as quais cobriam seus machucados, provavelmente um tanto maior que ele, pelo fato de sentir a pelúcia do tecido na altura de seus polegares.

O completo silêncio era um tanto prejudicial para ele se encontrar. Balançando as mãos no ar, procurou seus óculos, sua bengala, ou qualquer item que pudesse ajudá-lo a sair daquele lugar, sendo surpreendido apenas pela origem do som repetitivo o qual caía ao lado da sua cama. Lentamente levou a palma da mão naquela direção, usando a ponta dos dedos para esfregar o líquido e descobrir sua composição. Era mais denso que água.

Sangue.

Uma gota viscosa escorreu pela manga do casaco, provocando um arrepio nos pelos de seu braço. Matt tomou um impulso para se levantar e se afastar dali, cambaleando para frente de maneira a precisar se apoiar com as duas mãos no colchão à sua frente, tomando de alguns segundos para recuperar o fôlego – caminhar pela primeira vez depois de tanto tempo inconsciente era particularmente difícil, ele deveria saber.

Em meio ao nada, um grito surgiu para indicar sua direção. Um grito feminino, de dor intensa, e apenas um pensamento martelava na mente de Matt Murdock, exalado em um sussurro:

— Karen.

 

IV.

 

A woman's voice!

(uma voz de mulher!)

I quickly ran

(eu corri rapidamente)

Into the trees with empty hands

(por meio das árvores, com as mãos vazias)

 

Aquele grito certamente não era de Karen Page, contudo, o medo de presenciar algo ruim acontecendo com ela era grande o suficiente para deixar seus pensamentos em modo automático na moça de corpo esguio e lábios macios enquanto rapidamente descia pelo corredor, o quão rápido seu corpo permitia sem perder o equilíbrio.

Suas pernas doíam, e Matt usou as forças que ainda possuía para seguir em frente até encontrar uma porta fechada, mas felizmente destrancada. Suas mãos ágeis tocaram a madeira em uma tentativa de encontrar a maçaneta, bem como sua respiração arfava em nervosismo aflitivo, já que a voz clamando por ajuda já não era mais audível.

Quando enfim abriu a porta, notou uma forte corrente de ar, assim como um aroma característico de folhas molhadas. Estava em uma floresta.

Matt Murdock estremeceu e, ao se virar para voltar, percebeu que não havia mais um quarto repleto de macas e com um crucifixo acima do seu leito, o lugar de onde viera. Aquilo era um sonho, deveria ser, apenas sua mente pregando peças...

Porém o grito novamente preencheu o ambiente.

Munido com a coragem a qual julgara ter perdido, ele correu floresta adentro, sendo os pés guiados pelo som das folhas secas quebrando a cada passo, as folhas se mexendo nas copas das árvores, até mesmo a vibração das madeiras como uma percussão à medida que o vento tocava os troncos. Seus pés estavam descalços, doendo quanto mais pisava, porém ele aguentara dores piores em outras oportunidades. Lembrava-se de seu pai: mais importante do que vencer, era não desistir toda vez que caísse.

Era estranho saber que estava tão afastado dos prédios gigantes de concreto de Nova York, e viera parar em um lugar tão distante de onde estava tão acostumado, onde passara a vida inteira andando, correndo, pulando os telhados das mesmas ruas. Dentro do peito, seu coração palpitava em ansiedade pelo desconhecido, por não saber o que encontraria naquele local.

Pouco tempo depois, ouviu um coração bater. Finalmente encontrara alguma vida.

 

V.

 

A fox it was

(era uma raposa)

He shook, afraid

(ele tremeu com medo)

I spoke no words, no sound he made

(eu não disse uma palavra, nenhum som ele fez)

His bone exposed

(seu osso estava exposto)

His hind was lame

(seu quadril era manco)

I raised a stone to end his pain

(eu levantei uma pedra para acabar com a sua dor)

 

Quando Matt se ajoelhou no chão, julgou se tratar de um animal pequeno, não muito maior que seu braço. Não ouviu mais que a respiração do bicho, entrecortada, e o tomou em suas mãos. Seria impossível fazer alguma coisa por ele ali, no meio da floresta, porém, considerando que a sala onde estava sumira, talvez pudesse haver outro lugar para buscar ajuda.

Subitamente, o pelo do animal se tornou um cabelo comprido tocando seu antebraço, sua composição corporal se tornou a de um adulto, e, onde antes sua mão segurava seu abdômen, agora havia uma cavidade repleta de sangue.

Elektra.

Era como se, da floresta, Matt se encontrasse no alto do telhado onde presenciara a morte de Elektra pela primeira vez. Depois, ela voltara completamente irreconhecível. O Céu Negro, como era chamada. O último encontro deles havia sido ao aceitar a morte no alto do Midland Circle. A pulsação dele acelerou ao que ela sussurrou:

— Matthew…

— Elektra, Elektra. – Ele dizia, numa tentativa de mantê-la ali com ele o máximo de tempo possível. – Eu vou salvar você dessa vez.

Ante os olhos de Matt, ela não era mais que uma sombra em um mundo totalmente em chamas, entretanto, parecia extremamente viva em seus braços. A mão direita da moça gentilmente encostou em sua bochecha.

— Viva, Matthew. Apenas viva.

— Do que você está falando? – Lágrimas caíam por sua face, molhando o casaco e a roupa de Elektra. – Eu deveria ter morrido com você! Eu deveria... Deveria...

As exclamações de Matt perderam a força quando ele soube que não conseguiria salvar Elektra. Pela terceira vez, ela morreria na sua frente. Ele engoliu em seco, sentindo os soluços de choro afetarem diretamente seu nariz, obstruindo seu olfato, além de sua audição a qual já se encontrava um tanto comprometida.

Mesmo sem enxergar, sentiu que Elektra dera um sorriso fraco na sua direção.

— Você tem mais motivos para viver. – Ela juntou um pouco de ar pela boca e sumiu em seus braços.

A mão de Matt Murdock estava banhada em sangue, fazendo com que fechasse os dedos em um punho, e gritasse, com toda a força que conseguiu encontrar. Seus pulmões se esvaziaram juntamente com novas lágrimas correndo pelas suas bochechas e caindo ao chão. Assim que conseguiu escutar a própria vez, percebeu algo interessante: o grito na floresta não era de Karen, ou de Elektra. Era o eco de seu desespero dentro de sua mente.

Elektra jamais gritaria clamando por ajuda. Ela tinha treinamento – bem como um orgulho inabalável – suficientes para protegê-la. E Karen podia não ter treinado, porém, ela sabia se proteger muito bem. Apesar de serem mulheres tão diferentes, havia algumas semelhanças entre elas.

Ambas eram calor. Ambas eram luz.

Elektra era como a chama de uma vela que se apagou cedo demais, como diria a homilia do padre. Ela iluminava o breu, trazendo acalento para as noites escuras, ou como um cobertor o qual aquece o corpo em noites dormidas ao relento.

Já Karen era como o sol, trazendo brilho para o dia seguinte. Ela era a sensação boa de calor tocando a pele do antebraço em um dia gelado de inverno. Era como um beijo cálido no rosto, o qual acorda você pela manhã antes do despertador tocar.

Enquanto a vela, por muitas vezes, não aguentava até o final da noite, o sol sempre chegaria no dia seguinte. Um verdadeiro emprego de 24 horas por dia, 7 dias por semana, cujo trabalho é brilhar e indicar o caminho a ser seguido. Uma noite sem uma vela era desesperadora, contudo, quando os olhos se acostumam a escuridão e o sono embala seu corpo, era passável. Porém, um dia sem sol era doloroso. Um dia sem Karen era doloroso.

Isso provavelmente explicaria a imediata preocupação com Karen ao ouvir o grito na floresta. Por mais que Matt amasse Elektra com todo o seu coração, ele se acostumara com a ausência. Contudo, foi difícil ficar longe de Karen. Era difícil saber que, depois de sair dali, ele apenas a protegeria pelas sombras, sem que ela soubesse o fato dele ter vivido ao incidente no Midland Circle. No fundo de sua mente, ele questionava se ela sentia sua falta da mesma forma que ele sentia. 

Outro barulho preenche o ar e os ouvidos debilitados de Matt Murdock, trazendo uma pausa aos seus pensamentos. Dessa vez, ele tinha certeza que algo o encarava.

 

VI.

 

What caused the wound?

(o que causou o machucado?)

How large the teeth?

(qual o tamanho dos dentes?)

I saw new eyes were watching me

(eu vi novos olhos me observando)

 

Uma criatura que tinha pelo menos o dobro de seu tamanho, dentes afiados e olhos amarelados o espreitava na escuridão. A boca espumava, e ele soltava o ar pelas narinas gigantes de maneira raivosa. Não parecia ter uma forma humana; Matt apenas notou que andava de quatro patas, uma espécie de lobo gigantesco que parecia ter a pelagem escura e o focinho extremamente alongado. Era a presença que ocasionalmente sentia enquanto tentava recuperar a sanidade.

Era um demônio.

Não faria sentido algum gritar, entretanto, Matt arriscou da mesma forma:

O que você quer de mim?

Por trás das árvores, o par de olhos o observava, rosnando em resposta.

— Apenas me deixe ir embora... Por favor...

Sua voz deixou de soar como uma demanda e mais como uma súplica no final da frase, se transformando em lágrimas insistentes.

— Pobre Matt Murdock... – A criatura vociferou. – ... Chorando de desespero quando ninguém mais se lembra dele...

Matt foi surpreendido por aquelas palavras, respirando fundo enquanto sentia suas bochechas quentes pelo choro advindo de seus olhos. Ele não tinha medo de nada. Lutou contra máfias, bandidos, teve armas apontadas contra sua testa. E, agora, estava reduzido a uma pessoa implorando pela própria vida.

— Você nunca salvará a Karen...

— Não ouse dizer o nome dela. – Ordenou Matt entre a fileira de dentes apertados dentro da boca.

— ... Ela irá morrer... Assim como a sua amada Elektra...

Pare!— Ele buscou forças dentro de si para gritar.

— ... Assim como seu pai, e todos que você se importa...

Matt levou as mãos à frente do rosto, escondendo os soluços atrás das palmas. Ao seu lado, os fantasmas de todas as pessoas que o demônio mencionara cobravam dele.

É sua culpa.

Os pulmões de Matt pareciam amassados dentro do peito como um pedaço de papel. E o barulho dos dentes do demônio, aguardando devorar a carne do homem, foi a última coisa que ouviu antes de fugir.

 

VII.

 

The creature lunged

(a criatura atacou)

I turned and ran

(eu me virei e corri)

To save a life I didn't have

(para salvar uma vida que eu não tinha)

 

Pressentindo o ataque, ele se jogou para trás, soluçando para recuperar o fôlego. As quatro patas do animal estavam perto de o alcançar enquanto Matt corria com os braços abertos para não bater de frente com alguma árvore. Seus pés descalços clamavam por um descanso, provavelmente sangrando àquela altura, contudo, sabia que não podia parar.

Por nada naquele mundo, ele não poderia parar.

Clamar por ajuda não resultava em nada. Nenhum outro som deixava sua boca após o curto diálogo, nem mesmo um pedido de ajuda desesperado. A única coisa que o fazia correr tanto por sua vida era manter o pensamento fixo em Karen Page. Precisava salvá-la. Não a deixaria morrer.

Precisava correr.

Havia um motivo para ele não ter morrido na explosão do prédio.

Precisava correr.

Karen. Karen era o motivo. Karen era a saída.

Precisava correr.

Seu sorriso, seu aroma, seu beijo cálido.

Precisava salvá-la.

Atrás dele,

Apenas a voz do demônio soava:

Pobre

Matt

Murdock,

perdido

em

meio

ao

nada,

sozinho

em

um

mundo

que

o

esqueceu...

 

Quando as pernas de Matt cansaram, e ele sentiu que morreria pelos caninos afiados do demônio, ele deu um sobressalto e abriu os olhos em uma maca.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da primeira parte! Eu escrevi com muito carinho e cuidado. Até a parte que o Matt acorda foi inteiramente escrita à mão e depois passada à limpo para o PC.

Essa parte final, da confusão do Matt correndo, foi bastante inspirado por Keep Your Eyes on Me, da Roxeley Rox aqui no site! É uma fic da Wanda e do Visão que eu recomendo MUITO a leitura, além das outras fics incríveis dela, dois AUs maravilhosos. Vale a pena darem uma olhada!

Agradecimento mais que especial ao meu queridíssimo Shini, meu companheiro da terceira temporada de Demolidor e de vida, mesmo ♥ e ao meu irmão, Areiko, que ainda está assistindo a série. Mano, espero que você consiga aproveitar essa história em breve! Obrigada pelo apoio! ♥

Em breve eu volto com o próximo capítulo dessa two-shot :) até lá! ~ ♥ ~



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