Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 53
Capítulo 53




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Para um local ermo, isolado e que por muito tempo foi habitado por no máximo três pessoas, podia-se dizer que a base de Kabuto devia estar tendo uma festa. A última vez em que mais de quatro pessoas estiveram ali tinha ocorrido seis anos antes, justamente no dia em que Chizuka foi utilizada como cobaia para receber um bijuu.

Tal coisa no entanto era totalmente desconhecida das duas que entravam na caverna e se encaminhavam lentamente por esta, observando as formações de suas paredes com calma.

- Eu disse que você se esqueceu.

Não deu atenção a ela. Podia fazer anos desde a última vez, mas ainda se lembrava de que tinha um selo em algum lugar. Só não se lembrava onde ele ficava. Continuaram andando lentamente pelo interior da caverna até que ela voltou alguns passos e observou uma ranhura com atenção. Sorrindo ela fez uns selos com as mãos e tocou sua mão direita na ranhura.

Nada aconteceu.

Refez a ação e novamente tudo ficou exatamente como antes.

- Você esta certa, Chizuka... eu esqueci!

A moça sorridente andou um pouco mais para a frente e observou as paredes úmidas. Foi até o outro lado e fez o mesmo. Retornou um pouco para a entrada e refez o trajeto, mais devagar e observando o teto curvo. Heromi fez o mesmo e notou que parecia que houve um pequeno desabamento ali. Continuou aguardando a colega examinar o local e cruzou os braços enquanto isso.

Quase uma hora depois – e seis tentativas frustradas – elas finalmente encontraram o local certo, abrindo a porta secreta e entrando no local.

- Lembra onde era o seu quarto? – perguntou para Chizuka e esta deu de ombros. Provavelmente iriam precisar reconhecer seus aposentos por algum objeto pessoal que deixaram neste.

Metodicamente elas abriam as portas e as fechavam em seguida. Heromi lembrava-se vagamente que seu quarto ficava perto do fim do corredor, assim achou melhor começar por este lado. Na terceira porta ao entrar ficou surpresa. Era um quarto ocupado e pelas roupas no guarda roupa – e os bichinhos de pelúcia na estante acima da cama – era o quarto de uma mulher ou de uma jovem. Mas não era o dela. Mas não resistiu a entrar e observar melhor.

Fosse quem fosse mantinha tudo ali bem arrumado. Pelo jeito Kabuto tinha “contratado” mais alguém.

- Achei! – gritou Chizuka do outro lado do corredor, chamando a atenção dela.

Saiu daquele quarto e foi até onde uma porta estava aberta. Ao entrar confirmou que era o quarto de Chizuka, e considerando como o manto do bijuu a envolvia, ela estava furiosa. Suas roupas estavam todas destruídas pelo mofo dos anos.

- Você sabia que isso ia acontecer – disse para ela – nem adianta ficar nervosa. Bom, então meu quarto é o do lado.

Ela saiu dali e abriu a porta do que ficava ao lado daquele, e confirmou sua afirmação. Aquele era seu antigo quarto ali na base de Kabuto. Viu os livros que tinha deixado ali, e ficou satisfeita de ver que estavam todos inteiros ainda. Bateu um pouco na sua cama e ficou surpresa com o pó que se levantou desta. Decerto as pessoas passando pelo corredor acabaram levando pó ali para dentro, e em seis anos, isso acabou se acumulando. Foi até o seu armário esperançosa de que suas roupas de couro estivessem aproveitáveis. Fez uma careta quando notou que havia um tipo de pó fino sobre elas, mas passando os dedos percebeu que o couro parecia ainda estar em bom estado. Com sorte – e muito polimento – não teria perdido aquelas roupas. No entanto era uma pena que não podia fazer o mesmo com suas roupas mais intimas. Sendo todas de algodão, o tempo cuidou de fazer o seu serviço.

Mais tarde limparia tudo e deixaria seu quarto habitável novamente. Agora tinha assuntos mais urgentes a tratar do que cuidar de seu pequeno covil particular.

- Chizuka, vamos indo. Podemos comprar roupas depois.

Ela saiu de seu quarto e ficou na porta do quarto de Chizuka, que ainda arrancava suas roupas do guarda roupa jogando-as no chão. Pelo menos seus caçados pareciam estar conservados.

Depois que ela juntou tudo o que ia jogar fora e fez um monte diante da porta do quarto, ambas foram pelo corredor procurar Kabuto, para lhe por a par de sua missão e de como parecia que tinha sido bem sucedida. Ao chegarem no primeiro nível inferior sentiram um delicioso odor de comida. Será que um dos rapazes estava ali?

Foram direto para a cozinha e viram ali algumas panelas na pia com água para amolecer os restos para posterior lavagem. Não... devia ser da mulher nova que estava ali. Os homens – que ela tinha conhecido ao menos – não eram assim cuidadosos com as panelas.

- Ora, ora... visitas!

Ambas se viraram na direção da voz e viram Masaki entrando na cozinha segurando um prato com alguns restos. Heromi ficou ali o observando com a boca aberta e os olhos arregalados.

- O que foi? – perguntou ele confuso com sua reação.

- Não me diga que você se casou...

- O que? – agora foi ele quem arregalou os olhos – mas de onde tirou essa idéia?

- Bom... – ela cruzou os braços e sorriu divertida – faz muitos anos que não nos vemos, mas você levando um prato sujo de comida para a cozinha... – ela riu levemente – quem é a felizarda?

- Muito engraçado – disse ele um pouco sem jeito e tentando ignorar as risadas de Chizuka – isto é o preço que estou pagando por ter perdido no jogo – ruminou ele indo para a pia e colocando seu prato ali, e em seguida abriu a torneira e começou a enxaguar as panelas.

- Jogo? – agora ela ficou bem mais curiosa – quem mais está aqui? Fujimoru? Mikono?

- Ataso e Etsu – disse ele esfregando o interior de uma caçarola – e aconselho a não jogar cartas contra Etsu... a não ser que goste de lavar pratos.

- Hum... – ela esfregou as mãos – carne nova! Deve ser a dona do quarto que eu vi. Ao menos espero que seja uma mulher, porque se for um homem...

- É uma mulher sim – ele riu levemente – em todos os sentidos. E de certa forma muito parecida contigo. Deve estar na biblioteca estudando os jutsus de Kabuto.

Agora ela franziu o cenho. Estudando? Contudo, achou melhor verificar aquilo depois. No momento estava mais interessada em achar Kabuto e lhe informar de tudo.

- Chizuka, vamos... – parou de falar quando a viu com o corpo curvado observando o conteúdo do forno, de onde devia estar vindo aquele odor bom de comida. Era evidente que ela estava com uma grande vontade de devorar aquilo.  – Bom... se quiser comer, esteja a vontade. Mas não acho que Masaki vai lavar o seu prato depois...

Ela não lhe respondeu, apenas abriu o forno e retirou de lá uma grande travessa com muitos kamis assados e rodeados com laminas de frutas cítricas cortadas. Duvidava que Masaki ou Ataso tivessem feito aquilo, devia ser coisa da mulher. Finalmente Kabuto pegou alguém que cozinhava bem.

- Pelo menos deixe um pouco para mim – comentou mais em tom de critica e saiu da cozinha.

Seguiu pela base ainda um pouco perdida, afinal fazia anos que não ia ali e não se lembrava de tudo, mas lembrava-se de que Kabuto ficava a maior parte do tempo em uma sala que mais se parecia um escritório. Depois de se perder uma vez achou o local correto e ficou decepcionada. A escrivaninha estava arrumada, sem nada sobre seu tampo. As estantes do lado desta estavam com pergaminhos bem acondicionados e em ordem, também indicando que ninguém esteve por ali.

Fez menção de sair mas acabou olhando novamente as estantes. Era a primeira vez que podia ver todos os pergaminhos ali. A cadeira que ele também usava para se sentar estava com o assento debaixo da mesa.

Se ele não estava ali, onde podia estar? Restava o seu reduto secreto, onde ninguém podia entrar. Se fosse isso, teria de esperar por ele. Vendo que provavelmente não teria escolha, decidiu procurar pela nova integrante dos nukenins de Kabuto para se apresentar oficialmente a ela, bem como já avaliar que tipo de pessoa era ela.

Decidiu procurar desde a parte mais inferior da base. Desceu as escadas até onde ficavam as celas e lá chegando confirmou que a pesada porta onde Kabuto as vezes desaparecia por dias estava fechada. Mas notou que as barras das celas estavam como que novas. Aproximou-se um pouco e confirmou sua impressão.

Sorriu levemente sobre isso e quando começou a andar de volta as escadas, notou uma cobra entrando na sala através de uma fresta na parede. Na verdade era uma abertura que Ataso tinha feito muito tempo atrás para facilitar a entrada das cobras de Kabuto na base, indo quase que diretamente para ele, sem precisar passar por todas as outras salas e assustando alguém ou correndo o risco de ser morta por engano.

Mas estranhou quando esta se aproximou um pouco dela e farejando o ar com a língua, moveu-se em direção as escadas. Normalmente as cobras ou serpentes iam diretamente até Kabuto. Como esta subiu, então talvez ele não estivesse em sua sala particular afinal, e agora ela tinha um guia para conduzi-la diretamente a ele.

Seguiu a cobra pelas escadas e muniu-se de paciência quando esta parou por um longo tempo para continuar a farejar o ambiente. Acompanhou ela pelo longo corredor daquele nível e passou por uma porta que desembocou onde seria a biblioteca – ou algo parecido com isso – cheia de estantes e de livros. Ali ela viu Ataso lendo um livro calmamente – e demonstrando estar muito entediado da forma que sua mão segurava sua cabeça – e mais a esquerda, praticamente largada em uma poltrona com os pés em cima de uma almofada estava uma mulher que não conhecia. Devia ser a tal Etsu que Masaki tinha falado.

Ela estava de olhos fechados e com os dedos entrelaçados sobre a barriga, as pernas bem esticadas sobre a almofada e respirando pausadamente. Pelo jeito ela estava tirando um cochilo.

Viu a cobra ir direto na sua direção e subir pela almofada para as suas pernas. Heromi anteviu uma cena divertida a sua frente com a mulher se assustando com uma cobra passeando em seu corpo. Ela própria já tinha levado esse tipo de susto e não o achou divertido. Pelo menos poderia se sentir levemente vingada.

A cobra agora seguia pelas pernas da mulher, que as movia um pouco, certamente sentindo cócegas. Em seguida passou por sua barriga se desviando de seus dedos e foi se enrolando no seu ombro, ficando com a língua sibilando do lado da cabeça dela.

Ela devia estar dormindo, só podia! Para não ter feito nenhuma reação exceto o de mover as pernas um pouco. Mas agora estava mais curiosa sobre o motivo da cobra estar parada no ombro dela. A cobra ainda sibiliava, e parecia fazer isso com mais ímpeto. Ela parou por algum tempo e olhou ao redor. Depois esticou sua cabeça até ficar perto do olho da mulher e parecia que o estava observando atentamente. Ficou assim por quase um minuto, e como se tivesse ficado sem paciência, começou a sibilar muito mais alto, quase como se fosse um grito.

Meio segundo após a cobra aparentemente começar a ter chliques, dois dedos rápidos prenderam a sua língua bifurcada entre eles, fazendo a cobra arregalar os olhos e se torcer um pouco tentando se libertar, mas a mulher abrindo os seus olhos e olhando para ela diretamente a fez parar de se mover.

Na verdade, parecia até que a cobra tinha engolido em seco.

- Hum... – fez Ataso – é hoje que vamos ter cobra no jantar?

Heromi desviou o olhar para ele, mas permaneceu com a cabeça voltada para a direção anterior. Aparentemente as coisas tinham mudado um pouco por ali, ou havia alguma coisa a mais nesta mulher.

- Eu ouvi da primeira fez – disse a mulher olhando nos olhos da cobra – não precisa gritar.

Ela ouviu? Ela conseguia entender a cobra? Seus olhos se arregalaram levemente com a surpresa, mas controlou-se e ficou observando. A cobra agora parecia tentar dizer algo, mas com sua língua presa daquela forma não devia estar fácil fazer tal coisa.

- E daí? – disse ela para a cobra – espere ele sair então do quarto dele. Desde quando sou sua garota de recados?

A cobra torceu o corpo e tentou sibilar algo, mas se foi capaz, Heromii não tinha como saber.

- Desculpe – a mulher sorriu de forma zombeteira – não entendi...

A cobra torceu-se novamente, desta vez foi possível captar um leve sibilar.

- Está pedindo por favor?

Desta vez a cobra apenas moveu a cabeça para cima e para baixo. Então a mulher estava mesmo entendendo o que ela falava. Incrível!

- Já que pediu com jeito – ela abriu os dedos e a cobra finalmente recolheu sua língua e se afastou um pouco, fazendo alguns movimentos com a cabeça que Heromi pensou que seria o equivalente a estalar as costas, ou talvez recolocar as mandíbulas de volta no lugar.

Após um tempo, a cobra novamente sibilou, mas estava fazendo isso com calma desta vez. A mulher apenas a observava com os olhos um pouco semi cerrados.

- Tá bom, eu digo para ele, se é que isso é importante.

A cobra sibilou mais um pouco, aparentemente insistindo.

- Não interessa se eu posso abrir a porta, vou falar com ele depois de minha soneca, e não antes.

Por mais estranho que possa parecer, Heromi teve a nítida impressão de que o ofídio bufou e desistiu de tentar convencê-la. Ela desceu da poltrona e seguiu pelo chão em sua direção, parando ao seu lado e sibilando algo, e depois seguiu adiante através da porta. Mas o que estava fixo em sua mente foram as palavras dela: “eu posso abrir a porta”. Ela podia entrar onde Kabuto as vezes ficava recluso? Por mais que não quisesse admitir, estava sentindo um certo ciúme.

- Ataso – começou a mulher a observando agora – vai continuar sendo mal educado ou vai me apresentar a moça que esta na porta?

- Heromi, esta é Etsu, Etsu, esta é Heromi. Pronto, estão apresentadas – disse ele sem nem tirar os olhos do livro que lia – e tome cuidado quando jogar com ela Heromi, pode ficar até sem os bolsos.

- Acho que vou servir você no jantar qualquer dia destes, Ataso.

- Eu ajudo a preparar – disse Heromi sorrindo – então você é Etsu... pelo que vi, tem algumas habilidades bem peculiares.

- Falar com as cobras? – ela levou as mãos a nuca e fechou os olhos, relaxando novamente – coisa do doutor.

- Doutor?

- Kabuto – disse Ataso – ela o chama assim.

- Você também o chamaria se ele fizesse com você o que fez comigo – disse Etsu sem abrir os olhos – a propósito, o que você trouxe consigo que está agora na cozinha com Masaki?

Ficou intrigada. Do que ela estava falando? Seria Chizuka?

- Fala de minha colega?

- Aquilo é ela? – ela abriu os olhos surpresa – pelo que estou sentindo, se parece mais com um chakra em chamas.

Sentindo? Claro! Devia ser uma sensora. E estava sentindo o chakra de Chizuka, ou melhor, o chakra do bijuu que estava selado nela. Ela parou de deixa-lo confinado desde que tinha saído da aldeia da Névoa.

- Você está meio certa. É uma coisa sim, mas também é uma mulher. Uma jinchuuriki, para ser mais precisa.

- E o que é uma jinchuuriki?

- Escuta... – Heromi cruzou os braços a observando atentamente – onde você estava durante a quarta guerra?

Ela riu levemente e se acomodou melhor na poltrona, chegando inclusive a cruzar as pernas antes de responder.

- Fugindo com minha mãe do país do Trovão. Acabamos sendo capturadas pela aldeia da Areia e depois de algumas confusões fomos morar lá. Para encurtar a história me ensinaram a arte ninja e depois de algum tempo e uma bela desavença eu acabei fugindo. Não acho que minha historia seja muito diferente da sua ou dos outros aqui.

- E nunca ouviu falar sobre jinchuurikis ou bijuus?

- Algumas vezes, mas não me interessei por tal coisa.

- Bom – Heromi se aproximou dela e se sentou em uma outra almofada perto da parede, cruzando as pernas com certa delicadeza – então acho que vou lhe contar uma pequena história enquanto espero Kabuto sair de seu covil.

- Pode contar uma história grande se quiser – disse ela sorridente – as vezes ele fica dias ali.

- É.. – Heromi ficou um pouco reticente – eu sei disso...

-x-

Ninguém podia negar que era um templo, seja pela arquitetura, seja pelos jardins típicos que rodeavam a construção. E também tinha que ser o templo do lobo, ou eles deviam ter os cachorros mais lupinos que já tinham visto. Estavam em toda parte, deitados no caminho, andando devagar pela grama, sentados no muro de madeira, e alguns até cheirando suas pernas, e chegando a tocá-las com seus focinhos úmidos e gelados, obrigando-a a dar pequenos pulos involuntários.

Só que não estava vendo nenhuma estatua de lobo ali. Onde será que ela estaria?

Também não viram nenhuma pessoa ali do lado de fora, e nem casas ou choupanas que podiam servir de residência. Se havia alguém morando ali – e tinha que haver – devia estar dentro do templo. Talvez a estatua estivesse lá também.

- Bom – disse Toru cruzando os braços e olhando ao redor – chegamos... mas como vamos nos anunciar? Ou melhor, para quem vamos nos anunciar?

- Não sei se é uma boa idéia fazer isso – disse Hameri olhando a construção e observando as janelas cobertas com papel iluminadas – afinal, estamos aqui para levar algo embora.

- Que ainda não sabemos onde está – completou ele a olhando.

- Verdade. Então vamos entrar e.. deixem que eu falo, tudo bem?

- Não se preocupe – Toru riu – hoje eu não vou discutir com você.

Ela grunhiu alguma coisa e começou a andar devagar para não chamar a atenção dos lobos. Os outros dois a acompanharam ficando um de cada lado. Conforme avançavam em direção a entrada, notaram que mais e mais lobos começavam a acompanhá-los com a cabeça, como que vigiando suas ações.

- Hameri...

- Já vi Itheri. Pare de encará-los, ou pode atrair a atenção.

- Mais ainda? – disse Toru de uma forma um pouco descontraída.

- Atenção perigosa – disse ela controlando a respiração. Haviam uns vinte lobos por ali. Se todos decidissem atacar não ia ser muito fácil se livrar deles.

Chegaram a entrada do templo onde uma porta dupla bem alta os aguardava. Com cuidado, Hameri tocou em uma delas e a empurrou. Não muito surpresa esta cedeu com facilidade e os três entraram.

Até ali tudo tinha sido tranqüilo. Tinham se encontrado com Toru no caminho como tinham combinado e depois de trocarem informações, seguiram adiante rumo ao monte Tenrou através das montanhas. Não chegou a ser tão dificil como esperavam. As montanhas não eram muito acidentadas, de forma que até uma pessoa não ninja não teria muitas dificuldades. Na verdade por varias vezes eles cruzaram por locais onde parecia que havia um caminho que as pessoas seguiam por ali, serpenteando as colinas e montes. Muito provavelmente uma rota usada por habitantes da região para ir de uma aldeia a outra, ou até para o próprio templo.

Chegaram a acreditar que teriam dificuldades para encontrar o templo, mas no fim tiveram sorte. Mesmo com a lua ainda fraca perceberam algo no alto de um dos montes maiores da planície que se abriu após atravessarem o caminho montanhoso. Seguiram esta direção e ainda antes do amanhecer encontraram o que queriam. Ao menos, era um templo e estava rodeado de lobos.

O espaço dentro do templo era enorme, com o teto sustentado por varias colunas de madeira retangulares. O piso estava encerado e bem cuidado, e todos os três por instinto tiraram os calçados os colocando nas mochilas as costas.

Começaram a andar devagar pelo longo e largo corredor que parecia desembocar em um centro onde parecia haver alguma coisa grande e iluminada fracamente, mas com uma luz levemente azulada.

Conforme avançavam devagar, perceberam que haviam pessoas ali mais adiante, cercando o centro. Pararam há uns vinte metros do grupo de pessoas que formava um circulo ali e arregalaram os olhos quando perceberam o que estava no meio deles.

Era um tipo de lago artificial formando um circulo irregular e com uma pequena ilha no centro. Nesta ilha havia um pedestal alto e no alto deste pedestal estava a estatua de um lobo, em posição de fazer um uivo. De onde estavam podiam ver claramente que uma luz provinha do alto, provavelmente de uma abertura no teto permitindo a luz do luar entrar. Olhando mais atentamente Hameri percebeu que deviam haver espelhos lá em cima também, pois a Lua não estava agora no alto do céu noturno, e na verdade, logo iria amanhecer.

Os três observaram a estatua focando onde ficavam seus olhos. Logo viram o que devia ser a Lua dos Coiotes. E foi apenas então que ela percebeu uma coisa... Monte Tenrou, templo do lobo, estátua de um lobo e ainda vários lobos do lado de fora. Por que chamavam aquilo de Lua dos Coiotes?

Bom, não importava. Se fizesse a pergunta em voz alta, Itheri com certeza diria que coiote é um tipo de lobo, só que diferente deste vive solitário e não em matilhas.

- E agora? – perguntou Toru em voz baixa.

- Como eu disse, deixe que eu falo – respondeu ela.

Vindo da parte de trás da estatua, uma sacerdotisa trajando um traje dourado e com uma maquiagem que deixava seu rosto branco caminhava abanando um tipo de ramo de folhas espirrando gotas de liquido ao redor da lagoa. Provavelmente algum ritual de purificação. Quando ela chegou defronte a estátua, abaixou as mãos e começou a se curvar. Ao mesmo tempo as pessoas ali se levantaram e quanto a sacerdotisa curvou-se ao máximo, todas as pessoas ali – homens, mulheres e até alguns mais jovens – começaram a uivar. Logo em seguida os três ouviram um uivo muito mais alto fazendo coro com aquele. Eram os lobos do lado de fora.

Hameri ficou temerosa de perturbar algum tipo de ritual, mas quando foi ameaçar sair para voltar mais tarde, a sacerdotisa olhou na direção deles.

- Sejam bem vindos ao Templo do Lobo, andarilhos - disse ela em uma voz suave – por favor, se vieram em busca de água ou alimentos, não se acanhem em pedir. Este ano os lobos foram gentis caçando as pragas das colheitas e cobrando um tributo pequeno de nossos rebanhos, essencialmente dos doentes e fracos. Temos muito mais do que o suficiente para o nosso sustento e comércio.

Ao menos ela entendeu o porque daquele templo. Os lobos caçavam as pragas? Devia se referir a coelhos, marmotas e outros roedores. Deviam ser todos fazendeiros de aldeias próximas, isso explicava os músculos um pouco exagerados que via nos homens e até nas mulheres por sob a roupa que usavam. Todos também estavam com olhares amistosos.

Mas isso também indicava que a estatua e seu olho deviam ser importantes para eles. Melhor não falar o verdadeiro motivo de estarem ali. Considerando as pessoas e o local em que estavam, devia ser muito fácil voltar a noite e em segredo roubar a perola – que era por sinal enorme! Hameri tinha pena da ostra que tinha gerado aquilo.

- Obrigada – disse Hameri se curvando – desculpe interrompe-los, mas não tínhamos idéia do que ocorria aqui dentro.

- Mas foram gentis aguardando e apenas observando, e também educados ao retirarem seus calçados - os três ficaram levemente acanhados com a forma educada e até humilde com que falou – o que trás três gennins de Suna ao Templo do Lobo?

Hameri ficou em pânico por alguns instantes. As bandanas! Ela viu as bandanas e imediatamente soube o que eram e de onde eram. Claro! Se ela era a sacerdotisa que tinha entregue da primeira vez o tesouro ao raikage, logicamente acabou sabendo um pouco sobre ninjas.

Mas ela parecia ser muito jovem. Talvez fosse filha ou neta da sacerdotisa que tinha feito isso.

- Eu...

- Eu fui sincera com minhas boas vindas – ela sorriu para eles, mas agora havia algo mais no seu olhar – por favor, sejam sinceros com a resposta a minha pergunta.

- Estamos fazendo o exame chuunin na aldeia da Nuvem – disse Hameri tentando desesperadamente contar meias verdades – e no caminho para nosso destino vimos o templo e decidimos perguntar por informações acerca de um local chamado Toronei.

Os olhos dela voltaram a ficar bem mais amigáveis e seu sorriso aumentou.

- Toronei é uma propriedade de um nobre, ao noroeste do país do Trovão. É muito famosa por aqui. Como são de fora, creio que é natural que não a conheçam.

Ela evitou de suspirar de alívio. Acabou sendo convincente.

- Estão muito fora do caminho – continuou ela agora observando a estátua – se querem provisões, já disse que temos o bastante para oferecer aos viajantes. E obrigada pela sinceridade, embora eu também esteja um pouco sentida. Creio que em breve a Lua dos Coiotes irá deixar o templo novamente, mas não pelas suas mãos, o que nos dá mais um ou dois dias para agradecer aos lobos.

Ela... sabia que olho da estátua iria ser recuperado?

- Eu.. – começou ela – não entendo.

- Não se incomode – disse ela andando lentamente na direção deles pelo pequeno lago artificial que chegava até seus joelhos.

- Porque se chama Lua dos Coiotes se está em uma estátua de um lobo? – perguntou Itheri casualmente.

Ao menos, sua curiosidade iria ser satisfeita, mas em seguida Hameri ficou séria quando viu o novo olhar desconfiado da sacerdotisa.

- Como sabe que a Lua dos Coiotes é o olho da estátua? – perguntou ela os encarando e desta vez com um sorriso mais cínico no rosto.

As pessoas que cercavam a lagoa interna agora estavam mais serias, e algumas até pareciam que estavam pegando algo de seus trajes. Em poucos segundos pelo menos metade delas estava com facas e pedaços de madeira nas mãos.

- Eu... – Itheri ficou vermelho de vergonha e em seguida pálido quando viu o rosto de Hameri – acho que disse besteira...

- Qual foi a parte de “eu falo” que você não entendeu? – disse entre dentes para ele.

- Deixe isso para depois – disse Toru interrompendo o principio de discussão enquanto observava as pessoas se movendo lentamente na direção deles armados de facas e porretes – tem alguma sugestão?

- Além de querer me juntar a eles para bater no Itheri? – disse ela em voz bem alta, a tal ponto que até a sacerdotisa virou o rosto para ocultar uma pequena risada.

Eles podiam lutar, lógico. Eram ninjas e eles pareciam ser fazendeiros. Na verdade estavam se movendo como pessoas comuns, não com a leveza característica dos shinobis. No entanto, puxar briga ali quando a sacerdotisa esperava por um confronto destes não parecia ser uma boa idéia. E ainda haviam os lobos do lado de fora.

Alguns se adiantaram e correram na direção deles, os atacando. Toru desviou-se de uma faca e atingiu a planta de seu pé no ombro da pessoa que estava mais atrás da primeira que o agrediu. Hameri tocou seu cinto e dois sacos de poeira se abriram, formando pequenas bolas compactas e sendo arremessadas como projeteis contra os outros. Foi quando ela reparou no detalhe inesperado.

A maioria deles se desviou um pouco dos impactos, sendo que estes ocorreram em áreas menos criticas do corpo. Não eram meros fazendeiros, eles tinham treinamento marcial. Enfrentar uns sessenta assim não seria fácil como enfrentar um mero bando de arruaceiros. Além disso, ela percebeu que as bolas de poeira bateram em algo muito duro nos seus corpos. Eles estavam usando alguma proteção por baixo das roupas. Kunais e shurikens não iriam afastá-los, e provavelmente nem feri-los. Era um ardil para os subestimarem.

- Vou te dar minha sugestão – disse ela pegando uma bomba de fumaça de sua bolsa – CORRER!

Ela arremessou a bomba no chão e uma nuvem avermelhada se espalhou pelo local, sendo invadida em seguida por dezenas dos que se aproximavam. Mas os três já tinham desaparecido.

Do lado de fora os lobos corriam e rosnavam atrás de Hameri e Itheri. Ela precisou usar mais duas bombas de fumaça para fazê-los perder sua trilha momentaneamente e com isso conseguirem pular para algumas das arvores esparsas do local, se distanciando mais rapidamente assim e por fim se ocultaram em algumas folhagens. Os lobos contudo não pareciam muito interessados em uma longa perseguição antes mesmo deles pararem de correr, eles já retornavam ao templo, voltando a perambular por ali.

- Só não te quebro os dentes porque até eu fui enganada com a forma como ela falou – ralhou ela removendo sua cobertura. Ela estava nos esperando...

- Acho que podíamos ter derrotado eles – disse Itheri se revelando também.

- Talvez, mas desconfio que a sacerdotisa é mais do que parece. E eles não eram meros fazendeiros. Tinham algum treinamento. O bastante para nos dar trabalho. E se não reparou, estavam com armaduras.

- Espere.. sabe onde está Toru?

- Com certeza, escondido lá dentro aguardando uma oportunidade - ela sorriu levemente. Logo será dia – ela olhou agora em direção ao horizonte onde uma grande linha vermelha se formava – vamos esperar anoitecer e voltamos furtivamente. Pegamos o que queremos e vamos embora.

- E se ela esconder a perola?

- Se ela faz parte do teste, não acho que vai fazer isso. E no próximo tesouro não vamos entrar pela porta da frente!


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