Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 29
Capítulo 29




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/80537/chapter/29

O time de Anko tinha retornado naquela manhã confirmando o sucesso de sua missão. Os cinco bandidos foram presos e estavam agora sob custódia do mais próximo posto militar da aldeia onde eles costumavam atacar. Infelizmente este mais próximo eram dois dias de viagem, o que justificava eles terem retornado depois dos outros dois times, ainda que estes tivessem levado mais tempo em suas missões.

Ela já tinha lhes entregue o pagamento pelo serviço executado e aturou com paciência Miyoko falar o que iria fazer com ele. Haruka e Ayame foram um pouco mais discretas no tocante a isso. Sua preocupação de agora era com os nukenins que foram capturados pelo time de Kiba, e com sua discípula que ainda não tinha mandado notícias.

Os nukenins já estavam sendo interrogados para aferir se seria mesmo possível reverter a condição de fugitivos que tinham, coisa que Hanabi implorou para ela fazer. Ainda queria saber quem contou para ela, mas acabou ficando satisfeita da mesma não ter ido atrás deles para se vingar ou matá-los por terem abandonado a aldeia. No entanto, como punição por ter feito tal coisa sem ter sido ordenada para tanto, estava proibida de deixar a aldeia até segunda ordem. Hinata estava responsável para cuidar que a irmã não desobedecesse.

Já tinha resolvido a maior parte da burocracia do dia e agora olhava as missões que tinha para distribuir. O time de Anko ainda precisava descansar um pouco, mas tinha dois times já descansados para algumas missões C. Também tinha uma missão S que era urgente mas não poderia dar para Hanabi agora. E teria de esperar um pouco até um time sênior retornar. Pensou em dá-la para Shizune, já fazia um tempo que ela não atuava fora da aldeia.

Fez a separação das missões e dos times correspondentes e as deixou arrumadas para o dia seguinte. Podia já distribuir algumas naquela tarde, mas não estava com disposição para isso. Imaginava o que Moegi estaria fazendo. Provavelmente devia ser a missão de cortesia para o raikage. Levaria alguns dias para completá-la.

Levantou-se de sua mesa e observou o céu através de sua janela. Estava preocupada com Moegi. Não tinha lhe dito tudo, e duvidava que o raikage iria dar muitos detalhes. Esperava que ela pudesse voltar antes do festival começar. Ela gostava de se divertir neles.

Suspirou um pouco e virou-se para o interior de seu escritório e cruzou os braços. Sua expressão agora era de determinação. Shikamaru estava demorando muito para obter as respostas que queria, e ela não estava muito paciente para esperar. Queria ela mesma ir atrás dos suspeitos e fazer alguma intimidação para cima deles, mas tinha que se controlar. Precisava fazer isso.

Não ia chegar a lugar algum daquele jeito. Olhou para a sua mesa já arrumada e com tudo preparado para o dia seguinte e decidiu encerrar seu dia mais cedo. Foi andando pelas ruas da aldeia direto até a casa de Shikamaru e chegando ao portão viu o jovem filho dele brincando na grama. O pai não estava longe, como esperava, estava na varanda de sua casa jogando xadrez sozinho.

Andou devagar pelo quintal – dando uma acariciada na cabeça da criança que sorriu divertida – e parou do lado dele. Olhou as pedras do tabuleiro e não foi difícil perceber que ou ele não estava se concentrando ou talvez estivesse fazendo tudo menos jogando um xadrez real ali.

- Shikamaru! – chamou ela colocando as mãos na cintura.

- Já vai começar a me chatear em casa também? – disse ele displicente – já passei vergonha outro dia.

- Aquilo foi escolha sua – ela sorriu.

- Eu sei, mas eu tinha que fazê-lo, você sabe disto – olhou para ela com aquela expressão de cansaço que escondia muito bem a sua mente funcionando. Sakura ainda não acreditava que ele tinha desistido tão fácil, ou se convencido com tão pouco – quer saber sobre a investigação?

- Que outro motivo eu teria para estar aqui?

- Não sei... – ele deu de ombros e moveu uma peça de xadrez do tabuleiro, Sakura viu que era a rainha, mas não a moveu da forma correta, ele a retirou do quadrado onde ela estava e a colocou perto do rei oponente – talvez tenha vindo para tomar chá? – ele sorriu para ela.

Estreitou os olhos observando o tabuleiro enquanto ele pegava dois bispos e os colocava próximos a rainha.

- Que jogo interessante este seu – ela se sentou diante dele assumindo a posição do oponente e o observou – mas não me parece que seja xadrez.

- Gosto de mover as peças quando estou sozinho...  devia ver quando jogo com o Tiba-kun – ele olhou para o filho brincando de rolar na grama e sorriu – as peças viram munições de catapulta.

- Pare de enrolar e responda minha pergunta.

Ele suspirou e a olhou cansado, quase aborrecido.

- Você não me perguntou nada ainda... – ele sorriu – eu que perguntei se era sobre a investigação e você não a confirmou.

- E depois reclama que é tudo chato para você – ela maneou a cabeça – bem, estou perguntando agora, teve algum progresso?

- Talvez, pelo menos conseguimos mais alguma coisa - ele moveu a rainha mais uma posição próxima do rei oponente – um dos suspeitos foi comprar mantimentos umas semanas atrás e teve uma discussão curiosa com um dos funcionários. Curiosa o bastante para que este funcionário também tenha um ANBU vigiando. Além disso, há uma cozinheira nova naquela aldeia onde ele faz compras. Ela também está sendo vigiada, mas ao contrário do funcionário em questão, não fez absolutamente nada de excepcional.

Franziu o cenho por alguns instantes, e como Shikamaru não prosseguiu, ela fez uma careta antes de perguntar.

- E o que esse funcionário fez de excepcional?

- A cada três dias a noite,  ele sai de casa e fica andando de forma a percorrer três grandes círculos ao redor da aldeia, sempre olhando para cima – olhou para ela com o rosto inexpressivo – isso é estranho, não é?

- Ele faz sempre no mesmo horário?

- Sim. Dá para saber as horas só de observá-lo fazer isso. Mas não temos nada ainda para um interrogatório. Aquele que comprou os mantimentos também não fez quase nada de estranho desde que voltou.

- Quase nada?

- Sim. A única coisa estranha foi ele andar pela aldeia carregando uma caixa. Ele aparentemente ficou cansado enquanto a carregava e descansou por quase um minuto encostado na parede de sua moradia.

- Minha moradia?

- Sim – disse simplesmente – seu ANBU guardião examinou bem o local e não identificou nada. Ele até entrou na sua casa para checar se tudo estava normal.

Ela olhou para o tabuleiro de xadrez ponderando sobre as peças que ele tinha movido. Grunhiu um pouco sem dizer nada em especial e olhou para o céu que já estava ficando avermelhado.

- Por quanto tempo vai esperar antes de tomar alguma atitude?

- Vai depender da paciência de quem se esgotar primeiro – ele sorriu – a sua ou a minha...

- A minha está perto de limite – ela cruzou os braços e o observou séria.

- Se os interrogarmos e estivermos errados, os verdadeiros culpados com certeza irão fugir – ele continuou a observá-la sorrindo.

As vezes detestava falar com ele. Tinha essa mania de ser evasivo que dava nos nervos.

- Não pense que vou esperar para sempre, Shikamaru. Mas no momento, vou ter que confiar na sua paciência. Só espero que não espere demais. E se continuar evitando me informar a respeito, eu vou começar a achar que ainda desconfia que escondo alguma coisa.

- Como a conselheira disse, não há um lacre em você – Desta vez ele moveu o rei para aproximá-lo da rainha.

A voz dele estava um pouco mais suave, quase como se insinuasse algo. Então ele não tinha desistido, mas talvez tenha ficado apenas confuso com a posição da anciã. Bom, ela não ia entrar no jogo dele. Ele que usasse aquela cabeça genial para descobrir o que queria.

Isso se já não tivesse descoberto.

- Sim, foi o que ela disse – olhou o tabuleiro e levou a sua mão para pegar um cavalo do mesmo time da rainha e dos bispos que ele tinha usado e colocou este atrás da rainha.

- Porque fez isso? – ele a olhou com genuína surpresa.

- Já que está usando suas peças de xadrez para representar uma situação, é melhor colocar todas as peças nos locais certos.

Ela se levantou com um sorriso e foi andando lentamente para a sua casa. Se ela era representada por aquela rainha, e seus ANBUs guardiões eram os bispos, então faltava mesmo aquele cavalo. Ou ele achava mesmo que Tsunade não iria fazer absolutamente nada para garantir que as coisas iriam continuar sob controle?

-x-

Verificou se tinha pegado tudo o que lhe pertencia e satisfeita fechou sua mochila. A colocou sobre o ombro e saiu do quarto onde morou por quase dois meses. Tinha completado sua missão com maestria e não chamou a atenção de ninguém, nem mesmo daquele shinobi que rondava a aldeia desde o dia que Ataro tinha feito aquela encenação tola junto com o comerciante de Konoha. Durante todo o tempo em que ficou ali ela sabia onde ele e o shinobi estavam, simplesmente percebendo o chakra deles. Notou facilmente que ele estava vigiando Ataru, e este não demonstrou perceber isso. Se percebeu, era muito habilidoso ou um completo idiota para ficar dando aquelas voltas na aldeia a cada três dias.

Mas não lhe interessava mais. Estava indo embora. Foi até a sala de seu chefe para se despedir – ele estava mesmo triste com isso. Ao entrar notou que ele estava lendo algumas fichas de pessoal.

- Toru-san? – disse ela o chamando – já estou de partida.

- Minha querida – disse ele erguendo os olhos e a observando triste – precisa mesmo ir? Tem certeza de que não quer ficar mais algum tempo? Posso te dar um aumento.

- Desculpe – ela fingiu estar chateada – mas preciso mesmo prosseguir minha viagem. Já fiquei até mais tempo do que pretendia. Agradeço muito a hospitalidade. Diga a todos que mandei um beijo.

Ele fez questão de abraçá-la na despedida. Logo depois ela caminhava pela estrada sem pressa, identificando onde o shinobi estava pelo seus sentidos. Ainda estava no teto do depósito, mas tinha se movido para provavelmente observá-la partir. Estava acreditando que provavelmente outro shinobi a seguiria. E ficaria surpresa se tal coisa não ocorresse.

Uma hora depois de partir, suprimiu um sorriso ao pressentir o chakra de alguém a distancia vindo na sua direção. Depois de algum tempo ficou a uma distancia estável e ficou a acompanhando. O tipo de chakra era diferente do shinobi de antes, portanto era outra pessoa a seguindo agora. Como esperava, estava sendo seguida, mas não haveriam surpresas pelo caminho. Já tinha dito para onde estava indo para os seus amigos do depósito, e já imaginava até onde seria seguida.

A noite pernoitou em uma pequena estalagem que ficava na estrada, e no dia seguinte prosseguiu viagem. Assim foi por várias dias, até chegar na fronteira do pais de Fogo e o país da Grama. Haviam guardas a postos no caminho que a pararam imediatamente exigindo identificação. Ela lhes entregou um pergaminho e aguardou por alguns minutos. Logo depois, a deixaram seguir viagem.

Para todos os efeitos, ela era uma simples camponesa do país da Grama que tinha ido visitar os seus avós em outro país. E como esperava, o shinobi não prosseguiu em sua vigilância além da fronteira. Ela manteve seu disfarce o tempo todo.

Várias horas depois de estar no país da Grama, ela se embrenhou pela floresta que ladeava o caminho – com árvores mais viçosas que as do país do Fogo – e seguiu uma rota pré-determinada. Já tinha identificado aquele local quando estava indo cumprir a missão que o doutor tinha lhe dado. Havia uma lagoa ali que era uma extensão do braço de um riacho que desaguava em uma pequena cascada alguns quilômetros para o norte. Ao chegar na lagoa ela se despiu e banhou-se ali, esfregando cuidadosamente sua pele e passando os dedos para tentar identificar qualquer marca ou sinal que pudessem ter feito nela. Não achou nada.

Mergulhou na lagoa e localizou a bolsa fechada em plástico que tinha deixado ali, a pegando e subindo a superfície do outro lado, ficando bem longe da mochila que tinha abandonado. Ali pegou roupas novas da bolsa e alguns equipamentos ninja. Jogou aquela bolsa para cair bem em cima da outra que tinha abandonado e ambas explodiram em chamas segundos depois. Se alguém tinha posto qualquer coisa que permitiria ser seguida nas suas coisas, agora não iria encontrar nada. Andou por cima da água até chegar ao riacho e correu por este até as escarpas que o mantinham em seu curso. Escalou estas e prosseguiu agora saltando entre as árvores como uma kunoichi que sabia muito bem para onde ia. Manteve o ritmo por vários dias, cruzando a fronteira com o país do Trovão dormindo umas poucas horas até chegar ao seu destino.

Quando o doutor tinha dito onde ela realmente estava, não tinha acreditado. Estava quase no ponto mais distante do centro do país do Trovão, em um desfiladeiro muito acidentado que forçava mesmo os mais habilidosos shinobis a precisarem ter muito cuidado para se mover por ali.

Entrou na caverna onde antes treinava para verificar o progresso de seu corpo se recuperando e foi até uma parte desta onde depois de fazer alguns selos e tocar na rocha, uma porta se abriu a deixando entrar.

Estava cansada, dolorida e louca por um banho, mas tinha algo a fazer primeiro. Considerando as horas, o doutor devia estar na biblioteca. Foi até ali e para sua surpresa, não o encontrou. Em seguida o procurou no laboratório, nos quartos vazios – um deles parecia que tinha recebido um hospede fazia pouco tempo, considerando que a cama estava desarrumada – no quarto dele, até que o encontrou na parte mais inferior do local, onde ficavam o que ela imaginou inicialmente ser celas.

- Doutor? – chamou ela um pouco confusa por o encontrar ali.

- Etsu-chan – murmurou ele sorrindo de uma orelha a outra, mas não olhando na sua direção – que prazer em revê-la.

Ele estava ajoelhado dentro de uma das celas, aparentemente tentando remover a ferrugem das dobradiças da porta.

- O... – a expressão dela era cômica ao observá-lo. O homem que tinha demonstrado uma habilidade médica inacreditável estava... bancando o ajudante geral? – o que está fazendo?

- O que parece que estou fazendo? – ele riu-se – cuidando da manutenção de nossas celas. Sabe... já faz muito tempo desde que foram usadas pela última vez, estava preocupado se ainda poderiam manter um shinobi bem preso.

- Planeja capturar alguém?

- É possível – disse ele de forma evasiva – mas não será para breve. Gostaria de me ajudar a testá-las?

- Testá-las? Fala das celas? – arregalou os olhos. Mas que pedido pervertido tinha sido aquele?

- Sim – ele respondeu ficando de pé e movendo a porta de um lado para o outro, verificando que não estava rangendo – eu a deixo trancada dentro de uma delas por uma semana. Se conseguir sair, estará livre para fazer o que bem entender, mas se não conseguir, bem... nosso acordo continua como antes...

Estreitou os olhos e o observou bem, quase fazendo uma careta. A proposta até que era tentadora, exceto que ele a tinha praticamente reconstruído, portanto sabia muito bem o que ela podia ou não podia fazer. E se fez tal proposta, era porque tinha certeza absoluta de que não tinha como ela escapar dali. Provavelmente como não tinha utilidade para ela no momento, a queria “descansando” por um tempo.

- Se é uma proposta, eu a rejeito – tornou ela com um tom de irritação na voz – mas se for uma ordem, eu vou obedecer sem questionar. Eu já disse que tenho certeza de que fez algo para garantir minha obediência quando me operou.

Ele a olhou estreitando os olhos e parecia estar sério.

- Vamos ver... entre na cela ao lado.

Sem dizer nada, ela obedeceu, entrando na cela e aguardando ali.

- Agora, feche a porta, retire a chave e a lance longe.

Novamente sem hesitação ela fez o que ele pediu. A chave foi arremessada com tanta força que bateu na parede e voltou quase até o meio do corredor.

- Agora vai me deixar aqui por uma semana? – perguntou ela fazendo bico com a boca.

Ele andou lentamente até diante das barras que a mantinham ali e a observou atentamente. Sua capa cobria como sempre todo o seu corpo, e o capuz de sua cabeça não a deixava ver absolutamente nada de seu rosto.

- Tenho uma idéia melhor – disse ele movendo uma das mãos para dentro de sua capa – pegue isso...

Ele arremessou um pergaminho para ela que o pegou sem dificuldade.

- O que é isso?

- Um jutsu que quero que você aprenda – o tom de sua voz indicava que ele estava de bom humor, provavelmente sorrindo – com ele, poderá sair daí, e talvez possa sair de muitas prisões no futuro, ou até usá-lo para outras coisas.

Olhou interrogativamente para ele. Porque queria que ela aprendesse a usar aquele jutsu?

- Eu a aguardarei nos níveis superiores, Etsu-chan – murmurou ele se afastando – tenho certeza de que poderá aprender como escapar daí em poucas horas.

Ele saiu de sua linha de visão e ouviu seus passos ecoando no corredor. Depois de alguns minutos, ele estava tão distante que não podia mais perceber o chakra dele. Agora era mesmo uma prisioneira, mas estranhamente sentia que estava sendo treinada por ele. Mas não conseguia imaginar porque ele queria fazer isso.

Como não ia ter muito o que fazer ali, abriu o pergaminho e começou a estudá-lo, ficando impressionada quando descobriu o que aquele jutsu lhe permitiria fazer. Mas não acreditava que poderia fazê-lo em poucas horas. Acreditava que levaria varias dias para isso, talvez bem mais do que uma semana.

- Tomara que ele me traga comida, ou vou ter que invocar uma cobra para servir de almoço... – rosnou em voz baixa enquanto se sentava no piso agora limpo da cela e observava melhor as instruções do pergaminho.

-x-

Em um dos picos mais altos da aldeia da Nuvem, Moegi observava a estranha paisagem branca formada pelas nuvens que davam nome a aldeia. Na verdade era o único pico da aldeia que sempre estava acima destas. A visão era magnífica, e as nuvens que via pareciam uma plantação de algodão até perder de vista.

Já faziam doze dias desde que seus chuunins partiram e ela ficou para acompanhar o interrogatório – grande acompanhamento... apenas ficar  sentada e memorizando o que o interrogador dizia a respeito do que estava obtendo da mente do prisioneiro.

Havia uma forte possibilidade de estarem omitindo informações, mas isso era esperado. Ela queria apenas uma informação boa o bastante para localizar a nukenin. E pelo visto a melhor opção seria mesmo depois que descobrissem o destino das águias que Hori Shii usava para enviar suas mensagens.

- Moegi-san!

Ela se virou e viu um dos guardas da aldeia ali aguardando.

- Sim?

- Seus colegas retornaram – disse ele simplesmente, e desapareceu em uma nuvem de fumaça.

Até que enfim! Poderiam finalmente ir embora daquele lugar. O interrogatório tinha terminado na véspera, e faltava apenas seus alunos retornarem – cumprindo a missão – para poderem partir. Mas estava curiosa se a missão deles tinha sido assim tão difícil para levarem todo esse tempo para cumpri-la. Estava quase apostando que andaram se divertindo pelo caminho.

Andou pelo labirinto em três dimensões que era aquela aldeia até chegar a um dos salões usados para recepcionar visitantes. Eles seriam conduzidos até ali quando voltassem. Não precisou esperar muito. Dois minutos depois que chegou, o raikage – e sua guarda - se uniu a ela e seus chuunins chegaram um pouco depois disto.

- Conseguiram? – perguntou o raikage naquela voz forte que tinha.

Ikkou não disse nada, apenas jogou um cilindro de couro para ele e este o pegou. Levou um tempo para abrir e ler o papiro do interior, mostrando algo raro para eles, um sorriso.

- O que acharam?

- Olha – Isaki começou a falar – tirando o fato que não gostamos nada de fazer uma prova de exame chuunin, até que achei bem completa. Eles vão ter muito trabalho para cumprir isso. Mas não acha que é perigoso deixar nós sabermos como será o exame do próximo ano?

- É por isso que não diremos nada a ninguém, nem mesmo a hokage – disse Moegi para eles – ela só sabe que a aldeia da Nuvem irá sediar o exame no próximo ano. E esta informação ainda é confidencial pelos próximos dois meses.

- Sim, Moegi-sensei – disse ela bufando um pouco.

Era evidente que não gostaram de serem cobaias para averiguar se o exame que eles planejaram aplicar os gennins candidatos era satisfatório, afinal, já tinham passado por isso e não queriam lembrar de como foi difícil.

- Então vamos pegar nossas coisas e partir – disse ela respirando aliviada – terminamos nossas tarefas aqui. Raikage-sama, obrigado por ter-nos recepcionado – disse ela se curvando.

- Gostaria que levasse um recado para a sua hokage – disse ele a encarando de forma séria.

- E o que seria? – ela já o olhava torto, acreditando que ia de novo comentar sobre a raposa. Será que ele não tinha nenhum hobby novo?

- Quero que desta vez ela venha pessoalmente para assistir ao exame.

- Algum motivo especial para isso? – estranhou o pedido dele. Nos últimos anos estava muito raro um kage deixar sua aldeia para assistir pessoalmente ao exame chuunin, preferindo enviar um representante. Era verdade que sua mestra nunca tinha ido para outra aldeia para isso, e isso antes de se tornar hokage. Ela só saia mesmo nas raras vezes em que havia uma reunião geral.

Ele se aproximou lentamente dela e cochichou a resposta em seu ouvido. Moegi ficou intrigada com aquilo, mas nada disse.

- Vou dar o seu recado – disse ela se curvando novamente. Em seguida, ela se seus chuunins saíram da sala indo direto até a moradia em que ficaram hospedados para pegaram os equipamentos que ainda estavam por ali. Em quinze minutos estavam cruzando os portões da aldeia.

- Moegi-sensei, o que o raikage lhe disse?

- Prefiro dizer apenas para a hokage, Ikkou-kun – respondeu ela distraída. Achou estranho ele utilizar esta forma de comunicação. Poderia muito bem enviar uma mensagem para isso. Apenas tinha lhe cochichado que tinha um assunto confidencial a tratar com sua mestra, e queria aproveitar o exame chuunin como desculpa para não chamar a atenção.

Devia ser mesmo muito confidencial para não confiar escrever uma carta sobre isso.

Forçaram muito na viagem de volta, mas acabou valendo a pena. Chegaram a Konoha na noite do terceiro dia. Moegi dispensou seus chuunins os deixando irem descansar enquanto ela seguiu pela aldeia até a casa de sua mestra. Bateu na porta com força e esperava que ela não estivesse já dormindo, apesar de que devia ser cedo para isso ainda.

A porta se abriu e Shizune estava ali a observando impressionada. Não devia esperá-la ali, muito menos naquela hora.

- Moegi-chan! – disse ela alegre.

- Boa noite, sempai – respondeu olhando por cima de seu ombro – a hokage-sama está?

- Ela está se arrumando para sair.

- E onde vocês vão?

Moegi tinha entrado na casa e achou melhor esperar por Sakura na sala de estar.

- Eu vou sair com Iruka-kun, já a hokage eu não sei... não sou tão curiosa assim.

Moegi apertou os lábios. Não se incomodava de sua mestra sair para se divertir a noite, mas sempre achava estranho ela fazer total segredo sobre com quem se encontrava.

Ouviu o som das escadas de madeira rangendo e ao se virar naquela direção viu sua mestra terminando de prender o cabelo em um rabo de cavalo.

- Moegi-chan – disse ela alegre – correu tudo bem?

Ficou de boca aberta vendo sua mestra com uma mini-saia e uma pequena jaqueta cobrindo uma camiseta normal, mas com as linhas trançadas normalmente vistas em roupas ninjas. Sua bandana estava na cintura e estava virada de lado. Naquele instante se sentiu enciumada com sua mestra, acreditando que ela poderia fazer muita gente torcer o pescoço em sua direção.

- Moegi-chan? – chamou ela de novo aumentando o sorriso.

- Eu.. desculpe mestra, eu só... – olhou para ela de novo piscando os olhos várias vezes.

- Só sou cinco anos mais velha que você – ela cruzou os braços e estreitou os olhos – qual o problema de me vestir assim?

- Bem, é que... quer dizer... nada! – ela sorriu sem jeito – só estou me sentindo um pouco... quer dizer... hã... esquece! Terminamos a missão, e... eu.... – olhou para ela e coçou a cabeça – que tal nos sentarmos?

Sakura sorriu e foi até uma pequena dispensa da sala onde pegou alguns copos e uma jarra de vidro com saque – pelo jeito, sua mestra tinha saquê para eventualidades em toda parte – colocando os copos na mesinha do centro e os enchendo com o liquido.

- Muito bem, minha aluna – disse ela pegando um copo e sorvendo o liquido lentamente – esqueça que eu me pareço como se estivesse competindo contigo pela atenção dos rapazes e me diga como foi.

Abriu os olhos de surpresa e pegou um copo também, bebendo-o de uma vez só. O fez tão rápido que o calor que preencheu sua faringe a deixou sem ar por alguns instantes, bem como sentiu um calor muito forte subir pelo pescoço e se depositar em suas bochechas, mas isso ela acreditava que não era da bebida.

- Bem, o raikage não estava de bom humor para variar.

- E ele lá sabe o que é bom humor? – perguntou Shizune pegando um dos copos e bebericando um pouco.

- Bom, ele já foi criança um dia, não?

Moegi imaginou como o raikage devia ser quando criança, mas tudo o que  conseguia imaginar era alguém como Naruto só que muito mais hiperativo que ele, arrumando briga com tudo e todos. E talvez até com mais gente se fosse possível.

- Continuando, ele me permitiu observar o interrogatório de Hari Shii, e tudo o que descobrimos foi que o mesmo andou nos ajudando um pouco as escondidas, usando os serviços desta nukenin.

- Ajudando? – Sakura estava perplexa.

- Sim. Farei um relatório mais detalhado amanhã, mas ficou claro uma coisa: Ele não mandou ela matar o senhor feudal. Na verdade, ele acredita que foi usado como bode expiatório nessa questão.

- E quanto ao outro contato dela no país do Trovão? – perguntou Shizune.

- Morto – respondeu ela – assassinado por bandidos alguns meses atrás.

- Muito conveniente – murmurou Sakura enchendo o seu copo de saquê novamente – o que o raikage fez a respeito?

- Com detalhes? – ela sorriu para sua mestra.

- Me poupe da explosão de raiva dele.

- Mandou investigarem o que houve, mas não descobriram nada.

- Só isso?

- Você pediu a versão censurada, mestra – Moegi riu.

- Eu sei – Sakura ficou sem jeito – e quanto ao serviço especial que ele queria que fizessem?

- Meus alunos demoraram doze dias para completar – tanto Sakura quanto Shizune ficaram de boca aberta – é uma prova muito difícil e seletiva. Só quem está apto a ser um chuunin poderia fazê-la. Mas não posso entrar em detalhes.

- Sabemos disto. Bom, acho que você quer descansar um pouco não é? Só lamento que seu namorado está ocupado com o seu time fazendo uma missão, acredito que deve voltar em três dias, bem a tempo para o festival.

Ela fechou os olhos e se imaginou no seu yakata que estava preparando para isso já fazia vários meses. Ficaria muito triste se não pudesse ir.

- Ah sim, mestra! Há mais uma coisa. O raikage gostaria que fosse pessoalmente a aldeia da Nuvem durante o exame chuunin.

- Por quê? – perguntou ela estranhando aquele pedido.

- Tudo o que ele me disse foi que queria conversar um assunto muito confidencial contigo, e que queria usar o exame como cobertura. Ele não quer uma resposta seja por carta ou por um mensageiro, se não quiser ir, basta não ir.

Ela colocou a mão no queixo e ficou pensativa a respeito, decerto tentando imaginar o que ele estava planejando.

- Bom, eu tenho vários meses para decidir. E se Minato-kun for participar – ela sorriu – vou ter um bom motivo para ir. Vá descansar agora Moegi-chan, e obrigada por ter vindo me contar tudo assim que chegou.

- Obrigada, mestra. E... – olhou para ela com um sorriso – divirta-se.

- Mas nem tenha dúvidas – ela a olhou com uma expressão um tanto safada. Pelo jeito, não seriam uns meros beijinhos desta vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sonho Renascido" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.