Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 26
Capítulo 26




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A aldeia esteve um pouco mais movimentada que o normal naquele dia. Muitos comerciantes trouxeram novos produtos alem de renovar o estoque habitual, de forma que não era excepcional alguns deles estarem andando com caixas em lugares onde normalmente não o fariam. Um dos ANBUs escalados para proteção integral da hokage da aldeia tinha se adiantado, como sempre fazia, e tinha parado em frente a casa dela para verificar a segurança. Sua colega ainda estava próxima da hokage, observando-a em sua habitual luta contra os papeis diários.

Isso não era feito antes. Era difícil imaginar um ataque dentro da aldeia e direcionado para o seu kage. Isso mudou quando a godaime fora assassinada. O chefe da ANBU decidiu escalar a cada ano dois de seus shinobis para vigiá-la e oferecer proteção discreta – desnecessário dizer que a hokage detestou isso, mas não tinha argumentos fortes para dispensar a escolta – porem funcional a ela.

Para Udon que preferiu entrar para a ANBU ao contrário de seus antigos colegas de time que escolheram serem senseis, a tarefa era monótona e enfadonha, ou seja, era o tipo de tarefa que toda pessoa que faz escolta adoraria. Um dia monótono é um dia na verdade bom, indicava que não houve ameaças a quem protegia. Mas especificamente no caso da hokage era até melhor. Ela não se arriscava. Era muito raro ela sair da aldeia, e o fazia quando era extremamente necessário. Nem mesmo quando ocorriam exames Chuunin em outros locais ela se afastava, preferindo enviar um representante – normalmente Shikamaru – para isso.

Mas não era por isso que ele se descuidava, e ele até que agradecia por ela ser tão profissional. Já tinham tido um caso antes, mas quando ele foi selecionado para lhe proteger naquele ano, ela se afastou e se manteve assim. Se bem que ele já estava ficando preocupado com o próximo ano.

Percebeu alguém andando pela rua abaixo com uma caixa e deu um salto para uma posição melhor no teto de outra casa. Ocultou-se com um jutsu de camuflagem e observou bem. A caixa devia estar pesada, pois ele a abaixava mais e mais conforme andava. Até que não sendo mais possível, ele a deixou descer suavemente no chão e apoiou-se nela enquanto tomava fôlego.

Em qualquer lugar da aldeia aquilo nem seria notado, talvez até uma pessoa amigável se oferecesse para ajudar a carregar a caixa. Infelizmente ele tinha deixado a caixa encostado no muro do prédio em que a hokage morava, e se não se pusesse em marcha rapidamente, ele teria de ir até ali inspecioná-la. Em meia hora aproximadamente ela iria sair do escritório e ir para casa – isso se não passasse em algum lugar para comprar alguma coisa – e permitir que uma caixa ficasse ali por alguns minutos seria arriscado demais. Felizmente para ele – e mais ainda para o comerciante – este respirou fundo e começou a erguer a caixa novamente, andando em seguida.

Observou bem onde a caixa tinha ficado e não reparou em nada excepcional, mas ainda assim não ficou satisfeito. Abandonou sua posição oculta e saltou para onde o comerciante tinha parado por alguns instantes, examinando o solo e a parede onde a caixa tinha estado por quase um minuto. Foi quando percebeu outra presença próxima e ao se virar viu que era outro ANBU.

- Alguma coisa estranha? – perguntou o ANBU para ele.

- Não, mas... porque pergunta?

- Estou acompanhando os passos da pessoa que carregava aquela caixa – respondeu ele de forma rápida. Parecia que ele tinha pressa, provavelmente para continuar acompanhando aquela pessoa.

- Não percebi nada ainda – ele tornou a observar a parede e o solo, chegando mesmo a tocar este com a mão – parece que ele apenas estava mesmo cansado de carregar aquilo.

- Talvez Shikamaru-san lhe pergunte alguma coisa, vou voltar a minha tarefa. Examine bem a segurança aqui, aquela pessoa esta sob suspeita de crimes contra a aldeia.

Ele maneou a cabeça concordando e enquanto este partia, observou agora muito atentamente todo o local em que a caixa esteve, mas nada achou de errado por ali. Preocupado, foi para o teto do prédio e moveu-se devagar por toda a extensão deste.

Nada viu ou percebeu. Mas não ia correr nenhum risco. Usando a copia que tinha da chave, entrou no prédio e andou silenciosamente por todos os cômodos da casa – já fazia um bom tempo que não entrava la dentro – ainda assim, nada percebeu.

Tudo indicava que a pessoa apenas estava cansada e parou ali para descansar um pouco. Ainda bem. Saiu do prédio e voltou a sua posição de vigília.

O que Udon não sabia e nem tinha como rastrear, era que a caixa em questão estava vazia, com um buraco na parte de baixo. Quando o comerciante a deixou descer devagar, uma serpente que estava dentro da caixa saiu pela abertura e usando o corpo do comerciante para proteger-se, esgueirou-se pelo muro para fora do alcance. Enquanto ele falava com o outro ANBU, ela aproveitou para escalar a parede do prédio e entrar por uma janela semi-aberta, e uma vez lá dentro, cuidou de encontrar uma abertura para o forro da casa. Conseguiu seu objetivo no corredor do andar superior, onde havia uma clarabóia usada para manutenção do teto.

Pelos próximos meses, a serpente ficaria morando ali, ficando praticamente imóvel e ouvindo toda e qualquer conversa que ocorresse no local, saindo apenas uma vez por volta de quinze dias para caçar algum roedor. Era realmente o espião ideal que alguém poderia ter.

Alheia a isso, a hokage rosada de Konoha, ou a grande crueldade rosa como alguns já a chamaram cuidava de alguns detalhes da missão que estava dando a sua discípula.

- Entregue esta carta ao raikage – disse ela esticando o braço com uma carta selada segura nas mãos – enquanto ele não ler isso, ninguém de sua equipe deve fazer absolutamente nada na aldeia da Nuvem!

Ela deu muita ênfase a palavra “nada”. Moegi pegou a carta e a colocou em um bolso apertado de sua saia, sem fazer nenhum questionamento.

- Teremos de aguardar ele confirmar alguma coisa? – perguntou ela a observando.

- Moegi-chan, o assunto é um pouco mais delicado do que esperávamos – disse ela entrelaçando os dedos e fitando-a nos olhos – A mulher que procuramos também é condenada a morte na aldeia da Nuvem. Não foi só no nosso país que ela andou agindo. Se ela estiver no país do Trovão, eles querem cuidar disso.

- Pelo jeito ela sabe fazer amigos... – comentou em tom de chacota.

- E também mostra o quanto é perigosa – interveio Shizune que sempre estava do lado da hokage – se o próprio raikage está interessado nela, é de se imaginar o que ela andou fazendo por lá.

- Seu time apenas irá observar – continuou Sakura – a aldeia da Nuvem irá cuidar do contato dela e da possível extração de informações. E Moegi-chan... você deve partir esta noite.

- Sim, mestra – disse ela pressionando os punhos para relaxar um pouco. Não era propriamente uma missão que ela gostava.

- Então pode ir... e tome cuidado!

Ela acenou com a cabeça e saiu da sala, deixando Sakura e Shizune sozinhas. Esta olhou para a hokage e depois de algum tempo tentando ficar em silencio, acabou não conseguindo.

- Pensei que ia dizer tudo para ela...

Sakura não respondeu. Abriu a ultima gaveta da mesa e após pegar a pequena garrafa de saquê a jogou para Shizune, que surpresa a segurou com a mão esquerda.

- Se acalme um pouco – disse ela se levantando e esfregando os olhos – o que eu não disse está escrito naquela carta. Não quero que ela comente algo com sua equipe antes de chegarem lá. E de qualquer forma, não está relacionado com a missão, é apenas por estarem indo para lá que vão acabar cuidando disto também.

Shizune fez uma cara feia e abrindo a garrafa, tomou um gole desta.

- Você está me lembrando do que Tsunade-sama fez contigo...

- E qual o problema disto? – ela agora sorriu – não estou disposta a fazer carreira neste cargo. Mas admito que ela não estaria preparada para esta função ainda. Konohamaru-kun contudo, é outra história. Só espero não ter que esperar muito... quero me casar antes dos trinta e cinco! – terminou a frase abrindo os braços e olhando para o teto – e até que seria bom você se casar também. Vai ver Iruka-sensei hoje?

Shizune ficou corada e tomou mais um gole da garrafa, fazendo Sakura rir.

- Vamos indo... não quero mais ver papeis por hoje.

Não esperou resposta da amiga. Simplesmente saiu da sala e depois de caminhar um pouco pelas ruas da aldeia, chegaram ao prédio em que viviam. Sakura pensou em cumprimentar Udon quando chegou, mas achou melhor não. O coitado iria achar que não estava se mantendo oculto o bastante. A verdade era que ela não tinha a menor idéia de onde ele estava, mas sabia muito bem que ele devia estar próximo, afinal, era o trabalho dele protegê-la.

Entrou em sua casa e foi direto tomar um merecido banho quente. Nem mesmo falou nada com Shizune. Geralmente elas falavam um pouco quando chegavam em casa, mas daquela vez Sakura estava mesmo cansada. Ficou uma meia hora sob a ducha e satisfeita, pegou seu roupão e ficou esfregando seus cabelos com a toalha. Queria secá-los depressa. Verdade que com cabelos curtos isso até que era fácil, mas ainda assim demorava mais do que gostaria.

Depois que secou seu cabelo, foi até o seu quarto para se pentear e ler um pouco. Não estava disposta a sair naquela noite. Na verdade queria ficar um pouco sozinha, e incentivar Shizune a passear um pouco. Ouviu ela entrar no banheiro e sorriu. Geralmente ela se banhava antes de dormir, como ainda era cedo, devia ser porque ia sair.

Tirou o roupão e vestiu uma roupa mais leve para encarar o calor da noite. Antes de fechar o armário olhou-se no espelho que ficava na porta deste e sorriu levemente ao ver suas formas. Ainda era atraente apesar de já estar nos trinta anos. Depois de sua desilusão com Sasuke, levou muito tempo até se relacionar amorosamente com alguém. Uma pena que acabou ocorrendo pouco antes de se tornar hokage. Não teve muito tempo para curtir o momento.

Aproximou o rosto do espelho e ajeitou melhor a lente de contato. Estava um pouco fora do lugar.

- Eu não vou andar por ai com olhos de cores diferentes – murmurou ela para o vazio.

Depois de ajeitar a lente, observou seus olhos com critério, e ficou satisfeita por ser impossível perceber que ela estava usando lentes. Ela ainda era vaidosa.

Fechou a porta do armário e foi até a sua estante, procurar por um bom livro para ler. Fazia tempo que não lia um romance, e passou as mãos pelas capas dos livros procurando um que a agradasse. Talvez fosse hora de procurar um livro novo, ainda se lembrava de muitos detalhes de todos os livros que tinha.

Parou por um instante quando suas mãos chegaram ao ultimo livro da prateleira e lentamente abaixou a cabeça. Era o primeiro livro que Jiraya tinha escrito, aquele em que o personagem principal era chamado de Naruto. Antes era de sua mestra, e a mesma lhe deu como lembrança um ano antes de morrer. Lendo o livro ela compreendeu um pouco mais sobre o sonho deste e por conseqüência, o papel que Naruto tentou assumir.

Eu ainda acredito nas palavras do ero-senin.

Sorriu ao se lembrar das palavras dele. Ele sempre era empolgado em quase tudo o que fazia. Um pouco demorado para entender algumas coisas... ora... usando as palavras certas, Naruto era um idiota em muitos sentidos, mas sempre surpreendendo com o que podia fazer.

- Sakura-chan? – chamou Shizune na porta de seu quarto.

- Sim? – olhou para ela e notou que estava usando um belo vestido. Sorriu divertida em seguida – não precisa ter pressa para voltar – ela riu de como Shizune ficou corada quando disse aquilo.

Despediu-se dela e pulou na cama de costas, mantendo os braços abertos e olhando o teto. Pelo menos poderia ficar tranqüila aquela noite.

Ficou observando o teto por um longo tempo, avaliando a sua preocupação com Moegi, ou melhor, com a equipe dela. Eles não iam gostar muito de uma das tarefas secundárias, e provavelmente iriam criticá-la por aquilo. Afinal, iam fazer um serviço cortesia para a aldeia da Nuvem, em troca de total acesso as informações que pudessem obter do contato da mulher que procuravam.

De qualquer forma, confiava em Moegi para cuidar do assunto. Tentou deixar a mente livre mas não conseguiu. Acabou pensando novamente no que não queria. Já fazia meses desde que o cemitério teve aquele incidente. O incidente em si não a preocupava, mas o fato de ter ocorrido sim. Mais que isso, incomodava o momento em que tal coisa ocorreu.

Por mais que tentasse se convencer do contrário, sua mente pensava se tinha alguma relação com Minato ter se tornado um gennin. Por que alguém esperaria quatorze anos para violar o túmulo de Naruto? Estariam procurando por alguma coisa que podia estar no seu corpo? Ou será que queriam fazer outra coisa?

Não fazia muito sentido aquilo. Se o objetivo fosse roubar o corpo, como iriam levá-lo? Tinham que ter algo já pronto para isso. As vezes gostaria de ter a mente de Shikamaru para descobrir estas coisas. E por falar nele, estava demorando demais para fazer alguma coisa depois da conversa que tiveram. Já fazia quase duas semanas. Sorriu divertida quando se lembrou que tinha dito que usava lentes de contato. Será que ele teria imaginado que foi o transplante de seus olhos que classificou os registros da operação como secretos? Seria divertido se o fosse, adoraria deixá-lo confuso quanto tentasse lhe confrontar com aquilo.

- Você não tem como imaginar o que minha mestra queria esconder, Shikamaru – disse ela para o quarto vazio – não teve nada a ver com a operação que ela fez em mim, mas sim com o motivo pelo qual ela não podia salvar meus olhos.

Era impossível curar seus olhos, e sua mestra percebeu isto, optando por um transplante. Talvez tivesse sido melhor não ter feito segredo disso, não haveria aquele documento bem guardado que Shikamaru teve acesso, do qual muitas perguntas devem ter surgido em sua mente. Mas agora era tarde. No entanto, tinha o mérito de desviar a atenção do que realmente houve com ela.

Acabou cochilando enquanto pensava naquilo, mostrando que estava mais cansada do que imaginava. Quando despertou quase uma hora depois, sentou-se com as pernas esticadas na cama e ficou olhando para a frente, com a boca semi-aberta e os olhos arregalados, demonstrando surpresa.

Pulou da cama e foi direto para o banheiro. Tinha que ter sido um sonho, rugia a sua mente, depois de quatorze anos? Chegou ao banheiro e tirou a camisa e o sutiã, observando-se de lado. Com a mão esquerda, moveu o seio direito para cima e lá estava a pequena pinta.

Ficou observando o espelho com uma expressão de raiva contida. Não devia se sentir ofendida propriamente, mas era difícil conter a sensação de que se sentia sem privacidade. No fim, acabou rindo em voz alta e com um sorriso de moleca se exibiu no espelho por algum tempo, parecendo se divertir com alguma coisa.

Depois disto tornou a se vestir e foi preparar seu jantar. Quando Shizune voltou, tarde da noite, ela já estava dormindo tranqüilamente.

Sentiu seus olhos doerem um pouco, como se algo os queimasse. De repente os abriu desesperada e ficou sentada na cama, olhando assustada para Shizune que não compreendeu o porque dela agir assim. Como sempre, ela tinha aberto as janelas do quarto, deixando a luz entrar. Mas desta vez, o brilho desta em seus olhos a fez lembrar-se da terrível sensação que teve durante a luta contra Tobi e que a perseguiu por semanas depois disto.

- Sakura-chan? – chamou Shizune assustada.

- Eu estou bem – disse ele abraçando os joelhos e tentando se acalmar – só uma lembrança ruim. Apenas isso.

Levou cinco minutos até ela se recompor e sair da cama. Shizune observou-a todo o tempo, ficando preocupada mas sem nada dizer. Uma hora depois ela chegava ao seu escritório e pela primeira vez em dias, sorriu levemente ao ver apenas uma pequena pilha de papeis ali.

Mas ainda assim ela tinha atribuições. Naquele dia devia distribuir as novas missões para os times de gennins. Respirando devagar, sentou-se na sua mesa e pegou as missões que lá estavam – que ela já tinha separado no dia anterior – e as releu, avaliando novamente se tinha feito boas escolhas. Acabou ficando satisfeita e deixou as missões de lado, se ocupando dos outros documentos.

Havia um documento novo ali. Ela o pegou e o leu. Mostrou os dentes pelos lábios entreabertos e colocou o papel virado sobre a mesa, cruzando os braços em seguida.

- Algum problema? – perguntou Shizune que tinha notado como ela ficou.

- Ainda não – disse ela.

Ela não disse mais nada, e ficou trabalhando na papelada. Shizune se ausentou um pouco depois para verificar as coisas no hospital, deixando-a sozinha. Até que era um sensação estranha sem ela por ali. Uma hora depois bateram a porta e o time de Kiba tinha entrado. Quando olhou para Ringo se lembrou do que Moegi lhe tinha dito sobre o incidente em que ele causou um ferimento em Haruka. Ficou imaginando se ele tinha se dedicado a controlar melhor suas habilidades.

- Kiba – começou ela pegando a missão que tinha reservado para ele – estou lhes dando uma missão de escolta. Espero que não tenha dificuldades.

Ele pegou a folha e a leu, ficando um pouco curioso. Sakura aguardou que ele falasse algo, mas ele se manteve quieto. Esperava que isso significasse que ele tinha entendido bem a missão.

- A escolta é da carga ou das pessoas?

- As duas coisas, embora eles dêem prioridade para a carga.

Ele maneou a cabeça, mas não disse mais nada. Saiu em seguida com o seu time a deixando novamente imersa naqueles papeis, e olhando torto para a folha que tinha colocado de lado virada para baixo. Meia hora depois chegou o time de Konohamaru. Ela olhou para Minato e sorriu levemente. Ele parecia um pouco mais tranqüilo daquela vez. Pegou a missão que tinha reservado e a deu para ele, já esperando ouvir Ayame dizer alguma coisa. O que de fato ocorreu.

- Uma vara de porcos?! – disse ela quase gritando ultrajada – acompanhar uma vara de porcos? Mas que missão doida é essa?

Sakura cruzou os braços e olhou feio para ela, e a mesma engoliu em seco em seguida. Shiromaru latiu duas vezes em cima da cabeça de Haruka, como se também a estivesse recriminando.

- Esses criadores de porcos andaram tendo muitos prejuízos ultimamente – disse Sakura mantendo a pose séria e recriminadora – e isto é uma missão classe C. Pode não ser charmosa, mas deve ser feita. Agora... podem ir fazer a missão! – disse ela batendo na mesa com força. Ayame foi a primeira a desaparecer da sala.

Recostou-se na cadeira e sorriu divertida. Com dois gennins podendo fazer dezenas de clones, devia ser uma tarefa até fácil para eles, mesmo com a possibilidade de terem de enfrentar lobos. Além disso, Konohamaru iria cuidar deles, procurando afastá-los caso algo inesperado ocorresse. Felizmente, nem teve tempo de relaxar, pois antes da porta se fechar com a saída do time seis, o time de Anko já estava entrando.

Olhou para Umito e ele não parecia estar sentido pelo resultado dos exames de Moegi. Mas notou que Anko parecia muito, mas muito feliz. Ficou imaginando qual seria o motivo, mas desconfiou que iria descobrir em breve.

Sem esperar ela começar a falar, Sakura pegou a missão reservada ao time e a entregou para Anko. Esta a leu e arregalou os olhos levemente, quase não acreditando. Ela a olhou com um meio sorriso e Sakura apenas cruzou os braços, observando Miyoko tentando ler o papel. Outa mantinha-se afastado como de costume.

Sakura chegou mesmo a pensar em dar aquela missão para o time seis, mas no fim acreditou que o time de Anko se daria melhor com isso. Ademais, como as outras missões, não havia o risco de enfrentarem outros ninjas. No entanto, tinha suas dificuldades.

- Sakura-chan – disse ela sorridente – acha mesmo que esses três podem encarar isso?

- Isso o quê? – perguntou Miyoko se contorcendo para tentar ler a missão.

Anko riu e ergueu a folha o máximo que pode, deixando-a fora do alcance dela.

- Sensei! – chorou ela – deixa eu ver!

- É só uma missão boba de proteção – disse ela movendo o papel de forma a impedir que ela o alcançasse – nada excepcional.

- Uma escolta? – perguntou Outa mantendo as mãos nas costas, mas obviamente curioso.

- Quase isso, é só uma missão simples de prender uns arruaceiros que estão ameaçando uma aldeia.

Os três gennins olharam para a sensei surpresos. Uma missão claramente de confronto? Aquilo era inesperado para eles, mas não para a hokage e para a sensei dos mesmos. Um gennin pode encarar facilmente qualquer bandido comum, mesmo que eles sejam bons em espadas. Eram apenas cinco arruaceiros sem mais o que fazer além de roubar constantemente uma aldeia que fabricava vinhos.

- Bom, se não quiserem, posso ver outra coisa aqui – disse Sakura pondo a mão em uma pilha de papel.

- Não, não, está perfeito – disse Miyoko abanando as mãos – vamos sensei.

Olhou com um sorriso enquanto Miyoko puxava Anko para fora da sala. Tinha certeza de que ela iria contar isso para Ayame e esta ficaria furiosa. Mas isso fazia parte da vida de ninja.

Finalmente ela se voltou para o papel que tinha deixado virado durante toda a manhã. Pegou-o novamente e o releu. Apertou os lábios e o dobrou algumas vezes, terminando por jogá-lo para longe e arremessou uma kunai que o perfurou e o deixou cravado perto da porta. Ela podia muito bem dispensar aquilo. Mas levantaria suspeitas.

- Eu estou pronta – disse ela cruzando os braços – vamos acabar logo com isso.

Quase que imediatamente um ANBU apareceu diante dela em uma nuvem de fumaça, se pondo em um joelho como se fosse receber uma ordem. Mas era na verdade quase o contrário.

- Onde? – perguntou ela.

O ANBU se ergueu e se aproximou dela levando um pergaminho na mão. Sakura pegou o pergaminho e o abriu, rompendo o seu selo. Leu-o atentamente e o devolveu. O ANBU o queimou com um jutsu e desapareceu em seguida.

Suspirando, ela saiu do prédio e andou pelas ruas da aldeia sem pressa, para não chamar a atenção. Dirigiu-se para uma casa antiga, de uma época anterior pelo seu estilo. Não ficou surpresa de ver Shikamaru a aguardando na porta.

- Oi... – disse ele acenando levemente, demonstrando estar preocupado e até mesmo um pouco inibido.

- Até que você demorou para tomar essa decisão – tornou ela cruzando os braços – vamos resolver isso de vez.

Praticamente o ignorando, ela entrou na casa seguido por ele em seguida. Dentro era como esperava, uma casa com moveis antigos e mostrando um tipo de vida social que ela já nem imaginava como podia ser. Apreciava tradições como forma de respeito as gerações anteriores, mas não ia mobiliar sua casa desta forma nunca!

Não precisou procurar pela dona do local. Ela a aguardava na sala. Utatane Koharu, ainda uma das anciãs do conselho de Konoha. Essa realmente só ia se aposentar quando morresse. Atualmente precisava de uma bengala para ajudá-la a andar, visto que a artrite já a atacava com mais força desde os últimos cinco anos. Apesar disto, recusava-se a deixar suas funções, sendo uma eventual pedra no sapato de Sakura. Curioso que apesar de tudo ela acabou sendo a primeira a endossar o desejo de sua mestra em que ela se tornasse a hokage.

- Fico feliz que tenha vindo cedo – disse ela após dar alguns passos com a ajuda da bengala.

- Achei que era melhor resolver isso logo. Qual é o assunto de interesse da segurança de Konoha do qual eu faço parte que quer conversar?

Ela a olhou daquela forma fria que era sua marca registrada e respirou fundo antes de responder.

- Seu colega aqui presente – ela olhou para Shikamaru – levou ao meu conhecimento de que você andou omitindo informações importantes para a segurança da aldeia.

- Omitindo? – olhou para ele e o mesmo continuou inibido, desviando o olhar dela – que tipo de omissão?

- Uma muito séria – olhou para ela fixamente – algo tão serio que eu o proibi de comentar esse assunto com qualquer outra pessoa, incluindo os outros do conselho.

- Foi? – ela colocou as mãos na cintura e a encarou de volta – e poderia me dizer qual foi essa omissão séria?

- O paradeiro do bijuu de nove caudas, e a identidade de seu novo hospedeiro depois de Naruto.

Sakura não se alterou, continuando com as mãos na cintura a observando. Ela esperava por aquilo desde o momento em que falou com Shikamaru na montanha dos hokages. Chegou mesmo a estranhar demorar tanto, e mesmo agora estava estranhando ele ter contado suas suspeitas apenas para Koharu.

- Me deixe adivinhar... vocês acham que ela esta lacrada em mim, certo?

Koharu olhou para Shikamaru atrás dela, e este ficou menos a vontade ainda.

- A aldeia em si é mais importante que seus indivíduos – começou ela naquela ladainha de sempre – Ele me disse de suas suspeitas e do porque de acreditar nisso. E ele tem bons argumentos para que eu acredite ser necessário um exame mais detalhado.

- Imagino que mandou um Hyuuga me analisar...

- Não – disse ela – o byakugan não pode ver o chakra da raposa a menos que ele esteja sendo utilizado, como deve saber disso muito bem, e no momento eu prefiro que isto seja tratado como assunto extremamente confidencial. Antes eu quero garantir que o assunto que iremos tratar aqui será extremamente restrito a nós, e ninguém deverá saber disto. Ao menos, por enquanto.

- Animador – disse Sakura sentindo-se enfadada.

- A raposa foi vista por alguns momentos durante o ataque da Akatsuki a aldeia, e depois desapareceu. A única explicação para isso é ela ter sido selada em alguém ou em alguma coisa. Segundo Shikamaru, você impediu que ela fosse selada em Tobi, isso está correto?

- Sim – disse simplesmente mantendo o olhar fixo no dela, no entanto a idosa mulher não iria se incomodar com isso.

- Mas a raposa acabou desaparecendo, portanto, foi selada em alguém – ela parecia que estava quase sorrindo – vai negar isso?

- Vou – afirmou ela sem se alterar.

A anciã a olhou de lado, talvez não entendendo ou não acreditando na resposta. Bufou levemente e abaixou a cabeça, como se estivesse se lamentando.

- Eu esperava não precisar chegar a tanto, mas não há escolha. Eu preciso ter certeza disso. Por favor, minha cara, eu gostaria que se despisse.

Ergueu as sobrancelhas levemente e quase riu daquilo. Depois virou o rosto para Shikamaru e este estava com a boca aberta, olhando diretamente para a anciã. Aquilo pareceu uma comedia para Sakura.

- Eu... eu espero la fora... – disse ele apontando para trás com o polegar.

- Não! – disse ela firme – até o momento, se vocês foram vistos entrando aqui, irão pensar que estamos tratando de algum assunto normal. Se você sair e ficar lá fora por algum tempo e depois retornar, pode chamar a atenção.

- Certo.. vou para outro cômodo...

- Não precisa, Shikamaru – disse Sakura o olhando divertida – só não vou querer problemas com sua esposa, entendeu?

Sem esperar resposta, Sakura começou a tirar a sua roupa, e Shikamaru surpreso ficou de costas, tentando controlar a vergonha que sentiu. Koharu não se incomodou com isto, ficando a observar a jovem hokage se despindo diante dela. Sakura ficou imaginando se ela iria sentir inveja de não ter mais um corpo daqueles. Mas no fim, acreditava mesmo que a velha já era uma máquina insensível que via tudo e a todos como meras engrenagens que podiam ser substituídas ou sacrificadas.

Um minuto depois, Sakura agora despida aguardava a mulher idosa fazer a sua avaliação. Ela se aproximou e foi observar primeiramente a sua barriga. Se houvesse um selo, normalmente ficaria ali. Logo depois franziu o cenho e levou a mão enrugada para tocá-la suavemente. Ela parecia genuinamente surpresa. Atendeu ao seu pedido para se virar e quando o fez viu Shikamaru ainda de costas para ela, com os braços cruzados e batendo o pé levemente. Com certeza ele não esperava por aquilo quando foi contar suas teorias para a anciã ali.

Sentiu a mulher passar a mão pelas suas costas, tocando com mais força a sua nuca. Depois foi para o seu ombro. Sabia o que ela fazia, tentava identificar algum selamento feito. Depois de alguns segundos sem que ela a tocasse, acabou se virando para encará-la de frente novamente. Ela parecia impressionada com algo, e Sakura ficou preocupada com o que ela estaria realmente pensando.

- Pode... pode se vestir – disse ela olhando para baixo.

Evitando sorrir, Sakura vestiu-se novamente, avisando Shikamaru que podia se virar agora. Em seguida cruzou os braços e ficou olhando a anciã esperando que ela prosseguisse.

- Shikamaru – disse ela em um tom quase que de desculpas – acho que você estava certo. Apenas passamos vergonha aqui, o que não chega a ser de todo mal.

- Então acredita agora que não tenho a kyuubi em mim.

- Não há um selo para lacrá-la em você, portanto não é uma jinchuuriki – disse ela olhando para baixo.

- Fico feliz em saber – disse ela com um sorriso amável – e infelizmente para você, Shikamaru, perdeu a chance de saber se sou toda rosa – olhou para ele e o mesmo quase engasgou. Até que era bom se aproveitar de algumas situações – E antes que pense em mais coisas...

Ela levou as mãos aos seus olhos e com cuidado retirou suas lentes de contato, revelando um olho azul claro no direito, e um olho castanho no esquerdo.

- Isso é para não pensar que posso ter algum sharigan comigo.

Ele a olhou detidamente, e parecia estar mesmo surpreso com aquilo.

- Agora que sua curiosidade foi satisfeita, que tal satisfazer a minha? Como anda a sua investigação?

- Os suspeitos – ele ainda olhava para seus olhos – não fizeram nada excepcional ainda, mas já estamos vigiando outra pessoa com a qual um deles fez contato quando foi comprar mantimentos. E... me desculpe, hokage. Mas eu tinha que me certificar.

- Posso compreender isso – disse ela mais tranqüila – mas se estivessem certos, o que iria acontecer?

- Isso é algo para o qual eu não tenho uma resposta – disse Koharu as suas costas – só sei que iríamos manter sigilo do assunto, e talvez até reforçar o selo, caso fosse necessário – ela ergueu a cabeça e a olhou novamente nos olhos – você fica melhor com as lentes...

Sorrindo, Sakura recolocou as lentes em seus olhos e com uma ajuda da idosa mulher, as ajustou no local. Shikamaru desculpou-se novamente e saiu da casa. Devia estar muito contrariado – ou talvez até aliviado – com o que houve. Sakura deu uma ultima olhada na conselheira e começou a andar seguindo o mesmo caminho de Shikamaru, quando ouviu ser chamada de uma forma da qual aquela mulher nunca o fez antes.

- Hokage-sama!

Mais do que tudo o que houve ali, isto realmente a assustou. Não tanto por ela a ter chamado assim, mas pela forma educada e respeitosa pela qual o fez. Apertou os lábios e virou-se lentamente para ela.

- Sua mestra me condenava por eu ter deixado de acreditar nas pessoas – olhou para ela e sorriu levemente – acho que ela estava certa. Considerando o que eu vi, acho que vou ter de acreditar que você fez a melhor escolha.

- Eu também espero – disse Sakura – eu realmente também espero.


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Notas finais do capítulo

Acho que o capitulo ficou uma salada de varios assuntos sem uma conecção direta entre eles. Mas transmite as informações que eu queria. Só espero que não esteja tedioso.



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