A fada que o escreva escrita por Creeper


Capítulo 29
Extra IV: Uma família de exorcistas - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Hi! E cá estamos com a parte II dessa família de exorcistas, qual será o resultado do duelo?
Boa leitura ♥



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Em questão de meio segundo, tudo virou um borrão e o céu surgiu em meu campo de visão quando minhas costas bateram na grama. Tentei levantar-me o mais rápido que pude, entretanto, Gaiden colocou-se em cima de mim e fez menção de perfurar meu ombro com sua espada.

Perdi todo o ar e no mais puro desespero, recorri a minha única arma secreta. Uni as mãos, concentrei-me na medida do possível e implorei:

— Karma de aquário, projete-se!

Por mais que eu viesse treinando, minha magia não era forte o suficiente para expelir Gaiden de perto de mim, mas foi o bastante para criar uma fina película verde por todo o meu torso. Arfei com o peito subindo e descendo e vi o homem passar de raivoso para pasmo.

— Aquário?! – ele gritou batendo a espada contra meu karma. – Sabe que ele é de escorpião?!

E lá íamos nós novamente.

— Eu sei! – rangi os dentes e fiz força para empurrar Gaiden com meus joelhos. – E mesmo assim eu vim até aqui!

O homem estava furioso. Ele continuou as investidas, tentando a todo custo partir minha proteção e estava quase conseguindo. Respirei com dificuldade, já cansado por ter criado aquele pequeno escudo e por ter o peso do exorcista sobre mim.

— Vão colocar a vida um do outro em perigo! – ele rosnou.

Me esforcei ao máximo para não deixar meu karma se desfazer, inclinei-me para frente bruscamente e bati minha testa na de Gaiden, fazendo-o ir para trás.

Com o mínimo de liberdade, arrastei-me pela grama e ergui-me cambaleante, totalmente zonzo pela cabeçada. Meu karma dissipou-se e minhas mãos trêmulas apertaram o bastão.

— Ele não vai ferir meu coração e sim meu âmago e alguém vai acabar morrendo. É, eu já ouvi essa conversa antes e aconteceu! E se tiver que acontecer de novo, tudo bem!

Gaiden correu em minha direção aos berros e mirou em meu braço, todavia, barrei sua lâmina com o bastão e perguntei desesperado:

— Mai também teve que passar por isso?!

— Mesmo sendo um casamento arranjado? Sim! E ela venceu. – Roy exclamou agitando o braço à sombra da árvore junto de Solar.

O pai de Dante recuou sua espada e em seguida deslizou-a por minha perna, por sorte apenas rasgando minha calça. O que na verdade foi uma pena, porque eu amava aquela calça.

— Você fala como se conhecesse a Mai! – ele grunhiu.

Fiquei indignado e pensei em empurrar o bastão na barriga de Gaiden, mas sua experiência em acabar com pretendentes e sua espada colossal impediram qualquer ataque.

— Eu a conheci! – bradei.

Senti um estalo na cabeça, recuei alguns passos e passei uma das mãos por dentro do sobretudo. Antes que o homem enfiasse a espada em meu pescoço, revelei:

— E tenho uma carta dela para o senhor!

Isso ainda não parou Gaiden. Eu teria minha pele cortada caso um círculo dourado não surgisse abaixo de meus pés e me levantasse no ar. Atônito, percorri o meu olhar pela gigantesca balança que havia sido invocada no quintal dos Vulpecula.

Lá embaixo, Solar encarava-me curiosa enquanto mantinha uma das mãos erguidas. O outro prato da balança sustentava Gaiden a pouco centímetros do chão, de modo que ele saltou para a grama e deu tapinhas em seu casaco.

— Mãe, quer colocá-lo no chão, por favor? – Dante bateu a mão em sua testa.

— Há, igualzinho a como você fazia para separar as brigas quando eles eram crianças! – Roy gargalhou e passou os braços pelos ombros de Dante e Calíope.

— Abaixe ele, ainda estamos duelando! – Gaiden reclamou. – Ou melhor, eu estou. – soltou um muxoxo.

— Sobre o que é essa carta, jovem? – Solar arqueou uma sobrancelha.

— Mai a escreveu quando estávamos em Dragonean e pediu exclusivamente para Suichiro a entregar ao papai se algum dia o encontrasse. – meu noivo explicou.

Peguei a carta um tanto amassada e molenga e apontei-a para Gaiden, me perguntando se deveria jogá-la daquela altura para que ele a pegasse, porém, Solar desceu sua mão e o prato da balança encostou na grama, permitindo que o homem agarrasse o papel grosseiramente e lesse seu conteúdo em silêncio.

Dante veio ao meu encontro e eu somente me permiti suspirar aliviado e cair de joelhos no chão. Calíope se juntou a nós para me auxiliar e Roy aproximou-se de Gaiden para bisbilhotar a carta.

— Fim do duelo. – o homem amassou o papel e enfiou-o no bolso.

— O quê?! – indaguei desacreditado.

— Se vieram atrás da minha bênção, que seja. – ele franziu as sobrancelhas. – Se casem.

Solar arregalou os olhos, desfez seu karma e estudou a situação. Ao ver o marido entrar na casa sem dizer mais nada, colocou-se diante de mim e estendeu-me a mão.

Hesitei um pouco, contudo, aceitei a ajuda para levantar-me.

— Sabem o que tinha naquela carta? – ela questionou.

— Mai não nos deixou ler. – Dante balançou a cabeça negativamente e fitou a porta pela qual o pai entrou. – Devemos falar com ele?

— Não, é melhor evitar que ele mude de ideia. – Solar abanou a mão. – Além de que, se ele desistiu do duelo, significa que a vitória é do Suichiro. – cobriu a boca para esconder a risada.

— Mãe, você... – Calíope ficou boquiaberta.

— Agora que Gaiden não está tentando matá-lo, eu gostaria de conversar com meu futuro genro. – a mulher pousou a mão delicadamente em meu ombro.

Calíope quase caiu para trás de tanta surpresa, Dante paralisou com as sobrancelhas levantadas e o rosto vermelho e Roy bateu palminhas.

Quanto a mim, congelei em uma expressão de perplexidade e até esqueci como se andava quando Solar me guiou para dentro da casa.

Apenas voltei a realidade ao escutar uma porta se fechando atrás de nós e me encontrei em uma sala banhada pela claridade que escorria pelas janelas retangulares. No centro do cômodo, um grande piano preto descansava e compridas estantes de livros o rodeavam, além de diversos mapas pregados nas paredes cinzas.

— Quando eu era mais nova, já pensei em ser exploradora também. – ela apontou para seu peito e depois para o meu, indicando minha insígnia.

— P-Por que mudou de ideia?

— Ah, crescemos e nossos gostos se tornam outros. – Solar sentou-se no banco em frente ao piano. – Você é mais novo do que Dante, certo?

Encolhi os ombros, afastei uma mecha de cabelo para atrás da orelha e assenti.

— Serei direta. – ela suspirou e pousou as mãos em seu colo. – É jovem, tem muito pela frente ainda. Quer mesmo se casar com meu filho? Quero dizer, agora?

— Mas é óbvio! – respondi afobado.

— Por quê? – Solar franziu as sobrancelhas. – Dante é uma pessoa difícil e fechada e sei que tenho culpa nisso por causa da criação que demos a ele e Calíope, mas se mesmo assim ele se apaixonou, quero ter certeza de que será feliz com essa pessoa por muito tempo.

Prendi a respiração, cerrei os punhos e senti a vermelhidão se alastrar por minhas bochechas. Por um instante, vislumbrei a aliança que continuava a brilhar em meu dedo e lembrei-me da conversa que tive com Gaspar.

— Porque Dante é diferente do que eu pensava dos exorcistas. – toquei meu peito. – Claro, quando nos conhecemos ele era grosso, ria de mim e me dava broncas. – varri o chão com os olhos. – Mas como eu, ele também queria proteger os outros, a diferença é que ele sabia fazer isso sem se colocar em perigo. – soltei uma risada abafada.

Solar arqueou uma sobrancelha, ficou de pé e caminhou lentamente em minha direção.

— Gosto de estar com ele porque todos os dias são uma aventura. Inclusive esse. – massageei minha nuca.

Meu coração bateu calmamente e percebi o brilho de minha aliança ficar mais forte. Eu poderia falar outras coisas e até iria, isso se não ouvisse uma voz resmungando atrás da porta:

— Sai daqui, velhote!

Instintivamente, Solar afastou-me e abriu a porta de uma vez, derrubando no chão as três pessoas que estavam coladas nela. Corei violentamente ao ver Dante e Roy esmagando Calíope contra o tapete e Gaiden de pé no corredor observando a cena de maneira abobada.

— E-Estavam ouvindo? – minha voz saiu esganiçada de constrangimento.

— Foi uma linda declaração. – Roy ergueu-se e depositou alguns tapinhas em meu ombro.

Dante revirou os olhos e deu uma cotovelada no homem enquanto ajudava a irmã que gemia de dor a se levantar.

— Francamente, eu deveria... – Solar cerrou os dentes. – Até você, Gaiden?!

— Eu só estava passando pelo corredor da minha própria casa. – ele cruzou os braços.

— E vindo colocar a cabeça aqui no meu ombro para escutar também, é, seu velho fofoqueiro? – Roy zombou.

— Roy, vá embora! – Solar e Gaiden gritaram ao mesmo tempo e apontaram para o final do corredor.

O homem levantou as mãos em sinal de inocência, me lançou uma piscadela de despedida e saiu assoviando como se todos os problemas fossem resolvidos com o cigarro que ele havia acabado de acender.

— Também está na hora de irmos. – Dante assentiu.

Concordei em silêncio, agradeci Solar e Calíope pela recepção e troquei um breve olhar com Gaiden. Dante passou o braço por meus ombros, sussurrou que estava tudo bem e me escoltou até o portão.

— Venham jantar conosco algum dia. – Solar convidou. – Ainda quero conhecer melhor o noivo de meu filho. – meneou graciosamente com a cabeça.

Esbocei um sorriso fechado e me imaginei contando para Gaspar que a aprovação da sogra estava quase garantida, junto com a da cunhada e do... Seja lá o que Roy fosse daquela família.

O rapaz confirmou com um semblante tímido e encarou uma das janelas da residência onde Gaiden permanecia de braços cruzados atrás das costas e um olhar sério.

— Vão acalmar a fera por mim? – Dante segurou as rédeas de Victória.

— Até o dia do casamento, sim. – Calíope disse determinada.

Dante trocou mais algumas palavras com as mulheres, nos despedimos e então subimos na égua. Abracei a cintura do exorcista e Victória galopou sob o céu que se tornava laranja, envolvendo nossos corpos pela brisa fria que o anoitecer trazia consigo.

— Me desculpe mesmo pelo meu pai. – ele comentou. – Você se saiu muito bem.

— Não foi tão ruim. Passamos por muito pior. – dei de ombros. – Já sabe que depois dessa não tem mais como se livrar de mim, não é? – provoquei.

Silêncio. Apenas o som dos cascos de Victória batendo no chão.

— O que você pensava dos exorcistas? – o rapaz questionou.

— Ah, calado. – afundei o rosto em suas costas e apertei o tecido de seu sobretudo.

De repente, me lembrei de uma das frases de Gaiden e afastei-me um pouco de Dante para perguntar:

— Espera, sua irmã ia se casar com Dereck?

— Como se eu fosse deixar. – tenho quase certeza de que meu noivo revirou os olhos. – Aliás, você achava que ele me odiava à toa?

— Não consegui pensar em um bom motivo. – admirei as estrelas que surgiam no céu. – Porém, realmente não dá para te imaginar como cunhado do Still.

— Apesar de eu achar que agora ele me odeia em dobro. Porque além de não ter a Calíope, ele também não vai ter você. – falou convencido.

— Pare, ele não...

— Suichiro, se você soubesse quantos exorcistas se casariam com você. E não estou falando dos bêbados do bar em que você trabalhava. – Dante me olhou por cima do ombro.

— Não acredito em você a menos que me diga quem são esses exorcistas. – fiz um biquinho.

— É segredo. – ele sorriu de canto. – Se eu te disser, você vai ter muitas opções para me trocar. – voltou-se para frente.

Dei uma pequena risada, encostei a cabeça em suas costas e fui tomado por um único pensamento: o que tinha na carta de Mai?

 

 

 

“Caro Gaiden,

Há quanto tempo não nos falamos, não é? Recentemente, seu filho pisou em Dragonean e eu me lembro de ter deixado bem claro de que não o queria aqui, todavia, ele veio acompanhado de um explorador.

Eles estavam fingindo ser uma dupla por causa da lei que a Guilda de Hibisc criou em consequência ao surto de demônios e tenho minhas suspeitas de que seus karmas são incompatíveis.

Outra de minhas suspeitas é que estão apaixonados.

Gaiden, você é um exorcista incrível e um grande amigo de meu pai, seria um bom sogro para mim, contudo, precisa entender que eu e seu filho nunca nos amamos e nunca vamos nos amar.

Mas vamos deixar de falar disso, o assunto aqui é o acompanhante dele. Um desajeitado, entretanto, muito interessante. Conseguiu suportar uma das maldições do exorcismo (a sétima, uma das mais perturbadoras) e aguentou beber mais cervejas do dragão do que alguns clientes daqui.

Esse garoto tem garra e provavelmente vai te desafiar. Talvez ele perca, porém, pode considerar que ele ao menos tentou?

Eu nunca vi os olhos de Dante brilharem tanto ou um sorriso como o dele ao falar com Whitlock, é como se ele tivesse bebido algum licor da felicidade instantânea. Se eu como inimiga dele senti paz ao vê-lo assim, você como pai também não sente?

Por favor, considere as palavras da ex-nora que tanto sonhou, leve isto como uma carta de recomendação. Se lhes der a bênção, a cerveja do casamento estará garantida e você e Solar podem beber de graça em meu bar pelo resto da vida. E aquele idiota do Roy também.

 

Atenciosamente,

Mai Di Lion.”


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Notas finais do capítulo

E não é que aquela ida a Dragonean rendeu? Me contem o que acharam!
Semana que vem é o penúltimo capítulo extra, estamos prontos para nos despedir?

Até.
Beijos.
—Creeper.



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