Recovery Boy (Bakudeku) escrita por Linesahh


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Line na área ✨

Oioi! Entãooooo, eu vi uma fanart no tt ontem que fiquei babando por horas, então conversei com a Sahh e discutimos uma ideia que, a princípio, era pra ser curtinha kkkkkk
Essa é a minha primeira one-shot oficial de bkdk (a outra tmb tinha Tododeku, ent não conta), foi EXTREMAMENTE divertida de escrever, tanto que foram tipo, mais de 6K só em uma só tacada!! um milagre desses é raro de acontecer cmg, ent estou muy feliche :D

Ps. o Deku e o Bakugou não são amigos de infância nesse universo.



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Recovery Boy

por Line

 

 

 

— Mas você tem certeza de que ele estava no consultório com a Recovery? Ele não passou lá só pra, sei lá, entregar alguma coisa pra ela? Lembra bem… — Uraraka insistiu. Os grandes olhos castanhos encaravam a amiga cor-de-rosa com atenção.

— Não, não, eu tenho certeza de que vi certo. Ele estava lá auxiliando a avó, de jaleco e tudo, acho que estão fazendo um tipo de treinamento. É certeza que se alguma de nós der entrada lá, é ele quem vai ser o “médico” — uma risadinha maliciosa foi proferida após a frase de Mina.

— Ahhh, isso é tão errado! Mas não podemos jogar essa oportunidade fora de jeito nenhum! — Hagakure, embora não pudesse ser vista, dava piruetas de contentamento enquanto soltava gritinhos histéricos.

— Ok, o próximo passo é decidir quem vai ser a “paciente” e que tipos de machucados vamos bolar — Mina, como sempre, tomou a liderança, empinando o nariz. — Como as informações foram trazidas por mim, nada mais justo que ser eu a escolhida.

— Ah, nem vem! É sempre você que toma esse lugar e não deixa a gente participar! — Hagakure protestou.

Uraraka, meio tímida, baixou os olhos e enrolou uma das mechas castanhas entre os dedos. Sempre ficava constrangida com aquele assunto, afinal, havia muito mais que simples sentimentos — ao menos de sua parte — envolvidos naquela história. Mas concordou com a invisível.

— É verdade, Mina… tem que ser justo.

— De que justiça você tá falando? Alguma de nós já conseguiu ganhar um beijo dele, por acaso? Todas as vezes em que eu fui, a missão falhou, então mereço participar tanto quanto vocês! — bateu o pé.

E, como sempre, uma discussão foi formada pelo trio no meio do treinamento diário que a turma 1-A realizava nos terrenos. No momento, todos ocupavam-se em fazer alongamentos extensos, comandados por Aizawa.

A apenas poucos metros das garotas, um certo loiro de olhos escarlates bufou em irritação enquanto alongava os braços. Portador de uma flexibilidade acentuada, passou-os por trás do pescoço e segurou a posição por alguns segundos. Tentava, a todo custo, se concentrar no treino e não dar ouvidos àquelas desmioladas, todavia, a alien falava tão alto que qualquer um naquele maldito terreno podia escutá-la sem problemas.

Na verdade, não era nem preciso possuir audição para ter uma vaga ideia de qual era o assunto tratado. Aquilo já estava acontecendo há meses, desde que ingressaram na UA, mas até hoje Bakugou sentia vontade de morrer toda vez que era obrigado a presenciar mais um episódio ridículo daqueles.

O que diabos elas viam naquele neto sem-graça da velhota da enfermaria? Por que sempre viravam um bando de idiotas toda vez que ele aparecia e as cumprimentava com aquele sorriso odiável e aqueles olhos redondos e exageradamente verdes? Por que sempre que ele estava presente no consultório, elas ficavam com aquele fogo todo? O que ele tinha de especial além do dom que herdou da velha? Ele nem mesmo sabia lutar!

Sua expressão devia estar mais azeda que de costume, pois Kirishima logo chamou sua atenção:

— Hey, Bakubro, se a sua testa se franzir mais, é capaz de essa careta feia no seu rosto ficar permanente — o ruivo caçoou, e ao ter o dedo do meio estendido em sua direção, permitiu-se rir, descontraído: — Ah, cara, sai dessa! Não vai me dizer que tá ligando pra conversa das garotas outra vez, né?

— Vai se foder, cabelo-de-merda, por que não cuida da tua vida? — rosnou. Só porque eram considerados “amigos”, não o pouparia de receber sua fúria quando aquele idiota merecesse; o que, de certa forma, acontecia quase o tempo todo. — Eu tô pouco me fodendo praquelas retardadas, se liga.

— Opa, opa, pode ficar bravo, mas mantenha o respeito com as garotas, né? — Kirishima censurou-o, olhando-o daquela forma cansada como se Katsuki fosse um caso perdido. — Não há por que falar assim.

— Ah, é? E tá certo elas falarem daquele nerd metido à besta como se ele fosse a porra de um objeto? — não conseguiu conter a explosão de palavras enjauladas em sua garganta. Em seguida, arrependeu-se um pouco por tê-las dito. Não queria passar a impressão de que se preocupava com aquele projeto de brócolis, nem em um milhão de anos.

— Pra mim, isso se chama i-n-v-e-j-a — Kaminari, “o intrometido”, resolveu dar pitaco, o que só atiçou ainda mais a fúria do garoto explosivo.

— Vai se ferrar também, Pikachu de merda! Quem tá com inveja aqui? Acha que eu teria inveja daquele idiota?

— Não sei por que tanta raiva com o Recovery “Boy” — Sero comentou, pernas estendidas e mãos buscando alcançar os pés, corpo todo curvado. A ponta de uma das fitas de seu cotovelo o auxiliava, agarrada a um toco logo ao lado. — Ele é tão sossegado e na dele, nunca fala mal de ninguém e tá sempre querendo ajudar.

— Se gosta tanto dele, então por que não bate essa sua cara de imbecil umas dez vezes nesse chão e vai lá receber umas beijocas? — Katsuki replicou com seu jeito “amável” de sempre. — As três patetas com certeza vão fazer a mesma coisa logo, logo — indicou as meninas com o queixo, que ainda discutiam para ver quem seria a “sortuda” a sair toda quebrada daquele treino e, assim, receber a chance de ir para a enfermaria só para receber a porcaria de um beijo daquele cara.

Sinceramente, pra que isso? Havia necessidade? Parecia que só Katsuki via aquilo como o fim do mundo…

— As garotas gostam dele, acho que por causa do jeito fofo e meio tímido — Kirishima deu de ombros. — Pessoalmente, acho a força de vontade dele em suceder a avó uma atitude bem máscula. Gosto de pessoas que se esforçam para ajudar as outras! — ergueu o punho, que se tornou endurecido. Kaminari e Sero concordaram.

Bakugou piscou, incrédulo e desapontado. Só podia ser brincadeira. Até mesmo Kirishima estava nessa? Seria possível que era a única pessoa que possuía bom senso naquela porra de lugar?

Foi bom Aizawa ter dado fim aos alongamentos e partido para a próxima tarefa, pois Bakugou acreditava fortemente que teria explodido o rosto de todos aqueles bobocas se continuasse a ouvir suas vozes por mais um minuto que fosse. Os treinos continuaram durante duas horas, e Bakugou, por mais que tentasse, não conseguia tirar aquele assunto da cabeça.

Era sempre assim. Toda vez que o nome de Midoriya Izuku — apelidado “carinhosamente” por si como Deku — era mencionado, seja da forma que fosse, ficava daquele jeito, como se suas têmporas estivessem programadas para doer ante qualquer menção de sua pessoa.

Midoriya era neto da Recovery Girl, o que significava que, de certa forma, era quase um “colega” deles. Quase. Ele tinha a mesma idade que todos e estudava em outra escola renomada não muito longe dali, mas passava muito tempo na UA treinando com a avó para ser seu sucessor e ocupar o cargo de cuidar de todos que se machucavam, considerando que possuía a mesma individualidade que ela.

Ele era gentil e amável, e não havia uma só alma viva que não simpatizasse com seus sorrisos doces e seu jeito sereno de ser. Todos apostavam que Deku seria um sucessor e tanto, e ele já tinha recebido elogios de praticamente todos os professores — incluindo Aizawa —, que afirmavam constantemente que ele treinava tão duro quanto os estudantes da academia de heróis mais prestigiada do Japão. Embora aprendesse rápido e soubesse manipular o desenvolvimento de sua individualidade com satisfação, ele ainda não conseguia curar casos mais sérios e sempre deixava estes nas mãos da avó.

Bakugou parecia ser o único daquele lugar que não ia com a cara dele. Achava Deku um garoto puramente bobão e com cara de tonto, sempre com aquele sorriso idiotamente encantador — isso de acordo com os comentários alheios — e sendo gentil até mesmo com o maior dos babacas — lê-se, Monoma Neito.

Toda vez que ele aparecia por lá, as garotas ficavam animadas e criavam centenas de planos dementes de arrumar machucados chulos na esperança de receberem um tratamento do Recovery “Boy”; todavia, na maioria das vezes — e para a alegria de Bakugou — eram totalmente frustradas ao serem atendidas pela velha.

Nem era preciso dizer que Bakugou achava aquilo a coisa mais ridícula da face da terra. Se a UA não fosse tão importante para a realização de suas ambições pessoais, já teria tomado atitudes que o expulsariam em dois tempos só para acabar com aquela putaria toda. Quer dizer, eles estavam ali para se tornar heróis, caramba! Ficar com a cabeça presa em babaquices de beijos e namoricos era ridículo demais e uma verdadeira afronta com todos que não passaram no teste de admissão e queriam estar ali.

Desde o primeiro momento que botou os olhos no neto da Recovery Girl, logo no primeiro dia de aula e em meio ao anúncio de boas-vindas do diretor-rato, Bakugou sabia que não iria gostar dele nem que passassem séculos e mais séculos dividindo o mesmo espaço.

Izuku era todo perfeitinho, a educação em pessoa, o “queridinho da vovó” e de todos os funcionários da UA. E como se não bastasse todo esse privilégio, os alunos pareciam fazer filas só para ter um pouco da atenção dele, fazendo coisas desde as mais sonsas até às mais humilhantes — machucar-se propositalmente era um bom exemplo das duas.

E tudo por causa de um beijo. Uma porcaria de beijo.

Caralho, eles não entendiam que aquilo fazia parte da individualidade dele e que, para usá-la, ele tinha que literalmente beijar o paciente? Não entendiam que devia ser desconfortável para ele quando estava tão na cara que só queriam o toque de seus lábios em suas peles, e não a cura que seu dom oferecia? E por que Izuku se dispunha a atender aquela gente pervertida, mesmo estando óbvio suas verdadeiras intenções?

Ah, é claro. Não precisava nem pensar.

Era porque ele era o mais idiota e tapado de todos.

De toda forma, aparentemente ninguém ali teria a honra de receber o “beijo sagrado” no dia atual dia; Aizawa parecia estar de olho nas meninas e não permitiu em momento algum a realização de atitudes suspeitas, acabando totalmente com seus planos. Bakugou sentiu-se mais que satisfeito com isso, talvez tão satisfeito a ponto de ter aberto um sorriso maior que o de costume quando foi chamado para fazer um embate com o meio-a-meio. Era o último treino do dia, e suas mãos coçavam de vontade de explodir a cara de alguém; a fuça inexpressiva do bicolor era uma opção deveras atraente, admitia.

— Espero que pelo menos me faça suar, meio-a-meio bastardo — tomou a posição, faíscas já saindo de ambas as mãos cobertas pelas luvas do uniforme. O resto dos alunos assistiam, alguns apreensivos e outros decididamente empolgados.

— É só um treino, Bakugou. Não esqueça disso — Todoroki falou com aquela voz morta de sempre, o que só fez Bakugou sentir mais raiva e vontade de esmagá-lo. Era como se ele o desprezasse e se considerasse superior olhando-o de cima daquele jeito...

No fim, acabou que o “treino” não foi só um treino. Sem que percebessem, o embate virou uma zona de guerra, e tudo por causa do golpe de gelo de Shoto, que pegou Katsuki desprevenido e o lançou metros longe. Levantou-se, sede de sangue brilhando nos olhos escarlates, e ninguém conseguiu ver ou entender nada após aquilo; só que houve palavrões, bombas, chamas ao vento, fumaça, cristais-de-gelo se desfazendo pra todo lado e, por fim, um gramado totalmente destruído.

No fim, tiveram de retornar ao prédio principal cheio de hematomas, cortes e queimaduras leves, além dos tímpanos feridos depois de uma dura censura de Aizawa, que durou dez minutos inteiros. O último veredicto do homem soou como uma ameaça de morte: “vão para a enfermaria antes que eu mesmo me encarregue de que cheguem lá mais acabados do que já estão”, e nem Bakugou se atreveu a contestar.

— Satisfeito? — Todoroki, sério e personificando uma estátua como sempre, olhou-o de canto enquanto atravessavam os corredores vazios.

Bakugou estalou a língua.

— Foi você que começou com aquele movimento trapaceiro, então vai se foder — não estava a fim de ouvir sermão, principalmente daquele cara.

Todoroki suspirou, pela primeira vez mostrando mais que seu lado frio.

— Você nunca muda.

— E pra que eu mudaria se não há nada de errado comigo? — Bakugou cerrou os punhos, preparando-se para enchê-lo de porrada já que usar a individualidade de novo seria pedir pra ser expulso. — Você que tem que mudar e se tornar gent—

Parou abruptamente. Tanto andar quanto falar.

Haviam chegado na enfermaria e, como uma piada, deram de cara com ninguém mais ninguém menos que o neto da Recovery Girl. Ele usava jaleco branco. Os olhos verdes apresentaram surpresa ao ver os dois rapazes com uma aparência nada boa plantados na porta.

Puta que pariu. Havia esquecido. No fim, a alien estava realmente certa.

Bakugou bem tentou dar meia volta, mas a Recovery apareceu no exato momento em que seu pé ameaçou dar um passo para trás. Sem perder tempo, ela os empurrou para o interior do consultório com certo enfezamento — para uma velhinha nanica, ela até que tinha bastante força.

— Não me digam que brigaram feito dois cachorros de novo? — ela fez movimentos negativos com a cabeça. — Esperava mais dos senhores, Bakugou e Todoroki! — censurou com aquela voz e jeito de velha que faria qualquer criança se sentir culpada, mas não Bakugou. Ela suspirou. — Poxa vida, vocês só vieram para atrapalhar o treino do meu neto.

Se estivesse em qualquer outra situação, Bakugou teria debochado e dito que queria mais que o treino do querido netinho dela fosse à merda; todavia, ante a situação atual, resolveu manter-se quieto e agradecer mentalmente o fato de a velha estar ali.

Graças ao bom Deus, ela quem iria curá-lo. Não que gostasse de receber beijos de uma velha — não aceitava tal coisa nem da própria mãe —, mas preferia isso ao nerd cabeça-de-brócolis. Um bilhão, não, um trilhão de vezes mais.

— Sentimos muito pelo incômodo que geramos — Todoroki desculpou-se, inclinando a cabeça em direção ao piso de uma forma que Bakugou não faria nunca em sua vida, nem na próxima encarnação. — Não queria atrapalhar seu treino, sinto muito — ele voltou-se para Midoriya.

O rapaz, ao ter as atenções voltadas para si, apenas balançou a cabeça, meio sem jeito. As faces salpicadas de pequenas sardas adquiriram um leve rubor.

— Não precisa se desculpar — disse, e só sua voz gentil foi capaz de fazer o interior de Bakugou gritar em martírio. O estômago revirou como se houvesse uma avalanche. Respirou fundo e desviou o rosto para o lado oposto de onde ele se encontrava, incapaz de esconder a enorme repulsa que sentia. Midoriya, não percebendo nada disso, continuou: — Vocês estão feridos, então são nossa prioridade agora.

Aquilo fez os ouvidos de Bakugou se atentarem.

— Peraí — de uma pausa. — O Deku não vai fazer nada, né? Esse trabalho é da velha — apontou para a senhora de um jeito nem um pouco educado.

Izuku franziu um pouco o cenho, incomodado com a maneira com a qual sua avó fora tratada; todavia, manteve-se calmo.

— Bem… acredito que sim. Ela quem vai cuidar de tudo, certo, vó…? — olhou-a, sem saber que decisão ela tomaria.

Ela pensou por um momento. Analisou superficialmente os dois rapazes do curso de heróis. Uma ideia, então, iluminou suas rugas.

— Bem, já que eles estão aqui, e vejo que os machucados não são tão graves, talvez venham a calhar para seu treinamento, Izuku — comunicou, para a surpresa de todos.

Bakugou sentiu, forte e amargo, o soco invisível a chocar-se contra seu estômago. Midoriya, porém, sentiu um certo nervosismo invadir seu corpo. Olhou de relance para os dois rapazes e, após pensar bem e ver que realmente seria bom aproveitar aquela oportunidade, assentiu, acatando a ideia da mais velha.

Bakugou estava prestes a protestar quando foi interrompido pela Recovery, que soou prática:

— Tudo bem, como o loirinho está mais ferido, eu cuido de tratá-lo. Deixarei Todoroki Shoto em suas mãos, querido, você consegue dar conta, não? Lembre-se do que treinamos — olhou para o neto, que anuiu, já prestando-se a encaminhar o bicolor até uma das macas, onde o deixou sentado.

Bakugou sentiu-se aliviado e ao mesmo tempo irritado, uma fusão de sentimentos decididamente esquisita. De onde ela havia tirado que estava mais machucado que o meio-a-meio? Havia acabado com a fuça dele, oras!

E agora ele receberia o beijo do nerd… mas estava ótimo assim, não é? Era bem isso o que queria.

Ficar com a velha. É.

Ela o encaminhou para uma maca do lado oposto à de Todoroki, onde estava sendo atendido pelo Recovery “Boy”. A despeito de estar sentado e vários centímetros mais baixo, Katsuki conseguia vê-los por cima do ombro dela. Viu Deku falar algo. O bicolor assentiu, mostrando os locais onde estava ferido. Katsuki só percebeu o franzir gradual de seu cenho quando a velha lhe perguntou o porquê de estar fazendo cara feia.

Antes que o tratamento começasse, porém, um alarme soou, vindo do jaleco da Recovery. Ela o checou e sua expressão ficou decididamente irritada. Soltou um longo bufo.

— Algo errado? — Midoriya indagou, curioso.

— Há alguns alunos brigando perto do refeitório, parece que alguém soltou um gás que está deixando todo mundo com os olhos ardendo, vê se pode, ai ai… — ela suspirou e foi até um armarinho, pegando alguns frascos específicos. — Preciso ir até lá — olhou para o neto. — Você consegue cuidar de tudo aqui, Izuku?

Dessa vez, Midoriya não conseguiu esconder o nervosismo. Teria que cuidar de Bakugou Katsuki também?

— A-Ah… não sei se estou pronto para isso, nunca tentei antes com esses tipos de ferimentos… — murmurou, a insegurança à mostra em cada um de seus traços. — Não tenho certeza se serei capaz.

— Não se preocupe, Izuku, sei que você vai conseguir — ela o encorajou. — Apenas repasse tudo que aprendeu e dará certo. De qualquer forma, eu posso resolver se algo der errado, sabe disso — aquilo decididamente acalmou-o, e ela piscou antes de sair. — Conto com você.

Após sua saída, houve um silêncio meio constrangedor entre os três. Bakugou ainda tentava raciocinar o que estava acontecendo, cético e incrédulo. Talvez a briga de antes tivesse mesmo fodido com seu cérebro, pois a conclusão que não parava de chegar a sua mente naquela brincadeira era apenas uma:

O destino realmente queria que aquele beijo rolasse.

Filho da puta.

Todoroki foi o primeiro a quebrar o silêncio, o que foi surpreendente; todavia, era compreensível já que Midoriya estava concentrado demais pensando por onde começaria e Bakugou enfrentava uma intensa guerra interna consigo mesmo para dispor-se a falar algo.

— Se está com receio de não conseguir curá-lo, caso ocorra a falta do seu poder curativo, comece com ele primeiro — Shoto sugeriu. — É bom guardar a maior carga para Bakugou, afinal, ele está mais ferido do que eu.

Estranhamente, Bakugou ficou com mais raiva do fato de o bicolor estar tentando dar uma de “bacana” para cima de Deku do que surtar por estar sendo proposto como o primeiro a ser atendido. Estava prestes a falar para Todoroki não opinar sobre o que não entendia, mas Midoriya foi mais rápido. Ele abriu um sorriso tranquilo, negando de leve com a cabeça.

— Não se preocupe, eu vou dar conta.

Com isso, ele se aproximou de Todoroki. Bakugou não soube dizer o que sentiu ao vê-lo limpar e tratar dos pequenos cortes no rosto e braços do meio-a-meio como se manipulasse algo extremamente precioso. A atenção e a estima jaziam presentes em cada gesto e toque realizado.

Poderia ter saído dali. Deku estava de costas e, mesmo se o visse, não conseguiria impedi-lo.

Todavia, não moveu um músculo. Só conseguia observar Midoriya e pensar como ele parecia outra pessoa enquanto cuidava de seu paciente; mais maduro, mais sério e, surpreendentemente, nem um pouco idiota.

Por fim, ele colocou a última gaze e fixou os olhos nos de Shoto.

— Agora, irei acelerar sua recuperação — avisou, voz suave. — Me permite?

Todoroki só assentiu, e Bakugou desconfiou que ele estava tão fora de órbita quanto si próprio. Que tipo de efeito desgraçado era aquele?

Com a permissão, Izuku pousou as mãos delicadamente sobre o rosto de Todoroki. Inclinou-se e, por fim, selou os lábios em sua testa. Ele manteve os olhos fechados durante os três segundos em que permaneceu naquele contato, e Bakugou notou, surpreso, que Deku realmente estava se concentrando.

Quando terminou, Izuku afastou-se lentamente de Shoto. Sentia seus lábios formigando. Isso era um bom sinal.

— Como se sente? Por favor, diga os detalhes — acrescentou, ansioso, o fiel bloco de notas e a caneta em mãos, pronto para anotar.

Todoroki piscou duas vezes antes de conseguir organizar as palavras na mente. Estava sem-graça. Havia sido a primeira vez que fora atendido pelo tão famoso “Recovery Boy”, e não pensou que seria uma experiência tão... boa. Sentia-se bem, muito bem. E elétrico. Todavia, bastou poucos segundos para que um cansaço estranho fosse assolando cada parte de seu corpo. Comunicou isso a ele, e os olhos verdes cintilaram.

— Cansado, você diz? — Todoroki assentiu, e Izuku pareceu ficar radiante como nunca. — Isso é bom, muito bom! É como os pacientes da minha avó se sentem após serem curados por ela. As células regenerativas ficaram cansadas depois de trabalhar em uma velocidade muito acima do normal.

— Não é desgastante para você? — Todoroki permitiu-se perguntar, educado.

— Bem, um pouco… — sorriu, grato pela atenção. — Normalmente, eu poderia beijar em qualquer parte do corpo dos pacientes, como a vovó faz, mas, por alguma razão, acredito que a testa é o melhor lugar para minha quirk agir. Acho que vejo o ato com mais carinho, não sei — desviou, sem-graça por revelar aquilo. — De toda forma, alta pra você, Todoroki-san!

O meio-a-meio agradeceu e, após tomar um tipo de tônico para recuperar um pouco as energias e assinar um formulário que Izuku o ofereceu, saiu da sala.

Só quando os olhos verdes se voltaram para Bakugou — que estava sentado do outro lado da sala, calado até então, quase como se nem estivesse ali —, o loiro permitiu-se acordar de seus devaneios. Agitou-se.

Caralho. Estava sozinho com ele ali. E ferido. Por alguma razão, seu coração passou a bater com força suficiente para infartá-lo.

Decidido, resolveu tomar a liderança antes que Deku pudesse sequer abrir a boca.

— Nem vem, você não vai encostar em mim, nerd maldito — tratou de falar com ferocidade, e Izuku hesitou o passo, confuso.

— Mas… eu preciso cuidar de você.

— Sai pra lá! Eu vou esperar a velha voltar, não confio em você pra me curar, cê é fraco demais — não ligava de estar parecendo uma criança de cinco anos; não iria deixar aquela boca chegar perto de um único fio de cabelo seu.

Midoriya, apesar de sentir-se meio chateado pela falta de fé do garoto explosivo, não gostou nada da forma que ele falava dos mais velhos, sem respeito algum. Não o conhecia direito — aquela era possivelmente a primeira vez que se falavam de verdade —, mas Izuku tinha ouvidos, e já havia escutado diversas vezes pelos corredores que Bakugou Katsuki, o prodígio da classe 1-A e possivelmente uma das maiores promessas do curso de heróis, era uma pessoa extremamente difícil de se conviver e que não adiantava reclamar, pois esse era o “jeito” dele.

Izuku discordava. Em sua opinião, era errado as pessoas levarem aquilo com tamanha leviandade e como se fosse normal. Se todos pensassem assim, nunca achariam uma solução.

— Por favor, tenha respeito quando falar da minha avó — pediu educadamente. — Não me importa se você não gosta de mim ou não confia nas minhas habilidades, só quero que tenha consideração por ela.

Bakugou ficou admirado pela audácia que aquele garoto teve em lhe rebater.

Ah, ele queria morrer explodido, só pode.

— Não venha falar essas merdas de respeito e ética pra mim, quem você pensa que é, hein, Deku? Sempre se achando superior só por ser o queridinho do diretor, você nem estuda aqui, seu lixo!

Midoriya piscou, abismado.

— Eu não me acho superior a ninguém. Só estou aqui para estudar e treinar minha individualidade, como qualquer aspirante à herói faz. Olha… — suspirou, recobrando o foco da questão. — Eu sei que a culpa é minha por não ter passado muita segurança na hora que minha avó deixou vocês em minhas mãos, mas garanto que irei tratá-lo da melhor forma possível.

Aquilo era verdade. Midoriya, no íntimo, sabia que tinha responsabilidade por não ter dado confiança suficiente ao paciente quando expôs suas inseguranças de forma tão óbvia mais cedo. Mas não queria desapontar sua avó, não quando ela lhe depositou um voto de confiança tão forte. De alguma forma, precisava curar aquele rapaz de índole intensa e nem um pouco agradável.

Midoriya nunca teve tempo para pensar no assunto, mas sentia que, desde o início, Bakugou não ia nada com sua cara. Ele não o cumprimentava como os outros estudantes faziam ao vê-lo pelos corredores; na verdade, fazia o completo oposto: virava a cara e adquiria um terrível mau-humor toda vez que Izuku dizia um simples “bom dia”.

Era um pouco triste, afinal, Izuku o admirava. Achava-o extremamente forte e brilhante, sua trajetória no Festival Desportivo havia sido incrível, e acreditava que ele seria um ótimo super-herói no futuro — apenas precisava de uma sessão reforçada de boas-maneiras. Agora, o motivo para tanto asco…

Bem, tinha alguns palpites. E talvez tivesse a chance de descartar alguns deles durante o complicado diálogo que trocavam no momento atual.

— Pelo que vejo, você consta de alguns cortes superficiais e poucas queimaduras — aproximou-se devagar, não querendo alterá-lo. Os olhos escarlates o acompanhavam como se fosse um predador pronto para dar o bote, defensivos e ao mesmo tempo intimidantes. Aquilo com certeza não despertou a melhor das sensações em Midoriya. Arriscou: — Acredito que dois beijos serão suficientes…

— Vai à merda, você não vai me beijar! — Bakugou o repeliu na mesma hora. — Fica longe de mim, nerd maldito, ou eu te explodo!

— Por que está dificultando tanto as coisas? — suspirou. — Me diga qual é o problema, se tiver medo de algo, eu posso achar outra solução.

— Eu não tenho medo de porra nenhuma! Eu só não quero que você me beije, tá legal? — Bakugou estava muito alterado, mal conseguindo esconder as emoções desestabilizadas e pateticamente óbvias.

Ah. Midoriya estava começando a entender.

— Tudo bem — ergueu as mãos em redenção. — Eu sou um garoto, então sei que deve ser desconfortável para outros garotos serem atendidos por mim — disse pacientemente. — Mas não precisa ter vergonha, pois tudo que faço aqui é estritamente profissional.

— Eu não tô com vergonha, caralho! — Katsuki foi teimoso como sempre, levando cada mera palavra de Deku para o pessoal. Aquilo estava começando a ficar cada vez pior; sentia seu rosto começar a esquentar e temia que não fosse apenas de raiva. Precisava tomar uma decisão ou as coisas acabariam num desastre. — Ah, foda-se, eu vou dar o fora daqui, não preciso de nenhum de vocês.

Ergueu-se e, decidido, passou pelo garoto que o observava sem acreditar que aquilo era realmente sério. Num ímpeto, Deku adiantou-se e pegou o loiro pelo braço, impedindo-o de sair.

— Espera, por favor!... Não faça assim, deixe-me ajudá-lo — insistiu, todavia, o ódio a despertar nos olhos escarlates o fez engolir em seco. Um mau pressentimento o assolou. Não foi capaz de notar o próximo movimento de Bakugou até estar pressionado contra um dos armários, a gola de seu jaleco dolorosamente erguida, deixando-o na ponta dos pés. O cheiro de nitroglicerina invadiu suas narinas e os espirais de fumaça subiam, vindos perigosamente de ambas as palmas do loiro. Midoriya quase não acreditou. Nunca esteve numa situação daquelas. Aquilo era realmente sério? — M-Me solta, Bakugou! Você é louco? Não faça isso, ou você vai acabar se encrencando...

— Você que pediu, Deku — Bakugou, irado, fez algumas explosões despontarem da mão livre, aproximando-a perigosamente. Como aquele nerd havia ousado lhe tocar? Agora iria pagar o preço. — Reze para que esse seu poderzinho de merda funcione em você mesmo, porque vou acabar com tua fuça.

Jesus. Que situação Midoriya foi se meter? Só queria ajudar e agora estava prestes a ser explodido! Mesmo ferido, a força de Bakugou superava — e muito — a sua. Não se sentia capaz de afastá-lo.

Sendo assim, teria que partir para a ofensiva, ainda que isso fosse contra seus princípios.

Impulsionou o joelho esquerdo, atingindo-o com tudo na lateral do quadril. Bakugou grunhiu e, antes que pudesse revidar, escorregou numa seringa que havia caído no chão quando colidiu Midoriya contra o armário, segundos antes. O resultado foi óbvio: caiu para trás, levando o nerd junto.

Tudo se desenrolou numa fração de segundo. Midoriya não soube bem o que exatamente aconteceu, só pôde sentir. Seus lábios formigaram com força e sua individualidade agiu no instante em que os colou no queixo de Katsuki, sem intenção e por acidente. Uma corrente elétrica deixou seu corpo e foi transmitida ao contato como se fosse uma ponte, várias e várias vezes.

Afastou-se rápido, mas sabia que já era tarde. Essa não. Não havia beijado a testa. Sua quirk saiu do controle e acabou usando mais do que devia.

Bakugou nunca experimentou algo do tipo. Não foi nada parecido como nas vezes em que a Recovery o curou; foi mais intenso, forte, estranho, arrebatador e, decididamente, cansativo. Sentiu seu corpo todo vibrar por dentro, seguido de uma sensação muito boa e vigorosa, como se estivesse revitalizado e com a saúde melhor que nunca…

… Para, no segundo seguinte, desmaiar de pura exaustão.

Enfim, havia recebido o “beijo sagrado”. E sequer ficou acordado para ver o desfecho daquela história.

▪️▪️▪️

Na tarde do dia seguinte, Bakugou perdeu a conta de quantas vezes havia sido interrogado pelas garotas do colégio sobre como foi passar pela experiência de ser atendido pelo Recovery “Boy”.

Já havia espantado elas com suas explosões e palavreado sujo umas mil vezes, mas sempre chegavam mais para encher seu saco. O meio-a-meio, por outro lado, não parecia se importar em dividir com elas seu próprio atendimento; na realidade, ele não estava entendendo muito bem o porquê de aquilo ser tão importante.

Bakugou estava humilhado. Tudo que aconteceu no dia anterior, no consultório da Recovery, havia chegado aos ouvidos dos alunos, especialmente o fato de ter desmaiado ao ser beijado por Deku. Ainda que houvesse uma explicação totalmente científica para isso ter acontecido — o blá blá blá sobre suas células terem entrado em piripaque por conta da elevação da potência da quirk de cura —, todos enxergaram o caso de forma humorística, contendo muita inveja — no caso das garotas — e, no caso dos extras-neandertais-de-gênero-masculino, com extrema malícia.

Bakugou estava totalmente sem moral. Nem mesmo seus “amigos” lhe davam uma folga: zoavam-lhe a cada oportunidade que tinham, simulando beijos e desmaios uns com os outros.

O treino ao ar livre finalmente chegou ao fim, e Bakugou dirigiu-se imediatamente aos dormitórios, louco para trancar-se em seu quarto e amaldiçoar todo ser vivo daquele mundo enquanto explodia seus travesseiros.

Todavia, qual não foi sua surpresa ao deparar-se com uma figura de cabeleira verde e rosto redondo bem na entrada dos dormitórios? Pior: falando com a alien, com a cara-de-lua e com a invisível? Por um momento, achou que estivesse delirando.

O que diabos aquele nerd de merda estava fazendo ali?

— … Então, Midoriya-kun, é que minha amiga aqui está com um machucado e a gente pensou se você não poderia ajudá-la, o que diz? — Mina segurava os ombros de Uraraka, empurrando-a para ele.

A garota da gravidade parecia prestes a ter um treco, de tão nervosa.

— N-Não é necessário! E-Eu tô legal!... — Desvencilhou-se da rosada.

Midoriya olhou-a com certa preocupação.

— Eu posso dar uma olhada, se você quiser.

Bakugou pensou que a cara-de-lua infantaria ali mesmo. Ela começou a gesticular feito uma louca, negando repetidas vezes.

— Não, não! E-Eu… tenho que estudar! Sim, é isso! Até mais tarde! — correu para dentro como um míssil.

Mina suspirou, pensando como a amiga era uma covarde. Mas não perderia a chance de aproveitar.

— Entãoooo, Midoriya-kun… — jogou charme, fazendo-o desviar a atenção das portas por onde Uraraka desapareceu e voltar-se para ela. — Eu tenho sentido umas dores chatas na coluna, você pode me ajudar, não pode? — agarrou o braço dele, no que Hagakure revirou os olhos, enciumada (não que alguém tenha visto).

Aquilo foi o estopim para Bakugou. Não aguentaria ver mais um segundo daquela cena ridícula.

— Deku! — rosnou, assustando-os enquanto se aproximava ameaçadoramente, batendo os pés no chão. — Que merda você tá fazendo aqui?!

Por alguma razão, Midoriya não pareceu com medo, e sim, aliviado ao vê-lo. Afastou-se gentilmente de Mina.

— Ah, Bakugou-san! — acenou para ele como se fossem melhores amigos. — Eu estava te esperando, queria falar com você.

O cérebro de Bakugou pifou. Não esperava por isso.

— Falar? Comigo? — achou que tivesse ouvido errado.

— Aham, isso mesmo — ele assentiu. Saltou os degraus e parou a sua frente. — Há um lugar onde possamos ter privacidade?

Katsuki piscou, uma, duas, três vezes, até compreender o que estava acontecendo. Encarou os olhos verdes e brilhantes diante de si, alvo de toda sua atenção, e desviou para Mina, que praticamente o fuzilava por tê-la atrapalhado.

Que seja. Bakugou estragaria os planos daquela vadia com o maior prazer.

— Vem comigo, nerd — sem avisar, puxou-o pelo braço com brusquidão, tirando-os dali. Midoriya, ainda que surpreso, o acompanhou. Bakugou conseguiu escutar os resmungos da alien e da invisível, e quase permitiu-se sorrir em deboche. Levou-o até a lateral do edifício, tendo apenas a floresta em volta como companhia. Olhou-o seriamente. — Que merda você quer comigo? Já não basta ter fodido a minha imagem pra escola toda?

Midoriya baixou os olhos, um tanto culpado. Os dedos, desconfortáveis, remexiam as pontas do casaco verde-escuro que trajava, este que combinava perfeitamente com todo o resto de sua aparência inocente e infantil.

— Olha, eu queria dizer que sinto muito por ontem — ele respirou fundo, confessando o motivo central de tê-lo procurado. — Meu atendimento foi um total desastre, quase acabei comprometendo sua saúde. Tenho muito a aprender, então espero que me perdoe — ergueu os olhos injetados de tristeza.

Bakugou franziu o cenho, surpreendendo-se de novo. Então ele só veio pedir desculpas? Mas era um sonso mesmo…

Estalou a língua, erguendo o queixo com superioridade.

— Tem que se curvar mesmo, você não domina porra nenhuma do seu poder — não teve clemência, crispando os olhos. — Só verdadeiros idiotas pra afirmar que você é um “geniozinho”.

Midoriya sentiu-se ainda pior.

— É q-que… quando estou nervoso, isso acaba acontecendo, sabe? — explicou-se. — Não consigo controlar bem a potência do meu poder quando se trata de feridas sérias, e às vezes acabo colocando carga demais ou de menos. Ontem, foi demais, por isso você desmaiou. Mas não se preocupe, prometo que irei treinar muito e não vou permitir que algo assim aconteça de novo! — disse rápido, como para reforçar suas palavras e se redimir do remorso.

Os olhos verdes continuavam presos aos seus. Esperavam uma resposta sua. Bakugou, porém, estava com a mente presa em outra coisa; mais especificamente, no que Deku revelou no início da frase.

Aquilo era sério?

Porra, não tinha jeito. Precisava confirmar.

— Então quer dizer que você estava nervoso ontem, Deku? — olhou-o, erguendo uma sobrancelha. — Não me diga que a ideia de me beijar te deixou nervoso…

As notas de malícia em sua voz não passaram despercebidas por Izuku, que sentiu as orelhas esquentarem.

— Q-Quê? Por que tá falando isso? — baixou o rosto, que se avermelhava a cada segundo conforme o sorriso maldoso de Katsuki se repuxava ainda mais. — E-Eu nunca… claro que não, você está equivocado…

Bakugou não planejava continuar. Aquilo, afinal, era só uma brincadeira. Uma que visava apenas ter mais um motivo para humilhá-lo.

Contudo, não pensou que seu corpo reagiria em oposição aos seus planos. Não pensou que ter o rosto envergonhado de Midoriya Izuku diante de si mexeria tanto com seu interior; os olhos esquivos e os lábios prensados denunciavam o desconforto crescente pela aproximação de seus corpos.

Quando, afinal, o havia encurralado na parede?

Por algum motivo, não parou. Olhou-o de cima e, sem raciocinar bem, obrigou-o a erguer a cabeça. O indicador pressionou o queixo delicado e, no momento, um pouco trêmulo. Queria olhar em seus olhos. Queria ver se era o único mexido ali.

— Todos querem beijar e ser beijados por você… — falou baixo, suave, e não sabia que sua voz poderia sair tão grave e ao mesmo tempo aveludada. A descoberta fez seu estômago dar piruetas, principalmente ao ver o claro efeito causado no outro, que estremeceu por inteiro. Continuou: — Mas e quanto a você? Quer beijar alguém? Sem envolver o lado médico da coisa? Hein, Deku, me responde... — deslizou o polegar por cima de seu lábio inferior, provocante, e Midoriya arfou.

Aquilo era loucura. Mas parar seria mais loucura ainda. Não queria se afastar — e parte sua sabia que Midoriya também não. Caso contrário, já teria lhe dado uma joelhada como no dia anterior.

Midoriya não conseguia esconder. Era como um livro aberto. Os olhos dilatados desceram para os lábios rosados e terrivelmente convidativos de Katsuki, e ao mesmo tempo que temeu sucumbir aos seus instintos, uma vontade insana de tomá-los para si e ao mesmo tempo correr para longe invadiu-o sem pedir licença.

Já havia beijado muitas pessoas diferentes. Mas nunca daquela forma. Nunca… nutrindo esses tipos de sentimentos. Desejou, ao menos uma vez, conceder a seus lábios essa experiência assustadoramente atraente; dar-lhes um crédito que sabia que mereciam após tantos anos usando-os em prol da saúde dos outros.

Pela primeira vez, quis ser egoísta.

O toque dos lábios foi mais suave do que pensava. Não conseguiu segurar um arquejo quando sentiu a mão dominante de Bakugou enlaçar sua nuca, trazendo-o mais para perto. Apoiou-se em seus braços, temendo desmontar. Suas pernas estavam tão fracas, o coração tão descompassado, os dedos tão trêmulos enquanto segurava o tecido da camisa dele…

Bakugou reprimiu o ofego que quase escapou ao mover os lábios sobre os do nerd, sentindo-se estremecer e queimar por dentro como se sua própria individualidade tivesse saído de controle e decidido fazer uma festa com seus órgãos internos.

Não era mentira o que diziam. A boca de Deku era como o céu. Bakugou queria afogar-se nele e em sua boca de uma forma que nunca pensou que desejaria, quase como se fosse um pecado reivindicá-la e uni-la à sua própria, que de santa não tinha absolutamente nada. Apertou a cintura dele com ainda mais fervor, pressionando seus corpos como se quisesse fundi-los àquela parede, a língua capturando a outra com extremo desejo.

Sentia-se queimar. Estava sendo totalmente sugado, sua alma e seu espírito. Cada segundo passado naquele contato o deixava mais fora de ar, e nunca quis tanto estar trancado num cômodo vazio juntamente com aquele que sempre repudiou e julgou. Por um momento, achou que cairia na inconsciência de novo, e tudo por um mísero beijo...

Espera um pouco. Não podia ser.

— Você não tá usando sua individualidade, né? — afastou-se de repente, quebrando o contato de forma tão repentina que quase fez um Midoriya fora de órbita cair para o lado.

— Quê? N-Não… — Deku franziu levemente o cenho, ofegante, ainda inebriado pelo gosto dos lábios do outro. Todavia, sentia um formigar extremamente familiar varrer cada centímetro de sua boca, e… avermelhou-se. — Err, talvez um pouco, m-me desculpa!... É que é a minha primeira vez, e sabe como é…

Bakugou revirou os olhos. Por que não estava surpreso? Farto de ouvir o murmurar infinito do nerd, voltou a selar seus lábios. Ambos se perderam no calor e luxúria por longos minutos antes de ouvirem vozes próximas. Aparentemente, estavam procurando o neto da Recovery.

— Vai lá — Bakugou abriu passagem para ele, que deixou a parede em passos bambos, meio aéreo. — Nem uma palavra sobre isso.

Midoriya olhou-o, bochechas coradas, sardas muito aparentes no rosto redondo e lábios totalmente tomados; seu peito subia e descia célere, oscilante em meio às falhas tentativas de puxar o fôlego, mas assentiu. Katsuki observou-o sumir ao dobrar o prédio, indo se juntar a quem quer que tivesse vindo ali atrás dele.

Encostou-se na parede. De seus lábios, um longo suspiro ecoou. Deixou o corpo escorregar. Se alguém com quirk de ver o futuro houvesse mostrado a ele que isso aconteceria, Bakugou certamente teria o explodido e dito que aquela porra de poder estava com defeito de fábrica.

Só podia ser brincadeira de mal gosto consigo mesmo. Pior: uma que queria repetir o mais breve possível.

Talvez e só talvez… fosse uma boa ideia se meter em outra briga no próximo treino.

De preferência, uma que lhe desse um passe gratuito para a enfermaria e um atendimento vip com o Recovery “Boy”.


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Notas finais do capítulo

Ain, vcs gostaram? Digam pra mim, onegai~

Eu vou deixar marcada como concluída, mas talvez (só talvez) eu considere fazer um extra, tô tendo umas ideias ainda, então deixem a fic na biblioteca por precaução ok?
Amei escrever isso, foi gostoso demaisssss, nss fazia tempo que não me divertia tanto escrevendo uma one~ Eu não julgo ngn dessa fic, eu msm mataria pra ganhar um beijo do Recovery Boy ♥

Leiam nossa bakudeku moda!
https://www.spiritfanfiction.com/historia/o-prisma-da-moda-bakudeku-22748548

Beijos e até a próxima~



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