Paris, 31 de dezembro de 1999. 

O caos tomava conta das ruas. Pessoas choravam, se despediam, se desesperavam, ou simplesmente cometiam suicídio. Digamos que foi exatamente o que pensaram que eu fiz. Logo eu, Noelle Giscard d'Estaing, uma bem resolvida Mediadora, com plena consciência de que suicidas quase sempre se tornam fantasmas? 

Na verdade, fui assassinada, exatamente por ser o que sou. Mediadora, quero dizer. E quem me matou foi um fantasma. Mas não qualquer um. Era nada mais nada menos do que o espírito da minha irmã.

Pois é, a gentil Claire Giscard d'Estaing morreu, e resolveu que ia me levar junto, não me pergunte por que. Quando meu corpo foi achado, eu vi os policiais decidirem que era só mais uma morte, de alguém com medo do fim-do-mundo. Patético. 

E só me restou vagar. Morta ou não, eu sabia que precisava ser mediada, de preferência por alguém competente. Afinal, tenho muitos assuntos inacabados, e uma legião de inimigos - confesso que nunca fui a mais gentil das criaturas, coisa que os espíritos aprenderam na marra, ao se verem atingidos por alguns tapas, e uma fúria legitimamente francesa.

Acabei indo parar nos EUA. E - surpresa! - é lá que a história começa. Alguns anos depois, em uma micro-cidade californiana, aparentemente chamada Carmel.  Um detalhe sobre mediadores mortos: de alguma forma, nós sentimos a presença de outros. Mediadores, eu quero dizer. E isso torna as coisas ligeiramente mais fáceis.

O fato é que senti a presença de um número surpreendentemente grande deles lá. E isso parecia ser um bom sinal.

Acho que mudei de ideia quanto à última informação.