04h24min – 04h25min

.

.

Remus Lupin sabia que aquilo era insanidade. Sabia que Sirius Black era a última pessoa que ele deveria querer. Sabia que vinha mentindo para si mesmo há meses, fingindo ignorância em relação aos próprios sentimentos. Atuando em um jogo, no qual Padfoot era a única peça insensata que desejava o que não poderia ter. Aquela, contudo, era uma dança de duas pessoas. Duas pessoas que pareciam ter sido tomadas por um estranho frenesi. Eles eram dois carros prestes a colidir e não havia nada que pudesse ser feito para evitar o acidente fatal. A morte iminente era mero detalhe. 

— O que você pediria para essas estrelas, que tudo veem e tudo escutam, Sirius? — Remus perguntou, porque precisava de uma resposta. Porque era um tolo. Porque estava inebriado pela vulnerabilidade do amigo. Porque era tarde demais para parar aquela valsa.

No futuro, ele se lembraria de que fora o culpado. De que fora ele a acender a fogueira que incendiaria seu mundo. De que fora ele quem ultrapassara o sinal vermelho. Naquele momento, porém, o futuro não importava. O futuro sequer existia.

Sirius respirou fundo. Seu rosto revelando sua agonia. Toda a sua fome gritando através de seus olhos.

— Você. Eu pediria você, Remus. Só por uma vez. Só por uma noite.

Lupin sentiu a respiração falhar. Sirius sorriu tristemente.

— Mas isso não importa. — ele continuou, a melancolia transformando sua voz em música. — A regra diz que as estrelas só atendem pedidos dos merecedores. E eu sei que não sou um merecedor.

— Bom. — Remus afirmou. — Porque eu também não sou um merecedor.

Black o estudou brevemente. A dúvida crescendo em seus olhos, os transformando em duas luas cheias. A dúvida lutando contra o anseio.

— O que você pediria, Remus?

— Você. Eu pediria você, Sirius. Só por uma vez. Só por uma noite.

— Você vai se arrepender amanhã, Moony.  

E provavelmente iria. Mas Remus estava tão cansado de viver em privação. De passar todos os seus dias se controlando, se reprimindo, se sufocando. Ele queria ser tocado, ser abraçado, ser amado. Ele queria que Sirius Black fizesse tudo isso. Ele queria Sirius. Simples e completamente. Apenas uma vez. Apenas uma noite.

— Talvez, mas hoje eu não me importo. — Lupin afirmou.

Black fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, em uma prece silenciosa.

— Não diga isso, se não for verdade. — ele implorou, por fim.

— É verdade.

— Se lembre que você pediu por isso, Remus. — Sirius disse e com um beijo aniquilou qualquer distância que pudesse existir entre eles.