04h23min – 04h24min

.

.

Por um instante, Sirius Black e Remus Lupin ficaram em silêncio. Silêncio de verdade. Nenhum dos dois parecia capaz de encontrar as palavras certas. Então, apenas se olharam. Os olhos de Remus eram doces, gentis, surpresos. Os olhos de Sirius eram tempestade, tormenta, fome. Tudo sobre Sirius era agonia e desespero naquela noite. Ele detestava o sentimento. Detestava a sensação de que sua pele era feita de rachaduras. Detestava saber que, se não fizesse nada a respeito, começaria a vazar em breve. Aquilo era tão patético! Ele era tão patético.

Mas o que o rapaz poderia fazer? Padfoot havia visto Moony flertando com Dorcas e algo se rasgara dentro dele. Ciúme, raiva, dor. Tudo se misturara naquele buraco negro que ele tinha no lugar do coração. Não era justo, o garoto sabia. Mas Black jamais acreditara em justiça, para começo de conversa. O mundo era amargo e horrível. Um lugar que nunca permitiria que ele e Remus ficassem juntos. E, mesmo se fosse possível, Sirius sabia que arruinaria tudo. Ele não fora feito para o amor. Não era sequer digno de tal emoção. Tudo o que fazia era destruir. Não era isso o que sua mãe sempre lhe dizia? Se dado a chance, também arruinaria Remus. A ideia de machucar Moony era mais do que ele conseguia suportar. Ainda assim, como o pecador egoísta que era, Black queria que Lupin fosse dele. E de mais ninguém. Que coisa perversa para se desejar!

Remus encontrou suas palavras primeiro. Se fosse sincero, nem conseguiria compreender o motivo de ter se sentindo tão surpreso. Não era como se os sentimentos de Sirius por ele lhe fossem alguma novidade. Padfoot nunca dissera nada em voz alta. Mas Remus sabia. Simples assim. Era óbvio demais para que ele, um observador por natureza, não houvesse notado. Era óbvio demais para que ele não se sentisse lisonjeado.

A ideia de que alguém como Sirius Black – heroico, estoico, flamejante – encontrasse algo de valor em alguém tão devastado e fosco como Remus Lupin era suficiente para mexer com sua vaidade. Seria suficiente para mexer com a vaidade de qualquer um. E também era um disparate. Impossível de todas as formas. Sirius era chama. Remus era cinza. Os dois eram amigos. A combinação de suas personalidades, sem a mediação de James, seria como um descarrilamento de trem. A sociedade em que viviam não era acolhedora para relacionamentos homoafetivos. Acima de qualquer coisa, Remus era um lobisomem e não fora feito para amar ou ser amado. Não daquela forma.