Against the odds escrita por Foster


Capítulo 3
02. Devo ter ficado louco ou isso não parece ser tão louco assim?


Notas iniciais do capítulo

Oieee!
Quero começar agradecendo a Trice, Shippersdunne, Callie, Fanfictioner e Morgan pelas favoritações e a todo mundo que comentou ♥ Obrigada mesmo, vocês são incríveis!
Demorei para atualizar por motivos de leve bloqueio criativo. Fiquei trabalhando nesse capítulo por dias, reescrevi, deixei quieto, voltei... Mas saiu, finalmente! Ainda estamos na festa pós-beijo caótico de Scorose e aqui temos algumas consequências e explicações maiores sobre outros desafetos do Al (a lista é grande hahah). Ah, e claro, momentos Algel e um finalzinho bem "oi????", só pra dar aquela instigada!
Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/802713/chapter/3

O mundo não fazia mais sentido nenhum. Começando pelo beijo que Rose deu em Scorpius no que foi apenas o início de uma noite muito caótica e culminando em… Bem, talvez seja melhor eu partir do beijo maluco primeiro. 

Como eu dizia, claramente ignorei a sensação esquisita que percorreu o meu corpo quando Rigel falou baixinho no meu ouvido - um evidente sinal de repulsa, sem dúvidas - e pigarreei alto, aproximando-me do “casal” que acabara de se separar de um beijo mais longo e intenso do que o considerado normal para duas pessoas que, até poucos minutos atrás, eram somente amigos. 

Rose me olhou atônita após alguns instantes, como se tivesse sido despertada de um sonho e começou a virar a cabeça para os lados, procurando algo. Olhei para Scorpius, que parecia ter levado um soco no estômago. 

— Você não vai vomitar, vai? — perguntei baixinho para ele, enquanto Rose ainda parecia procurar alguma coisa. 

— Ele já foi embora? — claro que a primeira coisa que Rose faria após beijar um cara seria perguntar de outro cara. Um poço de falta de noção recorrente, a minha prima. Para piorar: tratava-se de Scorpius e do babaca do McLaggen. Rose 1, sutileza 0.

— Ele saiu assim que você… — Jia começou, tentando esconder uma risadinha nervosa. Não podia julgá-la, eu mesmo estava quase soltando uma risada histérica diante daquele clima estranho que se formava. É por isso que, antes de beijar algum amigo, é preciso pensar mil vezes antes. Histórias de friends to lovers são envolventes, complexas e levemente angustiantes justamente por isso. É preciso ponderar, não sair beijando e só depois pensar nas consequências. Nem parecia que Rose havia assistido a trocentas comédias românticas com esse trope comigo. Por Deus, que a amizade dos dois não entrasse em colapso, ou com toda a certeza sobraria para mim. — Vocês… se beijaram. 

A menção ao beijo pareceu colocá-los de volta à realidade, como se só agora se dessem conta de verdade do que tinha acabado de acontecer. O olhar horrorizado na cara da minha prima me fez suspirar em desespero. Era óbvio que iria sobrar para mim. Quem mais limpava as merdas de Rose Weasley? 

— Scorpius eu… eu… eu não…

— Não! — o tom estridente de Scorpius nos pegou de surpresa. Ele estava… nervoso? Ele pigarreou, abrindo um sorriso nada sincero e acenando com as mãos. Puta. Que. Pariu. Minha sirene de alerta vermelho estava disparada. — Não precisa explicar. Você fez isso pra provocar o cara, eu entendo. 

— Sim, mas… 

tudo bem, Rose. Sério. 

Óbvio que não estava tudo bem. E eu não podia exatamente julgar o Scorpius porque, bem, quando a sua melhor amiga te beija de súbito e depois a primeira coisa que faz ao encerrar o beijo é procurar o ex… Fica bem clara a motivação. Então, como num passe de mágica, meu amigo tinha uma expressão serena no rosto. Não havia mais resquícios do mini ataque que ele tivera há pouco, apertando a barriga como se fosse vomitar a qualquer instante e com a cara de quem ainda estava sonhando. 

Rose não era burra, mas gostava de se fazer às vezes - o que era extremamente irritante e já me fez a chamar de sonsa na cara dela umas cinquenta vezes -, assim, somente assentiu, enquanto ajeitava o cabelo e se virava para Dominique. Entendendo o recado, Domi a puxou pelo braço.

— Acho que o que estamos precisando aqui é de uma boa dose de vodka, não é?

— Dominique… — sussurrei entredentes e ela assentiu, revirando os olhos e abanando a mão. 

— Eu sei, eu sei… Rose, preciso confiscar o seu celular.

— O quê? Mas…

— Por pura precaução. 

Rose bufou, porém cedeu, entregando o celular para Dominique, que o guardou em sua pochete holográfica. Lancei o meu melhor olhar de “fique de olho nela” para Jia - que era a única pessoa que eu de fato confiava para colocar juízo na cabeça de Rose caso eu não estivesse por perto, já que Dominique era claramente um caso perdido quando o assunto era conselhos e babysitting— que assentiu e deu o braço para Rose e Dominique, entrando na casa. 

Olhei para James, que parecia constrangido e ele logo saiu de perto, cumprimentando algumas pessoas que passavam por ali. Respirei fundo e coloquei a mão no ombro de Scorpius, que piscou algumas vezes, meio atordoado. Coitado. Ele estava baqueado. Só estava conseguindo disfarçar bem. 

— Você bem?

— Claro que sim — o sorriso falso estampou o seu rosto de novo. Suspirei pesadamente e recolhi a minha mão. Se Scorpius não queria falar naquele momento, eu não o obrigaria. Talvez fosse mais interessante falar com Rose primeiro e perguntar que porra ela estava pensando quando agarrou ele assim e o que seria dali para frente. — Vou pegar uma bebida também, você vem?

— Já vou — garanti tentando dar um sorriso convincente, como se eu não estivesse prestes a explodir em ansiedade diante daquela bomba armada. Scorpius assentiu e foi para dentro da casa. 

Eu precisava pensar um pouco em uma estratégia para resolver tudo aquilo sem que os dois ficassem esquisitos um com o outro. Estava tão imerso em pensamentos que nem sequer percebi que Rigel estava logo atrás de mim. Só notei ao sentir um ar quente na minha nuca quando ele disse: 

— O que é que você está tramando, Potter?

Saltei para longe dele imediatamente. Qual era o problema dele em ficar tão perto o tempo todo? Por Deus, quem conseguia pensar com alguém pendurado em seu pescoço? Ainda por cima cheirando tão bem como ele cheirava? Procurei organizar os meus pensamentos e me recompor antes de encará-lo. 

Rigel tinha os olhos semicerrados, olhando-me como se eu fosse uma espécie de criminoso e estivesse prestes a cometer o meu próximo crime e ele fosse o responsável por me capturar ou coisa do tipo. Francamente. 

Eu não devia satisfações a ele, mas ainda assim respondi:

— Não estou tramando nada. Não é crime querer zelar pelo bem estar dos meus amigos. Preciso resolver essa situação.

— Você não precisa.

— Preciso sim — rebati como um garoto mimado e aquilo fez o meu sangue ferver, deixando também um rastro amargo em minha boca. Eu odiava o fato de que Rigel tinha esse efeito sobre mim. Meu adolescente rabugento era despertado com muita facilidade e, quando eu menos esperava, estava tendo quase uma síncope nervosa. Mas todo mundo jurava que eu era um dos Potter-Weasley mais tranquilo. Pfff.   

Precisar você não precisa, Potter. Você quer, porque é um enxerido — aquilo fez minha boca ir ao chão. E o desgraçado ainda dizia aquilo com um sorriso no rosto. Sádico! Eu sempre disse que ele era sádico! — O quê? Quer que eu use eufemismo? 

— Me poupe, Finnigan.

— Thomas-Finnigan — corrigiu-me irritado e eu dei de ombros, tentando não sorrir diante daquela pequena vitória tosca. Rigel sempre fazia questão que eu utilizasse os dois sobrenomes dele e, de vez em quando, eu errava propositalmente. Talvez eu fosse meio pé no saco por isso? Talvez. Mas a culpa era totalmente de Rigel que iniciou tudo isso e parecia gostar de cultivar as suas formas de tortura da alma para cima de mim todas as vezes que para minha infelicidade nos víamos. 

— Eu só estou me certificando de que nada vai sair do controle, só isso. Eu sempre resolvo as brigas dos dois — argumentei, mas Rigel me olhava com uma expressão reprovadora, daquela forma condescendente e irritante. Aquilo atiçou o espírito protetor dentro de mim, bem como o birrento. — Isso é ser um bom amigo, ok?

— Quem fez a cagada não foi você. Isso também não minimamente relacionado a você, Potter. Até onde eu sei, você não fez parte desse beijo. Você não precisa tentar segurar o mundo todo com as mãos, sabia? Bons amigos ajudam quando necessário, falam umas verdades e apoiam… Mas não é obrigação sua pegar na mão de cada um e resolver os problemas passando a mão na cabeça depois e dando um biscoitinho. Eles que se resolvam. Você tem sua própria vida pra cuidar. Uma festa pra curtir. Relaxa.

Relaxar. 

Rigel de fato não me conhecia. E se ele considerava que aquele era um discurso tranquilizador, só podia estar louco. Fui mais atacado do que qualquer coisa, como eu poderia relaxar? O disparate dele era revoltante.

Naquele exato momento, eu estava pensando em todas as possibilidades que poderiam acontecer caso Rose e Scorpius se estranhassem depois daquele maldito beijo. Eu teria que dividir os meus almoços e jantares entre os dois, teria que escolher finais de semana com cada um. Teria que pisar em ovos caso eles se encontrassem. Seria um inferno. Rose era orgulhosa demais para assumir erros e Scorpius era um palerma - por isso foi absolutamente surpreendente ele ter defendido ela daquela forma. Se não eu, quem poderia colocar juízo na cabeça dos dois? 

Assim, relaxar não era nem de longe uma opção. E foi o que eu disse para ele e, como resposta, obtive uma gargalhada extremamente carregada de desdém. 

Por que Rigel me tirava tanto do sério? Por Deus, ele parecia gostar demasiadamente de me irritar e eu, idiota, caía toda as vezes. 

— Potter, você é amigo deles ou pai?

Aquilo me ofendeu profundamente. Rigel percebeu, pois começou a me provocar a respeito. Eu não era o idiota, ele era. 

— Para um pai que tem dois filhos na casa dos vinte, você até que está bem conservado, não? 

— Cale a boca.

— Estou até vendo alguns fios grisalhos — ele estendeu a mão e passou no meu cabelo. Respirei fundo, dando um passo para trás e segurando a mão dele, afastando-a do meu cabelo. Rigel sorriu, mostrando aqueles trinta e dois dentes perfeitamente alinhados e brancos. Era o sorriso de quem sabia que havia alcançado o seu objetivo. Por que eu ainda dava corda para Rigel? Isso só lhe dava o gostinho da vitória. Argh. — Isso daí são entradas? Você vai ficar calvo, Albus?

— Puta que pariu, como você é chato. 

— Você não precisa cuidar da Rose e do Scorpius. Você precisa relaxar, isso sim. 

— Sua ideia de me deixar relaxado envolve ficar me provocando? Genial. 

Rigel tombou a cabeça levemente para a esquerda, analisando-me. Na sequência, o seu olhar caiu para baixo e, ao acompanhá-lo, levei um susto. Eu ainda estava segurando a mão do desgraçado depois de tê-la retirado do meu cabelo. 

Engoli em seco, soltando lentamente a mão e desviando os olhos para qualquer outro ponto que fosse mais interessante e tentando agir como se aquilo não tivesse me afetado. Eu odiava passar vergonha na frente de Rigel e, principalmente, odiava ficar em situações constrangedoras como aquela, ainda mais se desse brecha para os malditos flertes dele. Se Rigel achava que o seu charminho maldito teria algum efeito sobre mim, estava enganado. 

Eu sabia muito bem que ele sempre usava essa e outras técnicas de flerte para tentar persuadir as pessoas. Nunca me deixei abalar porque era óbvio que Rigel era um conquistador nato. Flertava com todos apenas por diversão e, automaticamente, todos gostavam dele. Era o seu lance, sabe? O lance da Rose é ser dramática. O do Scorpius, ser meio desligado. O da Dominique, ser meio rebelde. O do Rigel, ser xavequeiro; o que não era difícil, considerando que ele era injustamente lindo. 

Mas ele não me afetava. Não mesmo.

Eu não cairia naquele sorriso de canto. Sabia que, no fundo, ele não passava de um sádico.  

— Na verdade, eu tenho outras coisas em mente pra te relaxar.

É disso que eu estava falando. Como diabos ele conseguia dizer uma coisa dessas assim com naturalidade? Arfei em indignação, encarando-o. Tudo porque acidentalmente esqueci de largar a mão dele. Ótimo. Tentei encontrar algo para responder, mas me enrolei um pouco e balbuciei, o que fez o maldito sorriso dele se alastrar. Excelente timing para esquecer como se fala, Albus. Apenas forneci mais material para Rigel tripudiar em cima de mim. Brilhante. 

— Não sei o que passou na sua cabeça, Potter. Mas eu estava me referindo a irmos, finalmente, aproveitar a festa. Quem sabe jogar alguma coisa...

Nem ferrando que eu iria jogar alguma coisa com ele, ainda mais envolvendo álcool, porque o jogo da noite certamente deveria ser beer pong entre outros jogos alcoólicos. Fora que, ele havia se esquecido que éramos nêmesis em jogos? Eu falei: Rigel era sádico.  

— Você quer que eu pule no seu pescoço, é isso?

Quando se tratava de Rigel Thomas-Finnigan, qualquer coisa vira um potencial flerte. Então eu deveria ter sido mais cuidadoso, porque a frase saiu completamente errada. Bati na minha testa no mesmo instante em que ele soltou uma gargalhada alta e senti as minhas bochechas começarem a arder de vergonha. Imagine se eu, Albus Potter, pularia no pescoço dele por outro motivo além de querer esganá-lo. 

De toda forma, eu precisava me recompor e parar de dar brechas como aquelas, o problema era que minhas sinapses cerebrais pareciam entrar em pane perto dele. Culpa da imensa raiva que Rigel despertava em mim. Mexia absolutamente com todos os meus sentidos. Céus, eu precisava de uma terapia. Ou de uma sessão de exorcismo de Rigel Thomas-Finnigan do meu sistema. Não podia ser normal o quanto ele me irritava. 

— Você me entendeu — grunhi entredentes e ele se aproximou, ainda rindo. 

— Claro, Albie. Claro.

O tom de voz irônico dele me irritou ainda mais, então esfreguei o meu pescoço, tentando aliviar a tensão que estava se formando na região.

— Hey — James gritou ao longe, na porta da casa, acenando para nós dois. — Precisamos de mais uma galera pra fechar times. Apostei vinte libras que o time do Al vai perder, então agora você precisa me ajudar a ganhar dele, Rigel.  

Rigel me cutucou com o cotovelo quando eu estava prestes a mandar James tomar no cu. Olhei para ele, irritado. 

— E eu estou com muita vontade de fazer o James perder essa aposta. Que tal, pela primeira vez na vida, jogarmos no mesmo time?

Nunca na minha vida passou pela minha cabeça fazer parte do mesmo time que Rigel Thomas-Finnigan em absolutamente nada. Mas, naquela noite, nada estava fazendo sentido, de toda forma. 

Ponderei por alguns instantes antes de dar uma resposta a ele, mesmo que a ideia de me unir a Rigel contra James em algumas rodadas de games fosse tentadora. Rigel não estava totalmente errado a respeito do discurso que fizera antes. Eu realmente me preocupava demais e acabava me colocando de lado. Até pouco tempo, eu estava com todo um plano de ação traçado para resolver a situação da Rose e do Scorpius, mas… era exaustivo ter que tomar as rédeas do problema todas as vezes. 

Claro que relaxar e Rigel Thomas-Finnigan não estavam exatamente na mesma frase quando eu pensava em me distrair. Seria lógico eu rejeitar o convite e ir caçar outra coisa para fazer. Mas, sinceramente, eu não estava com muita energia para discutir com Rigel, que certamente encheria o meu saco pelo resto da noite. E eu não conhecia muitas pessoas na festa além de Dominique e Jia, contudo passar a festa com elas acabaria em cair no olho do furacão do dilema Weasley-Malfoy. Ah, e claro: seria maravilhoso ver James perder dinheiro. 

Olhei fundo nos olhos castanhos de Rigel, que pareciam ter um brilho de divertimento e suspirei. Então, contra todas as probabilidades, eu e Rigel fomos duplas em todas as competições possíveis durante a festa. 

E, milagrosamente, não brigamos. 

Não sei que tipo de astros se alinharam naquela noite para que passássemos um tempo considerável juntos sem brigar e ainda por cima rindo. Estávamos imbatíveis em todos os jogos propostos, fosse jenga gigante, poker ou pebolim. O espírito competitivo que habitava em nós dois estava lá também, mas, dessa vez, gritávamos e zombávamos de outras pessoas, em especial de James, que já havia dito que Rigel era um traíra ao menos vinte vezes, uma para cada libra que ele perdeu naquela noite. 

Foi na quinta partida de pebolim que a bolha alternativa que eu estava foi estourada por Dominique. 

— Não querendo estragar o momento bizarro de amizade improvável entre vocês, mas achando que a Rose precisa ir embora. Ela começou a falar um monte de merda pro Scorpius. 

— Que amizade, Dominique? doida? — foi o meu instinto responder, no melhor tom debochado e enojado, por pura força do hábito. Apesar disso, senti-me um pouco culpado, afinal, Rigel havia sido suportável naquelas últimas horas. Esperei que, de praxe, ele desse uma resposta espertinha, porém, ainda era uma noite estranha. E a resposta que ele deu, seguida de um olhar raivoso e um suspiro pesado, foi definitivamente estranha

— E por que o Albus precisa resolver isso? 

Uma das curiosidades sobre a minha relação tumultuada com Rigel era que ele nunca me chamava de Albus. Apenas de Potter ou Albie. Aquilo era novidade e provavelmente Dominique também achou, porque olhou para ele tão espantada quanto eu estava. 

— Quem mora no mesmo campus que eles e prometeu uma pizza de chocolate foi ele. Eu juro que não queria interromper, mas não tem mais porra nenhuma que eu possa fazer.

Dominique podia ser meio chata - e muito disso era pela amizade que ela cultivava com James, o que me deixava um pouco enciumado, afinal irmãos do meio supostamente deveriam se apoiar, sabe? Compreender o fato de ser levemente excluído e inevitavelmente bater a cabeça com o irmão mais velho e se estressar com o mais novo, essas coisas -, mas ela era sincera. Não teria me interrompido se não fosse estritamente necessário. Ela havia prometido que lidaria com qualquer imprevisto que acontecesse na festa, como forma de se redimir por ter impulsionado Rose a enviar os vinte e quatro áudios, e, se não estava dando conta sozinha, como sempre procurava garantir, então eu tinha que ir. 

Surpreendentemente, uma parte de mim não estava com a mínima vontade de ir em socorro de Rose. Eu só não sabia se isso estava diretamente relacionado ao fato de eu ter tido uma estranha noite divertida com Rigel ou porque eu finalmente estava cansado de resolver as merdas da minha prima. Mas, de toda forma, não era o momento para refletir sobre. 

Lancei um olhar um tanto quanto receoso para Rigel, que, após alguns instantes, abriu um sorriso, que eu sabia não ser exatamente sincero, como se nada tivesse acontecido. Franzi o cenho. Eu não sabia muito bem como me despedir. Em outras ocasiões só teria dito um “finalmente” ou, quando ele me dava tchau nas vezes que ia embora da casa dos meus pais, um “já vai tarde”. 

— Então… 

Foi a melhor coisa que consegui elaborar. Excelente. Terceiro ano de Direito e aparentemente minha oratória e minha capacidade de formular frases coerentes haviam ido pelo ralo. Brilhante. 

Felizmente (ou não), Rigel tinha uma excelente habilidade social, além de oratória e dicção perfeitas, diga-se de passagem. Era surpreendente que ele não tivesse optado por Jornalismo ou Direito, inclusive. Surpreendi-me quando soube que ele estava fazendo Artes Plásticas. Não combinava muito com a pose de jogador de rugby e viciado em FIFA. Minha mãe sempre me disse que Rigel era uma caixinha de surpresas, mas que eu não me permitia enxergar muito além de onde minha raiva permitia. Talvez fosse verdade.  

— Parece que encontramos uma maneira de competir de uma forma que beneficie os dois. Nada mal hoje, Potter. 

Mesmo que uma grande parte de mim detestasse toda a raiva que Rigel me fez passar durante todos esses anos enquanto jogávamos jogos diversos, hoje essa mesma parte se sentia satisfeita. Era bom ouvir um elogio, para variar. 

Sorri, assentindo, sem muita certeza do que dizer. Rigel sorriu em resposta, aquele mesmo sorriso de lado que, antes, parecia sádico por vir após uma enxurrada de provocações. Agora, parecia esboçado de forma genuinamente… simpática. 

Pisquei algumas vezes, tentando processar tudo aquilo e me virei, puxando Dominique pelo braço para procurar Rose. 

— Eu estou delirando ou…

— Ou nada, Dominique — repreendi no ato. Eu sabia o que ela ia falar. Era provavelmente mais alguma baboseira de sempre, sobre como o meu ódio por Rigel parecia disfarçar outra coisa. 

— Meu Deus, não acredito que estou cada vez mais perto de ganhar duzentas libras.

— O quê? — me virei para ela, atônito. Ela nem disfarçou o deleite que estava sentindo. 

— Apostei com James, anos atrás, que isso ainda iria render uns bons amassos porque se tratava de pura tensão sexual.

— Dominique! — soltei a mão dela, horrorizado, massageando minhas têmporas a seguir. — Não me venha com essa merda de novo.

Boa parte do leve desgosto que eu sentia por minha prima Dominique e meu irmão James vinha por conta de Rigel. Na época do ensino médio, em que Domi ainda era mais próxima de mim do que de James, mesmo passando quase o ano todo na França, ela nos visitou e, fatidicamente, Rigel estava lá. E Dominique presenciou uma de nossas fervorosas discussões, naquele dia em específico por Resident Evil. Rigel e eu já tivemos tantos desentendimentos por jogos que nem me lembro mais o que tinha motivado, mas o fato era que, assim que ele foi embora, ela começou a me provocar. 

 — Meu Deus vocês totalmente vão se pegar um dia.

— O quê? — eu e James questionamos em uníssono, horrorizados.

— É tão óbvio. O Rigel te provoca propositalmente e você leva a sério… Mas pra ele é só uma zoeirinha. Ele gosta de te irritar pra chamar sua atenção.

— Você maluca, Dominique. Pirada — minha voz saía mais alto a cada palavra. Só podia ser brincadeira. — Ele é um sádico, isso sim. Me provoca e depois age como se nada tivesse acontecido. 

— Ah, fala sério, Al… Garotos quando querem chamar a atenção de garotas fazem todo esse circo quando estamos no fundamental. O Rigel totalmente fazendo o mesmo com você. E não é como se você não gostasse. Vai dizer que não acha ele um gato? Ele é muito parecido com aquele carinha que você teve um crush no verão passado lá em Paris, sei que faz o seu tipo.  

Naquele dia eu quis matar a Dominique. 

Não havia muito tempo que eu havia me assumido e ela inclusive foi uma das primeiras pessoas para quem eu contei além de Rose - que foi a primeira, obviamente. Aquele verão foi a primeira vez que pude ousar experimentar - não dava para beijar garotos só “para experimentar” na escola em que metade da minha família estudava, não mesmo -, então não tive como esconder dela. 

O problema era que, até então, James ainda não sabia. Eu havia sim contado aos meus pais, mas pedi sigilo porque queria contar eu mesmo para ele e para Lily. Aconteceu que James trocou de escola e eventualmente Lily também, para uma com um programa de ballet bastante famoso e requisitado e então fui deixando. 

Foi uma época complicada para mim, ver os meus irmãos trocando de escola para seguirem os seus sonhos enquanto eu parecia… estagnado. A única diferença considerável na minha vida dizia respeito à minha sexualidade e eu não havia sido capaz de compartilhar aquilo com eles. A vinda de Rigel para nossa casa quase que diariamente também não ajudava muito a me deixar confortável em me assumir porque, bem, eu estaria mentindo se não dissesse que o achava bonito - embora muito cretino com aqueles sorrisos sádicos depois de me torrar a paciência o dia todo. 

Só piorou quando eu soube que Rigel beijava meninos e meninas. De repente, parecia estranho passar as tardes grudado no sofá jogando com ele, trocando berros, provocações, soquinhos aqui e ali. Era muito intenso e físico em alguns momentos… 

Uma coisa era você saber que algo como um beijo jamais aconteceria pela outra pessoa ser héterossexual, outra totalmente diferente era saber que existia uma mínima possibilidade. Então, eu precisava ficar longe, até porque eu o detestava. As coisas ficaram complicadas quando, conforme fomos envelhecendo, Rigel pareceu me provocar menos com palavrões e brincadeiras infantis e mais com sorrisos, beliscões e flertes. Eu não sabia se ele, de fato, tinha algum interesse em mim, mas também não ousaria descobrir. 

Por isso, era mais fácil ficar longe dele, de Dominique e de James, considerando que sempre que eu estava perto de algum deles, o meu lado full estressado falava mais alto.

— Não é o fim do mundo, né? Você sabe. James ficaria de boa com isso. E sinceramente, Al, você precisa dar uns beijos e soltar essa tensão toda… 

— Chega, Dominique. Vou procurar a Rose e o Scorpius e ir pra casa — me virei, ignorando os protestos dela atrás de mim. 

— Puta que pariu, não é possível que mesmo tendo passado a noite inteira numa boa com o cara, você vai deixar essa birra adolescente falar mais alto? 

— Por que exatamente você se metendo na minha vida, Dominique? 

— Pelo mesmo motivo que você sempre se mete na vida da Rose, gênio! — ela empurrou o meu ombro e eu me virei, respirando fundo. Assim que a olhei, engoli em seco. Dominique estava genuinamente irritada. E nada de bom saía disso. — Você pode tentar me afastar e afastar o James o quanto você quiser, mas isso não muda o fato de que nós nos preocupamos com você. E sinceramente, nem sei porque ainda fazemos isso! Você é cego demais pra perceber o mínimo de afeto direcionado a você, Albus. Só espero que, quando você perceber, não seja tarde demais. 

E então ela se virou, mas, antes que pudesse ir embora, eu a chamei.

— Espere, Domi… — ela olhou para mim por cima do ombro e eu suspirei. — Você pode pelo menos me dizer onde a Rose ou o Scorpius estão?

Era meio sacanagem da minha parte dizer isso depois de tudo que ela havia me falado? Sim. Mas foi uma longa noite que, pelo que eu temia, não estava nem perto de acabar, então eu tinha que perguntar. Dominique riu secamente e indicou o braço para área da piscina. 

— Depois a gente se fala — prometi, mas ela deu de ombros e saiu. Observei-a por alguns instantes até que ela se juntasse a Jia, beijando-a e puxando-a para dançar e, finalmente, fui atrás do casal encrenca. 

Quando os achei, desejei que Dominique não tivesse me encontrado com Rigel. Jogar com ele e rir da cara do James era infinitamente melhor do que assistir àquela cena patética:

Rose estava abraçada a Scorpius, chorando copiosamente e dizendo coisas sem sentido. Ele acariciava o ombro dela e me olhou aliviado quando me aproximei. 

— Pelo amor de Deus, vamos pedir logo um Uber ou um táxi — ele sussurrou para mim e eu assenti, pegando o celular. Ainda não conseguia entender o que Rose estava falando e suspeitei que nem Scorpius soubesse, porque ele apenas assentia ou dizia “aham”. 

Alguns minutos tentando sem sucesso, cutuquei Scorpius. 

— Acho que vamos precisar ir lá pra frente, ver se rola algum táxi na rua ou coisa do tipo, porque Uber não tá dando. 

Scorpius assentiu e ergueu o rosto de Rose. Por Deus, uma maquiagem à prova d’água naquele dia teria sido a escolha certa, contudo, uma das filosofias de Rose era: se ela usasse máscara à prova d’água, aquilo só a encorajaria a chorar, portanto, bastava contar com a sua consciência de não chorar para não borrar a maquiagem. Nesse caso, a consciência havia sido lavada com força por todas aquelas lágrimas e minha prima parecia um panda ruivo chorão. 

— Hey, Rosie. tudo bem, respira. Vamos precisar ir lá pra frente agora, ok? Pra irmos embora e pegar aquela pizza de chocolate que você tanto queria, lembra? 

Scorpius deveria ser santificado, juro. Eu aguentava as merdas da Rose há anos, mas bem, ela era minha prima e, mesmo que não fôssemos melhores amigos, ainda teria que aguentar. Porém, ele não tinha que aguentar. E, ainda assim, fazia-o. Um santo, era isso que ele era. Ou talvez, só um homem apaixonado. Por Deus, eu apenas não queria que a amizade deles se estragasse, mas, se os dois começassem a namorar, não seria a pior coisa do mundo. Não mesmo. 

Nós três fomos para a frente da casa, com Rose soluçando, contudo pelo menos em silêncio. Continuei tentando pedir Uber por mais algum tempo, mas todos estavam muito longe e os que aceitavam, acabavam cancelando. 

Estava prestes a ligar para alguma companhia de táxi, mesmo sabendo que provavelmente cobrariam horrores por virem de longe, quando ouvi em alto e bom som:

— Hey, Potter. Precisando de uma carona? 

Fiquei um tempo estático, olhando para Rigel Thomas-Finnigan sorrindo para mim - aqueles malditos trinta e dois dentes perfeitamente alinhados e brancos -, com um braço musculoso para fora da janela e o outro esticado no volante. Só lembrei que eu precisava responder alguma coisa quando Scorpius me cutucou. 

— Não sei se posso confiar em você como motorista — falei a primeira coisa que me veio à cabeça, tanto pela força do hábito da provocação, quanto pela lembrança do copo vermelho sempre em mãos a noite toda. — O quão sóbrio você está?

— O tanto que é possível ficar com água. 

— Perfeito, obrigado pela carona, Rigel — Scorpius foi em direção ao carro, envolvendo Rose pelo ombro e me deixando meio boquiaberto. 

— Você pode ficar aí plantado esperando algum carro passar — Rigel batucou a lateral do carro e eu estremeci ao ver que Scorpius e Rose já se ajeitavam no banco de trás. Respirei fundo e dei a volta, entrando no banco do passageiro. — Foi o que eu pensei. 

A carona foi silenciosa, exceto pelas fungadas de Rose e do som de Frank Ocean que Rigel colocou depois de um tempo. Tentei pensar em algo para puxar assunto, mas eu e Rigel nunca havíamos conversado de verdade a não ser que fosse para nos provocarmos. 

Eu havia acabado de pensar em um tópico - a temporada de rugby que estava quase no fim, um dos últimos jogos havia sido naquela semana, inclusive, o que provavelmente era o motivo pelo qual ele e os outros caras haviam relaxado um pouco e ido à festa da Dominique -, quando Rose deu um grito que me fez saltar do banco. 

— A pizzaria! Vamos parar e comer, por favor! 

— Rose, acho que seria melhor quando chegarmos em casa… 

— Pizza? — Rigel me cortou, parecendo genuinamente animado. — Eu poderia usar o meu segundo passe livre do final de semana em pizza.

— Só não coma a de chocolate, vai por mim — Scorpius sussurrou, achando que Rose estivesse alheia, mas obviamente não estava, porque começou um discurso em defesa da pizza de chocolate queimada. Eu e Scorpius reviramos os olhos, porém Rigel pareceu se divertir com a situação.

— Ok, se é tão boa assim eu sinto que preciso experimentar.

— Que o seu estômago e o seu paladar descansem em paz depois dessa — ri baixinho e Rigel ergueu as sobrancelhas para mim.

— Não pode ser tão ruim. 

Eu apenas sorri, esperando que o universo fizesse o seu trabalho.

Meia hora mais tarde, justiça foi feita.

— Ok, eu não tenho nada contra pizza doce, mas… Por que eles colocam a barra de chocolate na massa e jogam no forno sendo que… Vai queimar tudo ao invés de derreter? Isso é um desperdício de massa e de chocolate. 

— Como eu queria ter apostado. Eu estaria vinte libras mais rico agora — reclamei, pegando um pedaço de pizza de abacaxi, um sabor polêmico, mas muito melhor do que a de chocolate. 

Até senti pena. Rigel olhava com tanto desgosto para o pedaço de pizza mal finalizado em seu prato e para Rose e Scorpius comendo como se fosse a melhor coisa do mundo (Rose por não ter um paladar decente e Scorpius por comer até pedra se estiver bem temperada e por também não ter um paladar decente).

— Aqui, vamos dividir essa. Depois você me paga uma inteira.

— Você quer me cobrar juros pela pizza? 

— Quando você comer, vai entender. 

E, assim que Rigel comeu o primeiro pedaço e seus olhos se arregalaram, eu não contive o sorriso. Coloquei um braço na mesa e apoiei o meu queixo na mão, enquanto o observava saborear uma pizza de verdade, e não aquela porcaria de chocolate queimado. 

O mundo devia estar de cabeça para baixo, porque eu não estava achando tão ruim dividir uma pizza de abacaxi com Rigel Thomas-Finnigan.

— Achei que atletas não podiam encher a cara de álcool e pizza bem no fim do campeonato, mas você estava falando sobre os passes livres... — comentei depois de um tempo para tentar quebrar o gelo, porque Rose e Scorpius aparentemente haviam se esquecido que tinham se beijado e se estranhado e agora estavam jogando nas máquinas de pinball a alguns metros de nós dois (nada da decoração daquela pizzaria fazia sentido, mas não era relevante) e, sozinhos, era estranho simplesmente ficar em silêncio. 

— Não sei que tipo de atleta você acha que eu sou, Potter, mas você tem uma visão bem distorcida das coisas — Rigel comentou rindo, enquanto pegava o terceiro pedaço. — Você não acreditou mesmo que eu não bebi nada de álcool?

— Isso eu acredito, só não acredito que foi somente água — aqui foi pura implicância, porque eu me recordava de Rigel bebendo todo o suco de morango quando ia em casa, o que me irritava profundamente, porque de casa eu era o único que gostava, ou seja, uma das únicas coisas que os meus irmãos não atacavam na geladeira, mas ele sim. — Nem mesmo suco a noite inteira? Algum suco que você goste muito? 

Rigel estreitou os olhos na minha direção e assentiu a cabeça, chamando o garçom. 

— Dois sucos de morango, por favor.

— Ah, então você se lembra — apontei, balançando a cabeça. — Posso assumir então que liberado para cobrar você por todos os sucos de morango que deixei de tomar e pelos pedaços de pizza que estou deixando de comer?

— Se você está tentando me chamar para um outro encontro que envolva pizza e suco, é só dizer, Potter. Eu aceito, com o maior prazer — Rigel apoiou o rosto na mão e sorriu daquele jeito para mim. Revirei os olhos e soltei uma risada nervosa, sentindo o meu estômago afundar. Talvez fosse a pizza de chocolate fazendo efeito. Só podia ser.  

— Como funciona esse passe livre? — perguntei para desviar do assunto. Rigel balançou a cabeça negativamente, porém riu, ajeitando-se no banco e esticando o braço atrás de mim. Respirei fundo. — Tipo, você pode chutar o pau da barraca e escolher tudo o que quer fazer? 

— Tudo não, somos limitados a dois passes. Coisa do nosso técnico, que percebeu que proibir totalmente não estava ajudando em nada. Mas cada um escolhe o que vai fazer. James, por exemplo, sempre opta por festa e sexo, porque, bem, acho que são as duas coisas que ele não consegue absolutamente ficar sem por mais de duas semanas. As vezes ele troca festa por junk food ou álcool, mas nunca sexo — por que eu não estava surpreso? — Idiotas como o Crabbe dizem que vão fazer o mesmo e ainda por cima beber e comer o que quiserem, porque se acham o máximo e dizem que podem aguentar o tranco, mas todo mundo sabe que, no fim, eles dormem em algum canto lá pelas duas da manhã sem terem feito metade do que prometeram. 

— Então… Você poderia ter escolhido beber ao invés de comer pizza, certo? Ou até mesmo… Transar. Mas você está aqui. Comigo. E com Rose e Scorpius. Comendo pizza? Já gastou os seus dois passes. Um deles comi… conosco. 

— É exatamente o que eu estou dizendo, Potter — obviamente ele disse aquilo com aquele sorriso desgraçado de trinta e dois dentes absurdamente brancos e alinhados. Puta merda, eu estava reparando demais no sorriso dele, mas não era possível não reparar.

Ponderei por alguns instantes sobre aquilo. Queria eu ter vetado a bebida da minha noite, porque minha mente estava girando e eu não estava conseguindo controlar alguns pensamentos indesejáveis. 

Por isso, achei melhor abordar outro ponto e não o que a minha língua estava coçando para perguntar. 

— É um pouco burro da sua parte, não acha? Gastar um passe seu indo numa festa só porque o James pediu… 

— Ele não pediu. Eu soube que a Dominique estava organizando uma festa pra tentar animar a Rose, então obviamente eu precisava ir. 

Obviamente.

Mas óbvio para quem? Para mim, não fazia sentido algum.

— Obviamente? — soltei uma risada nervosa. Não era possível que Rigel estivesse afim da minha prima Rose, era? Puta que pariu. Senti o meu estômago revirar só com a possibilidade. — Por quê? — minha língua não conseguiu segurar. — Queria tanto assim ver a Rose?

— Não a Rose. 

Ficamos em silêncio nos encarando. Minha mente tentava processar o que aquilo significava, enquanto Rigel só estava lá… sorrindo. Ele claramente se divertia com o meu sofrimento. 

Veja bem, eu não era uma pessoa lerda, que não compreende quando está recebendo uma cantada ou coisa do tipo. A questão era que eu era cético. Rigel sempre flertava por brincadeira, geralmente na frente dos outros, porque parecia gostar de me constranger ou coisa do tipo. Mas, naquele momento, não havia ninguém para testemunhar, então de duas uma: ou Rigel estava elevando a outro patamar esse jogo do flerte, deixando-me envergonhado mesmo sem uma alma viva por perto ou ele estava sendo sincero. 

Eu não sabia qual das duas opções me deixava mais nervoso. 

O mundo realmente só poderia estar de cabeça para baixo, porque, naquele instante, tudo pareceu parar. Eu quase podia sentir o calor emanando do braço de Rigel, a centímetros das minhas costas. O perfume de sândalo parecia estar me embriagando ainda mais. O sorriso largo parecia tão ofuscante e convidativo. O olhar tão instigante… 

Por Deus, que porra estava acontecendo? 

Meu limite foi o maldito ato de umedecer os lábios. Quando vi aquilo senti cada célula do meu corpo paralisar e então começar a vibrar loucamente em sequência, despertando um ímpeto absurdo dentro de mim de me aproximar. Eu era incapaz de controlar, por isso me aproximei minimamente, sentindo a minha respiração e os meus batimentos cardíacos ficarem desregulados. 

Eu nunca soube no que aquele ímpeto iria dar, porque antes que eu pudesse fazer algo do qual eu pudesse vir a me arrepender, o garçom chegou com os dois sucos de morango, colocando-os ruidosamente na mesa.

Praticamente saltei para o canto oposto do banco e Rigel retirou o braço que estava estendido, agradecendo o garçom e me estendendo um dos copos. Eu não confiava na minha coordenação motora naquele momento, então peguei um dos canudos de papel e coloquei de qualquer jeito no suco, tomando um longo gole para me acalmar. 

Puta que pariu. Contra todas as possibilidades, por um instante eu quis beijar Rigel Thomas-Finnigan. E pior: eu não achei aquela uma ideia totalmente ruim ou louca. Muito pelo contrário. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Com TODA certeza o Al vai arranjar alguma desculpa pra esse ímpeto de beijar o Rigel HAHAHAHAH Ou não... Nunca se sabe...
Aqui eu quis mostrar que, por mais cool que o Rigel seja, ele também se estressa e, choking, se IMPORTA com o Al, que é cego demais pra perceber, SOCORRO. Scorose tá de pano de fundo aqui na fic porque, querendo ou não, é um dos motivos pelos quais Algel vai se aproximar, já que o Al tem esse sentimento de proteção em relação à Rose e tenta consertar as merdas dela, acabando por esquecer que ele mesmo tem sua vida pra cuidar. O Rigel vai ser uma peça importante pra ajudar o Al a se libertar mais e deixar alguns desafetos no passado, afinal ele só tem um leve ranço da Domi e do James por conta do Rigel o que é... Desnecessário demais kakaak Mas enfim, Al sendo Al.
Espero que tenham gostado! Vejo vocês nos comentários ♥ Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Against the odds" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.