P.O.V. Daryl

—Sabe que dia é hoje? -pergunta Sophie quando eu chego com seu café da manhã. Agora que pelo menos uma dúzia de senhoras se ofereciam para cozinhar para nós, Carol não precisava mais se dar ao trabalho e nem eu.

—Não. O que tem hoje? -me faço de desentendido.

—Você sabe sim, está temendo esse dia há semanas.

Hoje nós finalmente iríamos voltar para Alexandria. Eu estava com medo de que ela estivesse muito fraca pra viajar, mas ela não para de falar disso nos últimos dias então falta de disposição não é um problema. Todos os outros, com exceção de Carol que decidiu ficar por aqui, já haviam voltado para a comunidade.

Depois que ela come alguma coisa durante a manhã, o médico que eu descobri se chamar Peter, a libera e nós pegamos um carro de volta pra casa. Carol e Ezekiel se despedem de nós e logo depois pegamos a estrada para Alexandria.

—Acha que as coisas vão voltar ao normal agora? -pergunta Sophie do nada.

—Como assim? 

—Com o Negan entre nós, com os Salvadores vivos, o que acontece agora?

—Rosita já está no Santuário, tenho certeza de que ela consegue controlar as coisas por lá. Mas Negan não deveria ter outra chance, com ele vivo os Salvadores ainda podem ter esperança de que as coisas vão voltar a ser como eram antes pra eles.

—Você deu outra chance a Dwight.

—Ele conquistou a chance que teve e ele está avisado de que se eu o vir de novo ele é um homem morto. -digo. -Você acha que Negan merece estar vivo?

—Não depois de tudo que ele causou. -diz ela. -Eu dormiria melhor se eu soubesse que ele está morto.

—Todos nós dormiremos, mas Rick não vai voltar atrás.

—Você consegue ficar em paz com isso?

—Não.

—Vai tentar matá-lo?

—Provavelmente. 

E é verdade, Negan não tem que estar vivo quando Glenn não teve essa mesma chance. Isso eu não consigo aceitar.

[...]

Estou nervoso quando chegamos em Alexandria. Há alguns dias, antes do Aaron voltar, eu combinei algumas coisas com ele. Estou com medo de que ele não tenha conseguido.

Mas a preocupação era inútil porque quando entramos em casa eu vejo que Aaron conseguiu o que eu pedi.

—É o meu arco? -pergunta Sophie sorrindo e vai até o objeto em cima do balcão da cozinha. -Como isso aconteceu? E como eu não fiquei sabendo?

—Eu tenho meus contatos. -brinco. -Acho que também tem uma cama nova nos esperando.

—Mal chegamos e já quer me levar para a cama, Daryl Dixon? -diz ela e caminha para mim novamente. -E pensar que quando nos conhecemos você era bem lento.

—Eu sou lento?

—Era, agora você não consegue tirar as mãos de mim. -ela acaba me fazendo rir. -Muito obrigada.

—Não foi nada, eu sabia que o arco era importante.

—Não é isso que estou agradecendo, apesar de estar muito grata. -diz ela me abraçando. -Eu sei que é difícil para você deixar as pessoas entrarem e que provavelmente você teve algum tipo de batalha interna muito complicada naquele dia em que decidiu me beijar e eu sou grata por cada consequência do que fez.

—Eu passei por poucas e boas com o Dwight e a esposa naquele dia. Alguma coisa naquela situação me fez perceber que eu tava perdendo tempo afastando o que eu sabia que ia acontecer.

—Então você sabia que ia acontecer? E eu não posso nunca nem te chamar de convencido.

—Você não diz que eu leio as pessoas? Eu sabia que você estava gamada.

—Gamada? Que vocabulário é esse? -pergunta ela rindo. -Quando eu estou prestes a esquecer que você é tão caipira você volta com tudo.

—Você gosta.

—Fala de novo. 

—Gamada. -repito e então ela beija enquanto ainda ri.

Eu a abraço de volta, mas ainda tenho medo de machucar Sophie. Tenho evitado ao máximo tocar nela depois do tiro porque não quero que ela se machuque, mas é claro que ela não se importa. Pra minha sorte alguém bate à nossa porta e eu tenho uma desculpa para afastá-la.

—Podemos conversar? -pergunta Michonne assim que eu abro a porta e eu dou espaço para que ela entre. 

—Vou deixar vocês sozinhos. -diz Sophie.

—Pra onde você vai? 

—Calma Daryl Dixon, eu só vou tomar um banho. -responde ela. 

—Não quer ajuda? -pergunto preocupado e ela acaba rindo.

—Na frente dos outros, Daryl? Que falta de vergonha. -brinca ela e então se dirige a Michonne. -Desculpa, ele acha que eu vou quebrar se ele não me vigiar a cada segundo do dia.

—Bom, mas você também está sempre atrás de encrenca. Vocês dois. -diz Michonne. -São perfeitos um para o outro. 

Nós dois somos obrigados a concordar. Quando não sou eu me metendo em confusão, é ela. Pelo menos sabemos equilibrar isso direito.

—Fico feliz que você esteja de volta. -Michonne diz para Sophie que agradece e então vai para o quarto. -Não queria interromper vocês.

—Você não interrompeu.

—Nós precisamos falar sobre o Negan. -diz Michonne. -Eu sei que você quer ele morto, eu também quero e tenho certeza que isso é o que muita gente quer.

—Então o que estamos esperando?

—Nós não podemos fazer isso.

—Nós podemos se nós quisermos.

—O Rick…

—O Rick vai ter que entender. -interrompo. -Eu sei que vocês ficaram com medo do garoto não sobreviver e queriam realizar o último desejo dele, mas Carl está vivo e ainda vai poder desejar muitas outras coisas, mas isso não.

—É exatamente por ele estar vivo que nós precisamos fazer isso. Nós temos que mostrar a ele que existe um jeito diferente de fazer as coisas.

—Não quando nós estamos falando do Negan, não existe misericórdia pra ele.

—É exatamente por ele ser quem é que nós precisamos dar uma chance Daryl e eu preciso que você esteja nessa comigo ou eu não vou conseguir convencer a Maggie de que nós deveríamos tentar fazer isso do jeito do Rick.

—Você não pode pedir isso a ela, não depois do que ele fez com o Glenn.

—Você deu uma chance a Dwight mesmo depois do que ele fez e ele nos ajudou não só a vencer isso, mas ele ajudou você e sua namorada quando vocês mais precisavam.

—Você acha mesmo que Negan nos ajudaria em qualquer coisa se ele pudesse?

—Não, mas eu acho que se você passou por cima do que Dwight fez, você também pode passar por cima disso e dar uma chance à escolha do Rick. -insiste Michonne. -Por favor, Daryl. Vamos tentar fazer isso desse jeito, pelo Carl e eu juro que se isso não funcionar eu mesma falarei com Rick.

—Tanto faz. -me dou por vencido, Rick sempre soube o que fez e se isso for tão importante assim para o garoto então eu ainda não vou me meter. -Pra mim ele já está morto.

—Obrigada, Daryl.

—Mas eu não vou pedir nada a Maggie, o que vocês estão fazendo é cruel com ela.

—Você tem a minha palavra. -diz Michonne e então vai embora.

Pronto. Isso foi o suficiente para que eu ficasse de mal humor. Só a ideia de que Negan está vivo e não está pagando pelo que fez já me deixa com ódio. 

—Conversa ruim? -pergunta Sophie aparecendo na sala de toalha.

—Você estava escutando?

—Não, mas você está fazendo aquela expressão.

—Ela me pediu para não fazer nada.

—Eu acho que não entendi.

—Sobre o Negan, ela quer deixar ele vivo. Pediu isso a mim e vai pedir a Maggie também.

—E você aceitou e agora está com raiva porque não é isso que você quer, mas se comprometeu a não fazer nada?

—Você é boa.

—Eu tenho passado muito tempo com esse homem que é muito bom em ler as pessoas.

—Eu não vou conseguir viver com isso. -desabafo. -Como as coisas vão voltar ao normal desse jeito? Como eu vou conseguir ficar aqui sabendo que Negan está a alguns metros de distância?

—Você não precisa fazer isso.

—Eu já disse a ela que não vou passar por cima do que Rick decidiu.

—Não foi isso que eu quis dizer. -diz ela. -Você não quer que as coisas voltem ao normal? Então vamos embora.

—Embora?

—Sim, quando você aceitou recrutar a ideia era que você fosse comigo e eu sempre fiz viagens mais longas. Vamos fazer isso, eu ficava fora por semanas, mas agora que eu tenho companhia podemos ficar mais tempo se for necessário.

—Acha que recrutar é mesmo uma boa ideia depois do tipo de gente que nós andamos encontrando?

—Bom, acho que nós podemos trazer as pessoas para o nosso lado antes que elas se juntem a pessoas como o Negan.

Isso é algo a se pensar, normalmente eu me sentiria melhor lá fora, mas agora eu vou me sentir bem onde quer que nós formos juntos. Talvez isso também possa me ajudar a resgatar alguma fé nas pessoas.

—E então, Daryl? O que você me diz?