Scorose - Quase sem querer escrita por Aline Lupin


Capítulo 15
Uma notícia inesperada


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, uma boa leitura!



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O frio é intenso lá fora. A neve cobre todo o gramado, parecendo um tapete branco. Observo da minha janela o lago da Lula Gigante, tentando esquecer as últimas notícias que recebi do meu pai. Não posso acreditar que isso realmente aconteceu. Eu pensei que ele havia mudado, mas pelo visto nada mudou. A Segunda Guerra bruxa fora há muito tempo, mas o ódio que os sangues puros tem dos mestiços, trouxas e criaturas mágicas permanece forte. Não imaginava a dimensão desse ódio, nem ao menos passava pela minha cabeça que ainda existisse isso, mesmo sendo velado. Segundo O Profeta Diário daquela manhã, os aurores continuavam as buscas quanto aos suspeitos de um ataque a mestiços e duas famílias trouxas. Meu pai está envolvido no caso. Não sei os detalhes, ainda não obtive notícias concretas da minha mãe. Apenas que ele está preso em Azkaban até seu julgamento ser marcado. O jornal apenas diz que meu pai é responsável pela morte de uma trouxa, no subúrbio de Londres, onde ele foi visto saindo às pressas do local, com dois parceiros nessa empreitada. Não sei se isso é possível, se realmente posso acreditar. Estou fervendo de raiva, estou desgostoso, sem ânimo para as aulas dessa manhã. Sai do café da manhã, em disparado, quando vi o jornal. Meus colegas me fitavam com estranheza, como seu eu soubesse de algo ou como se fizesse parte disso. Detesto ser julgado por um passado que não tem vínculo comigo ou com minhas ações. Não sou isso, não sou um monstro. Mas as vezes penso, será que puxei esse lado negro da família Malfoy, será que posso me tornar isso? Será que serei consumido pela ganancia e pelo poder?

— Scorpius – alguém chama da porta do dormitório.

Vejo Alvo parado, apoiado no batente. Sua expressão é de pesar. Não sei se ele confia em mim, se acredita no que leu. Temo que agora nossa amizade se acabe por ações que não foram tomadas por mim.

— Eu sei que isso não tem nenhuma relação com você – meu amigo diz, lentamente – E acredito que talvez O Profeta Diário esteja errado sobre seu pai.

Estou surpreso. Não imaginava Alvo defender meu pai e acreditar em sua inocência.

— Eu sinceramente não sei o que pensar disso – digo, passando a mão pelos cabelos.

Sento em minha cama, massageando as têmporas. Tudo parece pesado demais, difícil de digerir. Escuto seus passos, aproximando-se de mim. Ele senta na cama em frente à minha.

— Parece difícil acreditar, Scorpius – ele diz, compreensivo – Contudo, devemos acreditar no melhor das pessoas, até que se prove o contrário. E se ele for realmente culpado, precisará de seu apoio e de sua mãe.

Encaro-o, perplexo.

— Eu deveria apoiar um homicida? Acho que não – digo em tom seco.

Seus olhos verdes reluzem uma paciência infinita, algo que não tenho.

— Todos nós somos capazes de fazer coisas horríveis, meu amigo. Todos temos essas tendências. Mas também somos capazes de fazer coisas maravilhosas. Seu pai salvou muitas pessoas dentro daquele hospital. Apoio tantas famílias. Por que simplesmente virar as costas para alguém que tem tanto potencial para fazer algo tão bom pelos outros? Entendo que há pessoas que tem poucas ações boas em suas existências. Além de cometer crimes inimagináveis. Mas se não houver alguém que os apoio e levante, nada mudará.

Permaneço quieto diante de suas palavras. Alvo sempre foi o mais sábio de nós dois, o mais centrado e justo. Não consigo compreende-lo e ser como ele. Não sou assim, estou sempre pronto para acusar ou agir de forma vingativa.

— Alvo, sei que suas palavras têm boas intenções, mas eu não penso como você – digo, tentando ser o mais educado possível. Ele não altera sua expressão, continua paciente – Contudo vou dar o benefício da dúvida ao meu pai.

Alvo suspira.

— Isso é o mais certo. Pois não sabemos o que é verdade. Tenho a impressão de que isso não passa de um mal-entendido e que tudo irá ser esclarecido.

— Espero que sim, Alvo. Não será fácil para minha família ter mais essa mancha. Minha mãe não merece esse estigma e só quero viver minha vida em paz.

Alvo aperta meu ombro, com expressão amigável.

— Não importa o que digam sobre você, eu serei seu amigo em todas essas situações – ele diz.

Fico emocionado, fechando os olhos.

— Vamos para nossas aulas, então? – Ele convida.

Assinto e pego meus materiais. Os alunos estão se dirigindo para as salas de aula e alguns me encarando com ódio, outros com receio. Já estava acostumado com isso, contudo dessa vez era pior. O clima era denso e parecia que a qualquer momento alguém iria me confrontar. Mantive minha cabeça erguida, com orgulho. Não iria me intimidar, como havia acontecido no meu primeiro ano em Hogwarts. Usaria do meu sarcasmo e inteligência para sair de qualquer situação desagradável, sem entrar em uma briga. Já havia problemas demais e ainda estava cumprindo uma detenção devido a Leon. Só de pensar nele, me causava raiva. Éramos muito amigos, mas tudo havia acabado. Não conseguia confiar nele como antes, ainda mais agora que ele resolverá perseguir Rose desde o começo do ano letivo. Faria de tudo para afasta-los, não me importaria com as consequências.

— Malfoy – Jack Tyler, corvino do quarto ano me chamou – É verdade que seu pai anda matando trouxas?

Seus colegas riram com sua pergunta.

— Cuida da sua vida, Tyler – cortou Alvo, me empurrando para continuar andando.

Minhas pernas parecem chumbo depois dessa pergunta. Será que ele seria capaz?

— Não sabe responder sozinho, Malfoy? Precisa do seu namorado? - Tyler continuou a provocar.

Meus ombros se retesam. Paro de caminhar e sinto Alvo me puxar.

— Não dê atenção, só continue andando – meu amigo diz.

Não estou escutando, sinto a raiva me consumindo.

— Seu pai deveria ter sido preso em Azkaban há anos. Ele merecia o beijo de um dementador – Tyler zomba. Ao seu lado, seus amigos concordam, rindo.

Respiro fundo. Tentando me segurar, mas estou andando até ele. Estou jogando ele contra a parede de pedra, com uma mão e com a outra, aponto minha varinha para seu pescoço. Tyler respira fundo, com um olhar surpreso. Seus amigos parecem atentos aos meus movimentos, assustados.

— Fale mais alguma coisa do meu pai e você verá do que sou capaz – ameaço – Você não nos conhece ou sabe o que tivemos que passar. Não tem direito de falar alguma coisa sobre minha família.

Ele continua me encarando, com um olhar assustado. Solto-o com brusquidão. Saio andando, sem olhar para trás. Não quero ver as expressões deles ou demonstrar o quanto eu me sinto amedrontado também. Sou fraco, essa é a verdade. Eu não seria capaz de nada, apenas imponho uma atitude arrogante e forte para que todos pensem que sou isso, mas não sou. Sou fraco e tenho medo que todos um dia possam descobrir minhas fraquezas.

— Espera, Scorpius – pede Alvo. Seus pés batem com força no chão.

Não paro, apenas continuo andando com rapidez, até encontrar a maldita sala de História da Magia. Pensei em pular essa aula, contudo não vou dar esse gostinho para meus inimigos. Continuarei minha rotina, como se nada tivesse acontecido. Entro na sala e vejo que o professor ainda não chegou. Alguns alunos já estão na sala. Hoje será aula conjunta com a Grifinória. Busco uma cabeleira ruiva no fundo da sala e vejo ela. Rose está sentada ao lado de uma colega. Não faço ideia de quem possa ser. Tem cabelos escuros, com uma mecha lateral verde. Ela está com um uniforme da Grifinória. Penso em ir até elas, mas logo mudo de ideia. Não sou uma boa companhia. Procuro uma mesa mais ao fundo, sem olhar para Rose. Alvo entra esbaforido na sala. Ele se recompõe, ajeitando os cabelos negros e a gravata. Caminha decidido até a carteira de Rose.

— Como está minha prima mais linda dessa escola? – ele pergunta, puxando sua mão, plantando um beijo em seu dorso.

Tento segurar o riso, ao ver essa cena.

— Estou bem, Alvo – ela responda, desconfiada – E você?

Ele sorri, enigmático.

— Ótimo – ele responde e se dirige a garota da mecha verde – Poderia apresentar sua bela amiga?

Estou rindo, não consigo me conter. Alvo é sempre assim, logo que vê uma garota bonita, quer conhece-la. Rose olha para trás e me encara com um sorriso. Devolvo com uma piscadela. Ela ruboriza e virá para frente.

— Claro. Meredith, esse é meu primo, Alvo Potter – ela apresenta – Alvo, essa é Meredith Spencer.

Alvo toma a mão de Meredith e planta um beijo demorado no seu dorso.

— Encantado – ele diz, ainda sem soltar sua mão.

— Igualmente – o tom da sua voz é rouco e irônico.

— Nunca a vi pela escola, Meredith – ele diz, soltando sua mão – Você entrou esse ano?

— Sim, fui transferida da Durmstrang – ela responde, sem interesse – Meus pais parecem gostar mais da educação de Hogwarts – ela dá de ombros.

Eles continuam a conversar e não presto mais a atenção. Posso notar que Meredith não parece impressionada com Alvo, parece apenas atura-lo devido a sua amizade com Rose. Rabisco um bilhete para ela. Pergunto se ela acha que Alvo terá alguma chance com sua amiga. Enfeitiço o papel para que ele voe até sua mesa. Ela abre o bilhete e segura o riso. Rabisca algo e o papel volta para mim e formato de pássaro. Ela respondeu que isso seria difícil, já que Meredith é lésbica. Segura a risada e responde que é uma pena, pois Alvo parece realmente apaixonado. Passo o bilhete novamente para ela. Rose sorri e responde. Ela diz que ele logo irá superar essa paixonite, pois Alvo parece se apaixonar com facilidade por qualquer garota bonita. Concordo com ela e pergunto se ela está com o coração livre para se apaixonar. Rose parece meditar sobre minha pergunta. Fico ansioso e me arrependo de ter a pressionado. Apesar de termos confessado nossos sentimentos, nossa relação não parece ter mudado. Ela parece distante quando nos vemos nas rondas. Procuro um tempo para estarmos a sós, contudo, devido a minha detenção, parece algo realmente difícil. Logo o natal chegará e poderei conversar melhor com ela na Toca. Mantenho essa esperança, de que ela queira dar continuidade ao nosso relacionamento. Desejo-a de todo meu coração, porém, tenho medo de expor o que sinto.

Alvo se aproxima da minha carteira, me tirando dos meus devaneios. Ele sente ao meu lado e diz que sente muito pelo que Tyler disse. Eu respondo que ele não precisa se preocupar, que meu jeito valentão vai deixar o garoto de bico fechado. Rimos, mesmo que forçado. Tentamos manter o clima diferente, menos pesado. É fácil estar com Alvo, ele não me julga, apenas me apoia e claro, tenta me aconselhar quando pode. A aula se inicia e Rose não devolve meu bilhete. Sinto meu peito apertar, mas não penso nisso. Serei paciente. Vou esperar o momento certo.

***

Caminho até a sala comunal da Grifinória. Rose havia pedido para que nos encontrássemos e meia hora, no jantar. Ela parece a mesma de sempre. Leve e tranquila. Conversamos um pouco sobre meu pai e Rose parece ter uma opinião parecido com a de Alvo. Ela quer acreditar na inocência dele, coisa que seu próprio filho não consegue. Realmente, estou me esforçando para isso. Quero acreditar, quero estar errado, mas não é algo fácil de assimilar. As provas estão contra ele, infelizmente.

O retrato da Mulher Gorda se abre e Rose aparece. Ela está com seu sobretudo vermelho, que a deixa encantadora. Seus cabelos flamejantes caem sobre seu rosto pálido, molhados. Fico preocupado, pois essa noite o frio é intenso.

— Rose, você não secou seus cabelos? – pergunto.

Ela apenas dá de ombros.

— Muito trabalho para isso – ela responde.

Caminhamos em silêncio. Tento questiona-la sobre o bilhete, mas me contenho. Prometi que não iria pressiona-la e é isso que vou fazer.

— Scorpius, eu estou pensando – ela começa, sem jeito. Encaro seus olhos azuis, esperançoso – Você virá passar o natal conosco, na Toca?

Meu coração erra um passo. Ela está me convidando, mesmo eu tendo sido convidado por Alvo ou estou pensando errado?

— Sim, vou, por que?

Ela fica vermelha.

— Eu não sabia – ela sussurra – Enfim, eu iria convida-lo a ficar com a gente. Avisei minha mãe sobre o que aconteceu com seu pai e o quanto queria que você estivesse conosco. Ela adorou a ideia e comentou de chamar sua mãe.

Engulo seco por sua consideração.

— Não será necessário, Rose – recuso – Ela irá passar o natal com os meus avôs maternos. Ela insistiu para que eu fosse, é claro. Mas quero estar com meus amigos.

Ela sorriu.

— É claro, que bom que vai estar conosco – ela diz, em tom baixo.

Parece incomodada com algo, mas o quê? Puxo sua mão e entramos em uma sala vazia. Ela parece surpresa com minha atitude.

— Há algo incomodando você? – pergunto.

Ela me olha, sem entender.

— Você parece distante esses dias – eu explico, embaraçado.

Rose olha para seus pés.

— Você também parece.

Eu sorrio. Coloco a mão no seu queixo, fazendo com que ela me encare. Seus olhos azuis me devolvem um olhar de incerteza, medo. Quero beija-la, mas apenas digo:

— Rose, não estou distante. Apenas estou respeitando seu espaço. Quero dar o próximo passo agora, mas preciso saber o que você quer.

Ela me fita, surpresa.

— Eu não sei que espécie de pergunta é essa – ela diz, com tom irônico.

Encaro-a, magoado.

— Desculpe, Rose – digo, me afastando – Acho que não estou bom com as palavras hoje. Desculpe se a pressionei.

Ela se aproxima, tocando meu ombro.

— Não me sinto pressionada – ela sussurra – Apenas estou esperando que você tome uma iniciativa quanto a nós. Não sei nem menos se existe nós.

Eu agarro sua cintura, fitando-a com desejo.

— Claro que existe nós – digo – Eu quero que seja oficial isso.

Ela respira fundo. Seus olhos azuis reluzem. Rose parece tão envolvida quanto eu. Tenho certeza que não estou enganado. Ela sente o mesmo. Pelo menos é o que seu coração disparado diz.

— E como faríamos isso? – Pergunta, esperançosa.

Ela morde seus lábios. Tenho vontade de beija-la novamente. Quero toma-la em meus braços, mas primeiro preciso saber se estamos na mesma página.

— Quero que você seja minha – respondo.

Espero sua reação. Rose está com a boca aberta, os olhos arregalados. Será que disse algo errado? Droga, como sou imbecil.

— Eu também quero que você seja meu – ela responde, com dificuldade.

Sorrio, contente. Estou em êxtase. Por um momento pensei que ela não corresponderia aos meus sentimentos. Aproximo minha boca da dela e nossos lábios se tocam com hesitação. Parece uma dança, contudo tentamos prever o passo um do outro. De repente o beijo fica mais intenso, mais confiante. Minha língua acaricia a sua e ela suspira. Sinto o mundo ao redor desaparecer e apenas sinto seu gosto. É de pasta de dente e Rose, apenas isso. Minha Rose. Quero-a tanto que a abraço com força. Ela retribui o gesto e se separa do meu beijo, respirando fundo. Apenas respiramos juntos, um sorrindo para o outro.

— O que quer dizer pertencermos um ao outro? – murmura, de olhos fechados.

Medito sobre isso.

— Significa que somos um casal – respondo – Que somos parte um do outro agora. Mas pertencer é querer estar junto, sem se sentir forçado. Somos livres, mas estamos unidos. Entende o que quero dizer?

— Sim, eu gosto disso – ela diz, beijando meus lábios – Meu namorado.

Eu estou explodindo de felicidade.

— Isso, sou seu – eu digo, beijando seus cabelos – E você é minha.

Permanecemos juntos, abraçados, sem pensar em mais nada. Por um momento acredito que o mundo possa ser um lugar melhor, somente por estar com ela.


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