A Farsa escrita por Linesahh


Capítulo 4
O contra-ataque começa!


Notas iniciais do capítulo

⚠️ Aviso: Esse capítulo contém níveis altíssimos e absurdos de vergonha-alheia. Tome cuidado.

Boa Leitura ♥



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Iwaizumi e Kageyama haviam se encontrado do lado de fora do Ginásio da Aoba Johsai naquela manhã friorenta de sábado. O treino matinal do time da Seijoh já estava perto de começar, portanto, Kageyama não planejava permanecer muito tempo ali. Como de costume, havia ido pegar sua remessa de iogurtes prometidos por Hajime, e já ia guardando as embalagens numa sacola enquanto trocavam algumas saudações murmuradas.

Sem esperar, Kageyama já destacou um dos iogurtes, enterrando o canudo e começando a bebê-lo em goles grandes. De alguma forma, aquela bebida era a única coisa que estava lhe acalmando nos últimos dias, como se fosse uma droga que não conseguia mais parar de ingerir.

Com o canto dos olhos, foi lobrigando os cochichos e olhares que o grande número de reservas da Seijoh lançavam para ele e Iwaizumi enquanto iam entrando no ginásio, surpresos e impressionados por finalmente terem uma das raras visões dos mais novo “casal” juntos. Os últimos a chegar foram Kunimi Akira e Kindaichi Yūtarō, e Kageyama sentiu nitidamente o desconforto que preencheu-os no momento em os olhos deles bateram em si. No instante seguinte, seus dois ex-companheiros de time desviaram o olhar e entraram no ginásio constrangidos, sem ao menos cumprimentar ele ou a Iwaizumi.

Em contrapartida, Kageyama apenas os observou tomando seu iogurte pacificamente. Já estava mais do que acostumado com aquelas atitudes “ariscas” dos dois, visto que ele próprio foi o culpado para as tais existirem.

Voltou a atenção para o mais velho à sua frente.

— Oikawa-san não chegou ainda? — perguntou.

Iwaizumi, que tinha os braços cruzados enquanto o observava degustar de seu iogurte, fez uma expressão cansada ante a menção do nome do capitão, seus olhos fatigados.

Suspirou.

— Ainda não. E é melhor você nem estar aqui quando ele chegar. — comentou com certa advertência. Desviou os olhos, massageando o pescoço tensionado. — Tem sido um inferno nesses últimos dias…

Kageyama apenas o observava em silêncio. Dava pra ver nitidamente que seu ex-veterano estava acabado. Certamente, ele era o que mais estava se sentindo mal com aquela história de “namoro-falso”.

Mas não era pra menos. O próprio Kageyama ainda não sabia o que sentir com tudo aquilo, havendo alguns lapsos de surrealismo com toda aquela história várias vezes nos últimos dias.

Já fazia duas semanas desde que ele e Iwaizumi haviam começado a “namorar”, e ainda que soubesse que tudo não passava de uma mentira, o levantador não conseguia deixar de notar a diferença com que estava sendo tratado e enxergado ao seu redor. Era como se estivesse protagonizando um papel importante numa peça e todos os olhares estivessem lhe acompanhando sem pausas.

Nunca se sentiu tão exposto quanto naqueles últimos dias.

Iwaizumi suspirou de repente, chamando sua atenção.

— Olha, eu estou pensando seriamente em a gente desfazer essa farsa toda. — disse na lata. Seu semblante estava sério e parcialmente decidido.

Kageyama não conseguiu deixar de admirar-se. Cessou a ingestão do iogurte por um momento.

— Sério?

O mais velho assentiu.

— Sim. Foi uma ideia precipitada e infantil, eu errei em me deixar levar pela raiva e pela insistência do Hanamaki. — seus olhos verde-oliva sondaram, então, o rosto interessado do mais novo. Pareciam carregar certa culpa. — Mas, principalmente, me sinto mal por ter te envolvido nessa história toda. — confessou e, como se tivesse lido seus pensamentos anteriores, acrescentou: — Você ficou muito exposto.

Kageyama levou um tempo para digerir tudo aquilo, um pouco desacreditado em pensar que aquela farsa já iria ter seu fim. Sequer esperava uma informação daquelas tão cedo.

E, é claro, achou aquilo uma ótima notícia.

— Por mim, tudo bem. — falou e, sem se conter, soltou com sinceridade: — Fico até mesmo aliviado.

Iwaizumi observou o mais novo com intensidade e relativamente pensativo. Não sabia muito bem como Kageyama estava lidando verdadeiramente com tudo aquilo, pois o levantador não falava muito sobre como estava se sentindo fazendo parte daquela farsa. Aquele “aliviado” foi a única pista que Hajime teve que mostrava que Tobio não estava confortável com tudo aquilo.

No fundo, sentiu-se igualmente aliviado por Kageyama ter apresentado uma emoção mais aparente da indiferença habitual demonstrada nos últimos dias.

Saiu de seus pensamentos com a voz do levantador.

— Iwaizumi-san, posso te fazer uma pergunta? — o garoto deu mais um gole no iogurte.

O mais velho deu de ombros.

— Pode.

Sem tempo para refletir se estaria sendo inconveniente ou não, as palavras saíram da boca de Kageyama inesperadamente:

— Por que você e o Oikawa-san terminaram?

Na mesma hora, a expressão de Iwaizumi mudou. Ficou surpreso e admirado.

— Ah, você não sabe? — Kageyama negou com a cabeça. Hajime, então, sentiu-se desconfortável, e a aura de culpa começou a lhe invadir. Descruzou os braços, incomodado. — Bem, nós terminamos porque eu…

— Hey, Iwaizumi, vamos, o treino já vai começar! — da porta do ginásio, Hanamaki gesticulava para que o vice-capitão fosse logo. Deu um leve aceno para Kageyama. — Yo.

— Ok. — Iwaizumi assentiu, virando-se para o mais novo. — Olhe, fique atento, pois talvez eu te ligue para nos encontrarmos ainda hoje; isso se eu pensar numa boa solução para desfazermos tudo isso. — ele falou baixo para que o colega de time não escutasse. — Fica de olho no telefone, tá?

— Tá. — Kageyama apenas acenou e virou-se para ir embora, carregando seus preciosos iogurtes. À suas costas, conseguiu ouvir nitidamente o comentário zombeteiro do terceiranista Hanamaki “Cara, vocês tão parecendo mesmo namoradinhos cochichando desse jeito…”, recebendo um impaciente “Cala a boca” de Hajime em troca.

Em contrapartida, Tobio foi se afastando do ginásio muito mais leve do que chegara. Se sentia aliviado, de verdade. Finalmente aquela farsa iria acabar e as coisas voltariam a ser como eram antes.

Até que tinha sido bem rápido.

“Finalmente poderei olhá-lo sem peso ou remorso”, a figura baixa e hiperativa de cabelos alaranjados tomou forma em sua retina, e Kageyama sentiu-se tão satisfeito que até permitiu-se comemorar tomando mais um iogurte.

… O único lado ruim é que perderia seus preciosos iogurtes de graça, a única coisa boa vinda de toda aquela ideia maluca.

 

◾◾◾

 

— Daiō-sama, eu não sabia que você fazia parte de um clube de tênis!

O comentário inocente e ingênuo veio do pequeno Hinata Shouyou, que observava a imagem de Oikawa com nítido interesse e admiração.

O mais velho suspirou irritado, revirando os olhos em flagício.

— Mas é claro que eu não faço, Chibi-chan! Isso aqui é só um disfarce. — disse num tom impaciente.

O garotinho moreno ao lado de Oikawa soltou um muxoxo baixo.

— Um disfarce muito ruim, por sinal. — comentou. — Não tem nenhum time de tênis jogando por aqui. — riu, zingrando do levantador da Seijoh.

— Quieto, Takeru-chan! — Oikawa ralhou com o menino, soltando fogo pelas ventas. — Respeite seu tio, e lembre-se que você está aqui para me ajudar, então fique caladinho. — levou o indicador aos lábios.

— Não me mande calar a boca, você não é meu pai! — o garoto cruzou os braços, teimoso.

Com a pequena discussão anunciada, Hinata distraiu-se observando os arredores. Estavam numa praça grande e famosa de Miyagi, quase todo mundo se encontrava ali quando era para fazer alguma confraternização ou praticar algum esporte. Haviam algumas pessoas correndo e passeando, assim como também um grupo de moleques jogando bola ali perto. Aquele sábado estava um pouco frio, e após o treino em Karasuno acabar, Hinata recebeu uma mensagem de Oikawa pedindo-lhe para ir até ali.

Virou-se para o “Grande-Rei”, avaliando sua aparência “distinta” de hoje. Pelo jeito, Oikawa havia comprado um uniforme completo de tênis, de cores creme e caqui, e suas madeixas castanho-vinho, pressionadas pelo boné-aberto cinza, ornamentavam as laterais de seu rosto delicado. Pra completar, ele carregava uma raquete enorme nas mãos.

Como sempre, não havia nenhum pejo para que Oikawa ficasse “ruim” com qualquer visual que escolhesse. Parecia um verdadeiro modelo.

— Hã… por que você me chamou aqui? — finalmente tomou coragem para interromper a discussão de “tio-e-sobrinho”, pigarreando.

Oikawa voltou a atenção para o pequeno ruivo, abrindo um sorriso onifulgente, daqueles capazes de cegar qualquer vítima que fosse o alvo.

— Por que te chamei aqui? Oras, é óbvio: eu tive um plano que, mesmo de última hora, é perfeito!

O tom convencido e agitado de Oikawa não alegrou Hinata nem um pouco, que já sentiu que coisa boa não viria pela frente. Ele e Takeru se entreolharam, cúmplices naquele momento de tensão.

Sem notar os gestos dos outros dois, Oikawa continuou:

— Hoje de manhã, Tobio-chan esteve na Seijoh, e os garotos viram ele conversando com Iwa-chan. Parece que eles combinaram de se encontrar nessa praça quando o treino acabou. — confidenciou tudo como se estivesse manipulando a maior fofoca da história. — Como eu sei que Iwa-chan não foi pra casa, ele deve estar vindo direto pra cá.

Hinata ergueu uma sobrancelha.

— Como você sabe? Você seguiu ele? — ficou impressionado.

O rosto de Oikawa ficou vermelho na mesma hora.

— Claro que não, Chibi-chan! — gesticulou nervoso, balançando a raquete pra todo lado enquanto negava agitado. — Que tipo de pessoa acha que sou? — fez-se ofendido.

— Foi mal. — o alaranjado encolheu-se. O “Grande-Rei” era sempre tão intenso e estressado...

Oikawa suspirou, voltando a sua linha de raciocínio.

— Bem, como sei que a casa do Tobio-chan fica mais perto daqui, ele certamente vai chegar primeiro, e é exatamente essa oportunidade que temos que aproveitar. — frisou.

Os neurônios na cabeça de Hinata, como sempre, não estavam sendo capazes de acompanhar as mirabolantes ideias de Oikawa. Inclinou levemente a cabeça, hesitante.

— Hã… Aproveitar o quê? Qual é o seu plano, afinal? — indagou, por fim.

Oikawa lançou-lhe um sorriso astuto, e fez um gesto simples, como se não tivesse que temer a nada.

— Não se preocupe com nada, Chibi-chan. — sua voz passou uma vã confiança ao mais novo. Piscou. — Você só vai seguir o que eu mandar, vai dar tudo certo. — virou-se para o sobrinho. — Takeru, passe pra cá.

Ele estendeu a mão, e o menino, soltando o ar com irritação, entregou para o tio dois tipos de aparelhos tecnológicos com vários fios presos. Oikawa logo ocupou-se em desenrolá-los.

— O que é isso? — Hinata perguntou interessado, observando, um tanto hesitante e nervoso, Oikawa se aproximando de onde estava.

— São rádios para nos comunicarmos à distância. — respondeu simplesmente, ignorando a surpresa do baixinho. — Espero que essa sua blusa tenha um bolso interno… ah, tem sim, ótimo. — ele colocou o aparelho maior dentro da jaqueta de Hinata e puxou o fio. — Coloque esse fone e esconda com o cabelo. — mandou, ajeitando para que não ficasse nada aparente. Fez o mesmo consigo com o outro “radiozinho”. — Deixe-me ver se está tudo ligado… é, parece que está tudo ok.

— Onde você conseguiu isso? — Hinata estava verdadeiramente interessado no equipamento que nunca tinha visto; ao menos ao vivo. Era como o que os caras dos filmes de detetive usavam! Não sabia que Oikawa era rico…

— Não importa, só não quebre. — o levantador terminou de ajeitar tudo, e nenhum dos rádios ou fones estavam aparecendo. — Olhe, você vai ficar naquele espaço aberto ali, esperando o Tobio-chan chegar, enquanto eu vou ficar escondido atrás das moitas aqui. — ele indicou, primeiro, o local em que Hinata tinha que ir, perto do grupo de garotos que jogavam bola, e depois um monte de mato ali ao lado.

A adrenalina começava a tomar conta de cada poro de Hinata. Sentia-se transpirar por dentro, e seu coração já estava batendo num ritmo acelerado. Estava tudo acontecendo rápido demais, e estava difícil assimilar tudo que Oikawa dizia, principalmente porque estava totalmente no escuro quanto ao plano. O que deveria fazer quando Kageyama aparecesse?

— Daiō-sama… — abriu a boca hesitante.

— Takeru-chan, já sabe o que fazer, certo? — Oikawa o ignorou, parecendo estar totalmente focado no plano, não dando atenção a mais nada.

O garoto mais novo dali deu de ombros.

— Dá o celular, então, tio. — disse entediado.

— O quê? Você não trouxe o seu? — o menino negou com a cabeça, as mãos nos bolsos, e Oikawa soltou um alto resmungo. — Mas que inferno, tome o meu, então. — estendeu-o de má vontade.

O garoto pareceu se animar e afastou-se dali, seguindo para sua posição. Hinata observava tudo apreensivo, sentindo o peso do rádio em seu peito.

— Mas pra que ele precisa do celular?... — tentou perguntar, contudo, o ato foi falho.

— Foca no seu trabalho, Chibi-chan. — Oikawa cortou-o, empurrando-o na direção que tinha que seguir. — Já disse pra não se preocupar, vou dizer exatamente tudo que você tem que fazer na hora.

Hinata assumiu sua “posição”, apenas observando Oikawa escondendo-se atrás dos arbustos. Takeru nem estava mais à vista, com certeza também escondido pela praça.

Sentiu-se sozinho. Totalmente jogado à beira-mar.

… E a única coisa que conseguia pensar era:

“Esse plano vai dar muito errado”.

 

◾◾◾

 

Já fazia dez minutos que Hinata estava esperando ali parado, e nada de Kageyama aparecer. Não havia nem sinal de que o levantador fosse surgir de qualquer canto, e isso estava deixando Hinata ansioso, impaciente e com uma intensa vontade de aliviar a bexiga.

Enquanto esperava, observando as pessoas que caminhavam com suas roupas de ginástica e o time de moleques que jogavam bola num campinho ali ao lado, Hinata ia conversando discretamente com Oikawa por meio do “rádio-de-espião” — como havia batizado —, pois era melhor do que ficar sem fazer absolutamente nada e apenas alimentando sua ansiedade crescente enquanto esperava a chegada de Kageyama — isso além de que possuir a sensação de que Oikawa estava por perto, o acalmava um pouco.

Bem… só um pouco.

— Daiō-sama, acho que isso não vai dar certo. — murmurou, olhando ao redor com preocupação e expectativa. Havia colocado as mãos nos bolsos da jaqueta laranja que usava e soltado mais o corpo, numa tentativa de assumir uma pose um pouco descontraída para não chamar a atenção de ninguém. Por algum motivo, Hinata estava se sentindo cada vez mais como se estivesse num filme de espionagem, e que todos daquela praça, sem exceção, sabiam o que ele estava fazendo. — Não é melhor tentar outro dia?

Um suspiro impaciente veio do fone diretamente para seu cérebro.

— Nem pensar, vai dar tudo certo. — o mais velho, então, franziu o cenho detrás dos arbustos enquanto observava os arredores com nítida atenção à procura de Tobio. — E vem cá, Chibi-chan… por que você fica me chamando toda hora de “Daiō-sama”?

— Bem — Hinata concentrou-se para explicar, aliviado por ser um assunto fácil. —, o Kageyama é o “Rei”, e como ele foi tipo treinado por você, isso te torna o “Grande Rei”, não é? — expôs a lógica.

Oikawa pareceu refletir.

— Hum… meio brega. — disse. — Mas contanto que eu esteja acima do Tobio-chan, pra mim tá ótimo. — mesmo que não pudesse vê-lo, Hinata conseguiu imaginar perfeitamente o provável meio sorriso que o mais velho esboçava, convencido. — Agora pare de falar, Chibi-chan, e preste atenção.

Hinata tentou cumprir com a ordem, contudo, não passaram-se nem trinta segundos com ele em silêncio para que sua voz voltasse a soar novamente:

— Precisamos mesmo fazer isso?

O tom de Oikawa foi um misto de obviedade e confusão:

— Oras, Chibi-chan, não estou entendendo você. Afinal, queremos exatamente a mesma coisa aqui, não é?

Hinata ficou em silêncio. De novo com aquele papo? O que Oikawa estava querendo dizer com aquilo? Já estava ficando intrigante…

Nos arbustos, Oikawa levou o silêncio do ruivo como uma confirmação para suas palavras, satisfeito em ver que o mais novo havia sossegado por enquanto. Seus olhos não paravam de se mover, vislumbrando cada canto daquela praça, consultando o relógio de pulso a cada um minuto, cronometrando cada detalhe de seu plano.

Tobio estava demorando um pouco, mas ainda não era hora de se desesperar. Ele chegaria a qualquer momento, contudo, a única coisa que não podia acontecer era a aparição de Hajime antes disso. Tudo precisava correr exatamente como o planejado, caso contrário, teria que pegar Hinata e Takeru e tentar bolar algo pra outro dia.

De toda forma, Kageyama tinha que aparecer nos próximos cinco minutos, no máximo.

Observou Hinata. O garoto estava totalmente hirsuto parado ao longe, sua mente com certeza estando numa pilha de nervos. Porém, Oikawa não estava preocupado com isso, afinal, era ele quem ditaria todas as ações do baixinho quando a hora chegasse. Não tinha que se preocupar com ele.

“Já o Takeru…”, revirou os olhos, respirando fundo enquanto tentava controlar sua impaciência. Observou o sobrinho há uns dez metros dali, escondido atrás de uma árvore grande. Ele sequer estava prestando atenção ao redor, apenas mexendo em seu celular como se fosse dele próprio…

O que faria quando Tobio chegasse e o moleque não cumprisse com sua parte do plano?

“Ah, Takeru-chan, você vai me pagar se arruinar tudo…”, pensou, fazendo uma expressão tortuosa. O sobrinho com certeza estava jogando algum jogo, e a pergunta que fazia para si mesmo era como diabos ele sabia sua senha. Só esperava que ele não mexesse em suas redes sociais e não visse nenhuma de suas conversas — principalmente as que tinha com Iwaizumi na época em que ainda namoravam…

Sem perceber, soltou um suspiro baixo, sentindo uma fina tristeza invadir-lhe a alma. Quando ainda namoravam…

Oikawa ainda estava tentando assimilar tudo que estava acontecendo naquelas últimas semanas. Desde que Iwaizumi e Kageyama começaram a namorar, tudo parecia estar indo por ladeira abaixo em sua vida. Estava nervoso, inseguro e ansioso, e simplesmente não conseguia se livrar desses sentimentos negativos nem na hora de dormir.

Não conseguia acreditar. Simplesmente não conseguia. Como Iwaizumi foi capaz de fazer algo assim com ele? Entrar num relacionamento com uma das pessoas que Tooru mais desprezava naquele mundo? Estava bravo. Muito bravo. E magoado também. Ouvir os cochichos e as fofocas sobre o novo “casalzinho” todo santo dia na Seijoh o estava matando por dentro. Era humilhante. E Oikawa não sabia lidar com a humilhação.

No fundo de seu coração, tudo que mais queria era que aquela palhaçada ridícula terminasse e que ele e Iwaizumi…

“Não, não vou pensar isso”, brigou consigo mesmo. “Fui eu que terminei com ele, e com certeza não me arrependo!”.

Bem… talvez um pouco. Mas nunca iria ferir seu orgulho abjurando sua crença de antes. Seria como se traísse a si mesmo.

De repente, foi despertado pela voz de Hinata.

— Daiō-sama, posso te fazer uma pergunta?

Oikawa varreu os olhos pela praça rapidamente antes de ver que estava tudo limpo ainda.

— Hum, pode sim. Mas rápido. — acrescentou.

— Por que você e o Iwaizumi-san terminaram?

Algo estalou na cabeça de Oikawa, que voltou toda a sua atenção para a conversa, esquecendo até mesmo do plano por um segundo.

Sentia-se triunfante.

— Ótima pergunta, Chibi-chan! — elogiou. — Eu faço questão de relatar tudo que o Iwa-chan fez comigo detalhadamente. — lambeu os lábios em deleite. Nada seria melhor do que extravasar aquela raiva e insegurança falando mal de Iwaizumi. Era uma ótima pedida. Começou a narrativa: — Então, foi o seguinte: tudo começou quando…

Sua voz morreu. Ao longe, viu uma figura que se aproximava, indo na exata direção de Hinata.

Era a hora.

— É ele, Chibi-chan! — exclamou, elétrico. — O Tobio-chan está vindo! Disfarce!

Hinata entrou em pânico. Seu coração parou por um momento; suas mãos tensas e a garganta seca. Internamente eufórico, observou a imagem alta e imponente de Kageyama se aproximando, ainda vestindo o uniforme preto de Karasuno.

Ele realmente havia vindo.

Oikawa, por outro lado, apenas olhou para Takeru e, como previu antes, o moleque não estava prestando atenção na chegada de Tobio. Sem tempo para pensar, jogou uma pedra média com toda força na direção dele, que acertou-o bem na cachola. “Mexa-se!”, bradou sem emitir som.

Para sua alegria, o moleque obedeceu.

Kageyama estava cada vez mais próximo de Hinata e, obviamente, ele foi ao seu encontro ao vê-lo ao longe. Logo, encontravam-se vis-à-vis, com Hinata esforçando-se para sustentar aqueles olhos azuis intensos e impetuosos sobre os seus.

— Hinata? — ele franziu o cenho, confuso em vê-lo ali parado como uma estátua no meio da praça. — O que está fazendo aqui? Tá me seguindo, por acaso? — desconfiou.

Por um momento, a mente de Hinata pifou, e ele sentiu-se incapaz de pronunciar uma sílaba que fosse sem parecer um garotinho do primário que mal sabia ler ou escrever.

— Errr… Ka-Kageyama, não, eu… — a vermelhidão ia assumindo cada vez mais potência em suas faces, e Hinata tinha vontade de sair correndo dali. — Eu só tava passando, e…

De repente, a voz de Oikawa surgiu em sua cabeça, encobrindo seus pensamentos céleres e desesperados.

— Chibi-chan, fique calmo. — mandou em tom brando. — Já disse que não precisa se preocupar, apenas repita tudo o que eu digo: — deu uma pausa. — “Eu queria falar com você, Tobio-chan”. — disse lentamente.

Como um robô, Hinata repetiu:

— Eu queria falar com você, Tob… Kageyama. — consertou rápido.

O levantador ergueu uma sobrancelha, avaliando a imagem nervosa de Hinata.

— Ah, é? Sobre o quê? — indagou.

— Sobre o quê? — Hinata sussurrou a pergunta em direção ao ombro. Kageyama franziu ainda mais o cenho, estranhando sua atitude curiosa, enquanto um alto suspiro irritado de Oikawa soou do outro lado.

 Não fique falando comigo, só me escute, ou ele vai pensar que você é louco! — ralhou, em seguida, respirando fundo. — Preste atenção e repita: “Quero falar sobre o seu namoro com o Iwaizumi…”

— … Quero falar sobre o seu namoro com o Iwaizumi-san… — Hinata repetiu, lentamente.

— “… E o quanto ele me deixou triste”. — Oikawa acrescentou.

— … E o quanto ele me… peraí, deixou? — Hinata confundiu-se, questionando, com o cenho franzido, a frase. Ouviu Oikawa praguejar novamente, dessa vez parecendo ficar bem bravo.

— Só repita o que eu digo, caramba! — gritou, a potência do fone quase deixando o alaranjado surdo.

— Hinata, eu não tô entendendo o que você está querendo dizer. — à sua frente, Kageyama parecia estar começando a ficar impaciente, o olhar cada vez mais severo pregado em si.

O cérebro de Hinata começava a entrar em pane. Era demais para sua mente processar, tinha que prestar atenção em Oikawa e Kageyama ao mesmo tempo, e estava começando a enlouquecer.

A voz de Oikawa fez-se presente, tomando o controle da situação:

 Chibi-chan — disse entredentes. — Repita comigo: “Desde que nos conhecemos, você se tornou uma pessoa importante na minha vida…”

— Desde que nos conhecemos… — Hinata repassou a frase mentalmente. Não tinha nada de estranho nela, né? — Você se tornou uma pessoa… importante na minha vida. — o tom hesitante em sua voz não passou despercebido.

— “E de uns tempos pra cá, venho sentindo coisas que não sabia o que eram”. — Oikawa continuou.

Hinata repetiu a frase, mas, dessa vez, gaguejando e começando a estranhar deveras o rumo daquela conversa. O que o Daiō-sama estava planejando?

— … v-venho sentindo... c-coisas que não sabia o que eram. — fez força para terminar, vendo o olhar atento de Kageyama em seu rosto. Ele parecia prestar nítida atenção em suas palavras.

Oikawa continuou:

 “A verdade é que eu descobri que esse sentimento é algo muito mais forte do que eu pensava, e que você…”

Hinata abriu a boca algumas vezes, quase desistindo de falar, mas mesmo assim o fez, ainda que extremamente tenso:

— D-Descobri que... esse s-sentimento é mais forte do que achava, e que…

A voz de Oikawa, enfim, pronunciou as últimas palavras, baixa e lenta:

— “... E que você é tudo que eu mais quero pra mim”.

Deu-se o estopim. Hinata não conseguiu se conter: virou-se de costas e sussurrou, rente ao fone, com desespero:

 Daiō-sama, o que é isso?! — questionou, abismado, o coração pulando em seu peito, parecendo quase querer sair pra fora. — Eu não vou dizer essas coisas, não faz o menor sentido! — sua voz ia afinando a cada palavra, aflita.

 Seu idiota! Termina de falar! — Oikawa urrou.

Kageyama, por outro lado, já estava por um fio de perder a paciência.

— Hinata — disse com dureza. —, você está fazendo alguma brincadeira comigo? Por que se for, vou te esfolar. — ameaçou, a expressão totalmente fechada e os olhos azuis fulminando-o.

Hinata virou-se rapidamente, gesticulando em movimentos negativos.

 Não, não! Eu não tô brincando não, é que… é que… — embolou-se todo, buscando reverter aquela situação terrível de alguma forma.

“Mas que merda...”, Oikawa pendeu a cabeça para trás, suspirando longamente. Havia sido um fracasso. Hinata não iria lhe ajudar. Foi tolo em pensar que tudo sairia exatamente como o planejado e que não tinha que se preocupar com ele.

“Sendo assim…”, Tooru tinha esperanças de fazer uma última tentativa que fosse, quando, de repente, seus olhos foram guiados para a imagem de Iwaizumi chegando ao longe...

… E, com isso, a ideia perfeita veio à sua mente.

— Chibi-chan. — pronunciou, sério e direto. — Beije ele.

Hinata, que ainda tentava se explicar para Kageyama, pensou ter ouvido errado as palavras do “Grande-Rei”.

— O quê?

 Beije ele, AGORA! — Oikawa gritou.

Hinata paralisou. Sentiu todo o ar sair de seus pulmões e a mente parar de funcionar por definitivo, apenas ouvindo a voz alterada de Oikawa mandando-lhe fazer aquilo repetidas vezes enquanto Kageyama questionava o que diabos havia com ele, cada vez mais irritado.

Não conseguia mover um músculo.

Era um pesadelo.

… Foi quando, de repente, um grito infantil ecoou a sua esquerda:

— Hey, cuidado!

Tum!

De um segundo para o outro, Hinata sentiu-se sendo violentamente empurrado para trás e, quando deu por si, já estava no chão. O impacto em sua nuca foi grande, e ficou grogue e zonzo na mesma hora, sentindo sua mente zunir e o centro de sua testa doer como o inferno. Havia um peso grande acima de seu corpo, e só então Hinata percebeu que Kageyama estava acima dele, também tendo sofrido a queda. O levantador havia batido o queixo com tudo em sua testa — isso explicava a dor horrível que sentia vindo dela —, e o rosto de Hinata estava sendo pressionado pelo pescoço dele.

— Ai… — gemeu abafado, sentindo toda a cabeça explodir de dor. Ainda encontrava-se zonzo e desnorteado demais pela queda, e não conseguia distinguir bem o que estava acontecendo ao redor. Ouviu a voz de um molequinho se desculpando, trêmula, logo ao lado:

— Desculpe, moço, o meu amigo chutou a bola muito forte…

Kageyama ergueu-se de cima do tronco pequeno de Hinata, sentando-se no chão e massageando o queixo dolorido.

— Seus imbecis, não sabem chutar uma mísera bola? — reclamou em tom grosso e irritado.

— D-Desculpe! — os meninos pegaram a bola e saíram dali correndo.

Hinata continuava tonto. Sentia-se muito mal, as mãos cobrindo seus olhos enquanto tentava suportar a dor avassaladora em sua testa. Kageyama tinha um queixo extremamente duro…

Sem perceber, sentiu a aproximação de Kageyama, que se debruçou um pouco sobre ele, tocando em seu ombro.

— Hinata, você está bem?

Tentou dizer um “sim”, mas sua voz saiu mais como um “xin”.

— Está sentindo muita dor? — o levantador parecia estar preocupado de verdade, puxando-o pelo braço. — Deixe eu te ajudar…

— Atrapalho?

Hinata gelou. Retirando as mãos de cima dos olhos, direcionou-os para o lado, querendo ver o autor daquela voz séria e grossa…

E ali estava ele. O namorado de Kageyama.

Iwaizumi Hajime.

Sem saber como conseguiu tal proeza, Hinata ergueu-se num pulo, afastando-se de Kageyama. Para ele, a imagem de Iwaizumi estava super-assustadora, com seus olhos verde-oliva avaliando todo o cenário atentamente.

Sua voz saiu num gaguejo fino:

— E-Eu tô bem, mais do que bem, super bem!... — exclamou, tomado pelo nervosismo. — Err… Tchau, Kageyama, nos vemos nos treinos! — acenou e meteu o pé dali, seu rosto totalmente em chamas conforme se afastava daqueles dois.

Nunca teve tanta vontade de morrer em toda sua vida.

Hinata saiu de lá tão rápido que não conseguiu perceber um quê de divertimento na expressão de Iwaizumi, que parecia tentar entender o que havia se passado ali. O pequeno andou sem olhar para trás, e já estava quase na saída da praça quando sentiu alguém tocar em seu ombro.

— Hey, Chibi-chan, bom trabalho! — Oikawa e Takeru estavam ali, o mais velho carregando um largo sorriso reluzente e a raquete de tênis apoiada preguiçosamente em seu ombro. — Se saiu melhor do que eu esperava. — elogiou.

Hinata estava tão atordoado com tudo que havia acontecido nos últimos minutos que até mesmo tinha esquecido da existência daqueles dois. Não conseguiu responder absolutamente nada.

Oikawa, sem sequer notar a lamentável situação do alaranjado, voltou-se para Takeru.

— Gravou tudo, né?

O menino acenou, entediado e revirando os olhos.

— Sim. — respondeu de má vontade. — Agora me dá o dinheiro que prometeu. — exigiu.

— Te dou quando chegarmos em casa. — Oikawa falou naturalmente, parecendo estar muito satisfeito. Piscou para Hinata dando-lhe umas “batidinhas-camaradas” no ombro antes de retirar o rádio e os fones do alaranjado, guardando-os. — Obrigado pela ajuda, Chibi-chan. Foi muito útil pra mim.

Com isso, ele pegou o sobrinho e saiu dali.

Hinata, sentindo-se um zumbi, apenas disse um “até” sem emoção e virou-se, indo embora.

Sentia-se um trapo. A cabeça ainda doía como nunca, sua roupa estava toda suja de grama e barro, e sua dignidade havia sido totalmente tacada no ralo.

Hinata Shouyou nunca se sentiu tão mal.

 

◾◾◾

 

Naquela noite, na residência dos Oikawa, Tooru e seu sobrinho, Takeru, estavam no quarto do mais velho, com o levantador pendurado no computador. Havia acabado de editar e arrumar toda a gravação da praça, e o resultado havia sido muito melhor do que esperava.

"Confesso que um beijo teria sido bom, mas isso me saiu ainda melhor”, refletiu enquanto dava play no vídeo várias vezes, atento a alguma falha.

“Agora só falta o título…”, pensou e, após se decidir, virou-se para a imagem de um Takeru jogado em sua cama enquanto mexia no celular.

— Takeru-chan, diga o que acha desse título. — chamou-o. O menino suspirou, escorregando do colchão para o chão, e colocando-se ao seu lado. — Está bom?

O garoto passou os olhos pelo texto. Em seguida, lançou um olhar entediado para o tio.

— Não é só você que chama esse tal de Kageyama de “Tobio-chan”? Todo mundo vai saber. — disse num tom de “você é muito burro”.

Oikawa se desesperou.

— Minha nossa, é mesmo! Ainda bem que você me avisou… — tratou de consertar rápido, respirando aliviado ao ver que, agora, estava tudo certo.

Sorriu. Estava pronto para ser lançado ao mundo.


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Notas finais do capítulo

Antes que vocês comecem a nos xingar nos comentários, só digo uma coisa: não nos odeiem, odeiem o OIKAWA. Beijos e até logo

Ps. O próximo capítulo vai se chamar: “Beijo?”.

Vamos brincar? Vou usar a hashtag #OBeijoÉEntre e vocês colocam os nomes de quem vocês acham que vai se beijar, ok? Até!



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