Dinastia 2: A Coroa de Espinhos escrita por Isabelle Soares


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas estou de volta. Me senti um pouco desmotivada com relação aos poucos comentários que essa finc anda recebendo, mas por aqueles que resolveram dar um voto de confiança e acompanhar, estou aqui com mais um capítulo.



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Janeiro de 2044

Bella digitava rapidamente em seu notebook e sorria cada vez que escrevia uma frase coerente no projeto que ela estava desenvolvendo. Há dias uma ideia vinha e voltava em sua mente. Algo que ela queria fazer a um tempo, mas finalmente os meios estavam se firmando. Até que essa noite resolveu sentar e escrever tudo que estava em sua cabeça.

Há muito tempo, ela tinha conseguido consolidar quase todos os seus objetivos dentro do Talk. Tinha ajudado tantas pessoas com os seus problemas de depressão, bulemia e tantos outros problemas psicológicos. Ela se orgulhava por ter conseguido que aprovassem projetos que incentivassem mais empatia nas escolas, mais psicólogos disponíveis, o investimento em pesquisas e formas de tratamento dessas doenças. Era muita felicidade saber que ela ajudou as pessoas a entenderem esses conflitos gerados pela mente como uma doença que tem tratamento e não como uma bobagem que deveria ser ignorada.

Bella sentia que tinha cumprido a sua missão quando prometeu a si mesma que daria a sua vida pelo Talk. Tinha jurado a Edward e a si mesma que iria levar muito a sério a sua promessa de fazerem as pessoas entenderem e combaterem essas doenças psicológicas. Principalmente pelo fato de esse assunto ser tão próximo a ela. Quantas vezes teve que se segurar para não se jogar na insanidade desde que entrara para a família real? Sua vida tinha dado uma cambalhota total! De repente aquela garota reservada, que passara sua adolescência inteira com o nariz nos livros, vivendo num universo completamente diferente do que era vivido por outros jovens lá fora, tinha virado a mulher mais fotografada do país. Uma fama que não a deixou menos alienígena com relação ao restante da população nacional.

Porém, o projeto do Talk tinha sido idealizado mais pensando em Edward do que nela mesma. Queria tentar ajudá-lo a se curar de sua própria personalidade retraída e insegura. Mesmo já casados e com longos tratamentos com o psicólogo, Edward tinha a suas crises de depressão, mais leves do que já tivera antes, mas ainda assim o “monstro” ainda estava lá. Ela tinha doado a vida dela por esse homem e sabia que tinha o ajudado a torná-lo mais forte. O Talk poderia fazer o mesmo com os outros e através deles podiam chegar a si mesmos.

Mas agora, depois de mais de 30 anos o desenvolvendo, a duquesa achava que o Talk deveria ganhar rumos diferenciados, talvez até maiores. Por que não conversar com alguém da comunidade LGBTQUIA+, soropositivos ou com ativistas das comunidades carentes? Com certeza muitos dos problemas deles poderiam ter uma solução com a ajuda de um projeto da importância do Talk e ela se sentiria muito mais satisfeita se pudesse ajudar ainda mais.

Foi pensando nisso que ela resolveu criar um projeto associado ao Talk para ajudar outros tipos de pessoas e esperava sinceramente que dessa vez a cúpula da monarquia o aprovassem.

Quando colocou o último ponto final no que estava escrevendo, sentiu os lábios de Edward tocarem o seu pescoço. Imediatamente sentiu a sua pele se arrepiar e o seu corpo esquentar. Ela levantou as mãos e alcançou os cabelos de seu marido. Começou a acariciar os fios cor de bronze e sentir o quão sedosos eles eram. Edward tomou a sua boca e a beijou com ardor. Só Deus sabia o quanto ela tinha sentindo a falta dele nesses últimos dias. Será que seria sempre assim quando ele se tornasse rei?

— Senti sua falta! – afirmou. – Achei que teria que lutar para tirar você e a nossa filha daquele escritório.

— Eu também senti a sua falta, mas o trabalho me chama e só me resta atendê-lo.

— Você está cada vez mais perto do trono...

— É verdade. Mas não é algo que realmente acho maravilhoso. Quero que o papai viva por muitos anos.

Claro! Pensou Bella. Ninguém pensava que a sua vez no trono poderia chegar tão cedo. Mas a duquesa sabia que as pessoas não eram eternas. Carlisle já estava com quase 90 anos e um dia o seu dia chegaria.

— Edward, você já parou para pensar sobre o futuro? – perguntou.

Edward olhou para ela com estranheza e serviu-se de um pouco de vinho.

— Como assim?

— Quando você tiver o controle do país em suas mãos não te faz pensar no que você poderia  mudar para melhor na vida das pessoas?

— É um bom questionamento, querida. – falou Edward enquanto se sentava ao lado da esposa. – Eu fui por tantos anos o príncipe herdeiro, o primeiro na fila de espera, que nunca parei para pensar o que eu faria quando me tornasse o chefe do país.

— Pois eu acho que é algo que deve pensar. Acho que tem tanta coisa que precisa ser mudada. Tantas pessoas que são simplesmente ignoradas pelo sistema e até mesmo por nós. Eu acredito que está na hora de estendermos mais as nossas mãos, chegar mais perto do nosso povo.

— É disso que se trata o projeto que está escrevendo?

— É. Eu resolvi aumentar o alcance do Talk. Eu quero atender pessoas que geralmente não estão inclusas nos projetos até da própria família real.

— Ual! É algo grande então?

— Sim. Por que não?

— E eu posso dar uma olhada?

— Claro.

Bella entregou o notebook para Edward e aguardou que ele lesse o que tinha escrito. Ficava olhando cada reação que ele dava e ás vezes corava quando o olhar do seu esposo desviava da leitura e atingia os olhos dela. Quando a cabeça dele levantou e ele a entregou o notebook de volta, sabia pela expressão dele que a resposta não seria como ela estava esperando.

— Eu já lhe disse que eu tenho muito orgulho de você, amor?

— Algumas vezes... Estou merecendo agora?

— Bella, você é boa! Talvez a pessoa mais generosa e empática que eu já conheci. Você é capaz de sair da sua zona de conforto se percebesse que alguém precisa de ajuda. Se eu pudesse, eu seria capaz de te dar o mundo para que você o fizesse um lugar melhor para todos.

— Mas...

— Mas você sabe que esse projeto não vai ser aprovado.

Bella deu um suspiro chateado. No fundo, ela sabia que poderia não ter chance novamente com essa nova proposta, mas ouvir Edward falar com todas as letras que não ia acontecer, doía mais.

— Eu sei, meu anjo, que isso pode ser desapontador, mas estou sendo sincero. Por mais que eu quisesse te dar esse prazer ou o mesmo o meu pai, você sabe que nós não governamos sozinhos. Somos dependentes do primeiro ministro e dos tantos parlamentares que existem.

— Você sabe que o problema não é só esse, Edward. As pessoas que trabalham para esse palácio é que são medrosos e conservadores demais para deixar que a gente faça qualquer coisa.

— Meu amor, eles são pagos para proteger a instituição de qualquer risco. Você sabe bem que não podemos nos envolver em questões que estão em pauta politicamente, não podemos nos envolver em polêmicas. Há certos limites que nunca poderemos passar.

— É aí que mora o problema! A monarquia anda cada vez mais distante da realidade das pessoas ultimamente. Eu sei que muita coisa boa já foi feita, mas a gente não pode parar no tempo. As pessoas não desejam mais que apenas sorrirmos para elas ou cortarmos fitas em inaugurações, elas querem que atendamos os seus desejos. Temos que desafiar as expectativas se quisermos sobreviver por mais alguns anos.

— Eu entendo o seu posto de vista, meu amor. Mas, infelizmente, nem tudo é exatamente como a gente quer.

Bella assentiu, mas não desistiu, já tinha feito muito isso antes. Se deixou levar pelo momento e quando estava nos braços do marido pensou em quantas vezes preferiu calar, para não prejudicá-lo de alguma forma. Sua cabeça só era Edward e tentou, na época, fazer tudo que lhe mandavam para que sua trajetória em sua nova vida desse certo. Tantas vezes viu coisas que gostaria de mudar, mas ficou quieta e bancou a submissa para que não a fuzilassem da vida de seu marido. Hoje ela sabia que haviam muitos dentro do palácio que seriam capazes de fazer isso. Era o seu casamento que estava em jogo, era a sua estadia com a sua filha que estava sendo colocado a prova. Mas um espírito revolto não podia deixar-se calar por muito tempo. No dia seguinte iria levar o seu projeto para o escritório e lutaria para que ele fosse aprovado. Não estava tentada a desistir como fez das outras vezes e assim o fez.

Entretanto, sete dias se passaram para que ela obtivesse alguma resposta. Foi Emily Rosemberg, sua secretária pessoal, que lhe trouxe a notícia. Ela estava com o seu projeto impresso com um enorme risco vermelho na capa que a dizia que ela tinha sido censurada novamente. Bella passou a língua nos dentes e lutou para não chorar. A sua decepção era grande demais.

— Eu sinto muito, senhora.

— Qual o problema dessas pessoas? – falou com a voz estremecida.

— Sinceramente, alteza, ainda esperava que dessa vez fosse diferente?

— Eu esperava que essas pessoas criassem juízo e deixassem a pompa de lado para fazer o que realmente é certo! – Bella falou com um tom alterado.

Emily apenas se sentou e esperou que sua patroa parasse de andar de um lado para o outro. Lamentava muito que não pudesse fazer nada para ajudá-la.

— Eu ainda vou ver essa instituição ruir nas mãos do seu próprio povo.

— Alteza, se me permite sugerir... Por que não muda a dieta um pouco? Trabalha em projetos diferentes... Algo para animais, ou o meio ambiente, por exemplo. O príncipe Edward já faz tão bem isso.

— Enquanto existirem pessoas com problemas, Emily, os animais vão ter que esperar.

Emily ficou sem resposta. Achava que Bella tinha boas intenções, mas também achava que ela se arriscava demais. Por anos a instituição monárquica sobreviveu com base nas regras e na proteção que lhe foi dada. Poderia a duquesa saber mais do que aqueles que por anos trabalharam para o crescimento da realeza? Achava que ela estava avaliando mal as coisas e temia as consequências disso. Bella podia estar se dando muita importância diante de um sistema antigo por um formato que talvez ela ainda não compreendesse direito. Ninguém podia medir forças com ele.

Mas Emily resolveu ficar em silêncio dessa vez e observar Bella sair afoita da sala. A duquesa se sentia desprezada e colocada de lado pelos seus ideais. Mas ela não podia admitir que o que aconteceu se repetisse mais uma vez. Teria que falar com alguém que realmente podia fazer alguma coisa. Carlisle teria que ouvi-la.

Ao caminhar em direção ao escritório do rei para pedir uma audiência com ele, acabou esbarrando em sua sogra que a olhava com certa preocupação.

— Bella, o que houve? Você parece agitada.

— Preciso falar com Carlisle sobre algo muito importante.

— Não pode falar comigo?

— Posso sim.

— Ah! Então vamos até a minha sala. Acho que posso lhe ajudar no que precisar.

Bella seguiu a sogra pelas escadarias até chegar à tão conhecida sala da rainha, onde estivera tantas vezes. Ao entrar, Esme já apontou para o estofado para que sua nora se sentasse e pediu um chá para ambas. Pela cara de Bella, a conversa seria longa e estava preparada para o que ouviria.

Quando o chá foi trazido, Esme serviu ambas e Bella a observava atentamente. Era incrível a sensualidade e a jovialidade de sua sogra. Ela parecia tão segura de si mesma. Era como se nada a afetasse realmente.

— Então, querida, o que lhe incomoda?

Bella respirou fundo e colocou o projeto negado em cima da mesinha de centro em frente à Esme. A rainha sabia bem o que estava acontecendo e esperava acalmar as coisas com Bella antes que tudo pudesse sair do controle.

— Algo está acontecendo Esme e eu não estou entendendo. Por várias vezes eu tive alguns projetos desaprovados pela cúpula do palácio sem nem ao menos ter alguma explicação ou chance. Acho que provavelmente eles devem ter alguma coisa contra mim.

— Não é nada disso, querida, não pense isso. Eu não sei o que se trata esse projeto que está na minha frente, mas os outros eu sou capaz de entender por que foram rejeitados.

— Por que causam polêmicas?

— Sim. Eu sei que você deve saber muito bem o que está acontecendo e quero que compreenda como as coisas funcionam por aqui. A monarquia é uma instituição muito antiga, porém, apesar dela parecer bastante forte e segura por causa desses fortes muros que nos sustentam, tudo é muito frágil. Basta uma palavra ou um gesto para que tudo isso desabe sobre a nossa cabeça. Por isso, que temos todos esses secretários, advogados, assessores que formam a cúpula que trabalha para o palácio. A intenção deles não é ruim, mas de fazer com que tudo transcorra bem para a nossa própria proteção e sobrevivência. Imagina se pudéssemos fazer tudo que quisermos, hum?

— Mas ainda acho que alguma coisa errada está acontecendo. Rosalie sempre participou de campanhas muito polêmicas aos olhos da alta cúpula. Até mesmo Carlisle sempre foi muito a favor de mudanças, mas não consigo entender por que esse tratamento comigo.

— Não é nada pessoal, acredite. Você se lembra do que lhe falei assim que se casou com o meu filho?

— Que eu trabalhasse sempre em conjunto com Edward e que um não se sobressaísse o outro.

— Que você saiba o lugar que você ocupa e que você, assim como eu e todos nós, somos apenas mais uma peça nessa grande jogo de xadrez. Como uma família, temos que trabalhar juntos para vencer a partida e para que isso aconteça temos que saber como nos mover corretamente no tabuleiro.

— Está me dizendo que eu estou agindo errado?

— Não, absolutamente. Você se saiu muito bem esses anos todos. Apenas peço que tenha calma e que entenda que diferente de Rosalie, você será um dia a rainha consorte desse país. Você tem que chegar ao trono intacta, livre de polêmicas e aclamada como deve ser. Rosalie pode a qualquer momento se desvincular de tudo isso aqui. Ela nem tem obrigação de servir a monarquia, ela assim o faz por vontade própria.

— Esme, você não acha que diante de tudo que está acontecendo, não devemos mudar a estratégia. Nos aproximarmos mais das pessoas, principalmente daquelas que são mais excluídas da sociedade.

— Bella, eu entendo o que quer fazer. Acredite, eu também quis fazer muitas mudanças quando eu entrei e até consegui algumas. Mas existem coisas que devem permanecer como está. Eu vivia criticando a minha sogra por ela ser tão pequena de pensamento, por controlar tanto as coisas. Mas só quando me tornei rainha é que pude entender que ela não estava errada em tudo.

— Então, devemos apenas ficarmos calados diante de tudo de ruim que está acontecendo e o que está para acontecer?

— Temos que saber a hora e como falar. Você pode apoiar todas essas classes que deseja. Mas contanto que não chegue a se envolver em questões políticas. Temos que permanecer na neutralidade para o nosso próprio bem. Qualquer coisa que disser ou fizer no momento pode ser interpretado de outra forma. Espere a poeira baixar um pouco, hum?

Mas não era isso que Bella queria. Sabia que não podia trabalhar no que pretendia com o apoio da família. Tinha que fazer tudo sozinha. Por isso tomou a decisão que veio em sua cabeça. Uma decisão que mudaria sua vida e ela estava bem certa disso, mas que pagaria pelo que viesse.


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Notas finais do capítulo

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