Após um rápido checkup, Wanda Maximoff estava sentada na beirada da calçada em frente ao hospital. Havia bancos vazios, mas, por algum motivo, ela preferiu o chão de pedras cuidadosamente ajeitadas uma ao lado da outra. Em sua frente, Visão, com o tradicional disfarce humano, caminhava de um lado para o outro, aflito enquanto falava palavras inaudíveis.

— Vizh. – Wanda calmamente o chamou, ainda olhando para o chão. – Você quer por favor parar de andar de um lado para o outro?

— Claro, Wanda, desculpe. – Visão subitamente parou e ficou quieto.

Wanda suspirou pesadamente, mexendo os pés rapidamente. Possuía os mesmos medos que Visão; passado o êxtase, vinha o medo. Fugir com uma criança seria difícil, mas duas...? Apoiando um cotovelo sobre a coxa, e colocando o rosto sobre uma das mãos, ela arqueou as sobrancelhas, um beicinho formado em seu lábio inferior; e, buscando deixá-la um pouco melhor, Visão sentou-se ao seu lado.

— O que está te deixando tão tristinha, minha querida? – Perguntou, passando um braço ao redor de seu ombro.

Wanda pensou em enumerar todos os pensamentos de preocupação com o bem-estar dessas crianças, com o amor que sentia misturado com o medo do futuro. Ela havia feito o pré-natal que tanto precisava, e eram dois bebês humanos saudáveis em sua barriga. Os pequenos Thomas e William. Agora, poderiam decorar o quarto com berços e cadeirinhas, mamadeiras e pratinhos, tudo em dobro. Apesar da excitação, ela tinha medo do parto, se fosse ocorrer em um lugar afastado; de ainda não saber as origens daquela gravidez; e, no fundo, sabia que Visão sentia o mesmo. Contudo, no calor de seu abraço, era difícil pensar em tantas coisas ruins, e ela se limitou a reduzir a sua tristeza em uma única frase:

— Queria poder contar ao Pietro.

Pietro. O motivo de suas primeiras conversas na Base. O gêmeo de Wanda que Visão rapidamente conhecera antes dele morrer de maneira heroica. Segundo os seus estudos de genética, as chances de Wanda estar grávida de gêmeos eram altíssimas devido à sua propensão por ser uma gêmea. Mas ela havia ficado. Sobrado. Visão apertou seu braço e trouxe o rosto da amada para perto de seu peito; ao menos, poderia trazer um pouco de conforto com um abraço.

Até que ele abriu a boca para falar algo inesperado:

— Mas você pode contar ao Pietro.

Wanda arregalou os olhos e se desprendeu do abraço para encará-lo, incrédula.

— Como assim?

— Você teve a visão do Pietro durante a meditação há algumas semanas. Lembra? – Ela afirmou lentamente com a cabeça. – É possível que você consiga tentar de novo.

Os olhos dela estavam confusos. Dava para notar. Por isso, com a paciência e a delicadeza a ele inerentes, Visão esticou as mãos para tentar demonstrar suas ideias para Wanda.

— Suponhamos que isso seja um quebra cabeça. – Ele delimitou o espaço usando os dedos esticados. – Você vê as peças embaralhadas, e sua única ideia de como montar está no desenho da caixa.

Wanda o encarou com o canto dos olhos.

— Eu tinha muito tempo livre na Base. – Visão deu de ombros. – Enfim. Você nota que há uma ideia principal, e temos algo embaralhado para chegar nesta ideia? É só adaptar isso na nossa situação.

— Então, a ideia seria a gravidez... Certo?

— Isso. A ideia é a gravidez na plenitude, da concepção até o parto. As peças são o que precisamos encaixar para chegar neste final. E, a cada peça que vamos encaixando, mais a figura completa vai se mostrando.

Um breve silêncio, sendo o único som audível as calças de Visão roçando na calçada quando ele se virou para Wanda.

— Você começou a meditar como na prisão, tendo um contato leve com as crianças. Certo? – Ela concordou com a cabeça. – Depois, você meditou se conectando com a vida da floresta. E, depois, com a joia da mente.

— ... É como se, a cada descoberta, desbloqueasse um caminho novo! – Wanda sorriu, alegre por entender. – Você quer dizer que, nas condições ideais, poderia ver o Pietro de novo?

— Exatamente. O que ele disse quando vocês conversaram?

— Que eu precisava compreender mais sobre mim mesma antes de...

O brilho nos olhos de Wanda, e em seu lindo sorriso, cedeu espaço para uma expressão desanimada quando ela lembrou dos pesadelos. Eram a peça que, até agora, não havia encaixado naquele complicado quebra-cabeça. Sokovia. A casa. As crianças... As crianças... Agora fazia total sentido serem duas. Mas ainda havia muitas coisas sem explicação alguma. Naquele momento, entretanto, ela não queria falar sobre as terríveis sequências de sonhos, especialmente a última, mais tenebrosa e com uma figura desconhecida. Engoliu em seco antes de acrescentar:

— ... Antes de saber as respostas da gravidez. – Ela emendou um sorriso para não preocupar Visão.

— Partindo do pressuposto que você descobriu estar grávida de gêmeos, pode ser a resposta que estávamos esperando. A parte do quebra cabeça que se aproxima ainda mais da sua versão idealizada.

— Mas será que precisamos ir até a floresta novamente? – Questionou Wanda, com a mão sob o queixo.

Mais um instante de silêncio, até que a expressão dela novamente se iluminou.

— A água, Vizh! – Exclamou, levantando. – Lembra que a resposta estava na água? Talvez se formos a um lugar com água em abundância e meditarmos juntos...

Visão se levantou, com a expressão levemente contorcida. Ele não possuía boas memórias do ocorrido na última meditação. Wanda se aproximou e tocou seu rosto.

— Se quiser, eu posso ir sozinha...

— Não. – Ele acrescentou. – De modo algum. Vamos ver isso juntos.

Com carinho, ele segurou seu rosto e beijou sua testa, sussurrando em seguida:

— Até as estrelas pararem de queimar.

Wanda sorriu, feliz por ter a sua companhia. Mas a discussão dos detalhes teria que esperar mais um pouco, pois, do portão do hospital, Sam e Steve se aproximavam com um sorriso estampado no rosto, e Natasha corria na frente deles para afagar Wanda.

— E então? Tiveram a confirmação de que teremos uma menininha? – Ela segurou a barriga de Wanda. – Eu digo “teremos” porque ela vai ter uma grande família extensa.

O casal se entreolhou.

— São gêmeos.

A boca dos três se abriu quase ao mesmo tempo. Natasha, com os cabelos ruivos contrastando no sol, piscou algumas vezes antes de dizer.

— Quer dizer que a pequena Natasha vai ter um irmão?

Um suspiro escapou dos lábios de Wanda.

— São... Dois meninos. William e Thomas.

Sam Wilson foi o primeiro a gargalhar em voz alta, batendo palmas, enquanto Steve escondia uma risada por baixo das costas da mão.

— Não foi dessa vez, Nat! – Disse Sam. – Vai ter que esperar a próxima gravidez da Wanda. Quem sabe na próxima ela tem duas meninas?

Desolada, Natasha balançava a cabeça de um lado para o outro, observando a barriga de Wanda.

— Isso. – Ela sussurrava. – Isso é traição. Eu não acredito que vocês fizeram isso comigo. Eu descobri a gravidez antes da sua mãe, ainda! Eu estava com ela quando o teste deu positivo!

Wanda segurou seus ombros, buscando tranquilizá-la, e indicou o caminho para fora do hospital. Os cinco andaram calmamente; Wanda estava cansada e queria descansar em seus aposentos, ao que Steve respondeu:

— É bom você descansar por agora. Marquei uma reserva para vocês dois em um restaurante aqui de Wakanda, indicação do Rei T’Challa.

— Um jantar? – Questionou Visão.

— Isso, para vocês comemorarem a gravidez, e terem um tempinho para vocês. O que acham?

Visão sorriu, segurando Wanda em seus braços. Eles mereciam comemorar um pouco."