Nem de longe Sofia iria imaginar como seria aquele treinamento, mas, desistir não era uma opção. Claramente havia algum fator sobrenatural sobre ela e a outra dupla. Aprender os básicos em combate e começar os treinos de condicionamento não estavam sendo tão brutais. Parecia que dentro dela já havia uma memória muscular referente a este treino. Na primeira parte do seu treino, o foco de Harry se mantinha estritamente em aguçar os sentidos de Sofia, logo, ela passou vários momentos vendada para poder ouvir e cheirar, no escuro para fortificar sua visão e tato, aprimorando até seu paladar através de novas receitas ricas em sabor. – “Não posso falar que foi de tudo ruim.” -
Os treinos de resistência eram mais cruéis, Harry não tinha nenhuma piedade em colocar o trio junto em ambientes extremamente quentes, os deixando no limite entre estresse e cansaço, ou em tranca-los em um frigorifico algumas horas para ver o quanto eles eram capazes de aguentar. Ainda sim o pior foi ir até uma chácara desconhecida para entrar em uma poça de lama que estava alta o suficiente para bater na coxa, eles mal podiam se mover ali dentro, mas, era exigido que fossem de uma ponta a outra até estarem atravessando rápido o suficiente no padrão esperado pelo professor. – “Cruel.” – Sofia pensava enquanto eles sofriam e Harry se mantinha na margem tomando milk-shake.
Durante a última semana ela tentava acompanhar seus parceiros e compensar as diferenças. Acompanhar Max não era tão difícil, ele era um excelente parceiro de treino, sempre prestativo, ajudava, tinha paciência e não se achava superior em momento algum. Praticamente o parceiro perfeito, mas, como nada é perfeito, ela não estava tão contente com os treinos de luta. Mal havia aprendido a disparar algumas de suas lâminas e Harry já a colocou para treinar contra ele. – “Facas de arremesso contra um machado enorme... Quais as minhas chances mesmo?” – Pensava ela esquivando sem parar de suas investidas.
Esquerda, direita, giro, direita, esquerda, esquerda, do alto e chute. Sofia tentava acompanhar quando ele seguia padrões em ataques diretos, mesmo que ele sempre tentasse mudar algo, fosse no meio ou no fim para pega-la de surpresa. Disparou duas lâminas no oponente, uma na direção da perna e a outra para o peito, encarou o caminho das mesmas até serem aparadas, uma pelo cabo e outra pela lâmina do machado, era injusto lutar contra uma arma grande o suficiente para esmagar as suas. Ao menos ela pensou dessa forma antes dele se aproximar para uma nova onda de ataques.
Esquerda, esquerda, por baixo, cabo... - “Cabo?” – O pensamento foi mais rápido que seus reflexos dessa vez. Com o cabo do machado Max acertou seu nariz, Sofia sentiu a forte pancada direta na ponta do nariz, uma sensação quente e liquida na região. – “Ótimo, já está sangrando.” - E aproveitando o desequilíbrio momentâneo da jovem, Max pulou sobre ela. Sofia sentiu a batida forte no tatame, talvez ficasse um hematoma, de um lado o tatame apertava sua costa e do outro estava Max sobre ela com o cabo do machado próximo seu pescoço enquanto segurava seus braços com os joelhos.

— Se rende? – Ele perguntou com aquele belo sorriso branco.

— Tenho opções? – Respondeu antes dele se levantar e estender a mão pra ela. – Que cavalheiro. Primeiro explode o nariz da garota e pula nela, depois ajuda a levantar!? – A frase vinha carregada de ironia enquanto ela limpava o nariz.

— O que importa é que isso vai fortalecer seu corpo e te lembrar que não pode lutar apenas com a mente Sofia. – Harry explicou enquanto dava uma bolsa de gelo a mesma. – Seu corpo vai responder sozinho a batalha assim que se acostumar, pensar demais diminui o seu instinto!

— Obrigada. – Agradeceu a bolsa de gelo e pegou suas coisas. – Vou pro meu quarto! Vejo vocês no jantar.

— É sua vez de cozinhar! – Max disse a Harry antes de sair correndo.

De uma forma esquisita, Sofia estava se adaptando muito bem a essa situação, não era tão louco quanto parecia no início, todos treinavam, todos comiam, trabalhavam fora. – “Exceto Harry.” – Era como uma pequena família disfuncional.
Sofia aproveitou muito bem seu banho, jamais reclamaria de ter uma banheira pra poder deixar o corpo de molho e relaxar na água quente, seus banhos haviam se tornado sagrados, durante esse momento ela tinha o sossego que tanto queria e silencio, silencio esse que preenchia com leitura. Sim Harry explicou que não era obrigada, mas ela não se formou tento preguiça de ler e também não iria treinar sem saber a teoria também!

Os filhos de Ullr popularmente conhecido como “caçadores”. São uma ordem milenar dedicada a impedir que os eventos do Ragnarok de aconteçam. Criada pelo Deus Nórdico da Caça, eles descendem da linhagem do próprio Aesir, como representante da justiça ele não seria permissivo como as outras divindades. Poderiam esperar a eternidade sentados, mas ele jamais iria permitir que o fim do mundo acontecesse pelas mãos do trapaceiro Loki.
Então ele veio para Midgard e se misturou entre as pessoas a fim de gerar os protetores daquele reino e dos outros.
Conforme o tempo passou os Caçadores foram ficando cada vez mais ocultos, assim como as tentativas do trapaceiro e seus aliados para eliminar de vez o grupo.

— É interessante saber que sou parte Deusa! – O sorriso no rosto de Sofia demonstrava satisfação, estava longe de terminar esse livro, mas a cada dia aprendia mais sobre a história desse fascinante novo mundo.

— Sofia! – Teve seus devaneios interrompidos ao ser chamada e ouvir as batidas na porta do quarto. – O jantar vai estar pronto em cinco minutos. – Tânia avisou antes de partir.

— Já vou! – Tânia parecia ser a mais reclusa do grupo quando Sofia chegou, mas, após alguns dias de convivência, Sofia notou que toda essa disciplina e intensidade da garota eram seus mecanismos de defesa. A história dela não era bonita ou simples, havia descoberto isso graças a Max, mas, não sabia se deveria ou não tocar no assunto enquanto a própria não se sentisse confortável para falar a respeito.

Saindo da banheira quase junto a sal resposta, Sofia se secou e se trocou de forma rápida, colocando seu pijama que consistia em uma calça leve e uma camisa de manga longa, calçando ainda descalça foi até a sala de jantar, todos exceto Harry que havia feito a janta estavam com seus “pijamas”.  O prato da noite era guisado de carne com muitas verduras e legumes acompanhando, Harry apesar de permitir a dieta “A la Vonte”, ainda tinha a regra de que precisavam ter legumes e verduras no prato! – “Assim terão mais força e nutrientes!” – Sofia lembrava da cena em que ele falara isso como um pai tentando convencer filhos birrentos a se alimentarem direito.

— O que estão esperando um convite ou que eu peça? Podem atacar! – Harry falou antes de todos começarem a comer felizes da vida.

— Como está seu nariz? – Max perguntou baixo.

— Já esteve melhor. – Sofia respondeu e tocou o mesmo. – Mas já parou de doer e sangrar.

— Ele usou o cabo do machado? – Tânia perguntou pra Sofia, imitando o movimento do ataque com o garfo.

— Exatamente esse golpe. – Respondeu.

— Ele adora mirar no nariz alheio. Até a hora que alguém acertar o dele com força! Aí eu quero ver o senhor reclamar. – Tânia deu um empurrão em Max no fim da frase.

— Isso ainda tem chance de acontecer! – Harry respondeu. – Ainda faltam mais três caçadores serem despertados. Seria hilário ver o Max perder para um novato. – Ele se divertia com a possibilidade, as garotas também estavam sorrindo as custas do castanho que permanecia quieto.

— Então nosso número total será de seis? – Questionou Sofia.

— Oito na verdade. – Explicou. – Vocês três estão sob a minha supervisão na mansão sul e há uma mansão norte. Naquela mansão tem mais dois caçadores em treinamento e com a supervisão de Sadjenza. – Max ia levantar uma questão, mas foi impedido. – Nós não temos planos de nos juntar por hora. – E sem parar para a próxima pergunta ele já tinha uma resposta pronta. - Nós temos divergências quanto aos métodos de treino e sim, há chances de que os outros sejam recrutados por ela, mas, as nossas são maiores.

— Como é o treino dela? – Tânia perguntou curiosa.

— Digamos que é um método de ensino mais radical. – O trio arregalou os olhos, Harry os fazia treinar em extremos e por horas a fio, como poderia ser mais radical?

— É eficiente? – Max.

— Bom, eu ainda não sinto a energia dos pupilos dela como sinto a de vocês, ou seja, por enquanto eu estou sendo um professor melhor para liberar todo esse poder latente em vocês três. – Respondeu orgulhoso.

— Você viu os discípulos dela? Ao menos sabe em que estágio estão? – Foi a vez de Sofia perguntar.

— Eu não os vi ainda, mas se tivesse que chutar um estagio de treino, diria que estão no início. – Com isso ele deu a ultima garfada. – Agora chega de perguntas. Comam e vão dormir. – Ele colocou o prato na pia. – Amanhã vão treinar em campo!