Final de tarde – Sexta-feira no estúdio dos VOCALOID.

      - E então, como ficou? – Perguntou Kaito consumindo-se em expectativa, de olhos brilhando.

             - É... – Ponderou a jovem de cabelos verdes, fazendo um suspense, pendeu a cabeça para o lado e então, por fim, sorrindo, o fitou – Até que não esta tão ruim, porque não prova? – Neste momento seu sorriso antes angelical tornou-se um tanto quanto sinistro e ela enfiou uma colherada do pudim goela abaixo do garoto.

             - Arrg!! –Reclamou, fazendo careta ao sentir o gosto e quase cuspindo a comida - Esta horrível!!

             - É, não é? Qual era o plano, me envenenar Bakaito?? – Recriminou Miku, dando-lhe um tapa na cabeça.

             - Nee, não fale assim Miku-chan!! Eu fiz com tanto carinho – coraçõesinhos no background com direito a brilinhos.

            - Puff... – revirou os olhos – Você é uma piada mesmo... Mas como você soube que eu gostava de pudim? – fitou-o, curiosa.

            - Eu sei tudo sobre você, é a minha Hime-sama, esqueceu?

            - Kaitoo... Já falamos sobre isso... – Desviou o olhar.

            - Não importa o que  diga para mim, que me chute, bata ou reclame, eu não vou desistir de você. – O garoto agachara-se, segurando uma das mãos da jovem e, longo em seguida, a beijando no dedo anelar, fazendo-a corar. Ele a fitou de baixo – Kawaii... Miku-chan esta vermelha!

            A garota agora virara um pimentão, porém nem mesmo embaraçada ela deixou de notar o fio de sangue que começava a escorrer do nariz do mais velho.

            - KAITOOO!! HENTAAAII!!! – Gritou com uma veia saltando na testa, lhe desferindo um chute que o fez voar longe. – E não me chame de Miku-CHAN! Arrg!! – Saiu marchando enquanto o Kaito resmungava coisas como “Ittaii Miku-chaan mimimi”.

            - Wooou, o que aconteceu aqui? – Perguntou Len que acabara de chegar e já notara o clima tenso da sala. Olhou na direção do companheiro de quarto e abriu um sorriso malicioso – Levou um fora de novo é?

            - Baaaka!! – Gritaram em uníssono os gêmeos, logo depois pondo a língua para fora em total sincronia e rindo entre si.

            Ele os olhou com lágrimas nos olhos, todo manhoso, apenas então notando que os dois irmãos encontravam-se de mãos dadas.

            – Eu não tenho tanta sorte no amor como vocês tah, não precisa esculachar também – fez beicinho.

            A jovem de cabelos verdes também voltou-se para trás, parando de andar ao ouvir o comentário do outro, acabando assim por perceber que estavam os gêmeos não apenas de mãos dadas, mas também sorrindo como a dias não os via fazer. Os olhos de Len brilhavam mais do que nunca e Rin estava levemente corada. Além disso, o clima na sala tornara-se repentinamente nais mais leve.

            - É, parece que o amor esta no aaar – cantarolou a mais velha, correndo até a amiga e a abraçando de forma a lhe dar os parabéns, sendo retribuída por Rin.

            - Haaa!! mas que cena lindaa!! é de tocar o coração – falou repentinamente Meiko que adentrara a sala de estar da gravadora repentinamente, tomando a atenção de todos. – Pestes amarelas, estão atrasados. Onde estavam? Miku e kaito procuraram vocês pelo colégio inteiro e não foram capazes de encontra-los.

            - Etto... – Murmurou Rin, que já se soltara de Miku e agora lançava um olhar constrangido para o irmão com o rosto completamente vermelho, como quem pergunta por uma desculpa na ponta da língua, mas ao ver o sorrisinho que surgira em seus lábios acabou foi por desferir um grande pisão no pé do namorado, com uma veia a lhe saltar na testa.

            - Bem não importa – Suspirou a diretora, alinhando algumas folhas de papel na mesa.-  Hoje temos importantes questões a tratar. Como sabem quarta-feira terminamos as gravações de Alice Human Sacrifice para o novo jogo de Videogame da Nintendo.

            - E o que tem isso? – Perguntou Miku enquanto cruzava os braços e se escorava na parede, notando o tom sério que a morena tomava.

            - Bem as vendas não tem sido tão boas quanto o esperado, hoje no lançamento foram vendidos apenas um pouco mais da metade da expectativa de vendas. Além disso, a saída de outras de suas músicas tem sido menor e isso é um fator preocupante. Até mesmo Wolrd is Mine e Cantarella que são atualmente os maiores sucessos da franquia não tem vendido tanto quanto antigamente.

            Os vocaloids entreolharam-se, o que estaria acontecendo? O medo começava a lhes revirar o estômago.

             -  E você sabe o que poderia estar causando isso Onee-chan? – Perguntou o jovem de cabelos azuis, quebrando o gelo após um silêncio tenso.

            - Felizmente sim, o nome do nosso problema é Megurine Luka, ou melhor, Lady Luka como é conhecida, o novo fenômeno do Nico Nico Douga com seus Covers da cantora americana lady GaGa. Todos sabem quem ela é, além disso, ela possui algo que nós não temos, fluência em inglês. – Meiko pega um controle remoto em cima da mesinha e aponta para o teto, ligando um  projetor que começa a projetar uma imagem na parede  antes vazia.

            A música era Bad Romance, e embora o sotaque japonês atrapalhasse um pouco na pronúncia, a voz doce cantada com sentimento dava um toque especial à canção que não surpreenderia se fizesse mais sucesso que a versão original. Além disso, no vídeo a imagem estática de uma belíssima jovem de longos cabelos róseos e olhos azuis conquistaria aqueles a quem a música não agradasse.

             Ao final, estavam todos os presentes de olhos arregalados. Rin e Len com de queixo caído, kaito babando, por razões óbvias, e Miku mordendo-se de inveja E ciúmes. Meiko suspirou, desligando o projetor.

            - In-crí-vel –Murmuraram os gêmeos.

            - Pois é, a boa notícia é que ela ainda não foi contratada por nenhuma gravadora. Essa, eu acredito, seja nossa chance de se recompor. Eu a convidei para uma entrevista, ela esta na sala de testes neste exato momento inclusive, mas achei que seria importante importante consultá-los antes. Se vocês não a quiserem, posso mandá-la embora. Então, o que acham? Contratamos a moça?

             - Contrate. – Falou Miku, se desencostando e tomando a dianteira, para a surpresa de todos. Ela que sempre fora tão competitiva, até mesmo com os  companheiros, falando para contratar uma rival em potencial?

            - Miku-san, esta se sentindo bem? – perguntou Len com uma sobrancelha arqueada.

            - É óbvio. Em momentos como esses temos de ser profissionais, vai ser pior para nós se ela for convidada por outra gravadora. – Sua voz era firme e séria, embora estivesse visivelmente relutante com as próprias palavras.

            - Muito bem, todos concordam? – Meiko perguntou com um sorriso. Kaito, Rin e Len assentiram com a cabeça e Miku virou o rosto.

            - Ok, então vou falar com ela. Se possível esperem por aqui. – A diretora retirou-se da sala e o silêncio permaneceu por alguns minutos, até que Kaito falasse aquilo que todos pensavam.

            - É impressão minha ou ela estava meio estranha? Meio... Séria demais?

            - Eu também achei isso – Comentou Rin baixando o olhar, segurando a mão do irmão com mais força.

            - Kaito, por que a Meiko-sama parou de cantar? – perguntou Miku com um olhar atravessado. O jovem arregalou levemente os olhos, pego de surpresa.

            - Eu não sei, ela nunca quis me contar, embora eu já tenha perguntado diversas vezes...

            - Entendo, bem acho que deveríamos ficar de olho então. Talvez ela esteja estressada com o trabalho, deveríamos ajudá-la mais... Néh? Hum?! Onde foram os gêmeos?

            - Hehe – riu-se o garoto, jogando-se no sofá – Deixe os pombinhos curtir um pouco.

            - Néh, hahaha! E devo confessar que suspeitava de algo mais ali desde o começo... – Falou, sentando-se ao seu lado.

            - Uhum, sei...

            - É verdade! Não desconfie de mim, Bakaito! – Deu tapa na cabeça do garoto, que fez uma careta de dor, e então recostou a própria cabeça no ombro do outro, fechando os olhos timidamente. Ambos estavam corados. A mão de Kaito procurou a da jovem, então a segurando, sem que Miku o recriminasse. Se Rin antes era um impedimento, agora ele não existia mais.

[Alguns minutos depois]

            - Bem, pense na proposta e leve o tempo que precisar. As portas daqui estarão sempre abertas para você.

            - Obrigada. E pode ter certeza, pensarei com carinho. -

            Luka e Meiko levantaram-se e apertaram as mãos, ambas aparentemente satisfeitas. A diretora levou a jovem de cabelos rosas até a saída do escritório, então ambas curvaram-se em despedida e a última se retirou.

            Luka andava pelos corredores com um sorriso no rosto. Já havia percebido há algum tempo o sucesso que seus vídeos andavam fazendo, mas receber uma proposta em tão pouco tempo era algo que apenas em seus sonhos mais fantasiosos ocorreria. Da banda Vocaloid então, da qual ela mesma era fã, ela jamais imaginara. Era óbvio que aceitaria a proposta, apenas quis fazer uma certa pose de difícil dizendo que “pensaria no caso”.

            Enquanto andava pelos corredores, tomada pela curiosidade, a garota resolveu entrar em algumas salas para ver de perto como era uma gravadora de verdade, não que ela já não houvesse visto em documentários e filmes, mas como ela mesma pode constatar, nada supera a sensação de ver com os próprios olhos. Chegou a visitar 2 salas quando, na terceira, algo muito, mas muito constrangedor aconteceu.

            Assim como das outras vezes, Luka abriu vagarosamente a porta, assim, caso houvesse alguém, ela não seria pega, mas o que viu a deixou tão atordoada que a fez largar a maçaneta deixando a porta escancarar-se. Rin e Len estavam na sala, não apenas abraçados, mas beijando-se apaixonadamente, com direito a loira estar prensada entre a parede e o irmão e a camisa levemente levantada, dando passagem para uma das mãos do garoto que lhe acariciava as costas.

            Ao perceber que haviam sido flagrados, os gêmeos automaticamente voltaran-se para a intrusa, de olhos arregalados, sem sequer dar-se ao trabalho de soltar um ao outro, pois estavam em tal estado de choque que já não eram capazes de mover um só músculo. A rosada por sua vez levou as mãos à boca, escondendo assim o queixo caído, logo em seguida dando-se conta de que estava sendo extremamente inconveniente, então curvando rapidamente umas cinco vezes enquanto falava compulsiva e embarassadamente “Sumimazen!! Hontou ni sumimazen!! E por fim sair correndo, desta vez não passando em nenhuma sala, mas indo direto para o elevador e então deixando o prédio, sem nem mesmo reparar nos dois jovens que acordara ao passar pela recepção, os quais entreolharam-se, sem entender coisa alguma.

             Rin e Len saíram da sala de cabeças baixas.

            -Não estou com um bom pressentimento sobre isso... – comentou Rin com a voz fraca. Len, percebendo o modo como a irmã estava apreensiva, puxou-lhe pelo pulso, fazendo com que se voltasse para ele e então levantando seu queixo.

            - Sei que tem medo que descubram sobre nós, vamos tomar mais cuidado agora ok? Não fique assim desse jeito, ou vou achar que não fiz bem em me declarar para você.

            A garota arregalou os olhos, levando ambas as mãos à que lhe segurava o queixo – Não! Nunca! Eu não me importo de nunca mais poder cantar se estiver ao seu lado! Você sabe disso!

            - Hehe, é, eu sei. – Da um selinho na irmã, abrindo um sorriso sacana logo em seguida. – Porque eu sou demais, como alguém que já esteve comigo poderia viver sem mim – Piscou um olho e saiu correndo em direção à recepção, parando pouco antes de passar pelo arco da porta, voltando-se para irmã rapidamente antes de voltar a correr – De qualquer forma vamos manter isso em segredo de agora em diante néh?

            Uma veia saltou da testa de Rin quando o loiro começou a vangloriar-se, ele não mudava afinal. Isso era bom, no entanto, na opinião da jovem, ela havia se apaixonado por ele também porque adorava seu jeito travesso e não seria a mesma coisa se os Kagamine deixassem de se implicar. Por isso quando ela correu atrás do irmão o fez com um sorriso, confiante de que nada seria capaz de os separar.

Ela só não esperava o que viria pela frente.