Sim, mais um conto de Natal escrita por annaoneannatwo, Kacchako Project


Capítulo 3
O segundo espírito




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Ele desperta por conta própria, não querendo ser surpreendido por mais outra aparição bizarra dentro desse sonho que parece não ter fim. Na verdade, foi meio difícil dormir pensando no que reviu antes. Katsuki não se lembrava de ter feito o nerd de merda parar de acreditar em Papai Noel, ele também não se recordava muito de ter dito que All Might o salvaria um dia. Tsk, e não é que foi exatamente o que aconteceu? Ironicamente, o encontro entre eles foi o que deu ao Deku uma individualidade e, com ela, uma responsabilidade que pesa mais que ouro, quem diria que sua sugestão maldosa seria o que de melhor aconteceu na vida do nerd e em proporção inversa, a pior coisa na vida dele próprio?

 Qualquer satisfação que sua versão mais jovem possa ter sentido naquele momento em que humilhou o Deku e em tantos outros agora parece tão… sem sentido, não o ajudou em nada, muito pelo contrário, só parece ter incendiado algo dentro do nerd até torná-lo homem de confiança do All Might e… aquele que tem o coração dela. Tsk, só de imaginar o que a Uraraka pensaria se visse as coisas que ele já disse e fez pro nerd, ele se sente realmente envergonhado.

Se Uraraka gosta tanto do Deku, é porque ela vê coisas que Katsuki não consegue ou se recusa a reconhecer, o senso de julgamento dela é bom, sem contar o quanto é intuitiva. Por muito tempo, ele se perguntou o que ela tanto via no nerd maldito, hoje ele se pergunta: o que o Deku tem que falta nele para despertar tanta adoração?

Uma névoa em um tom pálido de cor-de-rosa começa a entrar por debaixo do vão da porta, fazendo-o erguer a sobrancelha. O miasma rosado também entra pela fresta da janela, e Katsuki arregala os olhos, isso aí é… ele já viu isso antes! Mentira, não chegou a ver exatamente, porque assim que entrou em contato com essa névoa, apagou na hora.

É o poder da Midnight-sensei.

—  Ora, já está acordado? Bom menino! —  a silhueta dela fica visível, até que toda a nuvem cor de rosa se dissipa. Assim como ele imaginava, é a Midnight.

—  Tsk, você tá ligada que o poder dela é fazer as pessoas dormirem, né? 

—  Ah sim, sim! Eu só assumi a forma física da sua professora, não tenho exatamente as habilidades dela. Bom, de toda forma, eu preciso de você bem acordadinho, pra ver o que tá acontecendo nesse exato momento enquanto você fica aqui remoendo seu passado e sofrendo uma dor de corno sem nem mesmo ser corno.

—  Vai se f-

—  Eu sou o Fantasma dos Natais Presentes. Vamos indo, não é porque não vamos longe que podemos demorar a chegar. —  a névoa rosa ocupa todo o quarto, e quando ela dispersa, Katsuki não está mais em seu quarto, e sim em um outro com uma decoração exagerada e cafona, ele já esteve aqui vezes o suficiente para saber que é o quarto do Pikachu, mas o idiota não tá sozinho, o Fita Crepe tá esparramado sobre o carpete e o Kirishima sentado em uma cadeira virada, apoiando o queixo no encosto.

—  Eita, já são duas da manhã! —  o ruivo olha para o relógio e arregala os olhos —  Acho melhor puxar o carro.

—  Tá cedo, bro! 

—  Tá nada! Fiquei de ajudar a Uraraka e o Todoroki na distribuição de presentes no centro.

—  Pode crer. Puxado, hein? Ainda mais se você madrugar pra treinar com o Bakubrou, você vai?

—  Ele não falou nada, mas pô, mesmo se ele quiser, não vou não! Amanhã é Natal, mano!

—  Quer dizer… hoje é Natal, né? Já é dia 25.

 

—  Não trocou de dia se você ainda não dormiu, é no que eu acredito. —  o Pikachu coça a orelha com uma tampinha de caneta.

—  É, enfim… não é possível que o Bakugou queira treinar até no Natal.

—   Ele não tá nem aí pro Natal!. —  o Fita Crepe dá risada —  Impressão minha ou ele tava putaço hoje? Tipo, mais que o putaço normal dele?

—  Vai saber. —  o Pikachu dá de ombros.

—  Bom, eu… não tenho certeza, mas… acho que ele se confessou pra Uraraka.

—  O QUÊ??? —  os dois idiotas se unem em um coral.

—  Não sei, na verdade é a Mina que acha isso, ela viu a Ura correndo atrás do Bakugou depois que ele deu piti no amigo secreto. Quando ela voltou. tava mais vermelha que um pimentão e, pode ver, ele ficou todo estranho quando ela chegou na cozinha hoje.

—  Pode crer… —  o Fita Crepe  assobia —  O Bakugou e a Uraraka, mano, nem sabia que ela fazia o tipo do sr. Rei das Explosões Assassinas.

—  Mais estranho seria se ele fosse o tipo dela, né não? —  o Pikachu sugere e balança a cabeça —  Coitada…

—  Pô, cara, por quê? O Bakugou não é tão ruim assim e, sei lá, ele fica diferente quando ela tá por perto. —  o Kirishima o defende.

—  Ah, Kiri, na boa, uma coisa é o cara ser o bichão em batalha e na escola, até como bro ele não é lá aquelas coisas às vezes, imagina como namorado. A Uraraka consegue coisa melhor.

—  Sei lá, só acho que quando ele para de chatice e assim, fala mesmo o que tá pensando, fica bem mais legal conversar com ele, e eu vejo que a Uraraka sempre faz ele querer falar mais, acho que seria legal se rolasse alguma coisa. —  ele suspira —  Mas é, o Bakugou é foda, se ele se confessou mesmo e agora fica correndo dela, tá vacilando demais!

—  EU NÃO TÔ CORRENDO DELA, VAI SE FODER, KIRISHIMA! VOCÊ FALA COMO SE FOSSE FÁCIL, MAS FOI A ROSINHA QUE FEZ TODO O TRABALHO QUANDO VOCÊS COMEÇARAM A SAIR! —  ele esbraveja, mas nenhum dos moleques presentes parece escutar —  Idiota, não sabe de nada!

—  Me parece que ele é o que mais sabe. —  a Midnight fajuta sugere —  E então, tá se arrependendo de ficar enfiado no quarto ao invés de estar aqui com seus amigos se defendendo e explicando seu… hã… ponto de vista?

—  Tsk, você ouviu os idiotas, eu não sou “lá aquelas coisas” como amigo, por que raios ia querer estar aqui?

—  Bom, talvez o problema seja que você não demonstra o quanto gosta deles-

—  Eu não gosto deles!

—  Não é o que parece com você tão incomodado em não ser considerado um bom amigo. —  ela cruza os braços e o olha com… pena? Maldita!

—  Bom, ele que lute! Eu sei que EU não vou vacilar! Na festinha de amanhã, vou chamar a Jirou pra um encontro! —  o Pikachu diz animadamente.

—  Aí, cara! Agora eu vi confiança! — o Sero dá joinha —  Me deixa filmar a hora que ela te der um toco?

—  Pô, mano!

—  Tô zuando, bro, vai fundo! Essa festinha de confraternização promete, hein?

—  Eu só quero encher o bucho e ganhar um presente da Mina, ela disse que vai se vestir de Mamãe Noel. —  o Kirishima sorri e cora.

 

—  Isso aí! Vai ser daora!

—  É, pena que o Bakugou não pensa assim… —  o ruivo coça a cabeça —  Bom, mas é como você falou, Kaminari, ele… ele que lute. —  ele diz como estivesse relutando em se conformar com algo que o incomoda muito —  Vai ser bem másculo!

—  Tsk, já acabou essa porra?

—  Eu acho que você sabe que não, tem uma pessoa que a gente precisa ver…

—  Porra, não me diz que… —  ele arregala os olhos —  Pra quê? Não tem nada a ver- —  a névoa rosa os encobre e, quando some, ele a avista. Ela não está no quarto, e sim na entrada dos dormitórios, apoiada sobre uma pilastra e olhando para o céu, a noite de inverno faz as estrelas se esconderem, mas a lua tá redonda e brilhante, igualzinho à cara dela.

Mas tem algo errado, e é ao se aproximar que ele vê o que é, Katsuki já a viu assim quando ela surgiu nas arquibancadas depois da luta deles no Festival Esportivo do primeiro ano, os olhos dela estavam vermelhos e inchados, ele lembra porque achou estranho, não a atingiu nos olhos durante a luta, na verdade, ele não a atingiu em nada, ela perdeu sem ele encostar um dedo nela, até hoje é difícil de aceitar tudo que ficou de prometido naquela luta e nunca se realizou.

Uraraka funga, olha para o lencinho em suas mãos, e logo seus olhos se enchem d’água. Ela tá chorando, e parece frustrada por estar chorando pelo jeito que olha pra cima e tenta fazer as lágrimas pararem de rolar. Katsuki se aproxima com hesitação, ele quer tanto consolá-la, pedir que ela não chore porque, o que quer que seja, ela vai conseguir resolver pois é incrível, mas a mão dele não a alcança.

—  Isso aqui… não é um sonho, né? Não tem como ser, porque ela nunca tá triste nos meus sonhos.

—  Você demorou pra perceber. —  o Fantasma, ou a Midnight, tanto faz, suspira.

—  Então, como eu… como isso tá acontecendo? É uma individualidade de alguém? De quem?

—  Você pode ficar especulando isso, ou pode tentar entender porque ela tá chorando.

—  Tsk, é que é Natal, depois da festa de confraternização, todo mundo vai voltar pra casa dos velhos e ela vai ficar aqui sozinha porque mora longe e não tem dinheiro pra ir pra casa.

—  Tem certeza?

—  Lógico, pô! Pelo que mais seria?

—  Uraraka-san! —  eles se viram ao mesmo tempo e se deparam com o Deku na porta da entrada —  Ei, tá tarde, e tá tão frio! —  ele se apressa em se aproximar, tirando sua jaqueta e colocando nos ombros dela.

—  N-não se incomode, Deku-kun! —  a voz dela soa animada, mas dá pra vê-la virando a cara, provavelmente para que ele não perceba que ela estava chorando.

—  Não me incomodo, pode ter certeza. —   ele sorri —  Vou dar uma de Iida-kun, mas por que você não tá dormindo? Não tem um evento de Natal com o Todoroki-kun daqui a algumas horas?

—  Não consegui dormir. —  ela se agarra à jaqueta dele.

—  Você quer conversar sobre isso?

—  Não… não muito. Q-quer dizer, não tem o que falar, sabe? Eu… sabe aquela sensação de estar perseguindo alguma coisa, e você sente que tá alcançando, que tá tão perto, mas… nunca alcança, a distância é sempre a mesma?

—  Hã… você tá falando de condicionamento físico? —  Puta que o pariu, mas é muito imbecil mesmo!

—  Haha, pode ser… —  ela ri fracamente —  Eu não tenho “condicionamento físico” pra alcançá-lo, e… não sei, talvez seja melhor parar de tentar antes que eu caia e me machuque… mais.

—  B-bom, você é a Uravity, não precisa correr, você pode só flutuar até chegar onde quer, não? —  ela o olha, as bochechas dela estão rosadas, Katsuki quer acreditar que é por causa do frio, mas sabe que é por conta do que o nerd maldito disse, taí o que o Deku tem e ele não, sempre sabe dizer a coisa certa pra ela, e então o idiota boceja e parece quebrar todo o encanto —  Eu preciso ir dormir! Você ainda vai ficar aqui por muito tempo?

—  Não, vou deitar daqui a pouco. Ah, toma aqui sua jaqueta!

—  Pode ficar. —  ele a impede. O Deku se vira, mas parece pisar em algo, e então olha pra baixo e estende um raminho de planta: azevinho —  Ué…?

—  O que foi, Deku-kun?  —  ele mostra pra ela, e Uraraka olha pra cima —  Ah, deve ter caído! Dá aqui que eu coloco de volta.

—  Ok, sobe lá que eu te pego!

Uraraka se faz flutuar e pendura o azevinho de volta no portal do dormitório, o Deku usa a individualidade do chicote preto para içá-la e trazê-la de volta quando ela restaura a gravidade.

—  Ah, que lindo! Que lindo! Que lindo! —  a Midnight de repente se anima toda.

—  Tsk, que foi agora?

—  Ora, você não percebeu? Eles estão debaixo do azevinho! Sabe o que acontece quando duas pessoas ficam embaixo do azevinho?

—  Tsk, vambora daqui, então. —  nem a pau que ele vai assistir um beijo entre eles, Katsuki já viu muito mais do que gostaria.

—  Não, não, vamos ficar só mais um pouquinho! —  ele revira os olhos e dá as costas pros dois pombinhos.

—  A-ah, Uraraka-san! Eu… eu queria aproveitar já que a gente se encontrou aqui, mesmo que seja tão tarde. T-tem… tem uma coisa que eu queria te falar. —  Katsuki vira um pouco a cabeça. Não é possível! O Deku finalmente vai ter os colhões de se declarar?

—  Ah, pode falar.

—  B-bom, é que… é Natal, a gente tá no fim do ano e… é nosso último ano aqui na U.A, e… eu tenho alguns arrependimentos, acho que todos nós temos, mas… tem um que eu não vou me permitir ter, Uraraka-san, eu… eu… eu quero te dizer que… eu… aaargh! —  Katsuki se surpreende ao se virar e ver que o nerd se inclinou na direção dela, mas os lábios dele não estão sobre os da Uraraka, e sim na testa dela.

—  Oh, D-Deku-kun?

—  Eu não vou me arrepender de não te dizer o quanto sou grato pela sua amizade e por tudo que você fez por mim. Sem você, eu não estaria aqui. —  ele sorri e se afasta —  Feliz Natal, Uraraka-san.

—  Ah… pra você também!  —  ela sorri, mas parece meio perdida —  B-boa noite, Deku-kun!

—  Boa noite. —  e ele vai pra dentro, deixando uma Uraraka confusa e um Katsuki profundamente puto.

—  Que… que porra foi essa? —  ele pergunta pra Uraraka que não o vê, pro Fantasma, pra todo mundo e pra ninguém —  O que o Deku…?! O que aquele idiota fez?! Eu vou matar aquele desgraçado!!! Ele amarelou! É um covarde do caralho! Ele… urghhh! Eu não acredito nisso!!!

—  Sei não, hein? Acho que esse rapaz precisou de muita coragem pra isso.

—  Você não entende de porra nenhuma! —  a névoa sobe novamente, e eles estão de volta ao quarto dele —  Que diabos era pra eu aprender aqui, hein? Que meus amigos são trouxas, e o Deku é um otário? Porque disso eu sempre soube!

—  Ai ai, e eu achando que você tinha feito progresso… mas pelo visto não entendeu nada, nem mesmo porque aquela jovem tão adorável estava triste.

—  Tsk, ela tá triste porque gosta de um imbecil que não toma atitude decente com ela!

—  Ohhhh… —  ela sorri maliciosamente —  Talvez você tenha, sim, entendido alguma coisa, hehehe. Bom… acho que meu trabalho aqui está feito, meu colega chegará em breve e, querido, se você acha que isso aqui foi dureza, você nem imagina como será com ele.

—  Tsk, foda-se. —  nada é pior do que ele acabou de ver mesmo. 

Não há névoa dessa vez, ela simplesmente some, e Katsuki estala a língua quando volta pra cama. Ele não sabe quem tá fazendo isso ou porquê, mas estará pronto quando o terceiro filho da puta chegar.


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Notas finais do capítulo

A atrasada, mas tá aí! Próximo capítulo amanhã!



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