Cartas para Bella escrita por Lu Cullen


Capítulo 8
Vivendo o presente


Notas iniciais do capítulo

Heyyy, genteeee!!! Como estão? Eu, obviamente atrasada kkkk. Enfim, vim com o capítulo de hoje é só pra avisar vocês, semana que vem vai ter maratona sim!!!!!! Não vi quantos capítulos, mas vai ter KKKKK AH! Eu ainda não respondi as reviews do último capítulo, pois estive sem tempo, mas muito obrigada a todo mundo! Mais uma coisinha antes de vocês continuarem, quero agradecer a @fmconned por ter me feito quase chorar com a recomendação da fic ❤️ sério você me fez quase chorar kkkk ❤️❤️ Enfimmm, chega de enrolaçada, boa leitura!



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Eu não sei dizer quem é a mais cabeça dura, Alice ou Sue. As duas são impossíveis de conversar. 

— O seu pai liberou tanto o Seth quanto eu para as aulas. - argumento.

— Mas você pode ter uma crise de pânico - Alice retruca.

— Mentira!

— Antes de dormir, você sempre fica conversando no celular com alguém para se acalmar. - ofego com suas palavras. Eu achei que ela estava dormindo. - Aí acaba por capotar. 

— Eu só quero ficar conversando com essa pessoa. É o único momento que temos para conversar. - murmuro.

Sue arqueia a sobrancelha.

— Você está tendo pesadelos?

É uma pergunta complexa. Pesadelos são sonhos perturbadores associados com sentimentos ruins, como ansiedade ou medo. O problema é que não era nos sonhos que as imagens vinham e sim, antes de eu dormir, o que me causa insônia.

— Não. 

Alice e Sue trocam olhares. A baixinha cruza os braços, sentando na cadeira da cozinha enquanto Sue retira o café da cafeteria.

— Preciso ir para a escola amanhã. Tenho que recuperar o teste de biologia. Pegar a matéria atrasada. É importante! Além de que eu já descansei por quatro dias! Era só um que eu precisava. Vocês estão exagerando!

Durante os quatro dias, só assistimos filmes e comemos besteiras. Meus pais me ligaram tentando me convencer de ir até Volterra, mas apenas disse que não iria a lugar nenhum. Não preciso de outra mudança radical. Seth está usando as muletas e a cadeira de rodas, se divertindo que nós temos que ajudá-lo em tudo, sem precisar fazer um esforço e sem precisar fazer sua parte nas tarefas da casa. Agora, quem tira o lixo sou eu. 

Alice passou os quatro dias inteiros aqui em casa. Tomando conta de mim, me fazendo companhia. Ela me contou a versão do acidente em sua visão, dizendo que ficou muito preocupada em me perder. Choramos juntas. Eu nunca poderia viver sem a sua amizade. Ela é muito importante para mim.

Sem contar que estou ansiosa para ler a próxima carta do meu Correspondente Secreto. Conversamos todas as noites quando a Alice está dormindo. Infelizmente, ele ainda não falou nada, apenas mensagens. Eu falo até demais. É engraçado que eu passo o dia inteiro esperando pela noite. Qual seria o assunto? Ele falaria alguma coisa? Será que ele ligaria? Ou eu devo ligar? Nossos assuntos variam de filmes para cor favorita. Com ele, eu poderia lhe dizer qualquer coisa, sem medo. Eu confio nele. O que é estranho.

Da minha lista, tenho mais 3 suspeitos. Emmett, Eric e Jacob. O primeiro me mandou mensagens perguntando como a sua gatinha estava, já o segundo veio até a minha casa no dia seguinte do acidente junto a Jasper trazendo flores para mim. Foi algo muito doce de sua parte.

— Okay! - Sue diz, chamando a minha atenção. - Vocês irão à escola amanhã com algumas condições.

Mexo as mãos num movimento para ela continuar a falar.

— Primeiro, levarei vocês três. Segundo, se você se sentir mal, irá me ligar que eu imediatamente irei te buscar. Terceiro, caso não o fizer e Alice perceber, você irá me ligar. 

 Alice assentiu, concordando, assim como eu.

Sue mudou sua postura. Ela está mais responsável, adulta. Está sempre certificando se precisássemos de algo, impondo horários para dormir. Sinto que meus pais têm alguma coisa haver nessa história, o que me deixa chateada. No fundo, eu sei que ela se culpa pelo o que aconteceu. Fora, esses pequenos lampejos de maturidade que eu não tinha presenciado, ela continua a Sue boba que conheço. Ela tinha agora um meio-termo.

O relógio da cozinha marca nove horas da noite. Chamo Seth que está assistindo televisão na sala para comer o strogonoff que Sue tinha preparado. Comemos em silêncio, cada um perdido em seus pensamentos. Ou tentando evitá-los, como eu.

Em momentos aleatórios, os pensamentos negativos que tenho invadem minha mente. Trazem consigo o acidente, dizendo: e se Seth tivesse morrido? Ou Tyler? A culpa seria sua! Flashes de como tudo aconteceria, me sufocam. Todo o caos causado teria uma resposta: você. E eu sei disso. Se eu não tivesse tentado pegar meu telefone, nada disso teria acontecido. Seth não teria quebrado a perna. 

Após comer todos terem terminado, eu limpo todos os pratos, os colocando na máquina de lavar. Ajudo Seth a subir nas escadas da muleta enquanto Alice arruma o quarto. Não estou irritada com ela, sei que ela só quer meu bem.

Largo Seth em seu quarto fedido. Ele é azul e tem a cama de solteiro encostada na parede. A escrivaninha fica no lado oposto da cama. Suas prateleiras estão cheias de histórias em quadrinhos da Marvel e da DC. Eu nunca vi alguém tão apaixonado por super-heróis como esse garoto.

— Senta aí. - Seth pede. Eu sento na ponta da cama. 

— O que quer, cabeça de vento?

Seth tomba a cabeça para o lado, agarrando uma almofada vermelha. 

— Você sabe, não é?

Arqueio a sobrancelha, sem entender.

— O que?

Ele coça a nuca.

— Não foi sua culpa. - ele diz. - O acidente. - clarifica.

Mordo os lábios desviando meus olhos de seu rosto cortado.

— Claro. - murmuro. 

— Sério? - pergunta. Eu assinto.

— Sim. - digo, dando um sorriso amarelo.

Nós dois sabemos que estou falando uma grande mentira.

— Bem, eu vou é me arrumar para ir dormir. 

Levanto da cama para lhe dar um beijo de boa noite em seus cabelos negros.

— Cuidado para não se afogar com a sua baba.

— Ah, claro! Eu que babo aqui. - retruco.

Ele continua gargalhando quando fecho a porta de seu quarto que tem uma placa escrita: Não entre, só se você for o Seth.

Caminho para o meu quarto lentamente. Abro a porta, encontrando Alice revirando sua pequena mala que Jasper lhe trouxe. Ela me encara com um sorriso enorme. Eu entro no quarto, jogando-me na minha cama.

— Vou tomar um banho, tá?

— Claro, vai lá.

A porta abre e fecha. No exato mesmo instante, meu telefone recebe uma mensagem. Sorrio ao ver que era nada mais nada menso que meu CS.

Posso te ligar?

Vá em frente

 

Menos de um segundo, meu telefone anuncia a chamada. Espero ele tocar pelo menos quatro vezes para então, atender. Ponho no viva-voz. Minha barriga dá voltas como se eu estivesse em uma montanha russa. 

— Oi. - controlo a minha voz para não parecer muito animada. 

Oi

— Tudo bem?

Agora to melhor

— Idiota. - digo, rindo.

Ksksksksksk

— Então, Alice vai vir daqui a pouco para cá. Não vamos poder conversar muito hoje. Combinamos de assistir a dois filmes e ela está ligada no 220w.

Isso é uma pena.

— Tenho uma notícia.

Boa?

— Depende para quem seja. 

Fale.

— Vou para a escola amanhã.

Sério?

— Sim! Preciso fazer o teste de biologia e recuperar as matérias perdidas. Não posso ficar sem elas. Preciso de todas as minhas notas altas para entrar em Yale e não posso deixar um acidente arruinar tudo. - despejo. 

Q bom q vai voltar amanhã

— Você poderia me esperar na porta da escola. As boas vindas.

Ksksks vc é engraçada

— Por que você fica tão preocupado com o que vou achar de você?

N importa

Não importa?! Claro que importa!

— Eu só queria poder te ver, não é algo tão ruim! - falo, chateada. - A gente já está nisso faz mais de três semanas. 

Na vdd, nós nos vemos, você só n sabe. Pq vc n aceita q vc n vai saber quem sou?

— Porque eu não quero. Você não é um covarde como diz ser.

Isso é oq vc acha.

Eu sou um covarde pq tenho medo do q vc vai achar de mim.

— Eu já sei quem você é. Um rosto para associar não vai acabar com isso.

Se vc acha

— Eu não acho! Tenho certeza!

Pq a gente n muda de assunto? Pq a gente n fala como vc n aproveita o presente?

— De que porra vc está falando? - perguntei, ficando de pé.

Olha, vc tá sempre focada no futuro, Yale, notas ou no passado, as coisas q vc fez mas nunca no presente

— E o que tem?

Vc n aproveita a sua vida

— O que tem haver eu não saber aproveitar a minha vida com a sua covardia?

Por vc n aproveitar o presente e sempre estar julgando os outros q n são como vc q me faz ter medo de mostrar quem eu sou.

— EU julgo as pessoas?

Vc me entendeu.

— Quer saber? Vai tomar no meio do seu cu! Você é mesmo a porra de um covarde. E sabe o que mais? Eu decido o que vou fazer com o meu tempo, entendeu? Não se meta na minha vida

Desligo o telefone, jogando-o na cama. Pego o travesseiro mais próximo, enterro minha cara para gritar. Grito a plenos pulmões. Quando não tenho mais ar, paro. Levanto meu rosto, vendo pelo espelho, as lágrimas descendo rapidamente pelas minhas bochechas.

Como começou a dar tudo errado? Estava tudo bem. 

Alice entra no quarto e tem o rosto apavorado em seus olhos, ao me ver chorando. Ela abre seus pequenos braços, me envolvendo num abraço apertado. Choro sentindo raiva e angústia em seu pescoço. Nos sentamos na minha cama, onde deito em seu colo.

Teria acabado o que tínhamos? Nós não conversamos mais? Quem me ajudaria a dormir? Todas essas sensações e sentimentos que ele diz ter acabaram por lhe ter chamado de covarde?

Choro mais forte ao pensar que não conversaremos. Choro ainda mais ao pensar que tudo é culpa minha. Eu o havia pressionado e obviamente ficaria pronto ao ataque. Ele só revidou o que eu causei! 

Eu odeio saber que arruino tudo aquilo que é bom. De alguma forma, eu sempre estragava as coisas boas. O amor dos meus pais, a personalidade de Sue, Seth e agora, meu admirador secreto.

Alice sussurra coisas boas em meu ouvido. Está tudo bem, chore o quanto precisar, eu estou aqui para você. Ela acaricia os meus cabelos.

Durantes meus dois anos morei com os meus avós paternos, eles me ensinaram que chorar é para os fracos. Que nós devemos levantar a cabeça e seguir em frente, consertar o que precisa ser consertado, perdoar quem merece ser perdoado e principalmente não lamentar por aquilo que foi perdido. Ser forte a todo o momento. O problema é que eu não conseguia mais fingir que eu sou forte. Eu só queria desabar. E Alice parece ser a pessoa certa para isso.

Perco o tempo. Passou dez minutos ou uma hora? Eu realmente não tenho como saber. Tem tanto tempo que eu tranquei qualquer emoção negativa dentro de mim que é desesperador me sentir assim. Impotente. Sem forças. Com o coração apertado, como se alguém estivesse o apertando com tanta força que eu sinto que posso morrer. 

Paro de chorar abruptamente por um momento. Vendo flashes de muitos momentos em que guardei os sentimentos para mim. Como quando meu cachorro morrera e meu vô não me permitiram chorar ou as últimas notícias que Charlie e Renée não vão vir a minha formatura. Ou o modo estupido em como me atiraram para fora para irem para sua lua de mel. 

Lembro das pessoas idiotas da minha escola privada em Nova Iorque para crianças filinhas de papais, bem, como eu. As garotas pintaram meu cabelo de azul e teve uma vez que todos os meus colegas ficaram contra mim na aula de educação física na hora da queimada. Obviamente que meu avô brigou comigo. “Vá deixar seu nome limpo!” Foi isso que ele me mandou fazer. Não que eu tivesse o obedecido. Eu só aceitava as brincadeiras de mau gosto.

— Bella? - Alice chama a minha atenção.

A questão é que: eu nunca quis revanche. Vingança. O que quer que se chame. Eu só queria ficar na minha, sem problemas, sem ter ninguém me incomodando. Eu sou considerada a de coração mole da família.

Mostre quem manda naquela escola! Meu avô costumava dizer. Nem parece ser uma Swan.

Eu nunca quis ser uma Swan. 

Engulo em seco, balançando a cabeça. Tudo isso ficara em Nova Iorque. Ninguém realmente se importa se meu pai é dono de uma grande companhia de jornalismo. Todos o conhecem como o pequeno Charlie Swan. Mas as fofocas rolavam, afinal, cidade pequena.

Deito-me nos braços de Alice novamente. Acalmando meu coração barulhento que não para quieto. Suas pequenas mãos afagam minhas bochechas, num carinho bom. Eu não merecia. De jeito nenhum. Mas quem se importa? Eu, com certeza, não.

— Estou assustada! - Alice diz com suas orbes castanhas preocupadas. - O que aconteceu?

Desvio meus olhos para o lado. Eu deveria contar que todo o início da grande bola de neve começou por culpa de uma briga com o admirador secreto? Ela definitivamente não irá me julgar. Certo? Posso confiar em Alice! Ela não irá falar nada a ninguém.

Volto a sentar, cruzando as pernas. Esfrego o rosto, tentando tirar qualquer vestígio de que estou chorando. Prendo meu cabelo em um coque bagunçado. 

— É complicado, Ally.

Alice revira os olhos, segurando a minha mão.

— É só descomplicar. 

Limpo meus olhos com as costas da mão. Como se fosse fácil.

— Olhe, vem há algum tempo um negócio veio acontecendo.

— Você está se drogando? - seus olhos se arregalam.

— Não, Alice!

— Está com AIDS?

— Não!

— Então o que? Você vai ser presa? 

— Eu posso falar? Porque se você não parar de me interromper, eu vou calar a boca e não te contar nada!

Seus olhos se arregalam.

— Merda! Me desculpe, Alice. Eu só estou sendo uma vadia. - escondo meu rosto nas mãos. 

Escuto um suspiro. 

— Deve ser uma grande coisa para você estar sendo mesmo uma vadia. - ela diz num tom calmo, brincando. 

Sorrio de lado. 

— Então?

Suspiro. 

— Tem um tempo que eu venho conversando com um garoto. - murmuro, brincando com os fios do cobertor roxo.

— VOCÊ O QUE? - ela grita.

Eu arregalo os olhos, tapando sua boca, rapidamente.

— Quer acordar a rua toda, sua louca?

— Mua facapunta. - ela diz, com as minhas mãos em sua boca, as tiro rapidamente dali. - Sua vagabunda! 

Reviro os olhos quando recebo um tapa na minha coxa.

— Por que não me disse que está falando com alguém? Ele é gato? Vocês já transaram? Ele é legal? - seus olhos se arregalam. - Foi ele quem te fez chorar? Pode me passar o lugar que esse filho da puta mora. Pode se considerar morto!

Ver aquela baixinha com as bochechas vermelhas de raiva e os pulsos cerrados para de certa forma me proteger, fez-me sentir emocionada. Limpo as lágrimas do canto do meu olho.

— É complicado, Ally. Senta aí.

Ela se atira de volta para a cama.

— Eu conheço, mas não conheço ele.

Alice tomba a cabeça para o lado.

— Como assim?

Coço a nuca. Eu não queria ter que explicar a história toda.

— Há umas três ou quatro semanas, recebi um bilhete no meu armário que dizia “eu gosto de você”. Na hora, achei que era uma brincadeira idiota da Lauren. Mas eu ainda fiquei um pouco suspeita e estaria mentindo se dissesse que não fiquei a noite acordada pensando nisso. Bem, na próxima segunda, eu recebi uma outra carta. Como as que nossos avôs trocavam. Ele se declarou como meu admirador secreto. Mas mudei para Correspondente Secreto.

— Isso é fofo.

— Ele continuou a me mandar cartas toda segunda. Você lembra do dia que eu passei mal? Na aula de educação física? - ela assente com a cabeça. - Esse foi o primeiro dia que ele me mandou uma mensagem. Desde então, nós trocamos mensagens quase todos os dias. 

— Ele continua com as cartas?

— Sim.

— O problema é que eu não sei quem ele é. O rosto dele, a pessoa. Eu só o chamo de Correspondente. Então, acho que lá pela segunda ou terceira carta que ele me mandou eu decidi que iria descobrir quem ele é. Tenho uma lista com cinco suspeito.

Levanto da cama para pegar o caderno branco. Entrego-o na página aberta com os nomes das pessoas para Alice.

— O encontro com o Mike foi para saber se ele era o Correspondente. Tyler também já está fora da lista, eu o encurralei no hospital.

Alice lê em silêncio, logo põe o caderno ao seu lado, voltando sua atenção para mim.

— Faz sentindo os seus suspeitos. Eu sempre estranhei todos eles na sua cola. Achei que é por ser “carne fresca”.. - ela faz aspas no ar. - O que não deixa de ser uma verdade!

— Eu sei. - murmuro.

— Então, o que isso tem haver? Por que você estava chorando?

Engulo em seco, tentando controlar as lágrimas.

— Começamos a conversar por ligação há uma semana. Alice, eu não consigo dormir, porque toda vez que fecho os olhos repasso o acidente na minha cabeça. A coisa é essas ligações começaram, porque ele me deu o Kindle. - Alice arregala os olhos. - Eu sei! Eu disse que não queria, mas ele disse que se eu ficasse, poderíamos fazer uma ligação.

— Como você não descobriu ainda quem é? Não reconhece a voz?

— Só eu falo na ligação! - bato com as mãos nas coxas, indignada. - Ele responde por mensagem! E hoje nós começamos a falar que eu ia voltar para a escola amanhã e que ele podia me esperar na frente da escola. Disse de brincadeira. Aí, eu falei por que ele tem tanto medo de eu saber quem ele é. Ele disse que eu vou julgar ele. EU julgar ele? Tá de brincadeira com a minha cara?!

Levanto da cama, caminhando de uma lado para o outro, me sentindo irritada e ansiosa.

— Ele diz que eu penso demais no futuro e eu retruquei dizendo que ele não tem que se meter na minha vida! Eu achei que ele me conhecesse! No final, eu o chamei de covarde. - falo numa respirada só.

Alice cruza as pernas, apoiando seus cotovelos nas coxas e o rosto em suas pequenas mãos.

— Agora, eu estou com medo de não nos falarmos mais porque o pressionei. Eu acho que estraguei tudo, Ally. Eu… Eu me sinto diferente desde que começamos a conversar. 

Alice abre um sorriso fraco, me chamando pela sua mão. Eu volto a me sentar na cama, transtornada.

— Vai dar tudo certo, Bella! - ela diz, segurando a minha mão. - Amanhã ele irá te mandar mensagem ou então, te mandar uma carta. Pelo o que eu entendi, ele manda cartas toda segunda, não é?! 

Aceno com a cabeça, confirmando.

— Ele pode se desculpar pela carta. Você pode mandar uma mensagem também. Mas amanhã. Deixe ele se acalmar, assim como você. Ele se sentiu pressionado, queria tirar o foco de si. 

— Você acha que eu estraguei tudo?

— Claro que não! 

Alívio toma conta do meu corpo. Alice está certa. 

— Agora, vamos descobrir quem é esse Admirador Secreto.

— Correspondente. - corrijo. Ela revira os olhos.

— Onde você guarda as cartas?

Aponto para uma caixa quadrada numa das prateleiras mais altas. Ela é roxa com flores brancas a enfeitando. 

— Deixa eu ver se reconheço a letra.

Faço uma careta. 

— O que?

Olho para o lado. O que tem escrito ali, de certa forma, é algo meu. Íntimo. Eu não quero que ela leia o que o meu correspondente secreto me escreveu. Todas as suas confidências e sentimentos. Eles foram escritos para mim e só para mim. É como se eu fosse lhe mostrar meu tesouro e ele perderia seu brilho por outra pessoa ver.

— Eu prefiro que você não veja. - murmuro.

— Ah! - ela exclama, deitando na cama. - Por que?

— Não sei. 

— Tudo bem, eu acho. 

Permanecemos as duas em silêncio. Ela teria ficado chateada por eu não querer compartilhar?

— Então. - ela diz, após um tempo. - Me conta como você está atrás dos seus suspeitos. Talvez, eu possa te ajudar.

Isso seria fácil. Abro meu caderno, para lhe contar meus motivos e um pouco sobre cada um. Alice parece querer falar algo a mais, no entanto, deixa para lá. Eu explico sobre as minhas duas tentativas. Flertar com Mike e como se não fosse nada demais as cartas com Tyler. Ela pensa que esse não seja o jeito correto. 

— Se Eric for mesmo o correspondente secreto, então vai para cima dele! - bate na tecla, mais uma vez.

— Eu não quero que ele fique assustado. Ou pressionado.

— Qual é, Bella! Parece que nem conhece Eric. Se for tentar ir na moleza, ele talvez nem admita!

— Você acha que pode ser ele?

— Pode ser qualquer um. - responde vagamente.

Ficamos acordadas até mais ou menos à meia noite. Antes de dormir, Alice reforçou que amanhã tudo estaria mais calmo e que o correspondente iria conversar comigo. Eu estaria mentindo se dissesse que estou calma. 

Quando deito a cabeça para deitar, meu coração se aperta por não estar conversando com o Correspondente. Mesmo que na conversa somente eu falasse. É reconfortante. Antes que eu pudesse pegar meu celular, lembro que Alice o escondeu para eu não fazer nenhuma besteria. Como se eu fosse fazer!
    Mal dormi a noite. Ele ainda me escreveria uma carta? Ou deixaria tudo de lado? Por que fui pressioná-lo? Por que? Demoraria muito tempo para mandarmos mensagens? E as ligações? Ainda faríamos? 

Tomo meu café rapidamente, não parando quieta. Ou a minha perna balança sem parar, ou batuco os dedos na mesa, ou ponho meu cabelo em um coque e em seguida, deixo cair pelos meus ombros. Todos parecem perceber a ansiedade que me rodeia.

Sue nos leva para a escola, onde na porta Jasper, Eric e Mike nos esperam com sorrisos nos rostos. Os três garotos nos desejam boas-vindas e ajudam Seth com sua cadeira de rodas. Ele obviamente se diverte com a mordomia.

Tento evitar ao máximo meu armário. Estou dividida. E se não tiver nada lá dentro? E se tiver? O que ele teria escrito? Numa loucura, peço para Alice pegar meus materiais enquanto levo Seth para a sua aula.

— Bella! - ela repreende. Dou de ombros, virando para a direção contrária. Escuto seu bufo.

Largo Seth em sua sala onde todos os seus colegas se reúnem para, provavelmente, saber mais da experiência do acidente. Ele me lança uma piscadela para então narrar sua pequena história extraordinária, com muitos exageros.

Quando chego na sala de inglês, Alice está me esperando com tudo o que pedi. Eu me sento na sua classe ao lado, como sempre. Eu lhe dou um beijo na bochecha como agradecimento.

— Bem… - ela me olha. - Tinha alguma coisa lá?

Ela abre um sorriso malicioso.

— Você que tem que descobrir!

Fecho a cara e para a sorte de Alice, o professor entra na sala, encerrando nossa pequena conversa, já que ela faz de tudo para me ignorar durante a aula. E o caminho para o armário - ela me alcançou os meus materiais. Eu não quero ver de jeito nenhum.

Nos despedimos, sem ela me falar nada. Eu estou prestes a voltar para o armário, quando bato de frente com alguém. Caio para trás. Levanto a cabeça, encontrando Emmett.

— Bellinha! - ele exclama, me ajudando a ficar de pe´. O grandalhão me abraça. - Como está?

— Bem, acho que você está quebrando os ossos que eu não quebrei. - digo. Ele gargalha, me soltando de seus braços.

— Qual sua próxima aula? 

— Espanhol.

— Vamos lá!

Emmett e eu caminhamos até a minha sala. Ele demora para ir embora, sendo expulso pela senhora Rodríguez. Olho para trás, sentindo minhas costas arderem. A loira esbelta, irmã de Jasper, Rosalie me encara. Eu sorrio de lado. Ela vira o rosto.

A aula passa lentamente. Senhorita Rodríguez uma hora conversa comigo sobre a matéria perdida, me entregando algumas folhas de suas aulas dadas e que qualquer coisa era só chamá-la. Sinto minhas costas queimarem por todo o tempo.

Quando, finalmente, o sinal toca, levanto-me correndo para ir atrás de Alice. Passo direto pelo armário. Ao chegar na cafeteria, vejo Tyler e Seth na mesma mesa. Eles faziam barulhos altos. No canto esquerdo, encontro Alice, Eric e Jasper. Ela me encara cinicamente ao ver os livros em meus braços.

Compro uma pizza e um refrigerante. Sento na mesa, escutando o monólogo de Jasper.

— Aí, o capitão do outro time foi expulso da escola. Agora, tiveram que por para um cara que é previsível. Com certeza, vamos ganhar!

— Hey! - digo.

— Eu não quero fazer aula de educação física!

— Eu também não! 

— Você pode usar a desculpa de ainda não estar bem. Hoje vai ser volei!

Faço uma careta. Certo, isso irá adiantar!

— Não entendo o porquê de vocês não gostarem de educação física.

— É porque você não viu esses dois na aula, amor. É um completo desastre!

— É só eu dar umas aulas para vocês! - Jasper diz, dando tapinhas nas costas de Eric. Ele me olha e suas bochechas ganham cor.

O resto do almoço foi tranquilo. Nos divertimos bastante. Quando o sinal bate, vou para a aula de álgebra, onde meus colegas não param de me encarar. Eu apenas os ignoro, focando totalmente no que o professor diz. Na metade da aula, entediada, rasbico no caderno até a aula acabar.

Na aula de biologia, sento-me perto da janela para observar a garoa leve. Ponho meus pés em cima da mesa. Engulo em seco, pensando no teste que veria a seguir. Repasso a matéria na minha cabeça. Eu tiraria uma boa nota. Não tem como eu não tirar uma boa nota. 

— Você está no meu lugar. 

Olho para Edward, encontrando seus olhos verdes.

— Você consegue ficar um dia sem sentar na janela, garotão. - murmuro.

Ele senta-se ao meu lado carrancudo. Eu cutuco seu ombro.

— O que está te incomodando?

Edward não me olha, muito menos me responde.

— Hey! Não vai ser um pouco mais acolhedor na minha segunda experiência traumática com acidentes? - volto a cutucar. Vamos, me anime, Cullen! 

— Será que você pode parar? - rosna. 

Franzo a testa, pondo minhas pernas de volta ao chão. Ele me encara com a sobrancelha arqueada. Eu fecho a cara, olhando para a janela. Um bicho mordeu ele?

— Foi mal, Bella! - ele pede. 

Ignoro completamente a sua existência. Ele começa a me cutucar.

— Será que você não pode parar? - pergunto, ácida.

Ele semicerra os olhos. 

— Não é muito bom, não é? - ele retruca.

Reviro os olhos, o ignorando. Pelo canto do olho, vejo ele retirar de seu bolso um cigarro e um isqueiro com um adesivo de moto. Por algum motivo, tenho vontade de arrancar os dois de sua mão para jogá-los pela janela. No entanto, não faço nada.

O professor Benner entra na sala de aula, mandando todos os alunos ficarem quietos. Eu abro o caderno de biologia, dando uma última revisada no conteúdo. Sinto o bile subindo pela minha garganta.

Benner me chama para fora da sala. Engolindo o seco deixo o caderno na sala, trazendo comigo lápis, caneta e borracha. Entramos na sala dos professores, onde o professor de álgebra cuidaria de mim. Ele disse que eu tinha o período inteiro.

Levo em torno de 45 minutos para finalizar o teste. Eu o reviso duas vezes antes de entregar para o senhor Kellys. Minha pressão cai por um instante e levo alguns minutos para conseguir mexer as minhas pernas. Ninguém entenderia o modo que eu odeio provas.

Tomo um longo gole de água no bebedouro para tentar acalmar meu coração que bate descontroladamente. Tiro um B+. Eu espero. Três questões eu não tinha ideia alguma e por pouco não vomito em cima da mesa, nervosa.

    Bato com os nós dos dedos três vezes antes de entrar na sala. Senhor Benner me lança um sorriso fraco, apontando para a cadeira vazia ao lado de Edward. Sento ao seu lado, ainda me sentindo fraca. Puxo de dentro do estojo, uma bala. Engulo-a rapidamente, sentindo-me melhor.

    Olho para o relógio, ansiosamente. Eu preciso pegar meu telefone. 

    – Cullen. - assopro seu nome, tentando não chamar atenção. Ele me olha, desinteressado. - Você sabe o que Alice tem no último período?

    – Eu tenho cara de quem sabe qual é o horário da Alice.

    – É claro que não!

    Eu realmente não tenho ideia. Artes? Ou teatro?

    – É história com o Schmitt.

    O sinal anuncia o final do período.

    – Achei que não sabia os horários da sua irmã, Cullen. - digo, saindo o mais rápido que posso da cadeira, para correr para a sala do senhor Schmitt.

    Eu fiquei feliz em saber que não precisava ter aula com ele. Ele não tinha uma reputação muito boa entre os alunos. Não que os professores tivessem alguma reputação, mas o professor de história parece ser odiado por quase todos os alunos de Forks.

Me esbarro com Alice no corredor da sala do professor. Ela arregala os olhos, provavelmente surpresa que eu estou no lado oposto do ginásio. Jasper e ela se dão um selinho. O loiro corre para qualquer que fosse sua próxima aula.

— Alice. - chamei-a.

— Você não tem aula de educação física agora?

— Sim!

— O que está fazendo aqui então?

— Eu esqueci de pedir. Você pode devolver o meu celular?

— Vai fazer burrada?

— Claro que não, Alice!

Com a sobrancelha arqueada, Alice retira de sua bolsa o celular. Minhas mãos soam. Eu tinha esquecido de conferir a conversa com o correspondente. Ele deve ter mandado alguma coisa! Respiro fundo, antes de abrir as mensagens.

Nada!

Ele não me mandou nada! Ele não está arrependido pelo o que disse? Está de brincadeira com a minha cara? Ele não mandou uma mensagem de desculpa? Cerro os punhos, sentindo-me irritada. Ele veria quem não sabe aproveitar o presente! Ah, sim!

O sinal toca, Alice continua ao meu lado. Num surto repentino, puxo-a em direção ao armário. Dou uns murros até abrir. Jogo meus materiais para dentro, pego a minha mochila e abro-a encontrando a minha carteira. Com toda a força que tenho, fecho o armário, sem olhar para dentro. Incertamente, puxo Alice pelo pulso. 

— Onde vamos? 

Não respondo. Abro o aplicativo do Uber, chamando um.

— Bella. Isabella! O que está fazendo?

A encaro seriamente. O que eu estou prestes a fazer é ilógico e irresponsável. Mas quem se importa? Eu não.

— Confia em mim?

— Quando você não está agindo estranha, com certeza!

Seus olhos irradiam confusão. Eu sorrio sem graça.

Um prisma entra no estacionamento da escola, aceno para a motorista. Ela estaciona o carro em nossa frente. Abro a porta, olhando para Alice. Ela mesmo duvidando de minha sanidade, entra no carro. Eu olho para trás rapidamente.

Nunca faltei à aula. É o que dizem, às vezes, matar aula é saudável. Sem pensar duas vezes, escorrego no assento, fechando a porta sem arrependimentos. Dou uma piscadela para Alice assim que o carro começa a rodar. 

— O que estamos fazendo?

— Vivendo o presente. - respondo, cruzando os braços atrás da cabeça. Alice cerra os olhos.

— Avisa para o seu pai que foi para o Jasper. Vou dizer para Sue que fui para a sua casa.

— E o seu trabalho?

Engulo em seco. Merda!

— Vou dizer que temos um projeto de inglês. 

— Você não vai me contar mesmo para onde vamos? Vamos faltar aula mesmo? Você alguma vez fez isso?

— Não. Sim. E não. Nada de ruim vai acontecer, Alice.

— Sue não vai desconfiar? É o seu primeiro dia de aula depois do acidente.

— Parece que trocamos de lugar. - comento, rindo. - Confia em mim, Ally. Não vai se arrepender.

Seria estranho eu dizer que me sentia animada demais por estar quebrando as regras? Porque é assim que estou me sentindo! É tudo tão novo e divertido. Eu deveria fazer isso mais vezes. Não com muita frequência, é claro!

— Não é por causa do que o seu correspondente falou, não é?

Fico quieta.

— Ele não está errado, não é?

— Sim. - ela responde. - Quer dizer, mais ou menos. Você aproveita o seu presente de um jeito diferente dos outros. Só isso.

Olho pela janela, vendo a chuva cair cada vez mais forte. As árvores balançam fortemente com o vento. O mar está furioso, assim como eu também estou!

Droga! Eu não quero admitir, mas obviamente o meu correspondente secreto está certo, ou eu não ficaria tão irritada com o que ele disse. Eu concordo que a maior parte dos meus pensamentos estão envolvidos com a escola e entrar em Yale. Eu só quero pensar que num futuro próximo, poderei controlar a minha vida. Sem meus pais ou meus avós. A outra parte que antes era preenchida com livros está obcecada para ir atrás do correspondente secreto. 

Claro que eu sou...era diferente dos adolescentes da minha idade por conta disso. Eu não tenho namorados e nem penso neles, ou melhor, pensava. Não! Não penso. Eu sou responsável!....Ou era?! ARGH! 

O problema é Forks! Essa cidade está me estragando. E para ser sincera, um pedaço de mim está feliz por estar sendo estragada. Os estudos são como um refúgio da minha entediante e sufocante vida. 

Alice ergue uma sobrancelha ao ver a placa de Port Angeles. Com o telefone, vejo o horário: 13:42. Mando a mensagem para Sue avisando que estaria indo para a casa de Alice e perguntando se ela poderia dizer que não poderia ir ao trabalho. Ela rapidamente responde afirmamente.

Ao virarmos uma curva fechada, sinto a adrenalina percorrendo meu sangue. O carro anda pela pista escorregadia rapidamente, o que me deixa nervosa. Finco minhas unhas no couro estofado. Se Alice não percebeu ou o fez, não diz nada.

Alguns minutos de tortura, finalmente chegamos ao nosso destino. O shopping de Port Angeles se estende a frente. Ergo a sobrancelha para Alice que mantém uma cara confusa. Eu estou prestes a fazer a coisa mais idiota! Mas, tenho que viver no presente, não é?! 

Pago a motorista do uber em dinheiro para logo minha amiga e eu saltarmos de seu carro. Pego o pulso de Alice para nos direcionar uma das milhares de lojas que entramos na nossa última saída. Ao chegarmos na La Boutique, os olhos de Alice se arregalam.

Sem nem precisar ser atendida, vou direto para o corredor conhecido por nós. Lá, retiro do varal o vestido vermelho que Alice se apaixonara e o azul que eu também adorara.  

— Isso quer dizer que vamos no baile? - ela pergunta, quando a puxo para o balcão.

— Nope! - respondo enquanto abro a minha carteira. - Isso quer dizer que estou vivendo o presente.

Sua expressão é sem entender nenhuma palavra que eu quis dizer. Por mim, tudo bem. 

Obviamente que a minha raiva causou isso, mas agradeço por essa motivação de vir até o shopping e comprar esses malditos vestidos. Os olhos de Alice brilham de animação. Até eu me sinto animada.

Talvez fosse algo que eu estivesse remoendo desde o primeiro ano. Toda essa coisa estúpida de baile. Eu só tive essa vontade. Pegar Alice e vir comprar os vestidos. Viver o presente, sem se importar com a escola, responsabilidades e muito menos as regras que eu mesma me imponho. Eu sou a minha própria cela na prisão, isso é um fato.

Contagiada com o momento, passamos na loja de sapatos de saltos para comprar um para cada. Alice comprou um par com altura de 15 centímetros, preto. Ela me fez comprar do mesmo tamanho, no entanto da cor nude. Cheias de sacolas, fomos para a praça de alimentação, onde nos enchemos com hambúrgueres e milk-shakes.

Por um instante, mesmo que breve, me permiti a não pensar nas responsabilidades. Nas mentiras. Mas principalmente me permite apreciar esse simples momento. E feliz! Simples e feliz. Aproveitar a companhia doida de Alice. Aproveitar o entusiasmo.

— Como vamos fazer para esconder tudo isso? - Alice me pergunta quando estamos no carro para voltar a Forks. Desvio minha atenção do velocímetro do carro.

— Não consegue entrar por trás da sua casa? Guarda as coisas no seu quarto. Depois sai por onde entrou e finge que está chegando.

— Você é maléfica. - ela diz, me lançando uma piscadela. - E você?

— Vou pedir para Seth me ajudar. 

Ela assente com a cabeça.

 

Lixoso

Q é?

Me ajuda?

Depende

Vai me dar um telefone novo?

Claro q n seu idiota

Arruma meu quarto?

Eu faço um do seus deveres de matemática

Oq vc precisa querida prima?

To chegando do shopping. N deixa a Sue ir para sala. Enrola ela na cozinha. Dá teu jeito

Achei q tava na Alice

Pse…. N tava

Uhuhu isso nunca tinha visto antes

Nem pensa em abrir seu bocão hein

Eu n ousaria

Ta chegando?

 

Olho para a frente da estrada.

Ss

Ta, vou inventar que quero algo pra comer

Cai no chão tbm sla ksksks

AIaiai Bellinha acho q vc tbm tem que fazer o meu de fisica

Nem a pau, já combinamos.

O carro estaciona na frente da casa de Sue. Viro e dou um beijo estalado na bochecha de Alice, como despedida. Ela continua com os olhos brilhando.

Começa logo.

Assim que piso na calçada, o carro começa a andar. Alice abaixa a janela do carro para acenar. Eu faço o mesmo. Escuto passos na escada e as vozes dos meus dois companheiros. Com medo da garoa manchar o vestido, subo na varanda, vendo pela janela os dois se afastarem para a cozinha. Seth pisca em minha direção quando adentra na cozinha.

Abro a porta, tentando fazer o mínimo de barulho. Presidente Miau começar a miar no exato instante que me vê. Eu faço barulho de “shiu” para ele calar sua maldita boca, no entanto ele não para. Revirando os olhos, subo as escadas. Quando estou no terceiro degrau, o gato desgraçado se enrola em minhas pernas. Eu perco o equilíbrio e deixo a caixa com meus sapatos recém comprados caírem no chão.

    Prendo a respiração ao escutar o bum. Da cozinha escuto um barulho ainda maior. Escuto o grito de Sue. Numa rapidez desconhecida, enfio os sapatos de volta para a caixa e subo correndo pelas escadas, indo para meu quarto. Enfio o vestido entre as roupas no cabide e ponho a caixa com os sapatos na prateleira acima. Fecho o armário para voltar ao primeiro andar.

    Fazendo um teatrinho, fecho a porta da frente com força desnecessária. Largo minha mochila no sofá como quem não quer nada para calmamente andar até a cozinha. Ponho a mão na boca, tentando controlar o riso quando vejo Seth esparramado no chão com uma sacola de gelo em seu rosto e outro na perna não quebrada.

    – Bella, querida! - Sue exclama. - Seth não se firmou bem com as muletas e caiu no chão!

    Segurando o riso, faço uma cara chocada.

    – Você está bem, Seth? - pergunto me aproximando do garoto.

    Quando ficamos frente a frente lhe lanço uma piscadela, ele retribui. Pego a sacola de gelo para segurar em sua testa, ele faz uma cara de dor.

    – Como foi na casa de Alice?

    Sinto meu estômago embrulhar com a pergunta.

    – Tudo certo. - respondo sem olhar nos olhos da minha tia.

    – Fome?

    – Não. Comi lá na casa deles, na verdade.

    Continuo a olhar para as coxas bronzeadas de Seth. Meu peito sente uma pontada de culpa. Vamos contar para ela que você faltou aula, gastou mais de 300 pratas e faltou o trabalho por capricho! Você se sentirá muito melhor! Balanço a cabeça, tentando tirar esses pensamentos. 

    – Caiu feio hein? - murmuro. Seth revira os olhos.

    – Acho que nem vou poder ir para a escola amanhã. Que pena!- dramático!
    Depois de muita enrolação e dramatização de Seth, o levo para o quarto com a ajuda de Sue. Largamos ele na cama que geme, fingindo dor. Depois de dar um check-up no garoto, ela nos dá beijos de boa-noite. Parecia exausta. Seth me aponta para o tema de casa separado. Sem vontade alguma o pego.

    – Como caiu sem se machucar?

    Seu rosto é confuso.

    – Priminha, eu realmente me machuquei, idiota!

    Gargalho de sua cara indignada.

    – Confundi! - digo. - Você é um ótimo ator, sabe?!

    – Vá fazer meu tema, escrava! - diz, jogando a almofada do Batman em mim. Não desvio por ser uma boçal. Eu a pego de novo para atirar nele, mas minha mira não é uma das melhores. A almofada cai para longe de seu rosto, indo no chão.

    Depois de mandar para longe, vou ao meu quarto. Largo os temas de Seth na escrivaninha, pego meu pijama debaixo do travesseiro e vou para o banheiro tomar uma ducha quente. Ao sair, volto para fazer os temas de Seth correndo.

    Levo quase um hora e quinze minutos para finalizar tudo. Jogo-me na cama, pegando meu celular. Bufo alto quando vejo a caixa de mensagens vazia. Nem os meus pais me mandaram mensagem nesses dias que se passaram. Irritada, ponho o telefone para carregar no criado-mudo para dormir.

    Mas como um empecilho de sempre, viro de um lado para o outro na cama. Assistindo todo o acidente, mais uma vez. Repetidas vezes. Pensando nas loucuras que fiz hoje. Desejando estar falando com o correspondente secreto. Sendo reconfortada. Sendo entendida. 

    Como eu pude sair da escola antes da aula? Sem avisar a ninguém? Sem pedir a ninguém? Mentindo para Sue e ainda por cima quebrando a promessa que fiz para senhora Croft! Fazendo Seth se machucar só para me ajudar. Já não bastou ele ter quebrado a perna no acidente que eu causei? Pelo menos eu fiz seus malditos temas! Ele quis participar e me ajudar! Além do mais, eu não tenho que ficar chateada com o que fiz! Eu não vou me auto sabotar mais uma vez.

    Olho para o teto branco. Foi uma das tardes mais incríveis que tive desde muito tempo. Nem foi por causa do vestido ou sapatos novos. A coisa é que sair escondida é divertido! A adrenalina e o sentimento de que dane-se se eu for pega é indescritível! Mesmo desejando fazer mais vezes tal, no meu íntimo sei que não irá acontecer. Eu não teria coragem o suficiente para fazê-lo de novo. Mentir. Não ser a garotinha perfeita. Isso não está dentro dos planos.

    Inspiro fundo, decidindo o que seria uma boa ideia para espantar todos os pensamentos que rodeiam juntos na minha cabeça. Levanto, ficando de pé na cama. Pego a caixa roxa, intocada há uma semana. Sento-me de volta, encostada na parede perto da janela, retirando as cinco cartas de lá. Leio todas elas com a luz fraca da lua. É como se ele estivesse ao meu lado neste exato momento. Soltando risadas abafadas, grunhidos sem sentido ou suspiros. As cartas são como pedacinhos dele que eu posso ter a qualquer hora, para sempre. Ele me permitiu isto e eu já duvidava que isso fosse acontecer novamente. Leio-as com carinho, para enfim perder-me em algum momento, num sono profundo, onde me perco na inconsciência sem precisar me preocupar com os medos e as inseguranças.


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Notas finais do capítulo

E então??? O que acham? Um beijo e um queijo, vejo você na semana que vem ❤️



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