Cartas para Bella escrita por Lu Cullen


Capítulo 7
Tyler Crowley, o garoto dos olhos perdidos


Notas iniciais do capítulo

Heyyyyy boys and grils, como estão???? Voltei com mais um capítulo e eu tava pensando aqui, e se.... E SE eu fizesse uma mini maratona??? O que vcs acham? Mas aí vocês precisam comentar hein kkkkk....
Boa leitura!



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    – Parece que eu tomei um porre! - exclamo para Seth. Ele apenas resmunga.

    – Vou pedir para faltar aula.

    Eu queria faltar a aula, mas é demais. 

    – Tenho um teste hoje. - sussurro. Merda! Eu tenho teste hoje!

    – Bah! Se fudeu.

    Sim, eu me fudi. 

    Eu estou morta! Eu não consegui dormir depois do meu sonho. Então, estou um zumbi. Minha cabeça dói assim como todo o meu corpo. Eu nem tinha bebido! Parece que um caminhão passou por cima de mim.

Apoio a cabeça na mesa da cozinha. Como eu pude ir dormir tão tarde? Foi irresponsável! Eu sabia que tinha um teste de biologia e mandei tudo para o céu. Você é muito dramática. Cala a boca, cérebro.

Sue entra na cozinha com um lindo vestido. Sua cara está perfeita. Nem parece que dormiu apenas 5 horas. Também ela deve estar acostumada por conta das festas na faculdade.  

— Bom dia, meninos. - ela diz, pondo café em sua caneca de “melhor tia”. 

— Oi. - murmuro de olhos fechados.

Só cinco minutos. Só cinco minutos. Nada menos.

— Hey! - Sue bate palma. Eu abro os olhos rapidamente com o susto. - Vão se atrasar para a escola!

— Não quero ir! - Seth diz.

— Mas você vai! Agora, levantam-se.

Eu me sinto exausta! Se com 9 horas de sono eu sou estabanada, imagina 3 horas?! De algum jeito ou de outro iria faltar a aula de educação física. Talvez fingir vomitar ou coisas do tipo. Isso resolveria, com certeza.

Levanto da cadeira, indo ao banheiro para lavar o rosto. Quando volto para a cozinha, Seth dorme com a baba escorrendo pela boca. Nojento! Eu lhe acordo e ele relutantemente levanta-se e pega sua mochila. Andando lado a lado, vamos para Pulga.

Abro a porta com um guarda-chuva na minha cabeça, entro no carro e jogo a mochila para o banco de trás, assim como o guarda-chuva. Seth caminha e bate na traseira do carro. Eu rio fraco enquanto ele resmunga diversos palavrões. Sobe em Pulga para fechar os olhos em seguida. Em poucos minutos, ele capota.

Respiro fundo duas vezes antes de ligar a caminhonete. Eu posso fingir que o motor da caminhonete estragou. Simples. Ou eu posso furar um pneu. Sue já foi embora, ela nem poderia nos dar carona. Ou eu mando tudo para os ares, volto para o meu quarto para deitar na minha cama convidativa. Essa é uma bela opção.

Balanço a cabeça para retirar os pensamentos impróprios. Eu tenho teste hoje. Não posso faltar! Com esse pensamento, retiro a caminhonete do pátio. É muito tentador. Ligo o rádio numa tentativa das músicas me manterem acordada. 

Ando devagar pelas ruas não muito movimentadas de Forks. Vou abaixo da velocidade permitida. Tento tomar ainda mais cuidado que o normal já que meu cérebro não está funcionando muito bem.  Fico repassando o conteúdo de biologia na cabeça. Mutações autossômicas de cromossomos, certo? Eu espero que seja.

Entro no estacionamento da escola, atrás de um Nissan Verda. Olho pelo estacionamento, à procura de Alice. Eu precisaria que ela não calasse a boca um minuto para me manter acordada na primeira aula. Cutuco Seth para acordá-lo. Ele resmunga enquanto vira-se para a janela sem abrir os pequenos olhos. Eu volto a olhar para o pequeno estacionamento à procura de uma vaga. Especialmente hoje, eu tinha que chegar atrasada.

Meu celular apita dentro da minha mochila. Eu estico meu braço para pegá-lo. Eu paro o carro e aproveito para desviar meu rosto rapidamente da rua para pegar o celular. Pego-o vendo a mensagem de Charlie. Bufando, jogo para o compartimento embaixo do rádio. 

Acelero a caminhonete, vendo a rua vazia e várias buzinas atrás de mim. Passo pela faixa de segurança e a entrada da escola. Quase dou um grito de alegria ao ver uma vaga. Acelero o carro, querendo ocupar a vaga. E então...

Tudo acontece rápido demais. Em um momento, não há ninguém à minha frente e no outro, Tyler Crowley passa correndo em frente ao meu carro. Eu estou prestes a atropelá-lo e o garoto parece notar, já que fica imóvel com olhos arregalos no meio da rua. Olho para os lados, numa tentativa em vão de receber ajuda. Vejo Alice ao lado de Jasper com as pequenas mãos em sua boca, Eric gritando e a cara apavorada do loiro.

Seth acorda, ao escutar o grito vindo de algum lugar do estacionamento, com os olhos arregalados. Ele grita um palavrão. Não tenho muito tempo para acalmá-lo já que meu carro continuava indo na direção do garoto que uma vez quase me matou. É o que dizem: o karma existe. Escuto um grito agudo feminino, mais tarde eu perceberia que era o meu próprio.

 Na tentativa de evitar o assassinato de Tyler, giro o volante para a direita. Pulga vira-se, derrapando os pneus pelo estacionamento. Minhas mãos soltam o volante e eu perco o controle do carro. Ele vai em ziguezague em direção a calçada. Tento voltar a agarrar o volante e quando o faço, troco a marcha da caminhonete para a segunda. Rapidamente giro o volante para a esquerda enquanto puxo o freio de mão, dando um cavalinho de pau. O carro gira e gira até parar abruptamente, colidindo-se com o poste, para em seguida, tombar de lado. As janelas do carro quebram e os airbags, que até então eu achava que não funcionavam, acionam. 

Minha cabeça bate contra o airbag e o meu corpo vai para a frente. Tudo fica em silêncio por alguns minutos, antes de um grande tumulto começar. Meu cérebro ainda recebe jatos de adrenalina. Luto contra a coisa branca para enxergar Seth. Ele não se mexe. Não, não, não. Com os dedos, cutuco seu ombro. Ele levanta a cabeça, transtornado. Suspiro aliviada. Seu nariz sangrava. 

— Você está bem? - ele levanta o polegar.

Pelo o que um dia fora uma janela, vejo um grande caos ao lado de fora. Muitos alunos tinham seus celulares em direção a nós, outros com eles em seus ouvidos. A chuva continua fortemente, sem da trégua. Vejo Alice correndo em minha direção com os olhos apavorados e Edward ao seu lado com o telefone no ouvido. 

— Bella! - ela grita com os olhos cheios de água, sendo segurada pelo irmão. 

Eu tento responder, mas nada sai da minha garganta. Volto a encostar a minha cabeça no airbag. Escuto altos murmuros. O barulho de ambulâncias e viaturas chamam a minha atenção. Olho pela janela, vendo dois policiais e quatro paramédicos saírem com três macas. Os policiais vêm até meu carro e abrem a porta com um pé de cabra. Com cuidado, me tiram lá de dentro. 

Minha cabeça gira ao sair do carro. Meu corpo começa a ficar encharcado. Viro meu corpo, querendo olhar para Seth. Escuta um policial contar até três e um barulhão em seguida. Vejo Alice conversando com uma paramédica com Edward ao seu lado. Ao me ver, a baixinha corre até mim.

— Você está bem? Já ligamos para o meu pai, ele está te esperando. Jasper irá me levar para o hospital. Te encontramos lá. Edward e a diretora irão com vocês. - ela despeja as palavras e, por pouco, não entendo nada que fala.

Sem mais delongas, ela sai correndo. O paramédico ignora minhas lutas contra ser posta no protetor de pescoço. Eu tento a todo custo procurar por Seth. Ele estaria bem? Cristo, e Tyler? Eu tinha o matado?

Os paramédicos me colocam dentro da ambulância. Edward senta-se no banco de carona. Eles fecham as portas para baterem, avisando que pode-se mexer. O carro começa a andar e sinto meu estômago se manifestando.

— Você está bem? - Edward pergunta. Aceno com a cabeça.

— Onde está o Seth? - minha voz sai estranha. Trêmula.

— Ele está vindo com a ambulância de trás.

Eu suspiro aliviada.

— Eu matei o Tyler? - pergunto, tensa. 

Edward coça a nuca. 

— Para a sua sorte, não. 

— Puta merda! - exclamo. - Ele está bem?

Edward assente com a cabeça. 

Seth, assim como Tyler estão bem. Eu não preciso me preocupar. Edward atende o telefone tocando a música All for Us do Labirinth. Ele resmunga algo, dizendo que estamos chegando.

— Por que você veio comigo? - pergunto quando ele desliga o telefone.

— Para conseguir faltar o teste de biologia, é claro.

Arregalo os olhos, chocada. Ele está brincando certo? Edward dá um sorriso de lado, confirmando meu pensamento. FIlho da puta!

— Alice pediu para eu vir. Se ela viesse, provavelmente brigaria com todos.

Assinto, relaxando meu corpo. A ambulância para. Em seguida os paramédicos abrem as portas, puxando a maca para fora. Na porta do pequeno hospital da cidade, Carlisle Cullen nos esperava. Escuto a chegada das duas outras ambulâncias. O médico chega em minha maca, pedindo para eu abrir os meus olhos. Ele coloca a luz de sua lanterna em meu olho. 

— Venham, vamos entrar.

Sinto minhas bochechas queimarem ao ver que Edward me analisa. Ele deve pensar que sou uma grande idiota. Como que eu consigo me meter em tanto problema?

Vejo que vamos para a emergência. Sou posta em um pequeno cubículo com cortinas como paredes. Escuto resmungos altos de Seth e Tyler ao entrarem no recinto. Uma das enfermeiras coloca um aparelho de pressão em meu braço. Minutos depois, fui arrastada em direção a sala de radiografia, onde com certa surpresa, eu não tinha nenhuma concussão ou uma fratura craniana. Está tudo bem. Só um pequeno machucado no canto superior da esquerda na testa.

Eu peço para a enfermeira me deixar sair da maca. Eu preciso ver Seth e Tyler para ouvir de suas bocas que estão bem. A cortina caramela se abre, revelando Carlise com um sorriso em seu rosto junto de Edward em seu enlaço.

— Como estamos? - ele pergunta, pegando a ficha da maca, lendo.

— Ótima! Incrível! Já posso sair daqui. - digo, rapidamente. Ele sorri solidário.

— Sem concussões, nenhuma fratura. Você teve muita sorte, Bella. Apenas alguns arranhões e contusões.

Edward suspira. Em seguida, escuto um barulho de portas e falas altas. Alice passa por minhas cortina de passos pesados com uma enfermeira atrás. Carlisle apenas sorri para enfermeira que sai correndo rapidamente para longe de sua filha.

— Você está bem? O pai já conseguiu te examinar? Está com dor? Você quer que eu vá cuidar de você na sua casa? Eu pos…

— Alice! - a interrompo. Ela arregala os olhos. - Estou bem. Seu pai está me examinando agora. Só um pouco de dor de cabeça.

— Isso vai doer um pouco. Vou te receitar um alivium para tomar a cada 6 horas durante três dias. Ponha bastante gelo.

— Só isso? - Alice late.

— Alice. - Edward repreende.

— Ela precisa de atestado para não ir a aula. Eu também! Vou cuidar dela e Seth também. 

— Bella te disse que quer que você cuide dela? - Edward pergunta.

— Você quer? - vira para mim. Seus olhos brilham em expectativa. Sem muito o que dizer, respondo:

— Pode ser. Mas não vai ser muito trabalho?

— Assim você me ofende! Não será trabalho algum!

— Tadinha de você que terá que aguentá-la.

— Cala a boca, Edward!
    – Questões resolvidas! Agora, eu peço encarecidamente para meus dois filhos saírem da sala. - Carlisle interrompe sua discussão.

— Mas, pai… - Alice diz. Ele apenas sorri apontando para a saída. Bufando os dois saem.

Carlisle tira minha febre, toca em meu crânio e olha a radiografia mais uma vez para ter certeza que tudo está bem, mesmo eu já tendo dito aquilo milhares de vezes. Ele conversa comigo, banalidades para me distrair. 

— Vou poder voltar à escola?

— Acho melhor ficar em casa.

— Mas eu tenho teste.

— Você sobreviveu a um acidente de carro, isso supera qualquer teste. - ele diz, afastando-se da maca.

— Você se importa de Alice ficar comigo? Quer dizer, talvez possa colocar juízo na cabeça dela e dizer para não falta a escola e-

— Não se preocupe, Bella. Alice já sabe suas prioridades. Aparentemente, você está no top 5 dela.

Sorrindo envergonhada, jogo minhas pernas para fora da cama, pulando em meus pés. Sinto-me tonta e Carlisle segura meus pulsos. Sorrio envergonhada, voltando a estabelecer o equilíbrio do meu corpo. Puxo meus braços em direção ao meu corpo. 

— Posso ver Seth? - Carlisle assente, puxando a cortina da direita. 

Seth está deitado na maca ainda com o protetor de pescoço. Seu nariz não está mais sangrando e ele tem a perna esquerda enfaixada. Engulo em seco, sentindo um sentimento de culpa tomar conta do meu estômago. Uma vontade de vomitar me domina.

Eu me sento na cadeira estofada, vendo a enfermeira, tirar o aparelho de pressão, revirando os olhos escutados as lamúrias dramáticas de Seth. O garoto resmungava dizendo que ela estava o machucando.

— Me desculpa, Seth. - murmuro, tocando em sua mão. Ele abre seus olhos, abrindo um sorriso.

— Não precisa pedir desculpas.

— Eu quase te matei.

— Você me fez ter um momento de Velozes e Furiosos! Foi incrível!

Sorrio fraco. Ele realmente consegue tirar as melhores coisas dos piores momentos.

— Seus pais vão ter um treco. - ele diz.

— Duvido.

— Você sabe que eles vão ficar preocupados, certo?!

Sorrio de lado. Talvez. 

— Claro! 

Seth volta a reclamar quando Carlisle aparece. Ele implora para tirá-lo do protetor. No momento que o Doutor retirava o protetor amarelo feio, escuto uma voz alta:

— Onde estão Bella Swan e Seth Clearwater?

Sue!

Poucos segundos depois, Sue passa pelas cortinas do cubículo de Seth com os olhos vermelhos. Ela joga-se em cima de mim, enterrando seu rosto em meu pescoço. Seu coração bate acelerado, suas mãos soam e ela me enche de beijos no rosto. 

— Eu estava tão preocupada. - diz, pondo meus cabelos para trás. - Só me falaram que vocês tinham sofrido um acidente. Não me disseram como estavam!

Sue abraça Seth de mal jeito, também o enchendo de beijos. Ele franze o nariz, apreciando o amor que Sue espalha. Sue senta-se na cadeira, escutando atentamente todas as recomendações de Carlisle, entre elas: descanso.  Sue retira um caderninho de sua bolsa e anota tudo o que diz.

Sem querer chamar muita atenção, saio da sala, indo atrás de Tyler. Acho-o quatro cubículos após o meu. Sua cortina está aberta. A luz está desligada e ele está de olhos fechados. Eu sento na cadeira ao seu lado. Faço um barulho com a garganta, chamando sua atenção. Tyler Crowley me encara com os olhos perdidos.

— Bella?!

— Hey. - respondo, olhando para baixo. 

— Você está bem?

— Eu que devia perguntar isso. Você está bem?

— Sim! Alguns arranhões só. Estou esperando meus pais.

— Ótimo! - sussurro.

Um alívio me domina. Se eu o tivesse atropelado, nem sei o que faria. Ninguém realmente tinha se machucado. Ninguém tinha morrido. Tudo está bem, é isso que importa. 

— Acho que estamos quites, não é? - pergunto, encontrando seus olhos marrons.

Ele franze a testa.

— Como assim?

— Bem, você quase me atropelou uma vez. Agora, eu quase te atropelei. Estamos quites!

Tyler balança a cabeça, tentando acompanhar a minha lógica. Meu cérebro brilha por um momento.

— Então, você pode parar de me mandar as cartas. - digo, como se não fosse nada.

— O que? - ele pergunta com a sobrancelha erguida.

— Você sabe. - digo, cruzando as pernas. 

— Não, eu não sei.

— Pode parar de me mandar as cartas. Estamos quites e você pode parar de tentar me levar para o baile com as suas cartas. 

Tyler continua com a testa franzida. 

— Eu realmente não sei do que está falando.

Respiro fundo, tentando não surtar.

— Qual é, Tyler? Por que continuar mentindo?

Ele se senta na maca, olhando no fundo dos meus olhos.

— De verdade, Bella, não tenho ideia do que está falando. Cartas? 

Murcho. Então, não é ele?

— Você tem certeza?

Tyler assente com a cabeça. 

— Como eu não pensei em fazer isso? - pergunta, batendo a mão na testa. - Você teria aceitado ir ao baile se fosse eu?

— Eu não vou a bailes. - respondo com um sorriso.

— Isso é uma pena. - ele suspira. - Mas pelo menos estamos quites agora. Vou te deixar em paz, viu?!

Não respondendo seu comentário, me levanto, saindo do cubículo. Fecho a cortina, dando de cara com Edward do outro lado do corredor, tomando um copo de água. Eu lhe lanço um sorriso de lado. Ou algo como um sorriso. Ele me lança uma piscadela. Escuto Sue me chamar, ela está com Alice do seu lado. Faço uma careta.

Aproximo-me das duas mulheres que conversam animadamente. Elas me puxam para um abraço apertado. 

— Vai ser ótimo esses dias que você irá ficar lá em casa, Alice. Fará bem Bella ter uma companhia.

— Eu agradeço por permitir.

— Você sempre pode ir lá, querida.

Aproximadamente três horas depois, recebemos nossos pertences recolhidos pela polícia no carro quando paramos na recepção. Seth, com a cadeira de rodas, vai em direção ao Tesla de Sue sendo empurrado por Alice. Com dificuldades ele entra no banco da frente. Alice e eu vamos atrás. Jasper iria levar suas roupas mais tarde. 

Durante a minha viagem ia pensando sobre Tyler. Eu me sentia muito bem por saber que ele está fora da minha lista. Espero que toda essa insistência de ir para o baile acabe, já que agora estamos quites. Pensando bem, talvez eu devesse ter o quase atropelado antes. Teria me poupado de muitas irritações. Eu também fiquei muito mais aliviado deixando Alice decidir qual filme iriamos assistir antes de dormir.

Ao chegar em casa, Seth, Alice e eu sentamos na sala enquanto Sue foi atender o telefone que tocava. Ficamos conversando sobre a perna quebrada de Seth e que ele finalmente poderia dizer que tinha quebrado um osso. Ele disse que as garotas ficariam com pena e o ajudariam em o que ele quisesse. Eu ri de sua ilusão. 

Sue me chama para a cozinha, onde disse que meus pais me esperam na linha do telefone. Pego de sua mão, levando a minha orelha.

— Alô?!

— Filha! - Charlie diz. - Que bom que está bem!

— Tudo certo.

— Isso é ótimo! - Renée diz. - Mas Isabella. Você tem que tomar mais cuidado! Você podia ter matado alguém! Matado você mesma!

— Eu sei, mãe. - murmuro, enrolando uma mecha do meu cabelo. 

— Foi a sua tia que te deu aquela caminhonete, não é?! Vê se pode! Aquilo lá nem presta. 

— Isso não é verdade! - falo, irritada.

— Quanta irresponsabilidade. - Charlie diz. - Iremos trazer você aqui para Volterra, com nós.

— Wow wow wow. O que? - arregalo os olhos.

— Iremos comprar as passagens. Semana que vem irá para cá com nós. Fará aulas online. 

Há alguns meses atrás, essas palavras eram tudo o que eu queria escutar. No entanto, agora o sentimento que sinto não é o esperado. Eu fico zangada. Chateada. Principalmente, irritada.

— Vocês me perguntaram se eu quero ir? 

A linha fica muda. 

— Vocês imaginaram me perguntar primeiro se eu quero viajar? Se eu quero ficar com vocês? 

Eles não me respondem.

— O problema é que vocês não pensam em mim. Só pensam no umbigo de vocês! Eu não vou viajar para o caralho onde vocês estão! Vou ficar aqui com Sue e Seth. Que me querem aqui! Diferente de vocês que estão sempre me espantando! Eu estou bem e se isso é tudo que querem saber, vou desligar.

Sem esperar protestos, desligo o telefone. Respiro fundo, antes de voltar para a sala, encontrando os olhos de todos para mim. Ignoro. Eles não precisam ter pena.

— Sue a culpa não é sua. - digo ao ver ela abrir sua boca. - A caminhonete foi a melhor coisa que me aconteceu aqui, além da Ally. 

Alice me abraça de lado com os olhos brilhando.

— Eu devia ter deixado vocês em casa. Estavam tão cansados. Foi uma irresponsabilidade minha deixá-los acordados tão tarde.

Engulo em seco. É verdade! Mas não é culpa dela.

— Seth e eu podíamos ter faltado a aula e você nem saberia. Foi uma sequência de decisões que vieram com suas consequências. Não precisa esquentar.

Sue funga. Aquela é a primeira vez que não discuto com ela sobre suas ações inconsequentes. Talvez, porque eu não queria fazer mal, que nem no início. Não queria descontar a raiva que eu sentia por vir nessa pequena cidade. Eu quero que ela não sinta culpa. Quero que ela continue a querer ficar comigo.

— O que aconteceu com a Pulga? - Seth pergunta, balançando-se de um lado para o outro na cadeira de rodas.

— Teve a caçamba amassada e tirou um pouco a cor. O senhor Kress disse que o senhor Hale levou a caminhonete para a oficina. Eu irei pagar o conserto.

— Não, não! Eu pagarei com o salário que recebo da lanchonete.

— Bella é o mínimo.

— Não vamos entrar nessa discussão! - digo, dando um ponto final na conversa. 

Sue fica de cara emburrada. Apenas dou de ombros, não ligando. 

— Vocês estão proibidos de irem dormir depois da meia noite durante os dias de escola. Me escutaram? - pergunta, levantando-se da poltrona. Seth arqueia a sobrancelha parando de dar voltas com a cadeira. Eu seguro um sorriso.

— Entendido. 

Ela olha para Seth que bate continência.

Jantamos todos juntos uma lasanha congelada. Perto das sete horas, Jasper trouxe as roupas de Alice. Ele perguntou se estava tudo certo e que qualquer coisa que precisássemos, ele estaria lá. Também disse que está ajudando o pai com a Pulga. Agradeci por isso.

Por volta das oito horas da noite, Alice e eu arrumamos o meu quarto para por o colchão extra no chão para ela. Assistimos um filme natalino que ela está obcecada. Ally acabou por capotar nos primeiros 20 minutos de filme. Eu sinto meu corpo implorando pelo sono, assim como minha mente. No entanto, ao fechar os olhos eu só conseguia ver os flashes do acidente. Tudo passa como um filme em minha cabeça, lentamente. Escuto o grito de Seth, desesperado. Os murmúrios de todos. A ambulância chegando. O sentimento de imponência.

    Abro os olhos ao escutar o toque especial daquela pessoa. Pego meu telefone com a tela quebrada, vendo a mensagem dele.

    Vc está bem?

    Eu deslizo o dedo sobre a tela, abrindo a conversa.

To bem, eu acho. 

    Pq “eu acho”?

N consigo dormir

Pq?

Eu vejo o acidente. De novo e de novo.

    O q eu posso fazer para te ajudar?

Tem algo q me ajudaria além de uma terapia?

    Na vdd, acho q tem

 

    Franzindo a testa, fico olhando que nem uma boba para o telefone. Ele iria mandar flores pelos pombos como em Encantada? Ou me arranjar uma psicóloga às dez horas da noite? Improvável.

    Ponho a mão na boca sem acreditar ao ver no visor do meu celular o nome do correspondente secreto e seus auto falantes saírem ao toque do meu telefone. Olho para baixo, vendo Alice dormir. Pulo sobre ela, indo para o banheiro. Fecho a porta branca, encostando as minhas costas nela. Deslizo o dedo sobre o sinal verde, levando o telefone na orelha.

    Fico em silêncio, escutando as nossas respirações. Meu coração acelera e minha barriga dá voltas e voltas. Engulo em seco, sentando na tampa do vaso, sentindo minhas pernas tremerem. Ele está do outro lado da linha, mas parece que está ao meu lado.

    – Alô?! - consigo dizer trêmula.

    Uma mensagem chega:

Oi

— Vai ser assim então?

Sim

— Por que sempre precisa complicar tudo. 

Escuto um riso contido na linha.

Você sabe porque

Mordo os lábios enquanto reviro os olhos.

— Você só pode estar de brincadeira comigo.

Juro q n estou

— Mesmo querendo arrancar a sua cabeça fora por fazer tanto mistério por uma coisa ridícula, eu gosto de você, CS.

CS?

— Corresponde Secreto.

Eu sou um Admirador Secreto.

— Isso é algo que eu decido, CS.

Vc é mto teimosa.

— É o que dizem.

Ele ri pelo outro lado da linha.

— E você gosta de mim?

Eu nem preciso dizer meus sentimentos por vc, Bella

— Eu estava esperançosa que você me dissesse em alto e voz clara.

Boa tentativa

— A esperança é a última que morre, certo?

Vc está certa. A esperança é a última q morre

— Quer saber de uma coisa?

O que?

Mordo a unha antes de falar.

— Eu faria qualquer coisa para escutar a sua voz. - sussurro.

Qualquer?

— SIm. 

Talvez, um dia.

— Eu te odeio! - resmungo.

Vc acabou de dizer q gosta de mim!

— Fui diagnosticada com bipolaridade.

Sério?!

— Claro que não, idiota! - respondo rindo.

Durante um bom tempo ficamos em chamada com ele respondendo por mensagens enquanto eu falo pelos cotovelos. Em alguma hora, eu voltara para a cama, na intenção de colocar os fones de ouvido para escutar melhor seus sons, como as risadas contidas, ou as respirações. Esses pequenos barulhos enchem meu coração de alegria, surpresa e outro sentimento. 

Quando passava das dez horas, eu tinha meus olhos fechados, escutando sua respiração. Lembro de perguntar se ele estava deitado, como eu. Sua resposta foi positiva. Lembro de imaginar estar deitada ao seu lado, escutando seu coração bater enquanto todas essas conversas eram faladas cara a cara. Em algum momento enquanto sonhava acordada, recebera a última mensagem da noite para em seguida dormir, sem pesadelos e sem sonhos.

Boa noite, minha doce Bella.


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Notas finais do capítulo

Eaiii???? O que acharam? Espero q tenham gostado eeee me digam sobre o que acham da maratona. Beijossss...



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