Maybe escrita por Lily Potter


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Olha só quem voltou no dia que prometeu? Incrível o que uma organização básica pode fazer com essa autora que vos fala. Muito obrigada a todos que vem acompanhando a história, e muito obrigada ao NH por ter me dado a oportunidade de, bem, ter mais motivos para escrever sobre o casal heheheh
Obrigada novamente à todas minhas amigas por aguentarem meus surtos, principalmente a Belle que me ajudou com a betagem ♥
Queria dizer uma coisa que realmente é relevante ao capítulo, se passa durante tempos reais, então nossa linha do tempo e de acontecimentos batem com as deles, o que significa PANDEMIA, enfim, aproveitem!



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19 de janeiro de 2020, Londres, Reino Unido:

    Harry estava encarando a neve caindo pela janela quando Ginny juntou-se a ele. Ela cheirava a chocolate quente e morangos, e havia uma suavidade em seus movimentos, talvez fosse curva delicada que ainda estava nos olhos dela, ou talvez fosse a forma em que naquele momento onde a neve caia sob terras londrinas fizesse tudo parecesse mais romântico. Independente do motivo naquele instante eles pareciam-se muito com os adolescentes que se beijaram no meio da rua em uma noite de verão. 

 — Você nunca me disse que seus vizinhos são tão merdas. — Ele comentou suavemente, as palavras se desenrolando no inglês que ainda vinha fácil para ele, mesmo após tantos anos se comunicando majoritariamente em coreano. 

A ruiva ri nasalmente e se encosta na janela, deixando, assim, seu perfil ser iluminado pela luz da rua, fazendo com que seus olhos castanhos brilharem ainda mais. Ela não parecia muito contente em pensar nos vizinhos e Harry estava a um passo de pedir desculpas, quando ela balançou a cabeça. 

— Eu evito pensar neles sempre que posso, ugh, eu odeio aquele casal. — Ginny falou com a voz baixa, afinal os gêmeos, após muito trabalho, dormiam apenas alguns metros de distância, 

— Aquele, homem, Paul, ele não tirava os olhos de você, o que é compreensível, porque você é de tirar o fôlego, mas ele é casado e a mulher dele estava bem ali. — Harry exclamou irritado, apesar de ainda manter o tom de voz baixo, e apenas quando as bochechas da ruiva ficaram em um suspeito tom de rosa que ele se deu conta que havia falado demais

Ele tinha realmente que mandar uma dessas bem quando as coisas pareciam estar bem entre eles? Seu cérebro não poderia ter retido essa informação assim como ele fazia quando Harry ainda era um adolescente hormonal? Será que ele estava voltando a terrível fase de sentir coisas demais? Isso parecia muito com um pesadelo inspirado em um filme clichê feito por Tim Burton.

— Desculpa, eu não quis dizer isso. — Ele respondeu tropeçando nas poucas palavras que conseguiu falar, e Ginny riu levemente e o encarou com suas lindas orbes que o lembrava de canela, de brigadeiro, do sentimento de tomar chocolate quente em dias frios como esse que ele estava tendo ao lado dela.

— Então eu não sou de tirar o fôlego? — Ela perguntou sorrindo de lado. 

— Não! — O moreno respondeu apressadamente, e ela apenas arqueou a sobrancelha perfeita e o encarou por o que pareceram séculos, mas não poderia ter sido mais que alguns segundos, e ele engoliu a seco. Droga! Por que ela tinha que mexer tanto com ele? — Quer dizer, você é, mas, argh! 

A ruiva riu mais um pouco e balançou a cabeça parecendo estar se divertindo como nunca. O que, na opinião de Harry, era simplesmente a pior coisa que poderia lhe acontecer no momento. Nada era mais letal que a risada melodiosa de Ginny Weasley, nada no mundo o prendia mais do que esse som, nem mesmo a melhor orquestra poderia superar o som perfeito que ela era capaz de produzir quando ria. 

Como há dezessete dias ele pensou que seria possível não estar perdidamente apaixonado por cada parte dela, quando nem mesmo depois de quatro anos separados ele havia conseguido deixar de amá-la? Como ele havia sido burro.

Ginny o guiou até a sala, onde duas canecas de chá os esperava e ele sorriu ao ver que as canecas que estavam ali eram as que ele havia dado a ela tantos anos atrás, apenas alguns meses antes do divórcio virar uma realidade. 

— Desculpa por falar esse tipo de coisa, Ginny, não quero deixar as coisas estranhas entre a gente. — O moreno falou em um só fôlego após alguns, longos e inconsoláveis, minutos de puro silêncio. Foi, obviamente, necessário o silêncio para que ele reunisse toda sua, pouca e quase sempre em falta, dose de coragem para ser honesto com a mãe de seus filhos. 

— Tudo bem, Harry, de verdade. — Ela respondeu gentilmente, mal parecendo a mesma mulher que quase o matou via telefone horas mais cedo. Talvez, ele pensou, ou melhor deu voz a seus melhores sonhos, ao menos em pensamento, ela assim como ele sentiu essa coisa nova querendo surgir entre eles. Essa coisa que era ao mesmo tempo tão nova, era tão antiga. 

Ele apenas sorriu e aproveitou o silêncio confortável que os rodeava, o cacheado havia achado que eles nunca mais fossem conseguir conviver dessa forma, no entanto, era um alívio saber que havia se enganado, saber que ainda havia esperança para ao menos retomar a amizade fácil que costumavam ter.

— Eu sinto falta de ser sua amiga, Harry, acho que nós deveríamos tentar isso. — A Weasley pronunciou em um rompante quase o assustando. Então ela também sentia que ainda havia um futuro para eles, pelo menos como amigos. Poderia parecer pouco, mas para ele, já era mais do que imaginava conseguir durante seu período em solo inglês. 

 — Eu também senti sua falta, Ginny. — Admitiu com um pequeno sorriso no rosto, e quase que inconscientemente começou a inclinar-se em direção da ruiva. Ao contrário do que ele imaginava que iria acontecer, a Weasley se inclinou em sua direção, e permitiu que ele a abraçasse, os cabelos curtos dela roçando na curva do pescoço dele e fazendo cócegas.

Nada poderia ser melhor que isso ele pensou quando eles se soltaram e ela encarou, os olhos dela fixos em seus lábios, e Harry tentou de verdade, mas foi impossível impedir seus olhos desviarem para a boca dela. 

E se ele a beijasse? 

Bem ali diante de um cenário quase irreal de tão perfeito, como ninguém além deles mesmo como testemunhas, se ele a beijasse, o beijo seria retribuído? Se Harry ousasse ser corajoso e enroscar as mãos nos cabelos dela, como costumava fazer antes de entrelaçar suas bocas, tudo que estavam construindo, iria se acabar?

Infelizmente, ou talvez, felizmente, ele não pode descobrir o que um beijo faria com a recém amizade que eles estavam tentando instalar após anos de conversas educadas em prol de seus filhos, porque seu telefone começou a tocar quebrando o momento que havia sido criado. 

Harry ao ver o nome de sua mãe no identificador de chamadas, não pensou duas vezes antes de aceitar a ligação, e só após ver os olhos verdes de sua mãe se arregalarem levemente ao ver Ginny, que se lembrou que não havia contado-a sobre o incidente do loft.

Olá, querido, Ginny. — A voz suave dela soou pelo auto falante do celular na cadência melodiosa do coreano, que soava sempre como uma canção quando proferida pela voz de sua mãe. Foi inevitável o sorriso que surgiu no rosto do moreno.

— Oi, mãe. — Ele cumprimentou levemente, também em coreano e Ginny fez o mesmo também suavemente, deixando-o com um aperto no peito, fazia tanto tempo que ele não ouvia sua segunda língua sendo falada pela Weasley que Harry  já havia esquecido o quanto amava a ouvir falando um idioma que fazia tanta parte de quem ele era. 

    — Aconteceu alguma coisa para a senhora estar me ligando tão cedo, eomeoni?— Harry perguntou sabendo que sua voz soava preocupada, e pelo canto dos olhos viu Ginny o perguntar silenciosamente se ele queria que ela saísse, provavelmente por questões de privacidade, mas ele negou levemente, afinal estava na casa dela, e certamente sua mãe não iria falar nada que não pudesse ser presenciado pela ruiva. 

    — Sim, Harry, está tendo um… — Sua mãe começou a falar o olhando preocupada, mas as vozes de suas irmãs mais novas soam incompreensíveis pelo telefone e Lily começa a falar com elas por um instante, provavelmente as apressando para a escola. — A Ginny está do seu lado?

    — Eu estou, mas posso sair se você quiser, Lily. — Ginny ofereceu gentilmente, com o sorriso calmo que sempre dirigia a mãe de Harry. O moreno sabia o quanto elas eram amigas, e que mesmo depois da separação, a relação delas se manteve a mesma, e isso sempre o deixou imensamente grato pelas mulheres que tinha em sua vida. 

    — Não, querida, muito pelo contrário! — A ruiva mais velha corrigiu em um quase grito desesperado, parecendo estressada e muito preocupada. Algo estava errado, muito errado. — Eu quero que você escute também. — Ela completou suavemente, seus olhos ficando mais gentis, mas Harry não pôde deixar de notar o olhar que ela lançou a ele, um olhar que questionava a presença de Ginny ali em uma hora tão avançada da noite. Sua mãe ainda não havia percebido que o intruso era ele.

    — Lily, o que aconteceu? 

    — Harry, você lembra da doença que descobriram na China que nós estávamos falando para você uma semana antes de você viajar? — Sua mãe questionou com os olhos atentos, e com um pouco de esforço ele foi capaz de resgatar a memória de um momento que parecia-se tanto com os outros que ele tinha que seus pais que às vezes ele sequer guardava a informação. Como se ele não tivesse precisado se esforçar para lembrar o que havia acontecido, a memória veio com força total e logo ele pôde assentir, mas Ginny por outro lado apenas os olhou parecendo confusa.

    — Que doença é essa, Harry? — Ginny o perguntou ainda parecendo confusa, mas um olhar de preocupação também começava a se fazer presente à medida que a mãe dele explicava a ela o que era o coronavírus, uma vez que ele não conseguia falar, pois também conseguia sentir a ansiedade e preocupação penetrar em seus membros. 

    — Eomeoni, porque você está falando disso? — O cacheado perguntou já desconfiado para onde a conversa levaria rumo, e se seus medos provassem-se certos, isso certamente abalaria a vida não só dele, mas como a de Ginny, e o fato da insistência de sua mãe em manter a ex-nora para a conversa fazer cada vez mais sentido não era algo que aliviava a tensão nos ombros do moreno. 

    — Hoje foi anunciado o primeiro caso confirmado aqui na Coreia, meu amor. — A Potter mais velha anunciou com uma feição pesarosa, seus olhos dizendo muito mais do que sua boca.

Eomeoni, vocês estão bem? — Foi a primeira coisa que Harry conseguiu falar após alguns segundos registrando a notícia.

O moreno não conseguia nem imaginar o que faria caso sua família não estivesse bem, principalmente quando ele estava tão longe deles.

— Nós estamos bem, querido, o governo já decidiu fechar algumas coisas e as pessoas estão sendo instruídas a usar máscaras sempre que saírem. — Lily respondeu  parecendo calma e confiante sobre a eficiência do governo, mas seu rosto ainda carregava um semblante preocupado. — Minha preocupação é com vocês, Harry, não conosco. 

— O que você quer dizer, Lily? — Ginny perguntou soando aflita, seus olhos brilhavam em preocupação e há muito já não brilhavam em diversão como brilharam antes da ligação ser feita. 

— O Harry não pode voltar para Seoul, e eu sei que o governo inglês vai demorar para agir em respeito a pandemia. — A ruiva mais velha explicou com um olhar decepcionado, e então, Harry começou a entender o porquê sua mãe tinha pedido para Ginny estar por perto.

Mas não poderia ser, certo? Lily não pediria para que eles morassem juntos durante a pandemia, né? 

No entanto, não havia outra explicação para o comportamento da ruiva mais velha, nada poderia explicar o que ela estava contando a eles dois, se não isso. 

Eomma, o que você não está nos dizendo? — Ele perguntou desconfiado e rezou a todos os deuses que conhecia para que a resposta não fosse a que ele imaginava. Sua mãe não podia pedir-lhe isso, ele não conseguiria morar com Ginny novamente, tinha certeza disto. 

Ao menos não sem fazer algo incrivelmente imbecil como pedí-la em namoro, ou, e ele tremia apenas ao pensar na possibilidade, estragar o pouco que haviam construído a partir de uma convivência de casualidades em consideração dos filhos. 

— Eu acho que seria melhor se vocês permanecessem na mesma casa, ao menos por enquanto, caso contrário seria arriscado para vocês e para as crianças. — Foi a resposta que sua mãe os deu e, Harry sentia que poderia chorar por estar certo. Nunca havia se sentido tão mal por conhecer tão bem sua mãe.

Eomeoni…  — O Potter começou sem saber como continuar a frase sem ofender Ginny ou sua própria mãe. Não é como se a ideia de passar mais tempo com seus filhos lhe fosse um problema, muito pelo contrário!, ele queria isso mais que tudo, mas não ao custo de uma pandemia. 

— Você tem razão, Lily — A ruiva mais nova concordou, lançando a Harry um olhar indecifrável que o lhe deu calafrios, o fazendo calar-se e evitar olhá-la, ao menos por enquanto, e escutou as recomendações que sua mãe os dava. 

Foi apenas quando eles se desconectaram que o moreno a olhou diretamente, os olhos dela carregavam determinação e teimosia, e ele sequer precisou falar para saber o que seria a resposta dela. Mas ele não poderia apenas ignorar aquilo, era uma questão séria demais, para ele simplesmente aceitar o que ela havia decidido. 

Harry não iria permitir que as coisas entre eles mudassem por sua falta de tato, não dessa vez. 

— Ginny, você tem certeza que essa é a melhor opção? — O moreno perguntou cautelosamente, sentindo-se ligeiramente idiota por perguntar algo que ela já havia falado a sua mãe, mas ele precisava confirmar isso. A ruiva o olhou com a sobrancelha erguida e, após engolir em seco algumas vezes, ele continuou: 

— Não me entenda mal, Ginny, eu não tenho nada contra morar com você, mas eu não quero te atrapalhar ou confundir as crianças. 

— Por que as crianças ficariam confusas, Harry? — a ruiva perguntou pacientemente e esperou por longos minutos que o moreno respondesse, mas a resposta não veio. — Se você se sente desconfortável com isso, não tem necessidade, mas é a nossa melhor opção no momento, você sabe disso. 

O problema era que ela tinha razão sobre isso, se eles não fossem ficar na mesma casa, na casa dela, Harry não poderia ver as crianças, o que certamente causaria um problema, fora que o tempo de aluguel do apartamento em que ele estava não duraria muito mais tempo. 

— Eu sei disso. — Potter assumiu, as mãos pressionando o templo. — E eu não me sinto desconfortável em morar com você, é só que, eu não quero que as coisas entre nós dois fiquem estranhas ou dar esperanças às crianças.

— Eu entendo, Harry, mas nossos filhos são inteligentes e eles vão entender, não se preocupe muito com isso. — Ginny o acalmou com um sorriso gentil e apoiou a mão no braço dele. 

Imediatamente Harry sentiu todo seu braço pegar fogo e seu interior ardia, se acendendo, ao sentir o toque dela. Seu coração parecia bater mais forte e tudo que ele conseguia pensar era em como ela era incrível. 

Eles se encararam por um longo momento, e novamente o Potter sentiu que eles iriam se beijar. Ginny estava se aproximando cada vez mais, e ele sentia seu corpo indo em direção dela, assim como a Terra sempre iria em direção ao Sol, Harry sempre iria em direção de Ginny. 

A respiração dela estava superficial, e ele conseguia sentir o hálito dela batendo nele, quente e cheirando  ao chá verde que haviam tomado. Harry sabia que não estava tão diferente, seu coração batia forte no peito, agitando-se com a possibilidade de beijá-la de novo. As mãos dele suavam, e o cacheado sentia-se como se fosse dar seu primeiro beijo novamente. 

Quando suas bocas se encostaram, foi tão suave que nem parecia haver contato, mas isso durou apenas alguns milésimos de segundo, porque assim que registraram o que faziam eles se soltaram, incrédulos. 

— Eu...ah...eu, Harry… — A ruiva tentou falar, os olhos desfocados e as bochechas coradas, parecendo pedir por um beijo. 

Harry não conseguiu resistir a visão diante de si, e antes que ele ou ela tivessem tempo de raciocinar, o moreno a beijava profundamente. 

Após os segundos de puro choque, Ginny, ao contrário do que ele esperava, o beijou de volta e logo suas línguas brigavam por dominância e o beijo ficava cada vez mais indecente. 

Em algum momento, qual Potter não sabia dizer exatamente quando, a Weasley havia migrado para seu colo e agora, com as duas pernas em volta da cintura dele, pressionava-se contra a ereção que crescia entre as pernas do ex-marido. 

Eles se beijaram por muitos minutos, cada beijo parecendo mais molhado e bagunçado que o outro, e ao sentir o fôlego começar a faltar, o cacheado desceu sua boca para o pescoço branco de Ginny e começou a beijá-la com desejo, sabendo que ali era o seu ponto fraco. 

— Har… — A ruiva gemeu suavemente, jogando a cabeça ainda mais para trás, seus cabelos curtos totalmente bagunçados. As mãos de Harry haviam se aventurado para os seios dela e os apertava em quase veneração. — Har...é melhor a gente...ah...ir para o meu...por Deus, bem aí...ah Harry…para o meu quarto.

— Você tem certeza, Gi? — Ele questionou entre um beijo e outro, seus lábios ainda pressionados na pele leitosa de seus pescoço, as mãos descendo calmamente pela barriga dela e pousando sobre as coxas torneadas.  — Deus, você está tão linda… se a gente for para o quarto, eu...ah…ah Gi, eu… não vou conseguir me segurar. 

Isso fez com que ela se afastasse levemente dele e o olhasse com os olhos cheios de desejo, teimosia e irritação.

— Não pedi para você se segurar. 

— Você tem certeza que quer isso, ruiva? — Ele perguntou já se levantando, seu quadril movendo-se levemente para cima em direção ao dela ao senti-la pressionar-se contra sua ereção.

— Sim, Potter, agora cale a porra da boca. — Ginny respondeu apressadamente, sua boca buscando a de Harry momentos depois. 

Eles passaram pelo corredor aos tropeços, rindo entre os beijos pelo desespero quase infantil deles, bêbados por algo muito mais forte que qualquer bebida alcoólica que já haviam experimentado. Ginny estava com as suas coxas grossas envolta da cintura de Harry, os braços ao redor do pescoço deles, e os olhos castanhos fixados nos verdes do moreno. 

Harry não sabia que sentia tanta falta daquilo até aquele momento, claro, ele havia feito sexo com várias pessoas desde o divórcio, mas essa intimidade fácil que o moreno tinha apenas com ela, e ele sabia que não teria com mais ninguém, não havia sequer procurado.

Aquele talvez não fosse o melhor momento de lembrar-se desse tipo de coisa, não era o momento de ficar emocional. Emoções poderiam esperar um pouco mais, porque talvez elas estragassem o pouco que ele tinha. 

Colocando suas preocupações e emoções na parte mais distante de sua mente, Harry abriu a porta do quarto que Ginny indicou ser o dela e o fechou com cuidado enquanto sua boca ainda estava na de sua ex-esposa. 

— Tranque a porta. — Ela avisou quando ele começou a se aproximar da cama, e então a colocou na cama e rapidamente voltou para fechar a porta.

— Seu desejo é uma ordem, ruiva. — O moreno respondeu com uma piscada atrevida, e a Weasley riu jogando a cabeça para trás e apenas a visão do pescoço leitoso de Ginny exposto para si, fez com que o Potter voltasse mais que rapidamente para a cama. 

Seus lábios se encontraram no momento em que já estavam próximos o suficiente para iniciarem um beijo sem causar um acidente, o corpo de Harry cobria o de Ginny e as mãos calejadas do moreno percorriam o corpo dela por cima das roupas com avidez. 

A Weasley o beijava com a fome de uma pessoa que não comia há anos e isto somado ao fato de estarem no quarto fazia com que o pênis de Harry ficasse cada vez mais apertado em seus jeans, e as camadas de roupas que os separavam o incomodasse ainda mais.

No entanto, Ginny foi quem deu o primeiro passo e retirou a roupa de Harry, seus olhos presos nos dele e um sorriso sedutor nos lábios vermelhos e inchados dos beijos que trocaram. 

O moreno sentia-se exposto e os olhos castanhos da Weasley pareciam lhe comer, há tempos ele não se sentia tão bem no próprio corpo. Claro, Harry sabia que era considerado bonito, muito bonito em algumas ocasiões, por muitas pessoas, fossem elas seus colegas de trabalho ou amigos, mas o Potter não se sentia bonito quando se olhava no espelho.

Na verdade, tudo o que ele enxergava ao olhar seu reflexo no espelho era um homem comum, beirando os trinta anos, com olhos incomuns, traços mistos herdados de seus pais e um sorriso aceitável. Não havia nada de extraordinário em sua aparência, ele era mediano, e isso parecia ser o suficiente para os outros, mas ele não conseguia evitar o sentimento de que ele não era bonito o suficiente. 

Até o momento em que Ginny colocava seus olhos nele e o fazia se sentir um adolescente de novo, o fazia se sentir bonito.

Enquanto Ginny beijava seu peitoral, ele ocupou-se em retirar a calça que ela vestia, deslizando o moletom suavemente pelas pernas dela. 

— Porra. — Ele exclamou quando finalmente, finalmente, após anos ele pode ver as pernas da ruiva novamente, e Deus ela estava ainda mais linda. As mãos dele apertavam as coxas brancas dela, deixando a marca de seus dígitos na pele leitosa. Não ousando se aventurar para o tecido fino da calcinha vermelha dela. — Você está ainda mais linda. 

— E você está ainda mais bonito do que eu nem lembrava. — A ruiva comentou com uma voz cheia de segundas intenções. E em poucos segundos depois ela estava diante dele apenas de sutiã e calcinha. 

O moreno sentia-se bêbado pela visão, mas sequer teve tempo de deleitar-se com o que via, pois Ginny já estava com suas mãos no cinto da calça dele e puxando o tecido cada vez mais para baixo. 

Em meros minutos eles estavam seminus na cama dela, uma ereção marcava a cueca dele, Ginny estava em seu colo e eles se beijavam famintos, suas mãos viajavam pelo corpo do outro com desejo cru. 

— Ginny, você tem… — ele deu uma longa pausa e tentou recuperar o fôlego enquanto a ruiva beijava seu peitoral. — Você tem…camisinha? 

— Não me diga que você não tem camisinha, Potter. — A ruiva grunhiu raivosa e beliscou a cintura do moreno, que sentiu seu pênis endurecer ainda mais dentro da cueca. 

— Devo ter alguma na carteira. — Harry admitiu sem nenhuma vergonha, mas ele não queria ter que atravessar o cômodo até achar sua calça, e algo lhe dizia, que Ginny também não gostaria de fazer isso. 

Ugh, inacreditável. — A Weasley resmungou enquanto descia seus beijos pelo abdômen malhado do moreno, parando apenas quando chegou na barra da cueca dele. 

— Você realmente não tem nenhuma na mesa de cabeceira? 

— Não. — resmungou a contragosto, mas então o olhou com malícia e lambeu o pênis por cima da cueca. — Mas eu tô limpa, e fora do meu período fértil. 

Harry gemeu suavemente ao ouvir aquelas palavras e precisou se controlar para não arrancar a calcinha de Ginny e devorá-la naquele instante. 

— Eu também tô limpo. — Ele falou momentos depois, e então se segurando ao máximo, ele a olhou. — Você quer que eu pare antes de você sabe…

— Cala a boca e me beija, Harry. — Ela comandou e o moreno a obedeceu com um sorriso no rosto. 

****

Eomma? — Chamou a leve e muito sonolenta voz de Ella acordando os dois que dormiam tranquilamente na cama de Ginny. 

Harry estava cansado, afinal eles não pararam depois da primeira vez. Seu corpo doía de uma forma prazerosa, mas ele desejava dormir ao menos mais um pouco, então o moreno fez o que qualquer um faria em seu lugar: aconchegou-se ao corpo quente ao lado do seu, sentido seu pênis, acomodar-se perfeitamente entre as coxas de Ginny, e tentou voltar a dormir. 

Eomma! — Ella chamou novamente e dessa vez a ruiva se mexeu levemente, abrindo seus olhos e o empurrando levemente. 

O movimento foi repentino o suficiente para forçar o Potter a abrir os olhos. No momento em que ele abriu, encontrou os olhos de Ginny sonolentos e confusos. O moreno não resistiu a tentação e a beijou levemente, e foi, felizmente retribuído, antes dela suavemente se separar dele. 

— Você também escutou alguém me chamando? 

— Sim, mas achei que era apenas minha imaginação. — Harry admitiu um pouco envergonhado, mas Ginny apenas concordou e se aconchegou no peito dele, ao que parece ela também achava que era imaginação deles. 

Eomma! — Gritou Ella através da porta, fazendo com que os dois se separassem e corressem para colocarem uma roupa. 

Harry infelizmente precisou colocar a roupa que estava usando mais cedo, mas Ginny colocou um pijama de moletom, o que era muito inteligente, pois escondia todas as marcas que Harry havia deixado nela. 

Eles haviam sido tão descuidados. O que diabos, Harry estava pensando? 

Assim que estavam vestidos, Ginny abriu a porta e eles logo viram a pequena em frente a porta e agarrada ao ursinho de pelúcia que o moreno havia dado a ela,  há quase dois anos. Os olhos castanhos esverdeados da menina estavam fechados, como se ela temesse abri-los.

— O que foi, meu amor? — A ruiva perguntou com a voz dócil e os olhos gentis. Eles estavam agachados diante da filha com olhos preocupados e mãos gentis.

— Eu sonhei que o appa tinha sumido e...e...e quando eu fui procurar ele lá no quarto, ele não tava mais lá.  — A menina falou entre soluços de cortar o coração.

— Ellie, querida… — Ele a chamou calmamente. O som da voz do pai fez com que ela imediatamente abrisse os olhos e se voltasse pra ele. 

Appa! — Gritou a pequena com um grande sorriso aliviado no rosto, jogando-se no colo dele em questão de momentos. 

— Ella, não grite, já está tarde. — Ginny avisou com a voz firme, porém cheia de compreensão. 

— Desculpa, eomma. — sussurrou ainda com os bracinhos em volta do pai. — Papai, me põe pra dormir? 

— Claro meu amor, vai na frente que o papai já vai. — pediu o mais alto com a voz suave. A menina o obedeceu e quietamente seguiu em direção de seu quarto, o ursinho ainda grudado em seus braços. 

Apenas quando Ella entrou em seu quarto que o moreno reuniu coragem e olhou para Ginny, e quase se surpreendeu ao perceber que ela já o olhava. 

— Eu deveria voltar pra cá ou pro meu quarto? 

— Volta para seu quarto, o que fizemos hoje não pode se repetir. — a ruiva falou de forma decidida, desviando o olhar. — Sinto muito, Harry.

 

22 de março de 2020, Londres, Reino Unido

 

Há mais de um mês Harry e ela estavam dividindo a mesma casa e Ginny não era hipócrita o suficiente para deixar de admitir, ao menos pra si mesma, que ter o moreno ali a ajudava de formas imensuráveis. 

Ter alguém para ajudá-la a cuidar dos gêmeos sempre pareceu um grande luxo totalmente dispensável, mas ao tê-lo ali para colaborar nas tarefas, a fazia um bem imenso. 

No entanto, havia um problema no mar de rosas que suas vidas haviam se transformado, bem mais de um problema, o primeiro era obviamente o covid-19 que além de ter criado toda situação, fazia com que todos os quatro ficassem em casa o dia inteiro, e isso não era nada fácil. 

Normalmente o inverno era um período difícil, afinal ela precisava lidar com duas crianças saudáveis que não podiam gastar toda a energia que residia em seus pequenos corpos ao ar livre, mas agora eles já estavam há dois meses sem sair de casa.

E como se seus pequenos presos dentro de um apartamento, enquanto o governo ignorava tudo o que acontecia não fosse tortura o suficiente, a menstruação de Ginny estava atrasada.

Muito atrasada, e, ela só conseguia pensar em uma explicação para tal feito: ela estava grávida. 

De novo. 

O pior de toda situação era que a única pessoa com que havia tido relação sexual sem proteção em toda sua vida havia sido seu ex-marido, e por isso encontrava-se nessa situação.

Malditos fossem seus impulsos, e talvez sentimentos ( não que ela fosse admitir isso, nem mesmo pra si mesma, não iria admitir que talvez ainda estivesse apaixonada por ele), por levarem-na a transar com Harry mais uma vez. 

Em um começo de tarde e os gêmeos estavam dormindo uma milagrosa soneca após o almoço foi quando a Weasley decidiu que era o momento de contar suas suspeitas ao Potter. 

Harry estava na sala com seu notebook no colo, provavelmente fazendo absolutamente nada e aproveitando os minutos de silêncio que estavam tendo. Ginny quase se sentiu culpada por interromper a paz dele.

— Harry, podemos conversar? — Perguntou com a voz suave, já sentando-se ao lado dele. Eles estavam tendo manter uma amizade leve, nem que fosse pelo bem de seus filhos, e estava funcionando mais do que ela esperava, em alguns dias, sentia-se novamente com doze anos tendo o de olhos verdes como seu maior confidente.

— Claro, Ginny. — concordou rapidamente, colocando seu notebook na mesa de centro e concentrando-se nela. — Aconteceu alguma coisa? 

— Eu..eu...— ela começou a falar, mas falhando em pensar em uma maneira menos brusca de dizer o que queria. —  eu acho que tô grávida. — Ginny resolve falar de uma vez sem enrolações ou grandes gestos, apenas a verdade nua e crua. 

A reação do moreno foi imediata, seus olhos se arregalaram e imediatamente voaram para o estômago, ainda, plano dela.

— Você tem certeza de que está...? E é...é..? — Ele começou a falar parecendo sem jeito sua voz se perdendo no meio da frase, mas Ginny sabia o que ele iria perguntar. 

A ruiva sabia que a pergunta não era ofensiva, na realidade, era uma pergunta muito mais que condizente com a situação, uma vez que eles não tinham nada romântico e há anos não falavam sobre essas coisas para o outro.

No entanto, não deixava de incomodá-la o pensamento de ter um filho que não fosse do Potter. 

A Weasley desconfiava do que se tratava esse sentimento, mas ela não queria pensar nas consequências deles nesse momento, era infantil, ela sabia. Mas uma crise por vez era seu lema, e não tinha planos de mudar isso após quase vinte seis anos conseguindo viver dessa forma. 

— Seu? — Ginny completou a frase para ele, que apenas assentiu envergonhado. Harry estava olhando para o chão, provavelmente criando mil alternativas para o que estava acontecendo, e chegando o mais longe da realidade possível. — Sim, Harry, é seu, e eu tenho certeza. 

Ao ouvi-la confirmar a paternidade de seu possível filho, Harry arregalou os olhos e mirou seus olhos no estômago dela novamente, um brilho de esperança surgia em seus olhos.

Ginny entendia o sentimento, mas eles precisavam se concentrar em não confundir as coisas, e conhecendo seu ex-marido como ela conhecia, sabia que ele tentaria fazer com que eles tivessem um relacionamento romântico novamente apenas para o bem dos filhos.

Ela não queria um relacionamento baseado no bem estar de terceiros, mesmo que fosse pelo bem de seus filhos. Ginny sabia bem onde acabava relacionamentos assim, e eles estavam sempre fadados a acabar de uma forma mais traumatizante para todos do que seria se nada tivesse acontecido.

— E o que nós vamos fazer? 

— Eu não sei ainda, Harry. — Ginny respondeu com sinceridade, olhando-o com firmeza. — Eu só te contei porque era o certo a fazer. 

— Você pensa em abortar? — O moreno perguntou com uma expressão ilegível, e a voz neutra. 

— Não! Claro que não.— respondeu decididamente, sequer havia cogitado essa possibilidade até o momento em que Harry a citou. — Mas Harry..

Ginny não sabia como poderia falar para o moreno que não queria que ele sugerisse um casamento entre eles apenas por causa de um descuido. 

Se o casamento deles que havia sido por amor deu errado, um novo casamento entre eles por outros motivos, certamente iria acabar das piores formas. 

Fora que….

Pensar que estaria indiretamente prendendo a única pessoa que ela amou em toda sua vida, que estaria prendendo seu melhor amigo… Era apenas cruel demais. 

— O que foi, Gin? — Harry perguntou com a voz preocupada, olhando-na com atenção e zelo. — Você está sentido alguma coisa? 

— Se eu realmente estiver grávida, eu não quero que a gente comece um relacionamento, tudo bem? 

— Me desculpa, mas o que? — O moreno falou parecendo perplexo. 

— Eu não quero que você ache que precisa casar de novo comigo ou me namorar por causa de um acidente, Harry. — A Weasley explicou com a voz mais calma possível e a expressão mais neutra que ela conseguia se forçar a fazer. 

Pela expressão surpresa e constrangida de Harry, ela percebeu que ele estava pensando em algo parecido, e ao mesmo tempo que sentia seu coração se aquecer por saber que ainda conhecia o moreno e seu corpo pedir pelos afetos dele, sua mente lhe dizia que estava fazendo a coisa certa em não permitir isso, por mais que quisesse o oposto.

— Eu também acho que é o melhor a ser feito, mas eu estarei aqui para tudo, okay? — Prometeu o homem de olhos verdes, pondo as mãos dela entre as suas. 

— Tudo bem, H, eu sei que posso confiar em você. 

— Eu não acredito que eu vou ser pai. — Ele sussurrou admirado. 

— Você já tem dois filhos, H. — Ginny riu, empurrando ele levemente. 

— Eu, sei, mas wow, outro filho e com você! — Harry exclamou ainda sussurrando, um sorriso se espalhando em todo seu rosto. — Muito obrigado, Ginny. 

— Por que está me agradecendo? — A Weasley perguntou o olhando em confusão.

Conseguia entender que o Potter amava seus filhos e que estava aceitando ter outro, mesmo que todos os três tivessem sido apenas acidentes, mas agradecê-la? Como se ela estivesse lhe dando o melhor presente do mundo? Isso era no mínimo bizarro.

— Por me deixar participar de tudo isso, por existir, por estar disposta a ter filhos comigo. — O Potter explicou com a voz leve como se não estivesse dizendo nada demais. Como isso não significasse o mundo para Ginny. 

Tudo que a ruiva pôde fazer foi encará-lo por longos segundos, se perguntando como iria não se apaixonar. Principalmente quando ele fazia seu coração bater tão descompassado. 

Ginny estava a um passo de entrar em um caminho sem volta, e Deus sabia bem que ela não era forte o suficiente para resistir a tudo isso. 

Harry sorriu mais uma vez alheio a tudo que se passava na cabeça da ruiva, e tudo que Ginny conseguiu fazer foi retribuir o sorriso. 

Ela estava fodida. 

 

30 de março de 2020, Londres, Reino Unido

A primeira coisa que Harry percebeu quando acordou foi que ele havia definitivamente perdido a hora, e a segunda coisa que notou foi que as batidas na porta que ele achava serem parte do sonho, eram muito, muito, muito reais.

Appa! Appa, acorda! — a voz de Arthur ecoava direito em seus ouvidos e o Potter mais velho logo se viu obrigado a levantar da cama.

— Arthur, querido, pare de gritar. — Ginny pediu delicadamente, sua voz perto demais para ela estar longe do quarto de hóspedes. 

— Mas eomma, o papai prometeu que ia fazer o nosso café da manhã, hoje. — O menino resmungou em uma voz moderadamente mais baixa, porém ainda alta demais para o horário.

— É, mamãe, o appa prometeu! — confirmou Ella com a voz tão alta quanto a do irmão. — E vocês sempre dizem que a gente tem que honorar com nossas promessas. 

— É honrar, querida, e vocês estão certos, mas o pai de vocês trabalhou até tarde ontem e vocês deveriam deixar ele dormir. — A mais velha respondeu com suavidade, mas a essa altura, Harry já se sentia totalmente acordado e não parecia justo deixá-la lidar com tudo sozinha. 

Se espreguiçou e finalmente abriu os olhos, grunhindo levemente ao ver que não se passava das seis da manhã, o que significava que ele havia dormido apenas três horas. 

Colocou seus óculos e seus slippers, passou rapidamente no banheiro e seguiu para a cozinha apenas para encontrar a cena mais linda que ele poderia desejar ver fazendo com que acordar tão cedo valesse a pena. 

Ella e Arthie estavam dançando em volta de Ginny que cantava baixinho uma música infantil, o chá esquentava na chaleira elétrica e o torradas estavam sendo feitas. 

— "Hickory Dickory Dock

The mouse ran up the clock." — Ginny cantou suavemente enquanto as crianças dançavam. Ele encostou-se no batente da porta e apenas os observou por um instante, antes de se aproximar em silêncio.

— "The clock struck one

The mouse ran down." — Continuou o moreno entrando na cozinha e pegando as duas crianças no colo e as balançando suavemente, escutando o leve grito animado deles. 

" Hickory Dickory Dock!" — Gritaram os dois juntos com animação e em meio de risadas. 

— Bom dia, reloginhos. — O pai comprimentou as crianças com carinho, após a música acabar. 

— Bom dia, appa! — Responderam ainda rindo alegremente. 

— Bom dia, Gin. — o Potter a saudou suavemente, enquanto colocava as crianças em cima da ilha da cozinha. — Dormiu bem?

— Bom dia, Harry. — a ruiva respondeu com um grande sorriso, que ele tinha certeza de que era capaz de iluminar toda uma cidade. E que fazia coisas inexplicáveis com o coração dele. — Eu dormi bem, e você?

— Eu dormi bem, — respondeu com um sorriso igualmente grande e sincero — e vocês não vão acreditar no que aconteceu!

— O que aconteceu, papai? — Arthur perguntou curioso.

— Hoje de manhã quando eu estava dormindo, dois ratinhos vieram me buscar! — Potter respondeu com a voz cheia de suspense olhando para os filhos que estavam rindo. 

— É, mesmo? — Ginny perguntou entrando na brincadeira. Harry assentiu gravemente enquanto seus filhos riam ainda mais.

— Mesmo, mesmo, papai? — Ella perguntou rindo.

— Mesmo, mesmo! 

— E o que você fez com eles? — a ruiva mais velha continuou, seus olhos brilhando em malícia. 

— Eu peguei eles e enchi de beijos! — Respondeu o moreno pegando os filhos e demonstrando. As gargalhadas dos gêmeos que vieram em seguida ecoaram por todo o apartamento preenchendo cada canto com vida e alegria. 

Appa você é muito bobo! — Arthur e Ella disseram rindo alegremente enquanto balançavam suas cabeças para as atitudes bobas de Harry e se espremeram no colo dele até que o mais velho dos Potter os colocasse no chão. O moreno mais velho apenas ofegou, exagerada e dramaticamente, em ofensa com os olhos verdes arregalados no melhor olhar traído que ele foi capaz de produzir enquanto retinha o riso que queria escapar. 

— Você vê como eles tratam o pobre e velho pai deles, Gin? — Ele reclamou com uma fingida expressão de dor, a mão esquerda sobre o coração e a direita enxugando lágrimas invisíveis. Ginny apenas riu e o empurrou levemente fazendo com que o moreno também caísse na gargalhada.

— E quando o velho e pobre pai deles vai começar a mexer seu velho e pobre bumbum dele e começar a fazer nossas panquecas? — A ruiva mais velha perguntou com um meio sorriso e as crianças gritaram ao ouvir a palavra panquecas, correndo para seus lugares na bancada. 

Harry apressou-se em segui-los e rapidamente começou a preparar o café da manhã, ouvindo os pequenos conversarem sobre a brincadeira que eles inventaram ontem antes de dormir, enquanto Ginny o ajudava preparando café para eles dois e chá para os pequenos. 

Assim que o café da manhã ficou pronto todos oraram, assim como Ginny os havia ensinado, e começaram a comer com toda a animação que uma criança de cinco anos tinha quando se tratava de panquecas. Ginny estava incluída na equação. Aparentemente os enjoos matinais ainda não haviam começado. 

— Papai? — Ella o chamou entre uma garfada de ovos com bacon e outra, seus olhos concentrados nos do pai. Harry amava a forma que seus filhos o chamavam de papai, era sempre tão adorável, que ele mal conseguia acreditar que ele havia os feito, que eles realmente eram fruto do amor dele e de Ginny.

— Sim, amor?

— Quando você volta para sua casa? — A pequena perguntou com toda a sinceridade de uma criança de cinco anos de idade, seus olhos brilhavam com inocência e dúvida. Ella nem sequer imaginava o quanto aquela pergunta machucava seu pai. 

— Eloise! — Ginny brigou com os olhos cheios de culpa, como se de alguma forma estranha eu pudesse culpá-la por nossa filha agir como a criança curiosa que ela era, como se Harry não fosse a pessoa que incentivava tal comportamento. 

— O que foi, eomma? — A menina perguntou parecendo não entender o que acontecia, o que Harry sabia que era verdade, enquanto Ginny a olhava impaciente. Ella olhou para Harry que estava calado e o moreno tentou sorrir para sua filha de forma acolhedora, mesmo que ele sentisse vontade de chorar. — Appa?

— Não foi nada, meu bem, volte a comer seu café da manhã e esqueça esse assunto, sim? — Foi a melhor resposta que Harry conseguiu balbuciar enquanto ignorava as vozes em sua cabeça que lhe diziam que seus filhos estavam incomodados com sua presença, e que Ginny provavelmente também estava. 

— Harry! — A ruiva exclamou com a expressão confusa. Claramente os planos da Weasley não eram ignorar o acontecido, mas discutir sobre ele. Bem, ele não iria arruinar o café da manhã deles só porque ficou magoado com uma pergunta.

— Ginny, não. 

— Harry… — a ruiva começou a falar com o rosto sério, provavelmente tentando começar uma conversa que ele não desejava ter, principalmente na frente de seus filhos. Apesar do rosto dele definitivamente dizer, ou melhor, gritar que ele não desejava falar sobre o assunto, Ginny parecia disposta em continuar a falar. — isso não é um assunto a ser ignorado. 

— Pode até não ser, mas é pedir demais por um café da manhã em paz? — Ele rebateu irritado com a voz ainda controlada em um volume baixo, fosse porque ele não tinha energia para gritar ou porque ele não queria assustar as crianças que já os olhavam assustados. No fundo ele sabia que eles não deveriam fazer isso, principalmente quando parava-se para pensar na situação em que se encontravam, na companhia em que se encontravam.

— Do jeito que você fala parece que todo café da manhã nós discutimos, Potter. — Ginny riu sarcasticamente. Naquele momento não existia mais filhos, panquecas, ou chá para Harry, apenas existia sua ex mulher o irritando profundamente e o fazendo lembrar do porque eles haviam terminado. Porque o divórcio havia sido a única saída para eles.

Ela era mais teimosa que uma mula empacada e ele era igual. 

— Você sabe muito bem que não foi isso que eu quis dizer, Weasley. — Harry praticamente rosnou de volta. Seu rosto começava a arder e ele sabia que precisava controlar sua raiva, não era mais um adolescente para continuar deixando seu temperamento explosivo prejudicar suas relações, mas era tão difícil não explodir quando a pessoa por quem ele estava apaixonado agia daquele jeito. 

Apaixonado. Ele estava apaixonado por Ginny Weasley. E era incrivelmente inacreditável que ele só conseguisse assumir isso a si mesmo quando estava no meio de uma discussão com ela, apenas típico dele. Essa nova percepção das coisas era definitivamente o suficiente para que todos os eixos de seu mundo se refizessem. Harry sentia uma mistura tão grande de emoções que se sentia tonto, a raiva, infelizmente, ainda era uma delas.

— Não coloque palavras na minha boca!

— Então pare de distorcer as minhas palavras! — Ele retrucou irritado. — Você se acha tão superior a mim, mas não consegue nem entender o que eu tô te dizendo!

— Como se fosse muito diferente, Potter. — Rebateu irritada colocando as mãos na cintura. — Ao menos eu não finjo que está tudo bem quando claramente não estás!

— Eu não estou fingindo porra nenhuma, Weasley! 

— Não? —  riu sarcasticamente a ruiva. —  Então por que você não pode responder uma pergunta tão simples Harry? — ela continuou e ele apenas a olhou. Estava irritado demais para pensar em uma resposta. — Típico seu, Potter. 

— Você nem… — O moreno começou a rebater, sua voz se erguendo ainda mais. 

Appa! Eomma! Parem de brigar! — Gritou Arthie com o seu pequeno rosto vermelho, uma de suas mãos agarradas nas de Ella que chorava silenciosamente. Os adultos possuíam faces igualmente vermelhas e trocaram um olhar culpado ao perceberem que estavam fazendo exatamente o que fizeram há quatro anos quando ainda eram um casal, que estavam repetindo seus próprios erros e mais uma vez trazendo seus filhos para dentro de uma bagunça, de uma briga que não tinha nada a ver com eles. 

Harry queria fugir dali e apenas fingir que nada disso havia acontecido, mas não era o certo a se fazer. Não era certo apenas fugir das consequências de seus atos e deixar a ruiva sozinha com duas crianças que estavam confusas e assustadas. Seria um babaca se o fizesse, era um babaca apenas por considerar fazer. 

Então ele fez a única coisa que poderia, fechou os olhos e respirou fundo. Quando abriu os olhos novamente caminhou até onde os pequenos estavam, e pelo canto do olho pode ver que a Weasley fazia o mesmo. 

— Me desculpa, crianças. — O pai falou sinceramente, mesmo que soubesse que um pedido de desculpas não era o suficiente para amenizar o medo que eles provavelmente haviam sentido. Naquele momento ele havia falhado como pai e amigo, e nada poderia mudar isso, nem mil pedidos de desculpas, nem incontáveis abraços ou palavras carinhosas. 

— Foi minha culpa, não foi, appa? — Ella perguntou com a voz pequenina, lágrimas escorrendo por seu rostinho perfeito e ainda rosado devido o choro, alguns fios de seus cabelos ruivos estavam grudados no rosto úmido, e o conjunto da imagem fazia com que Harry sentisse um bolo formar-se em sua garganta. 

— Não, querida, nada disso foi sua culpa. — O moreno respondeu com sinceridade, fazendo um leve cafuné na menina que ainda chorava copiosamente. Arthur o olhava com raiva, e Harry sabia que não estava em lugar para reclamar sobre o súbito ódio que seu filho havia desenvolvido por ele, mas isso não fazia doer menos. 

— Mas appa... — A pequena começou a falar, mas os soluços vieram e a impediram de continuar o que quer que fosse que ela desejava falar. Harry se sentia culpado, não, ele era culpado, e apenas como uma troca de olhar, pode perceber que Ginny compartilhava de tal sentimento. 

— Crianças, escutem. — Ginny começou com a voz suave, porém firme o suficiente para que os dois entendessem que era algo sério. Potter também tinha sua atenção fixada nela, sabia que no final, a ruiva sempre teria um jeito melhor de lidar com as crianças, já que ele só podia as vê-las durante as férias deles, e isso não era o suficiente para que ele soubesse como lidar com situações assim. — A eomma e o appa brigam as vezes porque nós não concordamos com algumas coisas, mas nunca, nunquinha mesmo, a culpa é de vocês dois, ok?

— Você promete, eomma? — Ella perguntou com a voz ainda chorosa, mas as lágrimas já haviam parado de cair, Arthur, entretanto ainda possuía a face avermelhada e uma feição brava em seu rosto. Harry colocou a mão no filho, em uma tentativa de fazê-lo acalmar, mas o menino apenas se afastou do toque do pai e o olhou com raiva. 

— Eu prometo, meu amor. — Ginny respondeu com um sorriso e abraçou a menina. Assim que se separaram do abraço, ela olhou para o filho que ainda encarava o pai com raiva, e franziu o cenho, provavelmente estranhando a atitude do filho. — Arthie, meu bem, o que foi?

— Eu não quero mais ele aqui, mamãe. — O menino respondeu com a voz brava e os olhos ainda totalmente fixados no pai. Harry mal conseguia acreditar em como uma manhã perfeita havia se espiralado para um pandemônio. E a culpa era dele. Harry deveria ter ao menos pedido licença e pensado sobre como responder a pergunta de Ella ao invés de começar uma discussão sem sentido com Ginny.

— Arthur! Harry é o seu pai. — A ruiva falou como se aquilo explicasse tudo.

— Mas ele não pode morar aqui, mamãe, você sempre disse isso. —  O menino respondeu calmamente. Ginny apenas o olhou incrédula, parecendo estar sem palavras, mas Harry havia entendido.

 Eles haviam sido burros e precipitados ao assumir uma rotina em família quando isso não era uma coisa que as crianças estavam acostumadas, era quase como se eles estivessem evitando admitir para si mesmo que aquilo era temporário, era quase como se estivessem assumido a vida que seria deles se o divórcio não houvesse acontecido. 

— Ele tem razão, Ginny. — Harry falou com uma voz calma que contrastava enormemente com o nervoso que sentia por dentro, mas ele precisava falar isso, precisava esclarecer as coisas de uma vez por todas. Já havia perdido Ginny há quatro anos por não ser claro o bastante sobre o que acontecia, não iria perder seus filhos pelo mesmo erro. 

— Isso não importa. — Ela rebateu imediatamente, o olhando com raiva. — Com ou sem razão, ele não pode simplesmente te expulsar daqui. 

— Sim, isso importa. —  O Potter falou seriamente olhando para a Weasley e depois para as duas crianças que os encaravam. Arthur ainda o olhava com raiva, e Ella parecia temer que voltassem a discutir. 

— Por que só importa quando você está disposto a falar sobre? — Ginny perguntou em voz baixa e feição triste, e então ele percebeu que apesar de não ser verdade o que ela falou, ele estava agindo como se fosse. 

— Não importa só quando eu estou disposto a falar, eu errei em não querer falar sobre antes, e você estava certa. — Harry admitiu com a voz sincera, toda sua parte orgulhosa se revirava a cada palavra pronunciada, mas ele não iria cometer mais um erro por culpa de orgulho. 

    Ginny não falou nada apenas o encarou incrédula e após vários segundos desconfortáveis, Harry sentou-se na cadeira e voltou a comer, e seguindo seu exemplo os outros fizeram a mesma coisa. 

O café da manhã certamente havia sido estranho e desconfortável, mas passou sem quaisquer outros problemas, e mesmo que seu estômago enchesse-se de borboletas apenas pensando no que deveria falar, em como deveria falar, ele sabia que precisava dar a seus filhos algum tipo de explicação. Era o mínimo.

Quando terminaram o café, todos os três o olharam em expectativa. Harry pigarreou, uma, duas, três vezes antes de, finalmente, conseguir a coragem necessária para explicar o que estava acontecendo aos seus filhos. Quem o visse naquele momento acharia que ele estava encarando dois exércitos armado com apenas uma arma de brinquedo e não duas crianças em idade pré-escolar. 

Foi terrivelmente assustador explicar para eles o que realmente estava acontecendo no mundo, e que o pai deles, apesar de os amar muito, não estava morando com eles por esse motivo, e sim porque não havia outra alternativa naquele momento. Dizer em voz alta que tudo era temporário, e que caso a pandemia não houvesse ocorrido ele já estaria de volta à Coreia, que ele estaria longe e perdendo cada pequeno desenvolvimento deles, como sempre foi desde o primeiro dia do divórcio, como sempre seria se ele quisesse focar em sua carreira como sous chef no país que o havia visto crescer. 

Só então horas depois do ocorrido quando Ginny e as crianças assistiam Mary Poppins enquanto ele trabalhava no sofá da sala da ruiva, que Harry  percebeu que talvez o que ele sempre acreditou ser seu grande sonho, já não mais valia a pena. Talvez nunca tenha valido a pena do jeito que ele imaginava.

Percebeu também que se ele desejasse seguir o que realmente queria ter em sua vida, precisaria reunir toda a, não muito grande, coragem que havia em seu corpo ou se arrependeria por toda sua vida. Então antes mesmo que ele pudesse iniciar um plano para começar as mudanças, Ella e Arthur deram uma gargalhada sincera que ecoou por toda a sala, e um sorriso feliz começou a tomar posse do rosto de Ginny. 

A decisão já havia sido tomada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo, e espero que estejam gostando da Ella e do Arthie tanto quanto eu gosto, pq assim piticos!!!, e eomoni é uma forma mais respeitosa de falar mãe, normalmente usando por pessoas mais velhas, porque eomma é mais pra um mamãe, e enfim, ficaria meio bizarro.
É isso, vejo vocês em breve, continuem ligados ao NH e comentem pq eu amo comentários!!!



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