Maybe escrita por Lily Potter


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Oioi pra vcs que acreditaram que eu ia terminar essa fic, e pra que não conhecia bem, seja bem-vindo? Queria pedir desculpa pela pipocagem que teve aqui, eu jurei q ia ser curta, mas bem, nós temos 5 capítulos agora, então né....Enfim, eu terminei a história por volta de julho/agosto, mas decidi esperar o NH para terminar de postá-la. Obrigada Belle por me ajudar sempre e por revisar, te amo bestie ♥
Espero que gostem, e eu JURO que o final é feliz!
Boa leitura ♥



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02 de janeiro de 2020, Londres, Reino Unido

    Depois de quase uma década sem ir até sua terra natal, era de esperar que Harry estivesse ansioso em pisar nos solos britânicos novamente, e isso seria verdade se os motivos que o levavam até Londres não fossem tão terríveis. 

Ele estava indo até Londres à trabalho, o que deveria ser incrível se isso não significasse que ele iria ter que trabalhar com sua ex-esposa pelas próximas vinte semanas. E o principal problema não era ter que lidar com ela em uma dose diária, até porque eles tinham a guarda compartilhadas das duas crianças mais perfeitas do mundo e sabiam lidar um com o outro desde o divórcio,que aconteceu há quase quatro anos, o problema era ele conseguir não se apaixonar por ela novamente.

A coisa era Harry nunca havia deixado de amar Ginny, nem mesmo durante os terríveis meses antes da separação onde tudo o que eles faziam era brigar, estudar, trabalhar e tentar manter os gemêos fora da bagunça deles, e tudo que já estava ruim o suficiente na época apenas piorou quando Harry conheceu Caroline Durand. 

Caroline era o sonho de mulher para quase todos os homens que Harry conhecia, ela era inteligente, encantadora, linda, possuía os olhos mais azuis que ele havia visto e o cabelo castanho mais delicado que uma pétala de rosa, e o Potter estaria mentindo se dissesse que ela não o havia cativado com seu sorriso e conversas fáceis, mas ela não tinha o coração dele.

Apesar de sua devoção ter sido totalmente voltada a Ginny, a ruiva ainda ficava insegura e a desconfiança dela acabava sempre incitando mais brigas, na época Harry era jovem mais para perceber que ele também tinha culpa, que se ele quisesse que sua esposa não achasse que ele a traia ele deveria passar mais tempo com ela do que com a mulher que ela não gostava.

    Quando o avião pousou quase duas horas depois do previsto tudo que Harry queria era achar um táxi e ir para o loft que ele havia alugado e que ficaria não muito longe de seu local de trabalho. Ao invés disso, o que ele recebeu foi uma confusão entre sua bagagem com a de outro passageiro, uma dor de cabeça infernal, um estômago roncando, seu telefone com a bateria praticamente morta e para melhorar estava atrasado para ver seus filhos.

 Ele já estava com suas malas em mãos quando seu celular tocou quase que estridentemente, e o moreno o resgatou do bolso de seu sobretudo, estava particularmente frio naquele dia, e quase sorriu para o nome em seu visor. 

Era Ginny.

— Você está atrasado, Potter. — Foi a primeira coisa que a Weasley disse, sua voz soava cansada, decepcionada e nada surpresa. Péssimo começo, Potter, péssimo começo. Harry suspirou já imaginando que seus filhos provavelmente não estavam muito felizes no momento e se encaminhou para fora do aeroporto. 

— Oi para você também, Ginny. — Ele brincou tentando aliviar o clima, mas ela apenas bufou irritada. Talvez fosse melhor ele ser um adulto de agora em diante se quisesse permanecer em paz com sua ex-esposa, por mais doloroso que fosse essa relação fria que eles tinham. — Me desculpa, eu sei que eu estou atrasado é qu— 

— Ainda bem que você reconhece isso. — Ginny resmungou irritada e apenas pelo som de sua voz o moreno soube que ela revirava os olhos e tinha o rosto corado. — Não precisa dar uma de suas desculpas, Harry, eu sei que você tem mais o que fazer além de cumprir o compromisso com seus filhos.

— Ginny, eu não me atrasei porque eu quis! — Potter respondeu irritado, sentindo seu cenho franzir e tentando evitar isso, ele não queria rugas tão cedo, enquanto chamava por táxi que parecia lhe ignorar a todo custo. — O voo atrasou.

— Hm, tudo bem, Harry. — Ela respondeu quietamente e as vozes de Ella e Arthur ao fundo gritando, o coração dele doeu ao ouvir as vozes dos filhos por celular quando ele sabia que poderia vê-los pessoalmente, principalmente após tantos meses sem poder vê-los. — Arthur! Para de perseguir sua irmã com esse bicho! Sim, é o seu pai no celular. —  Uma pausa e alguns barulhos altos e depois nada. — Você ainda está no aeroporto?

— Sim, eu ainda não consegui um táxi, acho que vou precisar pegar o metrô. — Harry respondeu com um suspirou olhando para o céu cinzento. Aparentemente ia chover e ele estava sem guarda-chuva. Apenas o que ele precisava.  

— Seu hotel fica perto do metrô pelo menos? 

— Não muito, mas eu consigo me virar. — Respondeu o moreno ignorando a primeira pergunta da melhor maneira possível, na realidade ele não sabia porque não queria dizer que havia alugado um loft e deixá-la acreditar que ele ficaria em um hotel qualquer, talvez fosse porque fazia tudo parecer mais permanente, mais estável, quase como se ele fosse ficar dessa vez. 

Ele sabia que isso não aconteceria, então porque criar esperanças e ilusões?

— Não seja teimoso, Harry, eu posso te buscar. — Ginny ofereceu simpaticamente, mas o moreno sabia que ela estava sendo apenas gentil e que provavelmente tinha muito mais que fazer do que bancando a chofer dele. — Me diga qual é o aeroporto em que você tá, as crianças querem te ver, também.

— Não precisa, Ginny. — Harry insistiu arrastando sua mala para dar espaço às pessoas que estavam saindo dali e que ao contrário dele estavam conseguindo um táxi. Por que ele não conseguia pegar a porcaria de um táxi? Seria melhor chamar um uber?— Muito obrigado, de verdade, mas você não precisa.

— Deixa de graça e me diz logo o nome do aeroporto, Potter. 

— Já que você está pedindo com tanto jeitinho, como eu vou recusar, né? — Falou ironicamente o moreno, voltando para dentro do aeroporto quando viu as primeiras gotas caírem. Ele passou o nome do aeroporto e se despediu dela, sentindo seu coração bater mais forte com o pensamento de vê-la novamente após tantos meses. Ele queria estar apresentável, mas há poucas coisas que se pode fazer após mais de doze horas de voo e duas horas de briga pela própria mala. 

Harry sabia que parecia um lixo com pernas, mas esperava que ela não estivesse tão deslumbrante, porque assim, talvez, ele não se sentiria tão encantado por ela. O que era difícil, ele sabia disso, nunca havia deixado de amá-la, e cada vez que a via, parecendo tão estonteante como no dia em que casaram, o moreno tinha a impressão de que estava se apaixonando por ela novamente, o que seria ótimo, se não fosse trágico.

Não fazia mais que meia hora que ele estava sentado no banco desconfortável do único lugar onde ele encontrou uma tomada e um lugar para tomar um café forte o suficiente para mantê-lo acordado por mais três horas e qualquer coisa que não parecesse ter muito gosto de plástico quando ele ouviu as vozes mais lindas do mundo.

— Mamãe, mamãe, mamãe!  — A voz de Arthur soou pelo aeroporto e logo o moreno conseguiu ver seus dois filhos aparecerem em seu campo de visão. Arthur com seus cabelos pretos quase tão cacheados quanto os dele e Ella com os cabelos ruivos da mãe que estavam presos em maria-chiquinhas. — É o papai!

— Papai! Papai! — Gritaram os dois em uníssono, soltando-se da mãe e correndo em direção ao pai com grandes sorrisos nos rostos infantis. 

Harry colocou o copo de café que ele ainda segurava na mesa e se levantou para poder pegar seus filhos no colo. Ele sentia tanta saudades de seus filhos, ele queria poder acompanhar cada pequena evolução deles e ele faria o máximo possível para estar com eles durante as semanas que estariam no mesmo país.

— Ella! Arthur! —  Harry exclamou os pegando no colo e os rodopiando alegremente sem se importar com a impressão que poderia estar dando as pessoas que passavam por eles, seu mundo todo estava em seus braços, o que mais poderia importar. — Vocês estão tão grandes, daqui a pouco vão me passar.

As duas crianças riram do pai e o abraçaram com mais força quase fazendo com que todo o ar do pulmão de Harry fosse embora, morrer sufocado pelo amor dos filhos quase parecia uma boa ideia se isso não significasse perder a oportunidade de vê-los crescer.

— Eu senti tanta sua falta, papai! — Ella exclamou deixando um beijo molhado na bochecha dele, os olhinhos brilhando em carinho e saudades, e tudo o que ele conseguiu fazer foi abraçá-la mais apertado e fazer o mesmo com seu filho. 

Ele sentia tanta falta de seus filhos que muitas vezes cogitou pedir para que eles passassem um ano inteiro com ele, mas Harry não era burro, nem cruel, sabia que Ginny amava os filhos tanto quanto ele e que um ano sem eles a machucaria, e não ajudava muito que o emprego dela tivesse um horário mais razóavel que o dele quando se tratava de bem, qualquer coisa. 

— Eu também senti sua falta princesa. — Ele concordou beijando o topo da cabeça de quando um e então fixando seus olhos no de Arthur que ainda estava calado. — E sentia sua falta também, campeão.

— Você vai ficar na nossa casa, papai? — O menino perguntou curioso assim que o pai os colocou no chão bons minutos depois de os apertar tanto que eles reclamaram. Ginny que estava ao lado deles sem falar uma palavra sequer e digitava em seu celular rapidamente olhou em direção de Harry pela primeira vez e ele se viu sem palavras.

Wow. 

Ele sentiu seu coração bater mais rápido quando finalmente focou seu olhar nela. Aos vinte e seis anos de idade, Ginny Weasley conseguia ser ainda mais bonita do que quando eles tinham dezoito, talvez fosse o jeito que ela prostrava seus ombros e erguia sua cabeça, ou em como seus cabelos curtos emolduravam seu rosto com o corte chanel, talvez fosse o jeito despreocupado com que se vestia, jeans, um suéter básico e um sobretudo ou talvez fosse seus olhos que brilhavam como estrelas

Havia também a não muito pequena possibilidade de Harry enxergá-la assim porque era a amava, e não importava que eles estavam separados há anos ou que ele já estivesse tentando outros relacionamentos, seu coração ainda batia descompassado quando a via. Ela, por outro lado, nunca o olhava diferente ou por mais tempo que precisava.

E a culpa era totalmente dele.

— Oi, Ginny. — Harry comprimentou hesitante tentando, e falhando, não olhar tanto para ele com olhos de cachorrinho apaixonado. Pelo o olhar frio que ela lhe lançou, ele poderia ter soado muito bem como uma pessoa normal que ela odiava ou ter se feito de palhaço. O moreno esperava que fosse a segunda opção dessa vez.

— Oi, Harry. — Ela respondeu voltando seu olhar para o celular.

Ele se resignou e pegou suas coisas, retirou seu celular que estava um pouco menos morto do carregador, pegou seu copo de café que já estava pela metade e o donut intocado que estava em um embrulho para viagem, para só então começar empurrar o carro com suas malas. 

Harry desejava poder estar segurando a mão de seus filhos, mas como isso não era possível, ele se contentava em ter suas pequenas mãos segurando firmemente o casaco dele, Ella e Arthur seguiram falando animadamente sobre as coisas que estavam acontecendo, sobre a escola, os amigos deles, sobre o Natal, qual o Harry não pode vê-los porque Ginny não poderia ir para Seul e ele não conseguiria ir para Londres, eles falavam tanto que ele mal precisava responder tudo, mas ele se esforçava para fazê-lo mesmo assim.

Assim que eles chegaram ao carro dela, a ruiva se ocupou em colocar seus filhos no assento deles, e ele ficou colocando suas malas dentro do carro dela. Quando estava fazendo coisas tão domésticas ao lado de sua ex-esposa a mente de Harry o traía e o levava para um mundo onde o divórcio nunca havia acontecido e eles estavam juntos em tudo, onde ele poderia elogiá-la ou apenas a abraçar sem sentir que estava fazendo algo de errado, onde eles iriam cuidar de seus filhos juntos e ele poderia vê-los todos os dias.

Harry apressou-se para mandar seus devaneios para longe e forçou-se a terminar de colocar as malas em ordem, assim que terminou, ele se dirigiu para o banco do passageiro e tentou sorrir para Ginny que parecia apenas desejar que aquilo acabasse o mais rápido possível e se livrar dele. 

— Onde é o seu hotel? — Ginny perguntou com a voz neutra olhando fixamente para o GPS. Ele não era desejado ali, então não faria com que ela sofresse com sua presença por ainda mais tempo, por isso, ele logo deu o endereço de seu loft e se contentou em manter uma conversa com as duas crianças mais lindas do mundo.

— Papai, você vai ficar nesse lugar bonito? — Arthur perguntou com os olhos grandes ao olhar para o lugar onde ficava o loft que ele havia alugado, e Harry apenas sorriu e concordou, bagunçando os cabelos dele com afeição. Eles haviam acabado de descer do carro e Harry não conseguia evitar o sentimento de que tudo era muito cinza ao seu redor.

— Papai, a gente pode subir com você? — Ella perguntou olhando-o com seus famosos olhos de cachorrinho, as mãos juntas perto de seu peito e um biquinho. Ele apertou as bochechas da filha com carinho e tentou não ser coagido pelo olhar que ela lhe dava.

— El, seu pai acabou de chegar, ele deve estar cansado da viagem. — Ginny falou com o tom de quem não abria espaço para discussões, e ele realmente estava cansado e realmente não deveria dar a seus filhos a impressão de que se a mãe deles dissesse não eles poderiam pedir a ele que ele diria sim, no entanto…

No entanto, após quase seis meses sem os ver, Harry sentia que poderia os mimar um pouco mais do que o normal, e por esse motivo, ou talvez apenas fosse apenas uma desculpa para encontrá-la mais cedo, o moreno se viu querendo a contestar. Sabendo que ele não poderia apenas tirar a autoridade dela assim, ele a olhou e tentou pensar em uma boa desculpa para falar com ela em privado.

— Ginny, você pode me ajudar com minhas malas? — O moreno perguntou quietamente, torcendo para que ela entendesse que ele queria falar com ela mais privadamente. E ela apenas concordou e com um aviso para as crianças ficarem ali, ela o acompanhou até a parte traseira do carro.

— O que você quer falar, Harry? — Ginny perguntou com a voz baixa e abrindo o porta malas, essa era a primeira vez que ela se dirigia diretamente a ele sem ser sobre seus filhos, ao menos, sem ser imediatamente sobre seus filhos.

— Como você sabia que eu queria falar com você?

— Você é totalmente capaz de pegar suas malas sozinho, Harry. — ela respondeu com um revirar de olhos e parou de mexer nas malas dele e o encarou. Deus, os olhos dela brilhavam como jóias mesmo sob o céu cinzento de Londres. — Então?

— Eu queria saber se tem como eu ficar com eles mais vezes, já que eu estou aqui e...— Ele começou se sentindo estranhamente nervoso ao ponto de precisar retirar as malas e as confiscar apenas para se distrair. Era tão difícil estar perto dela desse jeito e não poder beijá-la, ele queria tanto apenas ter sido mais inteligente, mais cuidadoso, talvez eles ainda estivessem casados. 

— E?

— E eu não me importaria em ficar com eles hoje, Ginny. — Harry terminou de falar abaixando ainda mais sua voz para que não houvesse chances de Ella ou Arthur o ouvissem. A ruiva tirou a última das malas e fechou o porta malas com um baque surdo antes de se voltar totalmente para ele com o rosto sério e talvez um pouco irritado também.

— Absolutamente não, Potter. — Ela negou com a voz irritada.

— Mas, por quê? — O moreno perguntou a observando atentamente, tudo em Ginny gritava raiva desde suas bochechas vermelhas até seus olhos faiscando. Ele também não se sentia muito calmo, tudo que ele estava pedindo era um tempo com seus filhos. Por que ele não podia?

— Porque você acabou de chegar de viagem e precisa descansar e não cuidar de duas crianças de cinco anos cheias de energia, Harry. — Ela falou pegando a mala dele e começando a se afastar.

— Mas eles são meus filhos também, Ginevra! Mesmo que eu esteja cansado! — Ele respondeu se sentindo frustrado e Ginny mais que rapidamente estava em sua frente com o rosto quase colado ao seu. O rosto dela estava vermelho e parecia mais magro do que a última vez em que ele a viu e um círculo arroxeado bem leve fazia-se aparente debaixo dos olhos dela. 

Harry queria ter o direito de perguntar se ela estava comendo e dormindo bem, mas sabia que isso não era algo que ele poderia fazer, não era seu papel na vida dela. Ela era a mãe de seus filhos e ele a amava, mas Harry tinha consciência de que não tinha direito de cuidar dela como costumava fazer.

— Nunca mais me chame assim, Potter. — A ruiva avisou com a voz baixa e irritada e ele sentiu seu corpo tremer pelo o olhar duro que ela lhe lançava. 

Ginny se afastou dele levemente e fez menção em se afastar mais ainda, mas em um ato de impulso Harry a segurou pelo pulso fazendo com que ela parasse. Ele soltou o pulso dela imediatamente, mas ela não se afastou novamente, apenas o encarou calmamente esperando que ele se explicasse.

— Me desculpa por falar daquele jeito, é só que… — o moreno começou a falar com a voz baixa e os olhos fixos nos dela, tentando a todo custo não chorar e encontrar as palavras certas para se expressar. — Eu sinto falta de estar com as crianças.

A Weasley o olhou com uma expressão dolorida que parecia quase como pesar e com a mão livre apertou levemente a mão dele e por um momento...por um momento Harry se permitiu apreciar o momento de amizade genuína entre eles, há quanto tempo eles não ficavam assim? Há quanto tempo eles não eram apenas amigos?

 Desde antes do divórcio, provavelmente, Harry sequer conseguia lembrar-se quando foi a última vez em que ele e Ginny puderam ser amigos daquela forma fácil que tornou o romance entre eles possível, fácil e especial. 

A realização o atingiu tão fortemente que o moreno sentiu quase como se todo o ar saísse de seu corpo. 

— Eu sei que você sente falta deles Harry, e eu sei que eles são tanto seus filhos quanto são meu, acredite em mim e eu não quero afastar vocês, — Ginny falou suavemente, ainda com aquele olhar suave que há muito não era direcionado à ele. — mas não acho que seja uma boa ideia você pegar eles agora, você acabou de chegar e provavelmente está cansado e ter duas crianças de cinco anos correndo pelo seu apartamento não é o ideal no momento.

— Você tem razão, me desculpa. — Harry respondeu em voz baixa sentindo-se incapaz de fazer qualquer coisa além disso.

— Eu sei que tenho razão. — A ruiva respondeu com um revirar de olhos e ele quase sorriu, memórias de oito anos atrás, os dois jovens e sem responsabilidades, dividindo um apartamento no coração de Seul. 

Harry queria poder voltar no tempo e apreciar mais os momentos doces que passaram juntos, queria poder dizer a si mesmo para parar de se encontrar com Caroline, para dar mais atenção à família que ele escolheu formar ao invés de dar ouvidos para seus colegas de classe que não entendiam o como estar com uma só mulher e dois bebês fosse melhor que ir em festa.

Harry desejava ter sido mais inteligente e percebido que ele tinha o mundo inteiro na palma de suas mãos, que ele tinha o amor da sua vida e as coisas mais preciosas que veio do seu relacionamento com Ginny.

    Ele desejava não ter sido jovem e orgulhoso demais para perceber que era feliz.

20 de setembro de 2016, Seul, Coreia do Sul

Ginny desejava que tudo fosse um grande pesadelo e que no momento seguinte ela fosse acordar nos braços de Harry, com Ella e Arthur dormindo em no quarto que dividiam, o antigo quarto dela, e o moreno iria abraçá-la com força e garantir que tudo ficaria bem e que eles nunca iriam se divorciar.

Mas não era o que estava acontecendo.

Eles já estavam divorciados há duas semanas e Ginny estava morando em um apartamento espaçoso com seus filhos, em um apartamento que um dia havia sido deles, um apartamento que era um presente para Harry por ele ter entrado na faculdade com boas notas. O apartamento que era o lugar onde grande parte das lembranças deles estavam, cada pequeno pedaço fazia com que ela se lembrasse de Harry, cada móvel fazia com que ela sentisse falta do que eles costumavam ser.

De forma prática ela sabia que Harry estava sendo além do compreensivo ao deixá-la ficar com o apartamento que era totalmente dele, e que ela deveria se sentir grata por ter um ex-marido que não fosse um lixo total. A coisa era que o fato dele ser decente fazia com que seu coração se negasse a esquecê-lo.

Ela esperava conseguir tratá-lo normalmente quando ele chegasse para buscar as duas crianças, mas era uma esperança totalmente sem fundamentos, Ginny sabia que ainda o amava, que as borboletas ainda balançavam-se em seu estômago toda vez que ela se pegava pensando no nome de Harry.

Ginny nos melhores dias, queria apenas poder ir para Londres com seus filhos e não vê-lo por bons anos, queria poder esquecê-lo de uma vez e não mais sentir-se à beira de um precipício cada vez que escutava sua voz, nos piores dias no entanto, ela desejava nunca ter o conhecido, não saber como era amá-lo, como a risada dele viajava por todo o cômodo suave e verdadeiramente, em como seus olhos eram verdes, em como ele a tocava tão gentilmente que fazia parecer que ela quebraria se fosse feito de outro modo.

Acima de tudo, Ginny desejava odiá-lo, e culpá-lo por tudo ter dado errado. Mas como ela poderia fazer isso, quando também havia sido tão injusta? A ruiva sentiu lágrimas escorrerem por seu rosto, no entanto, nada fez para pará-las. Sentia que era necessário chorar, que precisava por pra fora, ao menos enquanto podia fazê-lo, para só assim conseguir se curar. 

Um choro ecoou pelo apartamento, e a ruiva suspirou e secou suas lágrimas, se esforçando para parecer bem e ir pegar seu filho que chorava assustado, provavelmente por culpa de um pesadelo. Quando chegou ao quarto, viu Arthur chorando baixinho em sua cama, seus olhos cheios de lágrimas e se apressou em pegá-lo no colo e sair do quarto para não acordarem Ella. 

    — O que foi meu amor? — Ela perguntou calmamente ao se sentar com ele no sofá, a cabeça dele encostada em seu peito. Pequenos soluços escapavam de seu corpo pequeno, e Ginny apenas continuou a acariciar suas costas calmamente.

— Eu sinto falta do appa. — Arthur respondeu entre seus soluços, o rosto enterrado na camisa dela. Ouvir seu filho dizer que sentia falta do pai a machucava, principalmente porque Ginny sabia que toda a confusão que Arthur e Ella sentiam, era culpa dela e de Harry.

— Eu sei meu amor, mas ele vem te buscar hoje. — Ginny respondeu tentando se manter calma, mas era uma tarefa quase impossível quando a mente dela pensava em todas as possibilidades de fazer as coisas melhorarem, na parte lógica da questão, sua relação com Harry parecia algo impossível de reverter, eles já estavam divorciados, ambos haviam concordado com isso, então porque doía tanto?

— Mas eomma não é igual.

— O que não é igual, meu amor? 

— Ficar só com o appa ou só com a eomma, mas não com os dois. —  Ele respondeu voltando a chorar e ela sentiu seu coração partir mais um pouco. O que ela e Harry haviam feito? O egoísmo deles estava levando seus próprios filhos, crianças inocentes de apenas dois anos de idade, a ficarem tristes e preocupados. 

Como eles foram capazes de fazer isso?

— Me desculpa, meu amor, mas a eomma não pode ir. — A ruiva respondeu suavemente, não sabendo como explicar para seu pequeno que ela e Harry não mais estariam juntos, que o único vínculo que os ligava era ele e sua irmã.

Arthur não falou mais nada e eventualmente seus pequenos soluços cessaram e logo ele dormia novamente. A ruiva o levou para o quarto e o colocou na cama com cuidado e se direcionou para a porta não querendo arriscar acordá-los muito antes do horário de Harry chegar.

Ela os observou com o coração apertado, seus filhos eram seu maior presente, seu maior orgulho, e Ginny sabia que nada no mundo a faria desistir deles, mas desde o dia do divórcio ela se questionava se tê-los tão cedo havia sido uma boa ideia, se ter se divorciado havia sido a coisa certa a se fazer. E se ela e Harry estivessem traumatizando eles? E se tudo que eles fizeram fosse apenas machucá-los e confundi-los?

Ginny se sentia uma péssima mãe, uma péssima pessoa e tudo que ela queria era poder conversar com seu melhor amigo e ter o colo dele, ouvi-lo dizer que ela está fazendo a coisa certa, sentir os braços dele envolta dela em um abraço carinhoso. Mas como ela poderia ter isso quando seu melhor amigo era seu ex-marido e o cara pelo qual ela ainda estava perdidamente apaixonada?

Como ela iria odiá-lo quando tudo que pensava era Harry, em como ele a abraçava nos dias em que ela estava com medo de ser uma mãe terrível, na forma em que desde o momento em que eles se conheceram ela havia se entregado de corpo e alma para ele, para a amizade dele. Ginny ainda conseguia sentir as mãos grandes e fortes dele deslizando calmamente sobre os cabelos dela em carinho reconfortante que somente ele conseguia fazer.

E seus sentimentos por Harry eram tão fortes e controversos que constantemente a ruiva se questionava porque havia se divorciado, e então ela lembrava-se do inferno que a vida deles havia se tornado quando os gêmeos tinham apenas 18 meses. Do modo em que ele se atrasava para chegar em casa, dos dias em que ele aparecia cheirando a bebidas e cigarros, na forma em que eles nunca tinham tempo a sós, mas principalmente nas brigas. 

Nos momentos em que Ginny sentia todas suas inseguranças destruírem o lar que haviam feito, em que os gritos deles eram mais altos do que as juras de amor que havia feita, onde o estresse de ter dois bebês ainda no começo de seus vinte anos e durante os últimos meses da faculdade era maior do que a qualquer indício de felicidade que tentasse coexistir.

Quando no começo todos haviam avisado para ir com calma, eles não escutaram, mas agora Ginny conseguia entender o que poderia ter sido evitado caso eles não tivessem feito tudo tão de repente. A paixão foi como gasolina para um desastre de lágrimas e decepções, que poderia ter esperado caso houvessem apenas esperado um pouco mais.

Nas histórias onde os melhores amigos se apaixonam nada disso acontecia. Quando contam sobre como é namorar  ou ser casada, com seu melhor amigo, sempre parece um conto de fadas, mas ninguém avisa sobre quando o sonho começa a se despedaçar e o conto de fadas vira um conto de terror. 

Para muitas pessoas um divórcio não é nada mais que uma inconveniência, um romance que teve um final desagrádavel. Para ela, o divórcio foi quase uma morte, mesmo tendo sido a decisão correta, mesmo que fosse necessário, a dor que ela sentia era tão forte que parecia ser uma dor física.

    Quando o divórcio foi finalizado, Ginny perdeu não apenas seu marido, o amor de sua vida, ela perdeu a pessoa mais importante de sua vida; seu melhor amigo. 

24 de novembro 2016, Seul, Coreia do Sul

    No momento em que ele acordou e percebeu que não estava em seu próprio quarto, Harry soube que tinha cometido um grande erro. E como se não fosse suficiente ele não reconhecer o ambiente em que estava, sua cabeça parecia pesar toneladas, e seu estômago estava agitado. 

    Considerando o pouco que lembrava-se da noite anterior, somado ao que sentia, ele já sabia bem o que havia feito, ou melhor, o que havia feito novamente. Harry sabia que havia deixado-se levar pela bebida mais uma vez e que agora teria que arcar com as consequências. 

    — Finalmente, a bela adormecida acordou! — A voz melodiosa de Caroline soa pelo apartamento pequeno e vibra dentro da cabeça do cacheado por longos momentos, deixando-o zonzo. Ele não fazia ideia do que estava fazendo na casa dela, mas sabia que não deveria ter ido até lá. 

    Harry sentou-se o mais lentamente possível e percebeu que estava em um sofá perfeitamente branco, de um apartamento pequeno e bem decorado, um apartamento que tinha o cheiro do perfume que a Caroline usava e cigarros. 

    — Como eu vim parar aqui? 

    — Eu te trouxe depois do que eu acho que era a segunda garrafa de tequila que você bebeu. — A morena respondeu os lábios se curvando em um meio sorriso enquanto ela lentamente tragava o cigarro que estava em suas mãos. Ele acenou levemente com a cabeça, e se arrependeu assim que sentiu seu estômago embrulhar ainda mais e com um gemido ele fechou os olhos novamente. 

    — Que merda eu fiz ontem? — O Potter perguntou ainda de olhos fechados, sabendo que sua voz soava mais grosseira do que ele tinha intenção, mas ao menos Caroline o entenderia, ela sempre entendia. 

    — Graças a mim, nenhuma. — Ela respondeu com um revirar de olhos e jogou uma cartela de aspirina e uma garrafa d’água em sua direção. O moreno obedeceu a ordem não verbal que ela lhe deu, mas a aspirina não tiraria a culpa dele. — Não me venha com essa cara Potter, eu te ajudei porque quis. 

    — Mas, Carol, ontem era para ser o seu dia. — Harry resmungou, sentindo-se irritado consigo mesmo. 

Não bastava ter sido um péssimo marido, ser um péssimo filho, irmão e pai, agora, ele também tinha a grande qualidade de ser um péssimo amigo para aumentar sua lista. 

    Como se ele precisasse de mais provas de que era um grande idiota. 

— Não seja idiota, Potter, você acabou de se divorciar e voltou a morar com seus pais, se tem alguém que precisa relaxar aqui, é você. — A Durand falou o olhando seriamente, e após alguns minutos de silêncio ela voltou o olhar com um sorriso malicioso no rosto. — Mas obviamente, nada na vida é de graça, né, Harryzinho…

— Primeiro, não me chama de Harryzinho, é vergonhoso pra caralho, e segundo, eu já disse não. — Ele respondeu olhando-na irritado. 

Caroline durante os nove meses que eles se conheciam tentava convencer Harry a apresentá-la para Amelie, uma das melhores amigas dele, mas ele conhecia Amelie, e conhecia Caroline. 

E apesar de Amelie ser uma das melhores pessoas do mundo, o moreno sabia que ela não era a melhor pessoa quando se tratava de relacionamentos, e Caroline, apesar das pessoas acharem que ela era uma grande provocadora, era, na verdade, uma das amigas mais românticas que ele tinha. 

— Argh! Eu só quero ir alguns encontros com ela, Harry, não vou me apegar. — A mulher respondeu com a voz irritada e olhando-o de cara amarrada. 

Felizmente, quatro anos de casamento havia o transformado em alguém resistente a olhares feios das mulheres que ele era amigo, afinal nenhuma delas ficavam bravas como sua esposa. 

Não, como sua ex-esposa. Harry não deveria esquecer-se de que agora tudo estava terminado entre eles, de que ela não era mais sua esposa, melhor amiga ou sequer amiga, ela não queria ser. Ginny era apenas mãe de seus filhos, e pelo bem deles, as coisas deveriam permanecer assim. 

E se o coração dele se partia cada vez que percebia o quanto ela havia emagrecido por culpa dele, o quanto as bolsas roxas embaixo de seus olhos castanhos cresciam cada dia mais, em como os filhos deles choravam porque não entendiam porquê o pai deles de repente não mais morava no apartamento com eles, ou em como ele a procurava em todos os cantos, mas nunca a encontrava, apenas para lembrar-se que ela já não mais pertencia ao seu lado, e nem ele ao dela, que ele havia perdido esse direito. 

Se todas essas coisas aconteciam e o levavam à uma espiral assustadora de festas com muito álcool, com muito barulho e muitas pessoas que ele não fazia questão de conhecer, se isso o levava a fumar cigarros escondido de sua família e evitar voltar para casa todos os dias porque tudo ali o lembrava dela, desde os cabelos ruivos de sua mãe, até o jeito que seu pai falava. 

Se isso acontecia a culpa era apenas dele, e ele sabia disso. 

Uma mão tocou o ombro de Harry o puxando de volta para o presente, de volta para a sensação de queimação no estômago, para o gosto amargo em sua boca e o cheiro de cigarro que preenchia o apartamento, apesar da janela estar aberta. 

A mão de Caroline o ajudou a levantar, e ele sentiu o vento frio penetrar seus ossos e arrepiar os pelos em seu braço, ele tentou sorrir, e a morena apenas o abraça fortemente, e pela primeira vez desde a finalização do dívorcio, Harry se permite chorar. 

Pela primeira vez ele se permitiu admitir que estava quebrado, que ainda amava Ginny, que ainda dóia, que talvez nunca fosse parar de doer, que talvez ele nunca fosse parar de amá-la. 

Pela primeira vez desde a última tentativa de consertar as coisas com a ruiva, Harry beija outra pessoa. Quando ele a beijou, o moreno tentou imaginar que era a ruiva, que os cabelos morenos, eram na verdade ruivos, e que a boca ressecada, era na verdade a boca hidratada de Ginny. O beijo não durou mais que dez segundos. 

Quando eles se separaram do beijo, Caroline o bateu. 

Quando eles se separaram do beijo, Harry chorou ainda mais, e seu coração quebrou novamente.Ninguém nunca seria igual Ginny. Durand o abraçou maternalmente e permitiu que ele chorasse por quase duas horas no colo dela, e então ela o abraçou com força, e o ajudou a preencher um formulário de inscrição para o curso de confeitaria que ele havia falado sobre no dia em que se conheceram. 

Um mês depois, Harry estava matriculado num curso de confeitaria. 

Dois meses depois, Caroline começou a namorar Amelie. E em cinco meses juntas, elas se casaram. Harry foi o padrinho. 

Em abril, Ginny mandou uma mensagem avisando que havia conseguido um emprego em Londres. 

E em maio, Harry viu o amor de sua vida decolar com seus filhos de volta para Londres, para seguir os próprios sonhos, para formar uma nova vida, longe dele, em uma cidade onde ele ainda não havia arruinado a paisagem. 

    Em junho, ele conseguiu emprego em um dos melhores restaurantes de Seul.

    Quatro anos depois do divórcio, ele pegou um avião e voltou ao lugar onde tudo havia começado.

18 de janeiro de 2020, Londres, Reino Unido

    Fazia pouco mais de duas semanas desde que Harry havia colocado seus pés em Londres e Ginny já se sentia completamente louca com a presença constante dele em todos os lugares que ela estava. Ele estava em seu local de trabalho, em sua casa, no shopping, no mercado quando ela ia comprar comida, nas ruas pelas quais ela passava, e quando ele não estava fisicamente perto dela, Ella e Arthur estavam ali para lembrá-la de sua existência. 

    Ginny sabia que não podia culpá-lo por isso, tudo que vinha acontecendo eram apenas coincidências e bem, ela tampouco poderia culpar seus filhos por falarem do pai deles com frequência, afinal era direito deles.

    Era um sábado à tarde e tudo ao redor deles estava cinza. Harry havia pedido para levar seus pequenos para o zoológico, mas como chovia, seus planos teriam de ser cancelados, e Ginny tinha certeza de que com a tempestade inesperada eles não conseguiriam fazer muita coisa do lado de fora de casa.

    Dias assim eram o maior pesadelo da ruiva.

    — Mamãe, mamãe, mamãe! — Gritou Arthur correndo até a sala onde ela estava lendo e editando pelo, o que ela esperava ser, a última vez o roteiro do primeiro episódio que gravariam do show culinário que promoveria Jungsik, o restaurante em que Harry trabalhava, em Londres. 

    — Artie, sem gritos. — Ela pediu assim que ele se jogou no sofá e escondeu sua cabeça no colo dela, a atrapalhando a escrever, Ginny o olhou brava, mas o menino apenas permaneceu ali, e ela se deu por vencida e decidiu que trabalharia depois. Os passos de Ella correndo soou pelo apartamento e logo a menina apareceu com seus cabelos bagunçados. 

    — Artie! Você roubou!

    — Não roubei, não!

    — Roubou, sim!

    — Não, roubei!

    — Roubou! 

    — Não, roubei! Não roubei!

    — Roubou, sim!

    — Não!

    — Sim!

    — Eloise Jane! Arthur Edward! — Ginny falou com a voz séria e os dois a olharam imediatamente, sabendo que o uso do nome do meio significa que eles estavam encrencados de verdade. — Parem já com essa gritaria!

    — Mas eomma… — Arthur começou a falar com as bochechas gordinhas estufadas em irritação. No entanto, ela já estava cansada das travessuras de seus filhos e queria apenas um descanso ou cinco minutos em silêncio. 

     — Sem ‘mas eomma’, Arthur. — Ela respondeu com um olhar sério em direção dos dois e ambos se encolheram levemente. —  Eu não quero ver vocês brigando de novo, estamos entendidos?

    — Sim, eomma. — Eles responderam a contragosto e se sentaram diante da mesa de centro da sala de estar onde estavam seus lápis de cores e livros de colorir. Ginny sabia que deveria ter sido mais compreensiva no momento, mas ela estava cansada, a neve não parava de cair e Harry estava novamente atrasado.

    — Eomma, cadê o papai? — Ella perguntou apenas cinco minutos após o silêncio, ou a coisa mais próxima disso que duas crianças de cinco anos conseguiam reproduzir, se instalar na sala. Ginny novamente tirou os olhos do texto que ela encarava há quase uma hora e decidiu ligar para Harry.

    — Eu não sei, Ellie, mas vou mandar uma mensagem.

    — Posso falar com ele, eomma? — O menino mais novo perguntou com a voz baixa e a olhando como se a resposta dela tivesse o poder de abalar todo seu mundo. E tinha. 

Ginny nos melhores dos dias, o que não era o caso, já achava extremamente difícil lidar com o fato de que ela não só era responsável por duas crianças, mas também que cada pequena ação ou palavra mal pensada poderia deixá-los inconsoláveis, principalmente se a questão envolvesse Harry. 

    — Eu vou perguntar a ele, e se ele não estiver dirigindo ou no trabalho, tenho certeza que ele vai adorar falar com você, Arthie. — Garantiu Ginny com uma tentativa de um sorriso, não era muito, mas com todo o cansaço e estresse que ela sentia, era tudo que conseguia providenciar para seus filhos no momento.

    No entanto, a Weasley sequer precisou discar o número de seu ex-marido, pois assim que ela colocou as mãos em seu celular, ele vibrou e o nome de Harry apareceu no visor. Ela atendeu antes mesmo do primeiro toque ser completo, não poderia se dar o luxo de esperar o arrependimento crescer  e desligar. 

    — Ginny! Você atendeu rápido, tava esperando pela minha ligação? — A voz do Potter a cumprimentou alegremente, e havia sido tão espontâneo, tão ele, que por um momento a ruiva conseguiu imaginá-lo ainda menino, bem diante de seus olhos, sorrindo com todo o rosto e não só os lábios, tão lindo, tão sorridente. 

    — Patético. — Ela chiou mais agressivamente que pretendia e quase se encolheu com a sua própria falta de controle. E mentalmente pediu desculpas a Harry e a seus filhos por terem que lidar com o temperamento dela quando estava estressada. — As crianças estão perguntando sobre você. Aonde você se meteu, Harry?

    — Er...então por culpa da neve o loft que eu aluguei teve um problema elétrico e eu meio que fiquei preso em casa por umas duas horas? — Ele respondeu com a voz apologética e envergonhada. Ginny estremeceu só de pensar em ficar sem energia durante o frio que fazia. Ela sabia que ele estava acostumado com invernos cheios de neve, em Seul quase sempre nevava durante o inverno, ao contrário de Londres, no entanto, por nem sempre nevar, eles não tinham tecnologias para evitar esse tipo de frio, e a ruiva só conseguia imaginar seu ex-marido tremendo debaixo de camadas de roupa, enquanto um frio imensurável se instalava no loft alugado que nem sequer havia lareira para aquecê-lo. 

— Você tá bem? 

Sim, sim, eu só...— Harry respondeu casualmente como se não fosse nada ficar sem aquecedor quando a temperatura exterior marcava menos cinco graus celsius. Infelizmente ela o conhecia o suficiente para saber que ele faria pouco caso do que estava acontecendo para evitar que ela se aproximasse dele. Era incrível que apesar de tanto tempo já ter se passado em algumas situações ela ainda conseguia lê-lo como se eles ainda fossem melhores amigos. — Eu só acho que vou acabar ficando sem eletricidade por uns dias. 

— Harry… — Ginny falou baixinho, soltando um suspiro cansado ao perceber que o moreno não tinha intenção de procurar outro lugar para ficar. — Você pode ficar aqui em casa enquanto o problema não se resolve. 

    Você tem certeza, Ginny? — ele perguntou soando incerto e ela praticamente conseguia vê-lo inclinar a cabeça do jeito que ele costumava fazer quando estava considerando algo. Como ele ainda fazia isso mesmo após anos. — Eu não quero atrapalhar você.

— Eu não te chamaria se eu não tivesse certeza, Harry. — A ruiva respondeu calmamente, mesmo sabendo que não tinha certeza de nada no momento, e que chamar Harry para sua casa não havia sido uma ação pensada, que estava agindo por meros impulsos. Impulsos que deveriam ter morrido há anos.

    — Hm...certo..,er... Então eu vou arrumar algumas coisas, e, em meia hora eu chego aí, tudo bem? 

    — Tente não demorar muito, as crianças estão ansiosas para te encontrar. — Foi a resposta dela, o que não respondia bem a pergunta que ele havia feito, e Ginny sabia disso. Mas o que mais ela poderia dizer? Que havia mudado de ideia nos trinta segundos em que ficaram sem falar nada, e agora achava que não conseguiria dormir sabendo que ele estaria na mesma casa que ela? Que ainda tinha sentimentos, sentimentos idiotas, por ele? 

    Não, ela não podia, sequer deveria admitir tais coisas, nem mesmo para si. Ela tinha dois filhos com Harry, duas crianças lindas, frutos de um amor jovem e irresponsável, que poderia ter durado, mas não durou, e pelo bem de Ella e Arthie, deveria ficar desse jeito. Qualquer envolvimento romântico, principalmente se a pessoa fosse Harry, deveria ser evitado. Seus filhos mereciam mais do que viverem em uma casa onde seus pais não conseguem decidir se são um casal ou não.

    — Okay, diga a eles que eu os amo, por favor. — Harry pediu com a voz suave que ele usava sempre que falava dos gêmeos. Os lábios dela involuntariamente se levantam ao ouvir isso. Era uma das coisas que ela mais costumava amar nele, era uma das, muitas, coisas, que faziam com que seu coração batesse mais forte quando o via. 

    — Sem problemas, Harry. — Respondeu a Weasley suavemente e já se preparando para se despedir quando o moreno pigarreou, alto o suficiente para que ela ouvisse e suas palavras se perdessem na garganta. 

    — Eu devo chegar aí em meia hora se o trânsito colaborar. — informou com a voz brincalhona de sempre. E então ficou mudo por muitos segundos fazendo-a estranhar sua atitude pela segunda vez durante a chamada e em uma voz baixa e tímida ele continuou. — Obrigado, Ginny, de verdade. —  E sem esperar que ela o respondesse, o Potter desliga, deixando-na muda por bons segundos. 

O que diabos havia sido isso? Por que ele havia desligado tão rapidamente? Deus, ela não tinha mais idade para tentar decifrar alguém. Por que Harry sempre a fazia querer entender cada linha das coisas que ele dizia e fazia? Por que eles não conseguiam ser um casal divorciado que se odeia? Tudo seria muito mais fácil se eles se odiassem, se o coração dela ainda não o pertencesse. 

    — Eomma, eu estou com fome. —  Sua filha resmungou se aproximando dela com uma careta emburrada no rosto. Ginny a pegou no colo com cuidado no momento em que ela estava ao seu alcance e encheu seu rosto de beijos, fazendo com que Ella gritasse em deleite. 

    — E o que você quer comer, meu amor? 

    — Choco pie! — Ella respondeu com um gritinho animado e olhos cheios de esperança, fazendo com que fosse quase impossível a tarefa de negá-la o doce de chocolate, no entanto Ginny sabia que não poderia dar uma bomba de açúcar para seus filhos e esperar ter um dia calmo dentro do apartamento. 

    — Hmmm, a mamãe não comprou Choco pie, El. — Ginny mentiu fazendo uma careta de tristeza, e o rosto da ruiva mais nova se contorceu em um beicinho irritado. E começou a se encaminhar em direção à cozinha. — Que tal maçã e peras, hm? 

    — Não, eomma, eu quero choco pie ou cereal, não frutinhas. 

    — Por que? Frutinhas são tão gostosas!

    — Mas eu não quero comer frutinhas de novo, eomma, por favorzinho? — A menina mais nova pergunta com as mãos juntas e olhos de cachorrinho que caiu da mudança. 

Ella tinha um jeito que era tão parecido com o de Harry que, muitas vezes, se tornava doloroso de estar por perto. Arthur apesar de ter o temperamento de Ginny assemelhava-se ao pai na aparência, apesar de não serem cópias de carbono, a visão ainda fazia com que ela sentisse o coração apertar ao olhá-lo.

    — Que tal um sanduíche de queijo quente? — Ofereceu a mãe, sentindo-se esperançosa, não era a melhor das opções, claro, mas ela não tinha muitas opções restantes. — Ou alguns biscoitos de aveia e canela?

    — O sanduíche! — Gritou Arthur enquanto corria em direção de onde estavam e Ginny viu o momento em que ele iria bater a cabeça na quina da mesa, o que não aconteceu por um triz. — Por favor, mamãe!

    — Mamãe, você pode fazer chocolate quente também? — Perguntou Ella esperançosamente, e dessa vez a ruiva mais velha cedeu aos pedidos da filha e apenas concordou.  As duas crianças comemoram animadas e sentaram-se em seus lugares na mesa para observá-la mexer na cozinha. 

    — Mamãe, nós podemos fazer pro appa também? — Arthur perguntou de repente olhando-a, e seus olhos esverdeados brilhavam em curiosidade, sua cabeça inclinada em uma posição que gritava o nome de Harry. Ginny parou de procurar pelos ingredientes que precisava e olhou para seu filho que a encarava. 

    — Claro meu amor, seu appa adoraria comer um lanche feito por vocês. — Ginny respondeu com um sorriso enquanto colocava os queijos e o pão em frente às duas crianças. Parando para beijar o topo da cabeça de cada um antes de se afastar para pegar as coisas para fazer o chocolate. — E a eomma vai ganhar um também?

    — Eomma, não seja boba! — Riu Arthur ao ouvir a pergunta da mãe. — Eu vou fazer o seu e a Ellie vai fazer o do appa!

Ella sorriu largamente enquanto acenava em acordo e começou a montar o sanduíche com seu irmão, que também sorria contente, e a ruiva mais velha virou-se para o fogão e começou a preparar chocolate quente o suficiente para quatro pessoas. 

    Enquanto ela observava a infusão da canela, da baunilha e da noz-moscada, seus filhos falavam sobre como estavam animados para brincarem com o pai novamente, em como a neve estava bonita e o quanto eles queriam poder fazer um boneco de neve mais tarde. Tudo isso enquanto colocavam os queijos no pão.

    Durante todo o tempo em que ela preparava os chocolates e o pão esquentava no forno para deixar o queijo derretido, Ella e Arthur conversavam animadamente na mesa da cozinha, com seus pés balançando ansiosamente na cadeira e os olhos verdes brilhando. 

    Ginny os amava tanto que estava disposta a fazer qualquer coisa por eles. 

    — Eomma, você e o appa vão casar de novo? — Perguntou seu filho, olhando-a fixamente enquanto ela mexia  o chocolate que estava quase pronto. Ella também a encarava com uma expressão curiosa. A ruiva quase se queimou ao ouvir a pergunta. 

    — Como assim Arthur?

    — Casar com outras pessoas, mamãe. — A menina mais nova explicou lentamente como se sua mãe estivesse sendo irracional. A Weasley encarou incrédula seus filhos por alguns segundos, e algo no seu coração quebrou ao ver que havia lágrimas nos olhos deles, ela se virou para onde estava o chocolate para tentar se estabilizar. — Eomma? 

    — Isso não é uma coisa para vocês se preocuparem, meus amores. — Ginny respondeu por fim, esforçando-se para manter a voz estável. Até aquele momento ela nunca havia pensado que um dia Harry se apaixonaria por outra pessoa que não seria ela, que ele formaria outra família, e que todo laço que ela e ele teriam seriam seus filhos.

    Talvez isso fosse o melhor, talvez dessa forma ela poderia, enfim, esquecê-lo de vez. 

Eomma… eu não quero que o appa case com outra pessoa. — Arthur falou após vários minutos em silêncio, apenas observando a mãe mexer o chocolate, desligar o fogão e colocar os sanduíches em um prato. A ruiva mais velha ainda calada sentou-se em frente aos dois e acariciou suas bochechas com carinho por um breve momento.

— Essa decisão não é uma que vocês podem tomar pelo pai de vocês, meu amor. — Ela explicou com uma calma que não sentia, e sentiu seu coração despedaçar ao ver lágrimas se juntarem nos olhos dos gêmeos. — Por que vocês estão chorando, meus amores?

— Porque se o appa casar com alguém ele vai ter outros filhos que vão morar com ele, e o appa vai esquecer da gente. — Ella respondeu entre soluços, e Arthur chorava silenciosamente. Ginny os pegou no colo e secou suas lágrimas, fazendo seu melhor para acalmá-los. 

— O appa ama muito vocês, ele nunca faria isso, querida. — A Weasley respondeu com a voz segura, porque ao menos isso ela poderia garantir aos filhos. Harry os amava tanto quanto ela os amava, ele nunca os abandonaria. 

Eomma, você promete? — Arthur perguntou e os olhos dos gêmeos estavam cheios de esperança e quando a mãe estava prestes a responder, seu interfone tocou, e ela sorri para os filhos antes de se levantar.

Eomma, eu posso atender? — Ella perguntou enquanto seguia-a em direção da sala de estar com o irmão ao seu lado. Ginny não entendia o fascínio dos filhos em falar no interfone, mas sempre os deixava atendê-lo. 

    — Claro, meu bem. — Ela concordou facilmente, estendendo os braços para pegá-los em seu colo e com os dois filhos firmemente seguros em seu quadril, Ginny se aproximou do interfone e deixou a pequena Ella atender. 

    — Alôô, quem é? — Perguntou a voz doce de sua filha, e a Weasley quase derreteu ao ouvi-la falar tão docemente, com um sorriso grande, sequer parecia que ela havia chorado há poucos segundos. 

A voz que saiu do interfone era, como esperado, de Harry, e as duas crianças praticamente brilharam ao ouvir sua voz através do aparelho. Arthur apesar de ser o menos vocal, na maior parte do tempo, soltou um gritinho animado ao ouvir a voz do pai. 

— Mamãe é o papai! — Arthur a contou em sussurro gritado e Ginny apenas concordou com um sorriso, enquanto observava sua filha apertar o botão que permitia a entrada dele no prédio. 

— Tô abrindo, papai! — A voz da menina falou antes de apertar o botão que abria o portão da garagem de carros. O sorriso em seu rosto era tão grande que parecia ser capaz de rasgá-lo em dois. A Weasley desejava poder manter seus felizes desse modo, felizes e protegidos, pelo resto de suas vidas. — Tchau, paizinho!

Harry se despediu e Ella colocou o interfone no lugar certo antes de se virar para sua mãe sorrindo,Arthur também sorria grandemente, se apenas a notícia de que Harry estava por perto fazia isso com eles, Ginny sequer conseguia imaginar o que a informação de que ele ficaria alguns dias com eles, iria fazer. 

— Mamãe, mamãe, podemos esperar o papai no corredor?— Arthur pediu com a voz cheia de esperança, as mãos unidas em frente ao peito, e um beicinho em seus lábios. —  Por favor, mamãe!

Ao ver a atitude do irmão, Ella se juntou a ele e continuou repetindo “por favor, mamãe!”. E Ginny sabia que nunca seria capaz de negar a seus filhos algo tão simples quanto isso, então ela fez o que qualquer outra mãe faria. Ela indicou o cabideiro de casacos para seus filhos, esperou eles colocarem seus sobretudos coloridos, e só então saiu para o corredor do apartamento com eles. 

O corredor estava frio, o que já era de se esperar, mas Ella e Arthur não pareciam se importar com o frio enquanto pulavam de um pé para outro e olhavam para o botão do elevador que indicava que o pai deles estava cada vez mais perto. 

Paul Davey, sua esposa, Ava e seus dois filhos saem do apartamento 510B, dois apartamentos à distância do de Ginny, e andam em direção dela com uma expressão de puro desprezo em direção de Arthur que estava usando um sobretudo lilás. 

A Weasley os odiava com toda sua força desde o dia em que ela havia chegado ao prédio há quase dois anos e Ava a olhou de baixo pra cima ao perguntar onde estava o marido dela, e ao ouvir que Ginny não era casada, sussurrou um “pobres crianças.” com um olhar cheio de nojo em direção dela.

Os cabelos longos e loiros de Ava e sua filha mais nova, Ruby, pareciam brilhar sob a luz do corredor, e os cabelos castanhos de Paul e Will não ficavam muito atrás, eles pareciam uma típica família britânica perfeita, saídos diretamente de comerciais. A ruiva sentia-se enjoada só de olhá-los em seus suéteres combinando e os sorrisos brancos sempre presentes, afinal ela sabia que aquilo não passava de uma fachada, e que eles eram as pessoas mais mesquinhas que ela teve o desprazer de conhecer. 

    — Boa tarde, Ginevra. — Paul a comprimentou com um grande sorriso cheio de dentes brancos, e Ginny fingiu não notar a forma em que ele olhava para o corpo dela. Ela queria poder gritar que ele era casado e muito velho para estar dando em cima dela. Quinze anos de diferença era muita coisa, ela queria dizer. Infelizmente, ela não podia. Estava de mãos atadas. — Boa tarde, crianças.

    — Boa tarde, senhor Davey. — Seus filhos responderam em uníssono educadamente, exatamente como ela havia os ensinado, vê-los agindo tão educadamente a encheria de orgulho e faria um sorriso se espalhar por seu rosto, se ela não soubesse que por trás da educação deles havia medo.

    — Estão saindo para brincar na neve, Ginevra? — Ava perguntou com sua voz doce, seus lábios cor de rosa se articulando em um sorriso cheio de dentes brancos e falsa preocupação ao olhar para a falta de roupas de frio nos filhos de Ginny, e ao olhar para o casaco de neve, cachecol, luva e touca que cobria os dela. — Nós estamos indo levar nossos anjinhos para brincar no Hyde Park, muito tempo dentro de casa não faz bem para eles.

    — Mamãe e papai vão nos levar no aquário, depois! — Ruby falou com um grande sorriso, que seria encantador se não fosse pelo modo como ela falava papai, olhando diretamente para Ella com um olhar desafiador. Como se dissesse: “Eu tenho um pai e uma mãe que moram juntos, você não.”

    Como se isso a fizesse melhor que seus filhos. 

    — Isso mesmo, docinho. — Elogiou Ava sorrindo em direção da filha, mas com os olhos fixos em Ginny. — Então, Weasley, você não me respondeu. — Ela comentou como se não fosse nada. Não deixando o assunto morrer como a ruiva desejava, — Vão sair também?

    Felizmente, Ginny foi poupada de fornecer uma resposta, que não seria muito educada, ao som do elevador. Assim que as portas metálicas se abriram no quinto andar, a Weasley foi presenteada com a visão de Harry carregando uma mochila e uma sacola de compras em sua mão, ele estava vestido com o casaco vermelho que Arthur e Ella compraram de presente de Natal para ele, e uma calça jeans que fazia maravilhas com sua perna e um suéter creme.

— Papai! — Arthur e Ella gritaram com um largo sorriso espalhando em seus rostos e juntos eles correram em direção ao moreno de cachos que mal teve tempo de ajustar a sacola em sua mão quando as crianças colidiram em sua perna. 

— Meus amores, como vocês estão grandes! — Harry falou com a voz cheia de orgulho e surpresa como se os gêmeos tivessem crescido nos poucos dias em que eles ficaram sem se ver pessoalmente. Ginny sabia que estava sorrindo em direção deles no momento em que o moreno a olhou com um sorriso tímido, com seus pequenos grudados na perna dele. 

A ruiva sabia que seus vizinhos estavam chocados com a presença de seu ex-marido, afinal nunca havia falado de Harry para ninguém do prédio, e especialmente, não eles, e talvez fosse errado, mas ela sentia-se muito orgulhosa de provar que não era uma irresponsável, de provar que seus filhos também tinham dois pais que os amavam. 

— Eu não sabia que você mantinha contato com o pai de seus filhos, Ginevra. — Ava falou com aquele tom de voz superior que sempre usava, mas a Weasley conseguia ver que ela estava afetada ao ver Harry, afinal quem não estaria? Potter era lindo, principalmente quando ele estava assim, olhando com ternura para seus filhos, sem se importar com o lugar que estavam. — É muito corajoso da sua parte.

— Nem todos têm a sorte de ter um relacionamento como o nosso, meu docinho. — Paul respondeu com uma voz aveludada, que não enganava a ninguém, nem mesmo sua esposa. O olhar que ele lançava a Ginny também não deixava muito a imaginação do que ele realmente queria dizer, a ruiva esforçou-se para não se encolher, mas foi impossível de evitar ao arrepio que desceu por sua espinha e arrepiou todos os pelos de seu corpo. 

Harry finalmente chegou até onde ela estava, o que não deveria ter sido uma tarefa fácil com o peso adicional das crianças, mas ele não parecia se importar. Sem dizer uma palavra, Ginny pegou a sacola da mão de seu ex-marido e finalmente, ele conseguiu pegar seus filhos no colo. 

— Obrigado, Gin. — o moreno agradeceu com um sorriso sincero, e então virou-se para os vizinhos dela. Um brilho malicioso no olhar, e de repente Ginny percebeu que de alguma forma Harry havia notado que os Davey não eram bem o que pareciam ser.  — Boa tarde, eu sou Harry Potter, e vocês quem são?

— Eu sou Paul Davey, essa é minha esposa Ava, e esses são nossos filhos, Ruby e Will, moramos no 510B. — Ele respondeu com um sorriso orgulhoso, e o olhar duro. Ava ainda encarava Harry fixamente, como se ela fosse uma leoa preparando-se para atacar uma inocente zebra. Ruby e Will estavam quietos, o que era estranho, mas Ginny não seria a pessoa que iria falar alguma coisa para atiçá-los, esse não seria um erro que ela repetiria. 

— É um prazer conhecê-los. — Potter falou sorrindo falsamente, e seu olhar encontrou o de Ginny novamente, e ele pisca marotamente. No entanto, o que quer que fosse ser dito por Harry, é graciosamente impedido por Ella. 

Appa, vamos pra casa, eu e Artie fizemos uma surpresa pra você! — Ela pediu com a cabeça encostada no ombro de Harry, seus cabelos ruivos fazendo um belo contraste com a pele amorenada dele. 

— Claro, meu amor, nós já estamos indo para casa. — Ele afirmou suavemente, sua mão segurando as duas crianças firmemente em seus braços, e sem dizer nenhuma palavra, ele acenou com a cabeça em despedida para a família Davey e caminhou em direção ao apartamento 512B. 

Ginny não se preocupou em acenar uma despedida e apenas os seguiu silenciosamente, a sacola de supermercado em seus braços e um sentimento de gratidão batendo contra seu peito. 

    Quando ela estava fechando a porta, conseguiu ouvir a voz alta de Ruby soar pelo corredor, ela estava perguntando de Harry, e Ava olhava em direção de Ginny e momentos antes da porta do elevador se fechar,  a ruiva fez o que sentia vontade de fazer há muito tempo. 

    Ela mostrou seu dedo do meio para a família perfeita que a encarava, e sorriu para si mesma ao ver os quatro pares de olhos azuis se arregalando quase que comicamente enquanto a porta do elevador fechava de vez. 

     Com isso, Ginny entrou dentro de sua casa e seguiu em direção ao som das risadas.


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Notas finais do capítulo

(rápido glossário para palavras em coreano que apareceram e vão aparecer nessa fic:
eomma= mamãe;
appa=papai)
Espero que tenham gostado!!! Perdão qualquer erro que pode ter escapado na revisão, e muito obrigada por todos os comentários! (continuem comentando pfvr)
Vejo vocês em 2 dias hehehe



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