Preencha meu Futuro, minha Rainha (Royai) escrita por Linesahh


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Eis o segundo capítulo dessa three-shot, pessoal!

Sem mais delongas...
Estrelando: Roy Mustang!



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Era a quarta vez naquela manhã que Roy Mustang parava em frente às janelas abertas de seu cômodo hospitalar. Para os outros, esta poderia parecer ser uma atitude um tanto estranha para alguém que não enxergava absolutamente nada; contudo, para ele, havia uma grande importância naquilo. 

Era bom ouvir as vozes ao longe, ora alteradas, ora afáveis, das pessoas que passavam nas ruas, assim como o ronco dos automóveis e o som dos infinitos pássaros que voavam livres mundo afora. Não havia nada melhor do que sentir a brisa fresca batendo em seu rosto, a fraca luz solar esquentar-lhe membro por membro como o melhor dos cobertores, e a real sensação de que aquele dia seria especial de várias maneiras...

Afinal, hoje seria o dia em que veria a luz da vida novamente. 

As reações de seu corpo sofridas pelo ambiente, dizia-lhe que fazia um dia realmente belo lá fora, ainda que não conseguisse de fato vislumbrá-lo, e sim, apenas imaginar como estaria a visão. Sabia que, se tudo desse certo, ainda naquele dia poderia tirar suas próprias conclusões quanto ao clima — só bastava ser paciente. 

... No entanto, paciência não seria seu forte no dia atual. Esperar com calma e tranquilidade o momento em que teria de volta todas as cores de sua vida além do melancólico preto era uma tarefa deveras difícil para alguém retido num grave estado de ansiedade e nervosismo como o dele. 

Erguendo a mão direita, apalpou levemente a faixa que cobria sua vista. Como sempre, ela continuava bem firme presa em frente à seus olhos, sendo a única barreira entre eles e a imensidão de cores e imagens que o chamavam. O desejo de retirá-la inundou-o forte, fazendo seus dedos fecharem-se, incertos, numa das pontas...

Infelizmente, ou não, seu ato malcriado foi impedido de ser realizado graças ao estalo alto da porta sendo aberta. Em seguida, o som de passos pausados e pesados inundaram seus ouvidos, adentrando o quarto com lentidão.

Roy não precisou de mais de dois segundos para identificar quem seria o visitante pelo modo como este entrara. Uma das poucas vantagens de ficar cego foi que seus outros sentidos, principalmente a audição, tornaram-se várias vezes mais aguçados: as batidas secas da bengala e o som peculiar que as botas de couro faziam no piso já eram familiares aos ouvidos do coronel. 

... Isso além do forte cheiro de tabaco. 

— Bom dia, coronel! — a voz comumente bem humorada de Jean Havoc preencheu o ambiente quieto, trazendo consigo toda sua empolgação. Roy contou mais cinco passos lentos até escutar o colchão de sua cama ser afundado, dando-lhe a entender que Havoc havia sentado-se sobre ele. 

Pelo satisfatório conhecimento geográfico que já havia adquirido do pequeno quarto nas últimas duas semanas, Roy aproximou-se em passos cuidadosos da cadeira que sabia haver ao lado da cama, sempre tateando a parede para situar-se bem. Sentou-se nela, flexionando os joelhos e cruzando os braços. 

— Notei que está sem a cadeira de rodas, tenente. — comentou. Ainda que Havoc não fosse mais um de seus subordinados, de vez em quando o chamava pela sua antiga posição por força do hábito. 

— Você viu? Massa, não? — seu ex-subordinado falou com entusiasmo, mal reparando no erro de sua frase: como, afinal, Mustang poderia ver alguma coisa? — Estou treinando distâncias curtas ainda, para não forçar muito. Posso andar bons metros sem a cadeira, mas o doutor Marcoh disse que a bengala ainda é indispensável para mim. 

— Você o viu hoje? — fez a pergunta que mais ansiava, sem conseguir disfarçar o tom impaciente em sua voz. 

— Doutor Marcoh? Ainda não. — Havoc respondeu, dando uma pausa de repente. O denso cheiro de tabaco que inundou o quarto denunciou que ele havia acabado de soprar a fumaça tóxica para fora. Ante o resmungar do superior, ele continuou: — Mas ainda está cedo, afinal. 

— Que diferença irá fazer eu tirar essa coisa agora ou depois? — soltou a indagação, dando um longo suspiro cansado. 

— Acho melhor não violar as recomendações do doutor Marcoh, coronel. — seu ex-subordinado falou em tom de leve sobreaviso. — Seja paciente. 

Mustang bufou. 

— Não sei se já notou, tenente, mas estou sendo paciente em todos os sentidos. 

Havoc estalou a língua. 

— Isso não deixa de ser verdade. 

Um curto silêncio pairou pelo quarto, em que Roy imaginou Havoc terminando seu cigarro tranquilamente. 

— Livre-se disso para mim? — o subordinado pediu após um tempo. 

Roy, compreendendo o que ele queria, estendeu a mão. Logo, sentiu o outro colocar a bituca do cigarro em sua palma. Bastou apenas um estalar de dedos e o pequeno cilindro de folhas de tabaco incinerou-se até virar cinzas. Graças a ele ter sido obrigado a fazer a Transmutação-Humana duas semanas atrás, Mustang não necessitava mais dos círculos de Transmutação para fazer sua alquimia, o que, na verdade, era até bem prático.

De certa forma, foi um dos pouquíssimos pontos positivos naquela história toda. 

— Falou com algum dos meus subordinados hoje? — a pergunta saiu num impulso, sem que ele pensasse direito. 

— Só com o Falman. — Havoc respondeu distraído, e o estalo de seu isqueiro sendo acionado ecoou pelo quarto. Logo, o cheiro de tabaco inundou cada centímetro do ambiente novamente. — Ele disse que iria passar aqui mais tarde. 

— Hum. — o Alquimista da Chamas assentiu sem muita emoção. Não soube bem o porquê, mas sentiu-se um pouco desanimado. 

Talvez Havoc tivesse notado algo em seu semblante, ainda que o coronel não estivesse com os olhos à mostra, pois logo tornou a falar: 

— Eles devem estar com muito serviço na casa da Hawkeye. — deduziu. — Com a destruição da Central e a mudança de ambiente de trabalho, os dias devem estar sendo bem desgastantes para todos. — comentou, dando uma pausa para mais um trago. 

— Pode ser. — Mustang comentou sem grande interesse. 

— Mas acredito que eles abrirão uma exceção para vir aqui, certamente. — Havoc continuou, parecendo estar realmente interessado no assunto. — Afinal, nosso coronel voltará a ativa! — só por seu tom empolgado, dava para imaginar nitidamente o grande sorriso em seu rosto.

O canto dos lábios do Alquimista da Chamas repuxaram-se minimamente para cima. Ainda que para muitos não representasse grande coisa, ouvir a alegria na voz de seu ex-subordinado quanto à sua recuperação despertava-lhe certo contentamento. 

— Você não me serve mais, Havoc. — falou. — Não precisa ficar se referindo à mim como seu coronel. 

Houve uma pausa de silêncio. 

— Quero falar com você sobre isso depois, coron... Mustang. — corrigiu-se. Seu tom estava sério. — Mas quero esperar você recuperar totalmente sua vista para tratarmos desse assunto. 

— ... Isso se o doutor Marcoh dar o ar da graça de aparecer hoje. — Roy acrescentou em tom irônico. Sua paciência diminuía mais a cada segundo. 

— Vou perguntar a alguém se ele já chegou. — Havoc disse decidido, colocando nas mãos de Roy mais uma bituca para ser destruída. O baque surdo da bengala batendo no chão denunciou que ele já estava de saída. — Não falarei com a enfermeira velhinha. Ela me matará se sentir o cheiro e deduzir que eu estava fumando. 

— Acho que ela conseguirá senti-lo mesmo se estiver do outro lado do hospital. — Mustang retrucou, agradecendo-se mentalmente por ter deixado as janelas abertas para aquele cheiro repugnante ir embora mais rápido. 

Havoc falou um “até mais tarde”, no que Roy apenas acenou.

E, novamente, sobrou apenas ele, o silêncio e a escuridão. 

Ficar sozinho por algumas horas havia se tornando uma situação rotineira ali no hospital; contudo, sempre que isso acontecia, Mustang desejava que houvessem mais pessoas para fazer-lhe companhia, como um revezamento pontual de hora em hora. 

Era um desejo egoísta, é claro. Ninguém era obrigado a gastar tempo paparicando-o só porque estava sentindo-se solitário; principalmente seus subordinados. 

Como bem disse Havoc, todos eles pareciam estar muito ocupados desde que impediram o Pai Homúnculo de dominar o país e, com muito esforço, o derrotaram. A Central havia recebido danos quase irreparáveis de King Bradley, o antigo Fuher, e do Pai Homúnculo duas semanas antes. Aquele dia, denominado como o “Dia Prometido”, ficaria marcado na história de Amestris. Para Roy, aquele foi de longe um dos piores dias de sua vida. 

O dia em que, por muitos instantes, perdeu e recuperou as pessoas mais amadas de sua vida; a desgastante e tortuosa ida e vinda contínua de sua esperança; e, por fim, o dom de enxergar foi-lhe roubado cruelmente. 

Ficar no escuro durante toda a última batalha foi uma experiência inesquecível para o Alquimista das Chamas. Lembrava-se bem de que quando perguntara a sua fiel subordinada, Riza Hawkeye, se eles haviam vencido e se tudo já havia terminado, achou que ela estivesse brincando ou ficado louca quando respondeu: “SimCoronelNós vencemos”

Não poderiam culpá-lo, é claro. Quando você não vê de fato o inimigo cair diante de seus olhos, é um pouco difícil acreditar que ele realmente pereceu. 

De toda forma, ainda que estivesse num quarto de hospital todo aquele tempo, Roy não ficou fazendo absolutamente nada. Todos os dias um de seus subordinados aparecia para contar-lhe tudo que estava acontecendo na reconstrução da Central, notificando os conteúdos das infinitas papeladas e relatórios e, por fim, faziam-no assinar alguns documentos. Muitos oficiais superiores considerariam a atitude do Alquimista das Chamas em assiná-los totalmente senil; contudo, ele conhecia muito bem cada um de seus subordinados e confiava cegamente em todos eles — agora no sentido figurativo e literal da palavra. 

Também recebeu visitas importantes como o oficial-comandante Grumman e a general Armstrong. Em sua última conversa com o mais velho, Roy pediu para que ele assumisse o comando de Amestris, pois sabia que ele era a pessoa mais indicada e confiável para tal serviço. Quanto à “Rainha de Gelo”, ela estava acompanhada de alguns de seu homens de Briggs e revelou estar preparando-se para voltar ao seu Forte no Norte. No fim, mesmo que ela não tivesse dito com todas as letras, desejou sua melhora. 

Em suma: Roy Mustang não estava tão no escuro assim quando o assunto era o exército. 

Mas, mesmo assim, não conseguia deixar de sentir aquela sensação de impotência toda vez que dava-se conta de que enquanto todos trabalhavam incansavelmente, ele estava ali, sentado e relaxado. 

Pensou em seus subordinados. Roy não soube bem definir o que sentiu quando soube que eles haviam decidido montar uma “sede” na casa de Riza Hawkeye, considerando que a Central não seria o local mais viável para trabalharem naqueles dias. Ele conhecia a primeira-tenente como ninguém, e por isso não pôde deixar de ficar surpreso ao descobrir que ela havia aceitado a proposta.

Em todas as visitas que ela havia lhe feito, Roy não conseguiu detectar em sua voz a real opinião que ela tinha sobre isso. Normalmente, os dois eram muito bons em se comunicarem por olhares, mas, desde que Roy perdera a visão, não foi mais possível fazer isso. E, infelizmente para ele, Riza era especialista em esconder suas emoções por meio da fala.

... E por mais que tentasse, o Alquimista das Chamas não conseguia acostumar-se com essa nova situação. 

A tenente Hawkeye recebeu alta depois de passar somente um dia no hospital e logo retornou ao trabalho. O ferimento no pescoço dela foi curado rapidamente graças às habilidades de cura da baixinha May Chang, que havia salvado a vida de sua subordinada. Roy nunca poderia agradecê-la o bastante por isso. 

Mustang estaria mentindo se dissesse que não se animava nos dias em que o “O Olho de Águia” fazia-lhe uma visita. Ainda que ambos tivessem mantido um relacionamento estritamente profissional e relativamente agradável durante todos os seus encontros desde o “Dia Prometido”, Roy sentia-se estranhamente vazio toda vez que ela ia embora. 

Toda vez que, mais uma vez, ele não conseguira contemplar seus olhos.

Perguntava-se se ela viria hoje. Em seu íntimo, desejava que sim.

Breda foi um dos primeiros a ficar sabendo que o coronel recuperaria a visão quando veio no dia anterior, e Roy acreditava que certamente ele havia notificado isso ao restante da equipe. De uma forma ou de outra, sabia que a primeira-tenente tinha conhecimento desse fato. Só não tinha certeza se ela largaria o serviço para ir vê-lo. Conhecendo-a como conhecia, apostaria que não — a não ser que ele tivesse dado-lhe uma ordem. 

... Se bem que pegar o telefone para ligar para sua “Elizabeth” e ordená-la a vir até lá só porque queria vê-la seria um tanto... estranho. Até mesmo para Roy Mustang, considerado por todo exército como sendo um “mulherengo-incurável”. 

Não. O verdadeiro motivo de querê-la ali tratava-se de outro completamente diferente.

Riza Hawkeye era a verdadeira razão de Roy Mustang estar agora prestes a recuperar sua visão. Quando o doutor Marcoh propôs curá-lo com uma Pedra Filosofal feita com milhares de almas ishvalianas, antes de tomar qualquer decisão, o Alquimista das Chamas pediu uma conversa em particular com a primeira-tenente. 

A princípio, ela pareceu inclinada a não apoiar aquilo. Somente quando Roy repetiu as mesmas palavras que Marcoh falou para ele, a tenente começou a considerar a ideia. Disse a ela que em vez de olharem aquele ato como sendo algo insensível e hipócrita contra as vidas perdidas do povo de Ishval, eles poderiam considerá-lo como uma remissão de seus pecados ao usar aquela pedra para recuperar a visão do Alquimista das Chamas e, assim, salvar as vidas dos ishvalianos restantes, dando-lhes um futuro melhor. 

Confiou o curso de sua vida nas mãos de Riza Hawkeye, que seria responsável por tomar uma escolha definitiva em seu futuro: deixá-lo no escuro para sempre ou aprovar que ele tivesse as cores do futuro de volta. 

O que ela decidisse ele aceitaria. 

Afinal, ambos haviam feito uma promessa muitos anos antes. 

E era exatamente por esse motivo, por ela ter escolhido por ele, que Roy desejava que ela estivesse ali quando abrisse os olhos.

De uma forma ou de outra, isso parecia ser o mais certo e o mais justo.


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Notas finais do capítulo

Gostaram desse segundo capítulo, pessoal? Eu confesso que foi uma experiência bem estranha descrever o ponto de vista de uma pessoa cega, então qualquer erro que possa ter cometido peço desculpas, viu, gente?

Preparem-se para o terceiro e último capítulo, pessoal! Confesso que enquanto escrevia ele quase derramei algumas lágrimas de tão emocionada.
Logo logo ele será postado (◠‿◕).
O tão aguardado encontro do nosso Alquimista das Chamas e da nossa maravilhosa Riza Hawkeye está chegando! ♥️

Digam o que estão achando, quero ouvir a opinião de vocês!

Até breve!



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