Desejo e Reparação escrita por natkimberly


Capítulo 5
O Mistério de Charles


Notas iniciais do capítulo

Essa história é inspirada nas obras de Jane Austen.



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As vantagens de terem sido apresentadas à sociedade tão cedo estavam evidentes. Jane e Emma foram ao seu primeiro baile quando Jane debutou seus 15 anos, e desde então elas imploraram para o seu pai para que as fizessem entrar para aulas de danças, pois a sua governanta não aprovava tal pedido com elas sendo tão novas. O passatempo delas às quintas é colocar música no salão de sua casa e dançar. Uma Jane com seu pai e Emma com Charles e noutra trocavam os pares. Infelizmente, com a ida de seu irmão à milícia e seu pai cada vez mais envolvido com o Parlamento, as irmãs tiveram que ser seus próprios parceiros, então, numa música Emma era o cavalheiro e na próxima Jane. Isso fez com que elas tivessem uma paixão por bailes e desde novas fossem o desejo de dança da noite.

Emma sempre se lembrava disso quando começava a dançar, pois tivera um dificuldade absurda no começo, para decorar os movimentos. Ao dançar observava os movimentos de Sr. Russell e os achou muito elegantes, quando se aproximaram novamente Emma tentou quebrar o silêncio:

— Você tem a mesma idade de meu querido irmão, mas tem uma desenvoltura muito superior à dele. Frequenta muitos bailes, Sr. Russell?

— Sempre que posso, Srta. Dashwood, o passatempo de um rapaz humilde é se divertir onde quer que tenha música. E, apesar de não ser da alta sociedade que nem você, fui ensinado que os cavalheiros sempre têm que convidar as damas, nunca o contrário - Emma sentiu-se constrangida. - Também que a primeira dança é sempre a mais importante da noite e ser dispensado pela parceira é algo abominoso.

Emma sentiu a indireta à sua irmã e logo expôs a total verdade:

— Sr. Russell - disse ela mas, para tentar ser mais acolhedora, se corrigiu. - Noah, você sabe que eu conheço Jane há algum tempo, então não duvide de mim quando digo que aquilo é obra do meu pai. Ele a pressionou.

— Por que o  Sir Dashwood faria isso?

— Por pura insensatez.

Logo após isso, eles se separaram novamente. Ao se juntarem, Emma continuou:

— Olhe.

— Para onde?

— Para eles - ela disse virando um pouco a cabeça para ele poder enxergar-los. - Perceba a expressão de Jane de desconforto, ela está tentando ao máximo ser polida mas no fundo está contando quantas cifras devem faltar para a canção acabar.

— É, ela não parece muito feliz.

— Porque não está! Conheço Jane muito mais que nosso querido pai e sei que ela e o Sir Collins não combinam nem um pouquinho, percebi isso na primeira vez que falei com ele, não faz o tipo dela homens tão engomadinhos. Mas, também não sei se você combina com ela, pois ainda não tive uma conversa singela o senhor.

— O que tem interesse em saber de minha pessoa?

— Interesse na sua pessoa, nenhum, mas no que você sabe, muito - ela respondeu, ainda pensando se soaria muito invasiva. - Você conhece meu irmão, sabe que ele veio para casa muito antes do previsto, Sr. Russell?

— Sabia que a conversa tomaria esse rumo - ele disse tirando os olhos da Jane e encarando Emma com seriedade. - Desista, pois não saberá nada por mim.

— Então, sabe de algo - sentiu uma ponta de esperança em saber que sua intuição estava certa, como sempre. - Sr. Russell, acho que não percebeu que para ganhar pontos comigo tem que saber que eu sou muito persistente e amo um boato ou fofoca, como dizem. 

— E, se me permite perguntar, para que iria querer pontos com a senhorita?

— Bom, se eu não gostar muito de você não acho que meu pai ou a Jane vão te olhar com mesmos olhos - Emma não iria inventar mentiras sobre ele, pois o achava legal, queria ver até onde ele iria.

— Você não está querendo fofocar, está querendo me persuadir a trair a confiança de meu melhor amigo - a garota deu de ombros e disse:

— Charles também é meu melhor amigo, sabia? Ele só está um pouco distante no momento.

“Vamos lá, Noah. Só uma informaçãozinha” ela pensou. Estava tentando parecer calma e sensata.

— Está bem - o rapaz exprimiu. - Foi por conta de uma moça. Mas, é só isso que você pode saber e se contar para ele…

“EU SABIA”. Emma quase saltou pulinhos no meio do salão, mas manteve a compostura. Sr. Russell se surpreendeu com a mudança de uma moça fria e ameaçadora para uma que estava em estado de euforia com o tom da sua voz três vezes mais alto e afinado.

— Eu tinha essa sensação, Sr. Russell - ela sorria e dançava com mais energia que antes. -Então, quer dizer que minha futura cunhada estar por vir! Eu já posso sentir, Charles entrando na sala e nos contando a novidade. Imagine a futura Sra. Dashwood e os filhinhos. Ai meu Deus, meus sobrinhos!

— Tá bom, tá bom - ele tentava conter sua alegria antes que o salão inteiro soubesse da história. - Nunca mais te conto nada, ouviu? Não tem nada certo, srta. Dashwood, pare de se levar pela sua imaginação. 

Mas, já era tarde demais. Emma já estava pensando até nos nomes ou de como eles se pareceriam, nada a animava mais do que dar uma de cúpido e festejar casamento dos outros.

A música terminou e os pares se afastaram, Emma deu uma reverência e continuou sorridente. Jane, por outro lado,não pode deixar de notar a felicidade da irmã mais nova, pois uma dança que para Emma durou 5 minutos, para Jane custou uma década.

Não achava Sir Collins tão interessante, pois, o mesmo parecia estar moldando uma personalidade apenas para agradá-la, faltava autenticidade. Nesses 15 minutos que passaram juntos ele só fez perguntas sobre ela mas só o foi respondido o necessário. Jane não iria ser grossa com ele, até porque ele a trata bem, mas não podia dar corda se não ele grudaria nela a noite toda.

Tirando Sir Collins da cabeça, Jane só conseguia pensar no que Noah e Emma estavam conversando, sempre achou que Emma era a mais sociável da família mas sabia que ela poderia ter usado seu nome de assunto para manter uma conversar com um, até então, conhecido. Estava longe de sentir ciúmes do Sr. Russell, mas estava louca de curiosidade para saber o que falou sobre ela.

O novo som começou a percorrer o local, era vez da dança popular, que consistia numa música muito animada e tinha a troca de pares à medida que as filas andavam. De um lado do salão, as mulheres estavam batendo palmas no ritmo e os homens, do outro lado, batiam os pés. Se juntaram e a ocasião fez Emma sentir como se estivesse em uma festa escosesa.

Como previsto, depois de 2 minutos Noah e Emma se distanciaram e ela encontrou os braços de outro oficial, deu um sorriso para ele e seguiram o ritmo. Depois de alguns minutos e algumas mudanças de pares, era hora de os homens e as mulheres se separarem para cada lado do salão novamente, uma espécie de intervalo, mas as damas continuavam a bater palma, como de costume. Por pura coincidência, Emma caiu do lado de sua irmã, sorriu para ela e disse:

— Está se divertindo, Jane?

— Estou exausta - ela disse em meios de sua respiração ofegante. - Se tivesse tomado um pouco de vinho antes, certeza que não estaria assim.

Jane percebeu que quase ia se esquecendo do assunto que estava louca para discutir com sua irmã:

— Vi que dançou com o Sr. Russell. Obrigada, estou te devendo uma, mas posso saber o que vocês dois estavam conversando? A vi rindo e toda sorridente, espero que não estivessem falando mal de mim.

— Falando mal de você? Claro que não, eu só disse para ele coisas boas, eu estava rindo era por outra coisa que você vai surtar quando lhe contar.

— Pode desembuchar, sou toda ouvidos. 

— Não vou contar agora no meio da música, Jane. Quando chegarmos em casa, conto para você, aqui alguém pode ouvir.

— Ah não, Emma! Volta aqui!

Já estava na hora de voltar à se juntarem, Emma já tinha se afastado e encontrado seu par da vez. Jane odiava quando ela fazia isso, lhe instigava para depois a deixar criando teorias sobre o que poderia ser. Jane ficou tão concentrada pensando no que poderia estar falando, que nem reparou no rapaz que estava dançando:

— Srta. Dashwood? - a voz despertou Jane do estado de transe.

Os olhos verdes dela encontraram os castanho mel dele, era Noah. Jane corou instantaneamente, não sabia o que falar. Pediria desculpas? Se explicaria? Perguntaria o que tanto discutia com sua irmã? Tinha que pensar rápido mas nenhuma frase se formada e a cada segundo que se passasse com seu silêncio, Sr. Russell achava que ela o estava evitando.

— E-eu - “Vamos Jane, fale algo!” - Desculpa.

— Pelo quê? - ele parecia confuso.

Quando Jane ia responder que era pelo desentendimento entre eles mais cedo, chegou a hora de trocar os pares. “Droga!” ela pensou. Entre ter pedido desculpas e perguntado sobre sua conversa com a Emma, era óbvio que o pedido de desculpas era o mais importante, como pode demorar tanto para decidir uma coisa tão na cara?

Tanto para Jane, quanto para Emma a troca de pares foi algo detestado, pois quando a morena caminhou para o próximo da vez, era quem ela menos queria ver naquele momento. O Sr. Knightley. 

Emma congelou, o fitou sem sair do lugar. Fitzwilliam estranhou, não estava entendendo o comportamento dela. “Será que ela era tímida?” ele pensou.

— Algum problema? - ele disse ainda com a mão erguida para ela segurar.

Ela encarou aqueles olhos cheios de orgulho e de desdém, e disse:

— Acho que estou cansada para continuar - ela respondeu com um tom de voz tão fingido, que era óbvio que estava mentindo, mas ela queria que ele soubesse que não era verdade mesmo.

— Não se para no meio de uma dança, é indecente - ele dizia tentando entender o que estava se passando com ela.

— Bom, creio que não será um problema, já que o senhor consegue achar uma que nem eu em “qualquer esquina”.

A garota deu as costas e caminhou para longe do salão, sem olhar para trás. O Sr. Knightley teve que fazer o mesmo, já que, não tem como continuar a dança com um número ímpar de pessoas. Emma sentiu agrado em o irritar, e Fitzwilliam sentiu que agora não só a achava sem graça, mas sem graça e sem educação.


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