Quem sou eu? escrita por moreutz


Capítulo 3
Nada nada




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Capítulo 2

Nada Nada

— Você, Tiago Potter, está querendo me dizer que não está apaixonado por Lílian Evans, a mulher que há dois meses atrás você dedicou uma música total de gado no meio de um bar lotado? — Sirius me entregava a vasilha que havia acabado de secar para que eu guardasse. 

— Não é apaixonado, eu gosto dela, estamos num rolo legal, mas nada muito sério. Até combinamos que não seria nada muito sério, tanto é que podemos nos relacionar com outras pessoas. — eu disse colocando a vasilha dentro de outra maior. 

— Ah sim, até porque você é alguém que sempre fica com outras pessoas assim… 

— Você entendeu. Nós fizemos um combinado e, embora eu não tenha o costume de ficar com pessoas, não me importo se ela tiver, e estamos indo bem assim. 

Sirius me passou a última tampa para guardar, e assim que o fiz, virei e vi ele apoiado na pia, com o guardanapo no ombro e os braços cruzados na frente do peito. Apenas consegui pensar em que tipo de conselho ou sermão eu ouviria agora, por que aquela pose normalmente vinha antes de algo desse estilo. 

— O que? — perguntei.

— Eu só fico preocupado… sabe como gosto dela, e como gosto mais ainda de você e não tenho dúvidas de como ela gosta de você também mas… vocês dois parecem desconectados nas ideias de como isso — ele fez um movimento circular grande com o dedo indicador — funciona. Acho que não percebem como alguém pode sair machucado. 

— Six, eu entendo o seu medo, de verdade, eu tinha o mesmo com você e Remus, mas olha como estão… e você não é alguém fácil. 

— Eu sei, Tiago, mas no nosso relacionamento pensamos e agimos de formas parecidas, você e Lil não parecem estar assim… e eu te conheço para saber que está sentindo coisas fortes por ela que não sentiu por ninguém.

— Eu juro que estou controlado como sempre consigo ser, o sentimento tem sido o mesmo. — eu levantei as duas mãos em rendição. 

— Só quero que tenha certeza de que não se machucará ou machucará ela. — ele se desencostou da pia e pendurou o guardanapo no suporte da parede. 

— Nós temos. Agora, deixa eu ir me arrumar para encontrar ela, vamos fazer uma noite de filmes no apartamento, já que você e Remus vão sair. — fui saindo da cozinha.

— Tá, meia hora e tô pronto.

— Você leva meia hora pra arrumar o cabelo, tá enganando quem? 

— Meu cabelo já está arrumado, ok? Finalizei mais cedo.

— Tem certeza…? 

— TIAGO, VOCÊ NÃO TEM RESPEITO?

— Tô brincando, tá lindo.

Quando fechei a porta do banheiro, tirei um tempo para me olhar no espelho. Já havia pensado no que Sirius me falou - e não é como se ele não tivesse me falado aquilo diversas vezes também - e me preocupado com o que seria, e analisado como me sentia com a questão de poder nos relacionarmos com outras pessoas. 

Até agora eu não havia tido notícia de que isso havia acontecido, tanto por que não falávamos sobre, quanto que ninguém me avisava caso tivesse acontecido. E de certa forma, gostava de pensar que não havia acontecido. Era bom pensar que estávamos na mesma página e que não nos considerávamos exclusivos por questões passadas pelo lado de nós dois.

Mas e se não estivermos na mesma página? 

Esse tipo de pensamento me causou pelo menos três noites mal dormidas nesses últimos dois meses, pois sabia como seria desastroso caso algo acontecesse. Mas estar com ela era como se sentir renovado, como se um ciclo se fechasse e começasse de novo. Era revigorante, divertido e calmo, sem a bagunça e pressão que eu costumava sentir com outras pessoas. 

Enquanto deixava a água escorrer da cabeça aos pés, me lembrava os momentos que já havíamos tido desde que nos conhecemos no bar, até as conversas pessoalmente ou virtualmente, a declaração bêbada no mesmo bar e as noites de beijos, filmes, ou passeios pela cidade onde sempre acabava comigo fazendo alguma brincadeira com alguém ou com ela - teve um dia em que fomos expulsos de uma loja de um shopping por causa de uma pegadinha. Ela ficou brava por alguns minutos mas depois acabou dando risada sem parar, e disse que teve ideias para aprimorar em outro lugar a brincadeira. 

Não conseguia evitar um sorriso ao pensar nessas cenas, mas nada disso queria dizer que eu estava terrivelmente apaixonado. Era apenas que eu gostava da companhia de uma pessoa que me relaciono de forma amorosa e sexual de uma forma que não me relacionava há um bom tempo. 

É algo inédito, poderia até entrar para um livro como marco histórico. 

Meus pensamentos são quebrados com Sirius batendo na porta falando para me apressar, pois sairíamos em cinco minutos. O que eu duvidava já que com toda a certeza ele iria demorar um bom tempo até decidir realmente a camisa que usaria.

Escolhi a camiseta emprestada de Remus - a azul com dinossauros por ela - que eu deveria ter devolvido antes, mas simplesmente ficou jogada no meu armário, com uma calça jeans e um tênis preto. 

— Remus vai te matar por estar usando a camiseta dele de novo sem a menor vergonha na frente dele. — Sirius diz terminando de abotoar uma camisa vermelha.

— Ele também tem coisas minha lá.

— Você sabe que isso não é verdade.

— E daí? — dei de ombros — Trocou de camisa quantas vezes?

— Cinco, mas essa ficou boa.

— Tem certeza?

— TIAGO!

— EU TÔ BRINCANDO! TÁ ÓTIMA! Pra alguém com um ego enorme você se abala fácil com minhas palavras. 

— É POR QUE VOCÊ ME AFETA!

No carro colocamos uma playlist de pop já que Sirius disse que ‘’queria entrar no clima clichê’’. Eles estavam comemorando 3 anos de namoro oficializado e tudo mais, e Sirius sempre ficava nervoso em ocasiões como essa, mesmo que, apesar de estarem fazendo 3 anos, se conhecem a mais tempo, e já comemoraram várias outras vezes. 

Ele sempre tinha medo de que algo desse errado. Uma vez jurou para mim que o restaurante que haviam escolhido era próximo a um aeroporto e que sentiu que um avião cairia lá enquanto estivessem jantando. Tive de ar chá junto de um calmante para ele, e mesmo assim não adiantou, porque Remus disse que qualquer barulho como um zumbido, Sirius pedia para ir embora. 

Eu conseguia entender seu medo. Sirius perdera muitas pessoas em sua vida e também sofreu nela, e mesmo tendo seu irmão mais novo após terem se resolvido com várias questões, ele ainda acordava na noite com pesadelos envolvendo seus pais ou algum parente que foi cúmplice do mal que eles lhe faziam. Sempre estivemos ao seu lado, mas isso não diminui a insegurança que ele sente, e, como ele mesmo disse, Remus é seu parceiro em diversas situações, e pensar que um dia poderia perdê-lo faz doer mais ainda em si. 

Então, a cada vez que comemoram mais uma data marcante em seu relacionamento, Sirius fica pesaroso com algum fim próximo e acaba pensando o pior, mesmo que tente evitar de todas as maneiras.

— Ei, vai dar tudo certo, ok? Não tem por que não dar. — estávamos na rua do prédio e eu conseguia ver Remus na frente do portão conversando com um casal de senhores.

— Eu sei… mas você sabe como fico. — Sirius dirigia tenso.

— Sim, mas acredite em mim, vai dar tudo certo, sempre dá.

— Tudo bem, Potter! Bom encontro com a ruiva. 

— VOCÊ NÃO TEM A MÍNIMA CARA DE PAU, TIAGO POTTER? — Remus estava com a cabeça na janela aberta do meu lado.

— MEU DEUS QUE SUSTO!

— NÃO ME DEVOLVE MINHA CAMISETA E AINDA FICA ANDANDO COM ELA NA MINHA FRENTE! — ele abre a porta e eu me levanto do lado de fora.

— Pra alguém que vai ter um jantar romântico hoje, você está muito tenso, Reminho. — pego em seus dois ombros e ele se livra de mim.

— Sorte sua que vou ir agora e quero mais tempo com meu namorado, se não, eu te quebrava. — Remus apontou o dedo na minha cara e entrou no carro — Lil tá te esperando lá em cima. Juízo. 

— Não façam nada que não faríamos. — Sirius disse.

— Então a lista é pequena… se divirtam crianças. — acenei e o carro saiu de perto.

Fui em direção ao pequeno portão e apertei a campainha no número do apartamento, e sem resposta no interfone, o portão abriu e eu fui em direção ao prédio para ir até o meu destino. 

Ao chegar no corredor do apartamento vejo uma mulher ruiva apoiada no batente da porta olhando para o teto com uma pantufa de coelho rosa nos pés, uma calça branca com vários cupcakes espalhados e uma camiseta regata com um grande cupcake no meio. Ao perceber que eu estava perto ela abriu um sorriso e falou:

— Bem vindo, meu caro e estimado Tiago!

— Obrigado, Lílian Evans. — fiz uma pequena reverência e ela riu, formando as ruguinhas embaixo do seu olho, como sempre, e apontou para dentro do apartamento.

— Não me diga que veio com essa roupa para a nossa festa do pijama. — ela fechou a porta atrás de si.

— Eu não sabia que era algo a caráter! 

— Passamos da fase da arrumação, Tiago, agora apenas pijamas quando nos vermos em casa.

— Certo, erro meu. Mas eu durmo de cueca mesmo.

— Não tenho problemas com isso… — ela lançou um sorriso malicioso.

— Por Deus, Evans! Essa hora já? Me conquiste primeiro e me entregue um vinho, e aí veremos. 

— Não se faça de difícil, Ti, não é como se você não fosse caído por mim desde a primeira vez que nos vimos. — ela me deu um selinho e foi até o sofá, que já tinha salgadinhos, doces e bebidas na mesa à sua frente.

— Não sei do que está falando. — tirei o tênis e me sentei ao seu lado.

— Ai, Tiago, quanto mais rápido aceitar o quão apaixonado é por mim, mais fácil será, sabe? 

— E você? Vai admitir que está apaixonada por mim ou tem medo dos seus sentimentos? — me aproximei mais dela e pude sentir seu cheiro que me lembrava as viagens que fazia ao campo quando era mais novo. 

— Não tenho medo de nada… — ela virou a cabeça para a TV e eu vi que ela ruborizou — quer ver o que? 

— Não faço ideia…

— Já viu Avatar? 

— Acho que quando era criança, mas faz tempo, não lembro de nada.

— POIS VAMOS VER HOJE E VOCÊ VAI LEMBRAR DE TUDO!

— TÁ BOM.

Lílian deu play, e, sem perceber, terminamos o livro 1: livro da água, de uma forma rápida e bem a tempo de estarmos no sofá quase fechando o olho, mas sem pararmos de comentar nossas cenas favoritas, personagens favoritos e como o desenvolvimento de todos eles eram incríveis.

— Sabia que minha paixão toda era o Zukko? — falei enquanto mexia no cabelo ruivo dela e olhávamos para o céu escuro que a porta de vidro da sacada nos dava de visão. 

— E de quem não era? — ela disse — mas com toda a certeza, Sokka é o dono do meu coração… junto da Mai.

— Lembro mais ou menos dela, mas concordo sobre o Sokka, eu tinha algo pela Sukki também, meu Deus!

— Bons tempos… — ela se sentou novamente e me olhou, mesmo no escuro que fazia — Quer ir dormir? 

— Eles não chegaram ainda, espero que esteja tudo bem. — olhei no relógio do celular e, até então, nenhuma ligação perdida desesperada de nenhum dos dois como da última vez. 

— Eles são grandinhos. 

— É que Sirius tem um péssimo histórico com ansiedade em datas importantes, então sempre fico atento, mas eles devem estar bem mesmo. — me espreguicei e olhei para ela — podemos ir dormir, então, muita ação me deu uma canseira. 

Ela me puxou pela mão, me levando para o quarto que eu já conhecia bem, mas que mesmo assim me trazia sempre algo novo e diferente de se experimentar. 

Mal entramos e Lílian começou a me beijar, da maneira suave e apressada que apenas ela conseguia fazer. Um beijo que me envolvia do início ao fim e me mantinha preso ali, sem perceber o que realmente acontecia e alheio a qualquer coisa fora dali. 

Fui levando ela até a cama onde fiz com que deitasse, e mesmo na penumbra que o quarto estava, iluminado apenas pelas luzes que vinham da janela, pude ver ela ali, embaixo de mim como já aconteceu algumas outras vezes, e fui tirando sua roupa enquanto beijava seu corpo nas partes que ia tocando. Desde o pescoço até o fim de sua barriga, acompanhei meu lábios por ela.

Senti Lílian puxando meu cabelo e me trazendo de volta aos seus lábios, enquanto eu passava uma de minhas mãos pelo seu corpo e a tocava por todo ele, sentindo ela vibrar e soltar gemidos próximo ao meu ouvido. 

Nosso ritmo continuou dessa forma, mesmo quando invertiamos posições, continuávamos a nos entendermos nos toques e sons, como sempre costumava ser. 

Ao fim de tudo, acabamos um ao lado, respirando fundo suados, com uma parte do lençol saindo e o cobertor no chão: 

— Precisamos ir no banheiro. — ela disse depois de um tempo virando o rosto para mim. 

— Vai você primeiro e depois eu vou. — ela concordou e se levantou da cama, fez um coque na cabeça e acabou dando de cara com o guarda-roupa. 

— A culpa não foi minha, eu estou sem lente e óculos. 

— É por isso que eu nunca tiro os meus.

— Você nunca tira os seus por que você é completamente cego, Potter. — e ela saiu do quarto. 

E ali estava eu. Com 23 anos, na cama de uma mulher incrível, sem roupa alguma, apenas com uma camisinha em mim, encarando o teto que ainda era iluminado pelas luzes da cidade lá fora, que agora voltava a existir no meu universo. Vi uma planta que dei pra ela na última vez que saímos numa prateleira junto de seus livros, e vi uma foto nossa que tiramos na vez que fomos num parque de diversões no centro da cidade preso naqueles quadros de metal com um imã vermelho. 

Podia ouvir ela do outro lado do corredor, e era incrível pensar que eu havia acabado de transar com uma mulher daquela, ou que eu fazia qualquer coisa com uma mulher daquela. Era incrível a forma que ela fazia eu me sentir, como ela me tratava e como conseguíamos nos conectar - uma conexão que procurei por muito tempo, em muitas pessoas. A forma como qualquer mínimo assunto se transformava em algo que levávamos horas para debater, ou como ríamos de coisas idiotas e pequenas. 

Lílian realmente fazia eu me sentir como se eu estivesse em um diário recomeço de vida, e de jeito nenhum que eu queira jogar algum peso desse tipo em alguém, mas é que a forma que ela faz eu me sentir é sem explicação além dessa.

Além de ser sempre uma novidade boa estar na presença dela. 

Quando ela voltou, foi a minha vez, e logo quando voltei vi que ela já dormia de bruços e com as pernas esticadas, como era comum de fazer. Deitei ao seu lado e apreciei as fracas pintas que eu sabia que ela tinha por ali, o seu cabelo no tom vermelho, a bochecha e seus lábios. Peguei em sua mão e senti o choque que sempre sentia ao encontrá-la e pude sentir sua respiração compasada com a minha. 

E apenas uma coisa se formou em minha cabeça como resultado de toda essa análise minuciosa: eu estava completamente apaixonado por Lílian Evans. 

— Merda! — falei baixo. 

— Pare de me encarar, Potter, estou prestes a te expulsar daqui!  — ela disse sem abrir os olhos.


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